sexta-feira, 16 de maio de 2008

Futuro intocável

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
16/05/2008


O investidor de previdência privada brasileiro tem provado o seu alto grau de tolerância a crises. Diferentemente dos fundos de investimento destinados ao varejo, em geral de prazo mais curto, que viram resgates de R$ 8,5 bilhões em seu patrimônio nos últimos três meses, a captação de PGBLs e VGBLs segue em gradual crescimento e soma R$ 2,9 bilhões no ano, R$ 1,108 bilhão apenas neste mês, segundo dados do site Fortuna. Para Marcelo D'Agosto, diretor do site, o comportamento faz sentido, uam vez que a aplicação em previdência privada é de longo prazo e não deve ser mudada por questões conjunturais.


Nos fundos de investimento, os aplicadores estão deixando as carteiras, entre outros motivos, atraídos pela melhor remuneração oferecida pelos bancos em CDBs. Na previdência privada, pelas questões tributárias, isso faz menos sentido, explica Renato Russo, diretor da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). "O investidor só sai quando realmente precisa do dinheiro para alguma necessidade urgente", comenta. De todos os produtos de poupança que a pessoa tem, a previdência privada costuma ser a mais intocável, diz Russo. Mais ainda quando se trata de aplicação para os menores de idade.


A captação da previdência em abril cresceu 35% em relação a março e 28% em relação a abril de 2007, segundo o Fortuna. Nos 12 meses com fim em abril, a captação cresceu 11% em relação aos 12 meses compreendidos entre maio de 2006 e abril de 2007.


Desde a crise do mercado em 2003, com o lançamento da nova tabela de imposto de renda regressiva (cuja alíquota cai de 35% a 10% gradualmente em dez anos), o setor não registra mais saques do que depósitos no período encerrado a cada mês.


A impressão de que os investidores são totalmente insensíveis à rentabilidade de curto prazo dos planos, porém, não é verdadeira, segundo sugerem os dados do Fortuna. Em abril, quando a bolsa de valores brasileira ainda caminhava vacilante - o anúncio do grau de investimento pela Standard & Poor's saiu apenas no dia 30 -, os investidores preferiram destinar parte maior de seus recursos aos planos de renda fixa, em rumo inverso ao verificado até o mês passado. Segundo o Fortuna, a captação dos planos de renda fixa subiu de R$ 56 milhões em março para R$ 182 milhões em abril. Enquanto isso, os planos com renda variável (balanceados e multimercados) viram a captação cair de R$ 820 milhões em março para R$ 728 em abril.


No entanto, D'Agosto lembra que não é possível afirmar que se tratam de planos multimercados ou balanceados no limite máximo da agressividade (com até 49% de ações) ou planos mais conservadores, limitados a 10% ou 20% de ações em carteira.


Esse limite de 49% em ações, segundo Russo, da Fenaprevi, acaba restringindo também a volatilidade dos planos de previdência. Não se viu nos últimos meses, por exemplo, planos de previdência perderem tanto em rentabilidade quanto os fundos de ações ou multimercados. Isso faz com que o participante sinta menos impulso de sair também, completa Russo, que também é vice-presidente de Previdência e Vida da SulAmérica.


Segundo Russo, essa captação se deve também às carteiras empresariais, em que funcionário e empregador costumam aplicar valores fixos mensalmente. "Dessa fonte, há um crescimento de captação quase vegetativo, que se amplia pela adoção da previdência privada por mais empresas."


Outro fator a favor dos planos de previdência é a interpretação por parte de muitos de que a aplicação seria uma fatura a ser paga por mês. As seguradoras costumam mandar boletos aos clientes, para facilitar o recolhimento, diz Luciano Snel, diretor de produtos da Icatu Hartford. "Porém, se a crise fosse suficiente para criar uma fuga de investimentos (como ocorreu na ocasião da mudança do imposto de renda), nada os seguraria", diz Snel, crente da maior consciência do aplicador de PGBLs e VGBLs. A própria criação da tabela regressiva, que oferece benefício tributário a quem ficar mais tempo, mas pune aquele que deixa a previdência rapidamente, é outro fator a reter o aplicador, lembra Russo. "As pessoas ficam mais porque passaram a entender a vantagem do benefício fiscal."


