segunda-feira, 22 de março de 2010

CDBs, rendimento e procura em ritmo de alta

O Globo


 

22/03/2010 


 

Com medida do BC, bancos elevam taxa oferecida pelos títulos pré e pós-fixados para captar mais recursos

Bruno Villas Bôas

Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) começam a recuperar o antigo charme, após perder em rentabilidade para aplicações de renda fixa no ano passado. Os juros pagos aos investidores voltaram a apontar para cima nas últimas semanas e tendem a crescer mais nos próximos meses, segundo especialistas.

O que muda é o mercado. O Banco Central (BC) começa hoje a enxugar cerca de R$ 71 bilhões da economia com a ampliação do recolhimento compulsório dos bancos, o que obriga as instituições a depositarem um volume maior dos recursos captados dos seus clientes na conta do BC.

Os analistas explicam que, para recompor o caixa, os bancos precisarão oferecer aos clientes um melhor rendimento nos CDBs prefixados e pós-fixados, um dos mais tradicionais meios de captação das instituições. Hoje, um CDB prefixado com vencimento em 90 dias paga uma taxa bruta de 8,61% ao ano. No começo do ano, o rendimento estava em 8,32% ao ano. E esse retorno tende a crescer.

O mesmo vale para CDBs pós-fixados, que tiveram aumento de 99% para 101% do CDI (Certificados de Depósito Interbancário, empréstimos entre os bancos, que acompanham a taxa básica Selic, fixada pelo Banco Central) nas últimas semanas. Neste caso, a variação vale para investidores institucionais, como empresas e fundos. Se a previsão dos analistas se confirmar e a Selic subir dos atuais 8,75% para 9,25% ao ano, o retorno será maior a partir de abril.

Segundo Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec, os CDBs são um investimento seguro, principalmente quando adquiridos de grandes bancos.

Os títulos são geralmente oferecidos aos correntistas na rede bancária e o rendimento varia de acordo com o volume de dinheiro aplicado e o tempo previsto para o saque.

O certificado é um título simples, mas o investidor, às vezes, tem dificuldade para entender seu rendimento. Por exemplo, a taxa oferecida pelo banco é bruta, ou seja, não considera o que será pago de Imposto de Renda na hora da liquidação (resgate do dinheiro) explica Braga.

Segundo o administrador de investimentos Fabio Colombo, uma vantagem dos CDBs sobre os fundos é não ter taxa de administração. Mas ele alerta que é preciso ter cuidado com as regras para sair do título antes do vencimento. Tradicionalmente, os bancos oferecem recompra dos CDBs, mas estabelecem critérios que podem significar um rendimento prefixado menor.

É preciso negociar.

Jorge Knauer, do Banco Prosper, acredita que os CDBs pósfixados devem ter uma procura maior nos próximos meses, por causa do aumento da Selic. Para ele, o papel tende a oferecer uma rentabilidade melhor.

Existe uma tendência clara de aumento dos juros. Normalmente em momento de alta da Selic os investidores vão para os pós-fixados e, em períodos de queda, para os prefixados afirma Knauer, responsável no banco pela fixação da taxa dos certificados.

Para o diretor de investimentos do grupo Santander, Eduardo Jurcevic, a liquidez dos bancos continua confortável, apesar do aumento do recolhimento do compulsório.

Por isso, acredita que o rendimento dos CDBs vai subir de forma mais gradual.

Não será nada parecido com o que aconteceu no auge da crise, quando bancos de primeira linha chegaram a pagar 105% do CDI afirma.

BB: fundos perderão dinheiro novo para CDBs Jurcevic não informa qual será o montante do recolhimento do Santander com o aumento do compulsório, mas garantiu que o banco não terá nenhuma problema para captação de recursos, caixa e oferta de crédito.

No Banco do Brasil (BB), avaliação é semelhante. Antônio Cássio Segura, gerente-executivo da diretoria de Varejo, explica que, por ser um produto com perfil conservador, seria adequado para a maior parcela dos investidores. Para ele, o CDB está em um momento favorável, com rendimento entre 94% e 95% do CDI no banco. Mas Segura afirma que o BB não pretende aumentar a rentabilidade dos títulos a curto prazo.

Existe uma tendência de o dinheiro novo ir para CDBs, em vez de fundos. Mas vamos manter nossa política atual de pagamento.

Estamos com bastante liquidez e não acreditamos em migração de recursos de fundos para os CDBs. Temos conforto para esperar afirma.

O Itaú Unibanco também aposta na migração de investidores para aplicações diretas nos CDBs. Em entrevista em fevereiro, o diretor de Relações com Investidores da instituição, Alfredo Setubal, disse que a tendência é de aumento de competição entre bancos pelos recursos, o que vai melhorar o rendimento dos CDBs.

O banco precisará recolher mais de R$ 20 bilhões por causa da alíquota maior do compulsório.

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