quinta-feira, 25 de março de 2010

Festa latina

Buscar diversificação em outras bolsas da América Latina pode ser vantajoso aos investidores.

Valor Econômico

Por Luciana Monteiro e Daniele Camba, de São Paulo
25/03/2010

Não é só de bife de chorizo, vinho chileno e tequila que se faz a integração latino-americana. Há também boas oportunidades de ganhar dinheiro com ações de empresas da região. A BM&FBovespa já anunciou que pretende fechar parcerias com suas "hermanas" para que os investidores desses países possam negociar aqui e vice-versa. Mas quais seriam as vantagens de aplicar em outras bolsas latino-americanas? Estudo realizado pelo professor Alexandre Espírito Santo, diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ, mostra que, apesar de os mercados latinos seguirem a mesma tendência em boa parte das vezes, a diversificação vale a pena porque reduz o risco.

A estratégia da BM&FBovespa com os acordos é desenvolver os mercados locais. No início do ano, por exemplo, ela assinou uma parceria com a Bolsa do Chile para desenvolver uma rede de conectividade. A BM&FBovespa pretende anunciar acordo semelhante com a Bolsa da Colômbia e ainda discute a mesma estratégia no Peru e no México.

Para saber o que o investidor ganha com isso, o professor analisou a correlação do Ibovespa com o principal indicador da bolsas mexicana (IPC), chilena (IPSA) e argentina (Merval). A correlação mede o quanto dois mercados, por exemplo, caminham na mesma direção, tanto na alta quanto na baixa. O período avaliado foi de janeiro de 2000 a dezembro de 2009.

Os números mostram que a maior correlação do Ibovespa ocorre com o mercado chileno, de 0,92. Isso significa que em 92% das vezes esses dois mercados caminham na mesma direção. Em seguida, aparece a bolsa do México, com 76%.

Segundo Espírito Santo, matematicamente, uma correlação acima de 0,70 - ou seja, de 70% - é considerada alta. "Isso vai ao encontro da unificação das atividades das bolsas latinas já que elas seguem a mesma direção na maior parte das vezes", diz. A menor correlação aparece entre a bolsa do México e a da Argentina, com 60%. O professor ressalta, no entanto, que o mercado argentino tem menor liquidez e ainda sofre os impactos do calote da dívida em 2000.

Mas, além da correlação, é importante observar a relação entre o risco e o retorno desses mercados, o chamado coeficiente de variação. Quanto menor esse indicador, melhor. Nesse aspecto, o que se vê é que, apesar da correlação alta entre as bolsas latinas, a relação risco/retorno é bem diferente. De acordo com o levantamento, o México apresenta a relação risco/retorno mais favorável entre os mercados analisados, seguido do Chile.

A relação risco/retorno do Ibovespa não se mostra tão favorável quando comparada à do México ou à do Chile, o que significa que a bolsa brasileira oscila mais que essas duas. Na visão de Espírito Santo, o mercado brasileiro paga um pênalti pela maior liquidez.

Na opinião do professor, apesar da correlação alta, a relação risco/retorno revela que, em momentos de turbulência, é bom diversificar no México e no Chile. Isso porque tal estratégia reduz o risco geral de sua carteira. "Não dá para antecipar se uma possível unificação das bolsas será benéfica para o investidor", diz Espírito Santo. "Mas o que se vê é que no mundo inteiro as bolsas vêm buscando sinergias e fusões e, com isso, reduzindo custos."

Acessar outras bolsas latino-americanas seria bastante interessante, já que os investidores poderiam aplicar em mercados bem diferentes do brasileiro, avalia Sonia Villalobos, da gestora chilena Larrain Vial Asset Management. O grupo tem uma das maiores corretoras do Chile e possui um escritório no Brasil. O Peru é bastante parecido com o Brasil no sentido de ter uma bolsa muito focada em commodities, diz a executiva. "Mas o Chile, por exemplo, já é muito mais focado no consumo interno, forte em ações de bancos e comércio", afirma. "E o México está ligado aos Estados Unidos - se a economia americana cresce, a mexicana vai junto", explica.

Justamente por serem economias tão distintas é que Sonia vê com bons olhos um possível projeto de integração entre as bolsas latino-americanas. "Em termos de diversificação, é algo bem interessante", diz a gestora, ressaltando, no entanto, que o investidor brasileiro terá de fazer o dever de casa e procurar entender as companhias de outros países. "E não apenas investir somente por ter acesso a um outro mercado."