Apesar de arrefecer a procura por planos com ações, o ritmo de novas aplicações ainda flui em ritmo acelerado para essas carteiras mais agressivas. Os planos balanceados e multimercados já somam patrimônio de R$ 20 bilhões, segundo o Fortuna. Os planos de renda fixa crescem com menos velocidade, acumulando patrimônio de R$ 62 bilhões no fim de abril. Segundo o site financeiro, o patrimônio total dos fundos onde investem os PGBLs e VGBLs está em R$ 98,4 bilhões.

Cadastros no Tesouro Direto crescem quase 40% no ano

Por Luciana Monteiro, de São Paulo
Valor Econômico
16/05/2008


De grão em grão, o sistema de venda de títulos públicos via internet, o Tesouro Direto, cresce. Em abril, o número de investidores cadastrados no serviço chegou a 115.663, um aumento de 39,1% em 12 meses. No mês passado, 2.435 novos participantes ingressaram no sistema, elevando para 12.670 os novatos no Tesouro Direto somente neste ano.


O volume vendido em abril foi de R$ 108,4 milhões, valor 30,6% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Os pequenos investidores, com tíquetes de até R$ 5 mil, concentraram as compras e 55,3% dos negócios do mês. Desses, os que investiram até R$ 1 mil no sistema representaram 20,72%. O maior volume financeiro em abril, no entanto, ficou na faixa de R$ 10 mil a R$ 50 mil. O Tesouro Direto é uma excelente alternativa para o pequeno investidor acessar o mercado de títulos públicos sem pagar as altas taxas de administração cobradas pelos bancos em fundos DI e de renda fixa para aplicações mínimas baixas, avalia Rodrigo Menon, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors.


Apesar disso, ele alerta que também é preciso avaliar as taxas cobradas pelas corretoras que oferecem a operação. Há instituições, por exemplo, que não cobram pelo serviço, caso de Banif, Socopa e Spinelli, que usam o sistema para atrair novos clientes e que, eventualmente, poderão começar a comprar ações. Mas existem bancos onde o custo pesa bastante no retorno final. É o caso de Itaú, que cobra 4% ao ano, e do Bradesco, com taxa mínima de 3%, segundo o ranking do Tesouro Direto sobre as taxas dos agentes de custódia.


É preciso colocar tudo na ponta do lápis porque as taxas de custódia acabam influenciando bastante no retorno final obtido pelo investidor, diz Menon. Ele dá o exemplo de uma Letra do Tesouro Nacional (LTN, papel com juro prefixado). Ontem, os papéis com vencimento em julho de 2009 pagavam taxa de 14%. No caso de uma corretora com custo de 1%, o retorno passa a ser de 13%, sem considerar o imposto de renda. Para uma taxa de 3%, o ganho passa a ser de 11%. "Neste caso, o investidor estaria pagando taxas equivalente às de um fundo de investimento de varejo, o que não vale a pena", avalia o executivo, lembrando que, no fundo, o aplicador tem liquidez diária, enquanto no Tesouro Direto as recompras ocorrem somente às quartas-feiras.


Destacou-se no mês passado a demanda pelas LTNs, cuja participação no volume financeiro vendido somou 43,43%. Neste momento, entretanto, comprar papéis prefixados representa uma aposta arriscada, pois não dá para saber como o Banco Central vai agir para segurar o aumento do tomate ou do feijão, ou seja, qual será a intensidade da alta de juros, diz Menon.


Em seguida, ficaram as Notas do Tesouro Nacional série B - NTN-B, papéis com retorno vinculado à variação do IPCA e com juros prefixados pagos semestralmente -, com 19,92% do valor vendido. "Os papéis indexados à inflação são uma boa alternativa de diversificação, principalmente num momento de pressão inflacionária", afirma. Vale lembrar que o governo não vem emitindo títulos atrelados ao IGP-M. "É uma pena, pois avalio que esse indicador capta mais a alta de preços nas áreas de alimentação e combustíveis, mas os papéis em IPCA também são bastante atrativos neste momento", diz Menon.


Já as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs, com juros pós-fixados) registraram participação nas vendas de abril de 15,95%. "São apostas mais conservadoras, mas também bastante interessantes diante dos juros ainda altos", avalia. Em terceiro lugar ficaram as Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F, títulos de renda fixa que pagam juros semestrais), com 12,10%. Já as NTN-B Principal - títulos com rentabilidade vinculada à variação do IPCA, com juros prefixados pagos no vencimento - representaram 8,60% do volume vendido.


No estoque dos papéis vendido pelo Tesouro Direto, a maior parte dos títulos tem prazo entre um e cinco anos, com representação de 44,68%. Já aqueles com vencimento superior a cinco anos têm uma parcela de 28,82%, enquanto os ativos com até um ano representam 26,51%.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Maior impacto do grau de investimento será no crédito

Luciana Monteiro
Valor Econômico
15/5/2008

O maior impacto da obtenção da nota de grau de investimento conferida ao Brasil pela agência de risco Standard & Poor"s será nos ativos de renda fixa. A avaliação é de Massimo Tosato, vice-presidente mundial da gestora britânica Schroders, instituição com US$ 270 bilhões sob gestão, dos quais US$ 10 bilhões aplicados em ativos brasileiros por investidores internacionais. Em entrevista ao Valor, o executivo diz que o "investment grade" certamente é uma boa notícia para o país, mas seu efeito só deverá ser sentido totalmente quando outra agência de risco elevar a nota do Brasil.

No mercado acionário, Tosato avalia que boa parte do impacto do selo já foi precificado, pois os agentes já estavam vendo o progresso do país nos últimos anos. "O maior impacto será visto na renda fixa, já que quando compra ações, o investidor olha muito mais para a empresa do que para o país, diferentemente do que acontece com a renda fixa." No time dos mercados emergentes, a gestora tem cerca de US$ 30 bilhões em ações , dos quais, boa parte estão nos BRICs (abreviação de Brasil, Rússia, Índia e China). Ele ressalta que a classificação de risco de investimentos no Brasil está agora igual à da Índia, mas ainda abaixo das de México, Rússia e China. "Então, ainda há muito trabalho para ser feito."

Na avaliação de Tosato, o Brasil se mostra como uma das maiores oportunidades mundiais por conta de seu tamanho e potencial de crescimento. Para ele, o país tende a se tornar um dos maiores mercados de gestão de recursos no mundo. Pelos dados do Investment Company Institute (ICI), o Brasil já era o décimo país em volume de recursos aplicados em fundos, com US$ 615,365 bilhões, em dezembro do ano passado.

No Brasil, a Schroders ainda tem um percentual pequeno diante do total da gestora, com R$ 3,2 bilhões sob administração. "Mas é preciso considerar a maturidade do mercado", diz Tosato, lembrando que o setor de gestão de recursos dos Estados Unidos, Reino Unidos e mesmo do Japão já tem pelo menos 40 ou 50 anos. "É preciso tempo para refletir a diferença." Os EUA hoje, sozinhos, têm 48% do total de ativos no mundo.