Parcerias entre a Bovespa e outros mercados se tornam uma relação em que todos ganham, diz Marcos De Callis, gestor da Schroders Brasil. "A bolsa passa a ter maior escala e, consequentemente, cobra menos taxas dos investidores, que passam a ter mais opções de papéis", explica.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ofertas de estreantes decepcionam na Bolsa

Valor Econômico

Fernando Torres, de São Paulo
23/03/2010

Vender uma ação abaixo do intervalo previsto no prospecto não era algo comum

Comprar ações em ofertas iniciais (IPOs na sigla em inglês) deixou de ser bom negócio. Nas quatro ofertas realizadas neste ano - as da administradora de shoppings Aliansce, da empresa de fidelidade Multiplus, da investidora imobiliária BR Properties e da empresa do setor naval OSX - houve desconto em relação ao preço mínimo sugerido e também queda da ação no dia de estreia. Levantamento feito pelo Valor mostra que o percentual de ofertas em que os preços caem no primeiro dia de negociação vem subindo ano a ano. Foi de zero em 2004, subiu para 11% em 2005 e 2006, saltou para 33% em 2007, passou para 50% em 2008 e 2009 e atingiu 100% neste início de ano.

Se em 2004 e 2005 o ganho médio no primeiro dia de um IPO foi de 8,4% e 7,4%, respectivamente, neste ano a variação média é negativa em 5,5%.

 

 

Em todas as ofertas deste ano, as empresas foram forçadas a dar desconto em relação ao piso do intervalo sugerido. A diferença média foi de 12% ante o preço mínimo. Vender uma ação abaixo do intervalo previsto no prospecto não era algo comum. Isso ocorreu em 19 das 107 ofertas iniciais realizadas entre 2004 e 2007, o que equivale a um índice de 18%. De 2008 para cá, houve descontos em 8 das 14 ofertas, um percentual de 57%.

Isso não significa que as ações que caem na estreia não se recuperarão. Os papéis de duas das três empresas que fizeram IPO neste ano, por exemplo, acumulam forte alta desde a estreia. O papel da Aliansce subiu 17,67% até a última sexta-feira e o da Multiplus, 15,63%. Mas o investidor que comprou as ações pelo preço médio do primeiro dia de negociação ganhou mais - 20,48% com a administradora de shoppings e 23,83% com a empresa de fidelidade. Se comprasse a ação pelo preço mínimo no dia da estreia, o lucro seria ainda maior: 23,86% e 31,58%, respectivamente.

segunda-feira, 22 de março de 2010

CVM prepara novas regras para fundos

O Estado de São Paulo

22/03/2010


 

Objetivo principal da autarquia é deixar mais claras as informações sobre as taxas de administração cobradas dos clientes

 
 

Roberta Scrivano

 
 

O Brasil vai ter novas regras para os fundos de investimento em 2011. O principal objetivo da iniciativa, coordenada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), é aperfeiçoar a regulamentação das taxas de administração cobradas dos investidores. A ideia é melhorar a maneira como os bancos informam ao cliente o que é essa taxa e o que é de fato o rendimento líquido do fundo.

"Queremos facilitar a vida do investidor", diz a superintendente de desenvolvimento de mercados da autarquia, Luciana Dias. A intenção da CVM está vinculada ao fato de as taxas de administração reduzirem - em alguns casos, drasticamente - o rendimento do cliente.

Simultaneamente às novas regras, a CVM investiga fundos que, para a instituição, cobram taxas exorbitantes. Até agora, o órgão encontrou três casos de taxas consideradas demasiadamente altas em fundos DI. O custo varia de 8% a 11% ao ano.

A superintendente da CVM salienta, porém, que as novas regras são parte do "processo evolutivo do setor financeiro". "A regulamentação viria de qualquer maneira", frisa.

Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), entidade que representa os bancos, não quis se pronunciar.

Clareza. A reforma da CVM prevê alterar três pontos das atuais regras: a maneira como são informadas as taxas de administração, o prospecto do fundo e o esclarecimento das regras do resgate dos valores investidos.

William Eid Júnior, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera as alterações "de extrema relevância". "Dessa maneira, o investidor não terá surpresas negativas", afirma.

Na avaliação do especialista, hoje, um fundo DI ou de renda fixa que tenha taxa de administração superior a 1% ao ano não é um bom negócio para o investidor. "Custos superiores a 1% tornam a simples poupança muito mais rentável que um fundo DI."

Luís Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, concorda. "Administrar um fundo DI é muito simples. A taxa de administração deveria ser baixa", diz.