Ele lembra que, da primeira vez que esteve no Brasil, em 2004, a taxa de juros era de 19% ao ano e agora está 11,75%. "Há, claramente, um progresso, passo a passo, e, apesar de o Banco Central ter aumento o juro (em abril), isso pode ser visto como um sinal de disciplina e independência financeira, o que para o investidor é positivo", diz. Os juros continuam altos, mas, quando observados historicamente, é possível ver que a taxa já caiu bastante. "Hoje, por conta dos altos preços das commodities, há uma pressão inflacionária, mas se mantidas as políticas de melhorias econômicas, o país poderás ver visto como uma experiência onde a taxa ficou bastante competitiva e isso é o que as pessoas levam em consideração ao olhar o risco."

Tosato cita o exemplo da Itália, seu país de origem. Em 1981, a taxa de juros no país era de 22% ao ano e, com com um melhor gerenciamento, gradualmente caiu para 4,5%, levando o investidor a olhar mais para ações. "Naquela época, havia muito dinheiro em títulos públicos e, mesmo com as taxas de juros caindo, a migração para ações leva tempo, mas, à medida que a taxa vai caindo, as pessoas começam a aceitar mais o risco e o investimento em renda variável torna-se mais competitivo", avalia.

Embora o percentual dos investimentos em ações seja ainda pequeno, com participação de 6,72%, segundo dados do site financeiro Fortuna, a fatia deve crescer, avalia Beto Scretas, diretor-geral da Schroders Brasil. "Já vimos as aplicações em ações crescerem no ano passado; elas diminuíram agora por conta da turbulência e do aumento dos juros, mas a migração é uma tendência", diz. "As taxas brasileiras irão convergir para níveis mais decentes e, quando isso acontecer, o investidor buscará de forma mais forte a renda variável."

Diante da expectativa de maior diversificação das aplicações de brasileiros, a gestora estuda um fundo que possa investir 100% dos recursos no exterior para os chamados clientes superqualificados - com pelo menos R$ 1 milhão para aplicar. "Claro que é difícil competir com a taxa de juros do Brasil e, para os clientes brasileiros, pode não fazer muito sentido, mas nós não estamos preocupados somente em trazer produtos para o Brasil, mas trabalhar com serviços", diz Eduardo Mendes, que está assumindo a direção geral da área de distribuição da Schroders substituindo Adriano Koelle, que deixou a empresa. "É preciso também um processo de entendimento dos riscos de se investir no mercado internacional", diz Mendes, que era responsável pela área de distribuição de produtos para os segmentos de varejo e private.

Com relação à crise americana, Tosato avalia que há dois componentes. O primeiro diz respeito ao segmento imobiliário e de papéis hipotecários. "Nesse caso, os riscos foram claramente mal gerenciados e a crise ainda vai levar mais um tempo para passar, dois ou três anos", diz.

Outro problema será com a liquidez por conta da menor credibilidade. "Nós estivemos muito próximos de um colapso do sistema financeiro por duas vezes: em agosto do ano passado e março deste ano", diz. "Uma crise eclode não quando se perde dinheiro, mas quando não há mais dinheiro, e o sistema estava com falta de liquidez por ausência de confiança." Na visão de Tosato, essa segunda parte da crise, de risco de quebra, ficou para trás, já que os principais bancos centrais garantiram liquidez, mostrando que não deixarão nenhum banco quebrar.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Opção para os conservadores

Jornal da Tarde
12/05/2008


Com alta da Selic, cresce o interesse por fundos DI para quem vai aplicar por mais de seis meses

Rodrigo Gallo

Às vezes falta coragem aos investidores para aplicar seu dinheiro na Bolsa de Valores, por conta do risco de prejuízo. Para essas pessoas, há uma série de opções mais recomendáveis, como a tradicional poupança ou os fundos de renda fixa e DI - essa última alternativa pode não apresentar rentabilidade tão alta, mas passa por um bom momento na economia brasileira.

A questão, segundo o administrador de investimentos Fábio Colombo, é a composição desses fundos. O DI é um tipo de aplicação que acompanha a política de juros do Banco Central. Como a inflação tem pressionado a economia, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reajustar a taxa Selic (o índice básico da economia) para 11,75%. A intenção é manter a estabilidade do real.

Sendo assim, quem busca alguma alternativa com poucos riscos de prejuízo pode optar por este fundo. Contudo, vale ressaltar: esse tipo de aplicação só é recomendado para as pessoas que não pretendem resgatar os valores em menos de seis meses.

Além disso, deve-se observar com atenção a taxa de administração cobrada pelo banco. Caso o porcentual ultrapasse 2%, vale mais a pena investir o dinheiro nas cadernetas de poupança.

Projeção

Seguindo a lógica do aumento da Selic pelo Copom, especialistas acreditam que há perspectivas de novos aumentos da taxa nas próximas reuniões do Comitê, ainda com o objetivo de manter o real estável.

Caso isso realmente ocorra, os mais conservadores poderão ampliar o volume de investimentos no DI, afinal, quanto maior a Selic, maior será a rentabilidade desta aplicação.

Contudo, o economista Luís Carlos Ewald, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), sempre orienta os investidores a diversificar a carteira de aplicações. 'Essa dica vale para todos, seja investidor da Bolsa de Valores ou de qualquer outro tipo de aplicação financeira. Não se deve colocar todos os ovos numa mesma cesta', diz.

Por conta disso, pode-se aproveitar o momento para colocar parte dos recursos nos fundos DI, reservando um pouco do dinheiro disponível para aplicações em renda fixa e até mesmo na poupança. De qualquer forma, vale lembrar que a maior fonte de lucro, apesar dos riscos, é o mercado de ações.

domingo, 11 de maio de 2008

Reforma chilena corrige excessos liberais da Previdência de Pinochet

O Estado de São Paulo
11/05/2008


País garante aposentadoria mínima para todos os idosos com mais de 65 anos e entre os 60% mais pobres

Fernando Dantas

Quase três décadas depois de fazer uma mudança radical e privatizante na sua Previdência, que se tornou a mais emblemática reforma liberal da América Latina nos anos 80 e 90, o Chile embarcou este ano numa ampla revisão daquele passo ousado. Aprovada no Congresso em janeiro de 2008, a nova reforma não revoga as mudanças impostas pelo ditador Augusto Pinochet, mas procura remediar os estragos sociais causados pela introdução do sistema de contas individuais de capitalização, gerido por Administradoras de Fundos de Pensão (AFPs) privadas.

Esse regime substituiu praticamente todo o antigo sistema chileno de Previdência pública, de repartição (trabalhadores na ativa financiam aposentadoria dos inativos), que é o formato que ainda predomina em todo o mundo, incluindo o Brasil. O sistema chileno foi parcialmente copiado na Argentina, Peru e Colômbia.

"A reforma da Previdência deste ano é uma das mais importantes desde que a Concertación chegou ao poder, em 1991", diz Andras Uthoff, economista da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal, instituição ligada às Nações Unidas e com sede em Santiago). A Concertación é uma coalizão de centro-esquerda. Coube ao governo da presidente Michelle Bachelet, empossada em março de 2006, levar adiante as mudanças.

CONTA INDIVIDUAL

O sistema de capitalização do Chile resolveu o problema do déficit da Previdência no longo prazo, já que funciona na base de que cada aposentado vive com o dinheiro que conseguiu juntar com sua próprias contribuições numa conta individual. Na verdade, por enquanto, o Chile ainda tem um custo de mais de 6% do PIB com a sua Previdência, em parte por conta da transição entre os dois regimes. Mas esse déficit tende a desaparecer no futuro, com exceção das aposentadorias militares, que nunca mudaram. Outra vantagem do sistema introduzido por Pinochet foi contribuir na criação de poupança de longo prazo, pois os investimentos das AFPs correspondem hoje a mais de 60% do PIB local.