Para Ricardo Rocha, professor do Insper, (ex-Ibmec São Paulo), um custo coerente para a taxa de administração de um fundo DI ou de renda fixa não pode ser superior a 0,5% ao ano, quando o total investido é inferior a R$ 10 mil. "Acima desse montante, a taxa deve ser ainda menor."

CDBs, rendimento e procura em ritmo de alta

O Globo


 

22/03/2010 


 

Com medida do BC, bancos elevam taxa oferecida pelos títulos pré e pós-fixados para captar mais recursos

Bruno Villas Bôas

Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) começam a recuperar o antigo charme, após perder em rentabilidade para aplicações de renda fixa no ano passado. Os juros pagos aos investidores voltaram a apontar para cima nas últimas semanas e tendem a crescer mais nos próximos meses, segundo especialistas.

O que muda é o mercado. O Banco Central (BC) começa hoje a enxugar cerca de R$ 71 bilhões da economia com a ampliação do recolhimento compulsório dos bancos, o que obriga as instituições a depositarem um volume maior dos recursos captados dos seus clientes na conta do BC.

Os analistas explicam que, para recompor o caixa, os bancos precisarão oferecer aos clientes um melhor rendimento nos CDBs prefixados e pós-fixados, um dos mais tradicionais meios de captação das instituições. Hoje, um CDB prefixado com vencimento em 90 dias paga uma taxa bruta de 8,61% ao ano. No começo do ano, o rendimento estava em 8,32% ao ano. E esse retorno tende a crescer.

O mesmo vale para CDBs pós-fixados, que tiveram aumento de 99% para 101% do CDI (Certificados de Depósito Interbancário, empréstimos entre os bancos, que acompanham a taxa básica Selic, fixada pelo Banco Central) nas últimas semanas. Neste caso, a variação vale para investidores institucionais, como empresas e fundos. Se a previsão dos analistas se confirmar e a Selic subir dos atuais 8,75% para 9,25% ao ano, o retorno será maior a partir de abril.

Segundo Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec, os CDBs são um investimento seguro, principalmente quando adquiridos de grandes bancos.

Os títulos são geralmente oferecidos aos correntistas na rede bancária e o rendimento varia de acordo com o volume de dinheiro aplicado e o tempo previsto para o saque.

O certificado é um título simples, mas o investidor, às vezes, tem dificuldade para entender seu rendimento. Por exemplo, a taxa oferecida pelo banco é bruta, ou seja, não considera o que será pago de Imposto de Renda na hora da liquidação (resgate do dinheiro) explica Braga.

Segundo o administrador de investimentos Fabio Colombo, uma vantagem dos CDBs sobre os fundos é não ter taxa de administração. Mas ele alerta que é preciso ter cuidado com as regras para sair do título antes do vencimento. Tradicionalmente, os bancos oferecem recompra dos CDBs, mas estabelecem critérios que podem significar um rendimento prefixado menor.

É preciso negociar.

Jorge Knauer, do Banco Prosper, acredita que os CDBs pósfixados devem ter uma procura maior nos próximos meses, por causa do aumento da Selic. Para ele, o papel tende a oferecer uma rentabilidade melhor.

Existe uma tendência clara de aumento dos juros. Normalmente em momento de alta da Selic os investidores vão para os pós-fixados e, em períodos de queda, para os prefixados afirma Knauer, responsável no banco pela fixação da taxa dos certificados.

Para o diretor de investimentos do grupo Santander, Eduardo Jurcevic, a liquidez dos bancos continua confortável, apesar do aumento do recolhimento do compulsório.

Por isso, acredita que o rendimento dos CDBs vai subir de forma mais gradual.

Não será nada parecido com o que aconteceu no auge da crise, quando bancos de primeira linha chegaram a pagar 105% do CDI afirma.

BB: fundos perderão dinheiro novo para CDBs Jurcevic não informa qual será o montante do recolhimento do Santander com o aumento do compulsório, mas garantiu que o banco não terá nenhuma problema para captação de recursos, caixa e oferta de crédito.

No Banco do Brasil (BB), avaliação é semelhante. Antônio Cássio Segura, gerente-executivo da diretoria de Varejo, explica que, por ser um produto com perfil conservador, seria adequado para a maior parcela dos investidores. Para ele, o CDB está em um momento favorável, com rendimento entre 94% e 95% do CDI no banco. Mas Segura afirma que o BB não pretende aumentar a rentabilidade dos títulos a curto prazo.