Há muitos problemas, porém, na Previdência com contas individuais. Passados 28 anos, o regime só cobre 55% da força de trabalho do país e tem uma reposição média em relação ao último salário de apenas 44% (ou de 30% a 40%, segundo a CUT, a Central Unitária dos Trabalhadores do Chile). Mais grave ainda é o fato de que há um grande contingente de inativos que recebe muito pouco ou nada no sistema de capitalização, mas não é suficientemente pobre para cair na rede de proteção assistencial chilena.

Com a "reforma da reforma", todos os chilenos com mais de 65 anos que estejam situados entre os 60% mais pobres da população terão o direito a partir de 2012 a um benefício mensal mínimo de 75 mil pesos (US$ 167) - a chamada "aposentadoria básica solidária".

Esse será o valor para quem nunca contribuiu e significa um aumento de 66% sobre o benefício equivalente atual, de 45 mil pesos (US$ 100), que é assistencial e vale apenas para quem estiver entre os 20% mais pobres da população.

APORTE SOLIDÁRIO

Para incentivar a contribuição, as novas regras prevêem que também terão direito a um complemento da aposentadoria - que levará o benefício acima de 75 mil pesos - todas as pessoas que tiverem contribuído com menos do que o suficiente para alcançar 255 mil pesos (US$ 567) mensais. Esse dinheiro extra, que vem dos cofres públicos, é o chamado "aporte previdenciário solidário".

Na verdade, a aposentadoria e o aporte solidários integram um mesmo mecanismo: um complemento decrescente, saindo de 75 mil pesos, para quem nunca contribuiu, até zero, para quem contribuiu o suficiente para receber 255 mil pesos mensais. A idéia é estimular os trabalhados pobres a contribuir, já que, se o fizerem, poderão ganhar mais do que a aposentadoria básica solidária.

MUDANÇA GRADUAL

A implementação do novo sistema será gradual. A primeira etapa, a partir de julho, prevê um benefício mensal mínimo para os inativos de 60 mil pesos (US$ 133), limitado a quem se situe entre os 40% mais pobres. Esses parâmetros serão paulatinamente ajustados, até se chegar em 2012 aos 75 mil pesos, para os 60% mais pobres. A estimativa é de que, em 2012, 1,3 milhão de chilenos, ou cerca de 8% da população atual, estarão incorporados ao chamado "Sistema de Aposentadorias Solidárias".

Em resumo, a mudança significa uma maciça ampliação dos recursos orçamentários para complementar os benefícios mais baixos da Previdência e da assistência social do Chile e também para estender a cobertura a quem não recebia nada.

Pela regra anterior à reforma deste ano, e que vigora até julho, todo contribuinte das contas individuais tem o direito de ganhar um mínimo de 98 mil pesos (US$ 218), desde que tenha contribuído por pelo menos 20 anos, ou 240 meses (de 10% do salário, para os empregados).

Para quem cumpriu esse pré-requisito, o sistema criado por Pinochet garante um complemento de recursos públicos para que a aposentadoria chegue àquele mínimo. Para os que não atingem o piso de contribuições, vale a regra geral de que a aposentadoria é um pagamento retirado da conta individual que o trabalhador acumulou com suas contribuições, acrescidas da rentabilidade das aplicações geridas pela AFP. Ou seja, não há nenhum dinheiro público complementar.

Em muitas situações, especialmente com trabalhadores informais ou em ocupações precárias, esse acúmulo de recursos para a aposentadoria é muito baixo e leva a um pagamento mensal reduzidíssimo.

Caso o beneficiário queira fazer saques maiores, pode ocorrer o esgotamento da conta antes da sua morte, e ele pára de receber aposentadoria. Nesse caso, se a pessoa estiver entre os 20% mais pobres, pode tentar se cadastrar no sistema assistencial, para receber os 45 mil pesos mensais. Se não conseguir, tem de se virar sozinho.

As regras novas mudam o quadro. "Agora, passa a haver de fato um sistema solidário que garante a previdência dos pobres", conclui Uthoff
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