Existe uma tendência de o dinheiro novo ir para CDBs, em vez de fundos. Mas vamos manter nossa política atual de pagamento.

Estamos com bastante liquidez e não acreditamos em migração de recursos de fundos para os CDBs. Temos conforto para esperar afirma.

O Itaú Unibanco também aposta na migração de investidores para aplicações diretas nos CDBs. Em entrevista em fevereiro, o diretor de Relações com Investidores da instituição, Alfredo Setubal, disse que a tendência é de aumento de competição entre bancos pelos recursos, o que vai melhorar o rendimento dos CDBs.

O banco precisará recolher mais de R$ 20 bilhões por causa da alíquota maior do compulsório.

Hora de rever a carteira de ações

 


 

  

Com o primeiro trimestre chegando ao fim, é um bom momento para reavaliar as aplicações

Jornal da Tarde

22/03/2010

Paulo Darcie, paulo.darcie@grupoestado.com.br


 

A taxa básica de juros (Selic) poderia ter subido na semana passada, mas o Comitê de Política Monetária preferiu não alterá-la. Apurado o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado, com queda de 0,2% em relação a 2008, verificou-se que o estrago da crise financeira internacional não foi tão grande. Quase 300 mil empregos foram criados no primeiro bimestre de 2010. A proximidade do fim do primeiro trimestre pode ser um bom momento para o investidor da Bolsa de Valores de São Paulo revisar sua carteira. Dentre os analistas não há papéis ou setores unânimes, mas alguns têm mais chances do que outros de prosperar.

De outubro passado até março, foi comum ver nas listas de recomendações de corretoras ações de empresas que de alguma forma ganham com o reaquecimento do mercado interno, como redes de varejo, construtoras e empresas de telefonia, e o cenário continua favorável a elas.

"Os indicadores de emprego e renda mostram que o ritmo do consumo interno deve continuar crescente", afirma a analista chefe da corretora Spinelli, Kelly Trentin, lembrando os resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que no primeiro bimestre teve saldo positivo de 299 mil empregos.

O diretor de pesquisa da corretora Planner, Ricardo Martins, também vê espaço para ações ligadas ao consumo, mesmo com a iminente alta da Selic nas próximas reuniões do Copom. "Empresas como Lojas Renner e Americanas trabalham com cartões próprios, e o endividamento está baixo. Pequenas altas dos juros afetariam o consumo, apesar de preocupar o investidor".

Já o professor da Brazilian Business School, Ricardo Torres, não aposta tanto na força do cenário interno. "O efeito do 13º salário já passou e as contratações de fim e começo de ano já foram feitas. A tendência é que o setor evolua, mas não acima da média", avalia.

Ele lembra que, apesar dos bons sinais de recuperação mundo afora, os investidores ainda estão cautelosos quanto à dívida pública de países da Zona do Euro, principalmente a Grécia, e diminuíram, no primeiro trimestre, o ritmo dos investimentos, inclusive no Brasil. "Mas preços do petróleo, ferro e aço estão se recuperando", afirma. A melhora, mesmo lenta lá fora, dá espaço para papéis de grandes exportadoras, como Usiminas e Vale do Rio Doce.

A analista Kelly, da Spinelli, chama atenção às empresas que podem ganhar em ambos os cenários. "Estamos avaliando a entrada da Marfrig no portfólio de abril", conta. Para o gerente da Planner, frigoríficos como Marfrig, Bertin e Minerva são boas opções, mas o investidor deve ficar atento às oscilações do dólar: quanto mais cara a moeda no Brasil, melhor para as exportações.

"No segundo trimestre ele deve ficar estável e os frigoríficos ganham em volume. Com a proximidade das eleições o dólar deve subir, assim como o risco país".

Mas a cautela ainda deve ser grande, e cada papel deve ser analisado com calma, diz Martins. A Brasil Foods, união de Perdigão e Sadia, mesmo que tenha bons resultados em suas exportações, ainda deve ter resultados financeiros negativos em 2010.

Mantendo a estratégia

Com uma carteira de ações diversificada, a advogada Paula Fajardo prefere não dar ênfase em algum setor. "Tento acompanhar bastante o rendimento das empresas de commodities, mas não fico só nisso", diz ela. "Gosto de ações de bancos e empresas de tecnologia, que sempre crescem".

Independentemente do setor, nas épocas que tem mais tempo para se informar, Paula tenta lucrar com as ofertas iniciais de capital (IPOs). "Quando compro, vendo metade logo e mantenho metade para longo prazo", conta.

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