sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Programa ensinará educação financeira para os militares

Valor Econômico

Por Janes Rocha, do Rio
11/12/2009

Está marcada para 8 de março a primeira aula de educação financeira do Banco Central (BC) para os militares da Aeronáutica. O curso será numa sede da Aeronáutica no Rio, que está para ser definida, e os militares vão receber treinamento sobre como lidar com o dinheiro, organizar o orçamento pessoal, como evitar as armadilhas do crédito e aplicar o excedente financeiro.

O BC também vai levar o curso para o Exército e a Marinha. A ideia é que eles formem grupos que, no futuro, vão levar orientação financeira para os lugares remotos do país aonde só eles chegam. "O curso é bem simples", explica Sergio Lima, consultor da presidência do BC e coordenador do grupo de trabalho de educação financeira do banco. "A ideia não é transferir conhecimentos técnicos sofisticados, mas sensibilizar as pessoas para que consumam de forma mais consciente", diz Lima.

O projeto faz parte do programa de educação financeira do governo federal, que está em elaboração e envolve o Ministério da Educação e quatro órgãos relacionados com as finanças - BC, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

O grupo nasceu de um decreto de 2007, que criou um comitê de fiscalização da área financeira, o Coremec. Uma das tarefas do comitê é propor um programa nacional de educação financeiro como política pública nacional. Na divisão de funções dentro do projeto, a CVM ficou de levar a educação para crianças e adolescentes nas escolas e o BC, ao público adulto.

A aproximação com os militares se deu durante a busca por parceiros que fossem "multiplicadores" do programa de educação financeira que o BC já tinha, mas que não conta com estrutura própria para se difundir, explicou Lima. Com a mesma finalidade foram contatados centros acadêmicos como a Unesp, Instituto Militar de Engenharia, a Universidade Católica de Petrópolis, e instituições de outros ramos como o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo e a Associação de Prefeituras do Vale do São Francisco.

O objetivo final, explica o consultor do BC, é dar conta de um enorme desafio que vem pela frente: atender o programa do governo de levar serviços financeiros para os 12,4 milhões de titulares da bolsa família.

Os beneficiários do programa de complementação de renda do governo já estão de posse de cartões de débito e a Caixa Econômica Federal (CEF) já abriu conta corrente para dois milhões deles. A Caixa tem manifestado que o próximo passo será dar acesso a produtos financeiros como crédito e microsseguros por meio dessas contas.

José Alexandre Vasco, superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores da CVM e coordenador do grupo dentro da autarquia, completa que há também uma preocupação com a entrada maciça de investidores no mercado. Só na área da comissão, já são 552 mil investidores no mercado de ações e 13 milhões de cotistas de fundos de investimentos.

A população inserida no mundo financeiro conta ainda com 92 milhões de aplicadores nas cadernetas de poupança e um número não calculado de tomadores de crédito. "O movimento de redistribuição de renda que estamos assistindo, e que se espera que continue, fará com que cada vez mais pessoas ingressem no mundo das finanças", diz Vasco.

Para o coordenador da CVM, "é por meio da escola que vamos construir uma relação saudável dessas pessoas com o dinheiro". Vasco diz que o projeto também tem um aspecto importante que é não apenas evitar o superendividamento, que leva à inadimplência, mas também as captações irregulares (como as pirâmides) e as fraudes contra os investidores.

A preocupação não é só no Brasil. Na próxima terça-feira, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vai realizar uma conferência internacional no Rio, junto com a CVM, para discutir educação financeira. A conferência será nos dias 15 e 16 de dezembro de 2009 no Hotel Sofitel. Serão seis sessões de debates, divididas entre os dois dias de evento, com representantes de reguladores e outras entidades relacionadas à educação financeira de todo o mundo.

Análise de perfil do investidor chega ao varejo em janeiro

Valor Econômico

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo
11/12/2009

O dinamismo do mercado de capitais aumentou o trabalho da área de regulação e melhores práticas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Na agenda de 2010, destaca-se, por exemplo, a supervisão da implantação da Análise de Perfil do Investidor (API, nome adotado no Brasil para o conceito de "suitability") no varejo bancário de todo o país já a partir de janeiro.

Esse trabalho de verificar a adequação das recomendações de investimento ao perfil do cliente começou a ser desenvolvido nas áreas private, em julho de 2008. Naquele momento, foram definidas as políticas, procedimentos e prazos para que as instituições apresentassem suas metodologias. O processo de verificação do perfil do investidor no varejo deverá ser aplicado inicialmente para aquisição de cotas de fundos de ações, multimercados ou de renda fixa com crédito privado.

"O mercado brasileiro evoluiu, é preciso avançar", disse o presidente da Anbima, Marcelo Giufrida. O juro baixo tem levado investidores a buscar alternativas com potencial de ganho maior e, muitas vezes, mais sofisticadas. "A implantação da API no varejo mostra o cuidado com o investimento da pessoa física", reforçou o vice-presidente da Anbima, Demosthenes Madureira de Pinho Neto. Além disso, segundo ele, traz mais transparência e elementos para que o processo de decisão seja tomado de forma consciente.

Os bancos deverão confrontar o perfil do investidor com as características das aplicações. Caso o investidor opte por um fundo que, em tese, não se enquadra ao seu perfil, terá de registrar sua intenção por escrito, disse Giufrida. Ainda segundo ele, no futuro, a ideia é estender o processo para todos os investimentos.

As áreas de private banking de 18 entidades que já implantaram a "suitability" foram alvo neste ano, de uma supervisão in loco. O objetivo era verificar se a recomendação de investimentos estava adequada. Segundo o superintendente de regulação e melhores práticas da Anbima, José Carlos Doherty, o resultado mostra que os processos foram bem implantados.

A verificação, segundo ele, é por amostragem e envolveu a análise de todo o procedimento adotado pelo banco na oferta de produtos aos clientes, como os questionários aplicados e registros assinados. No varejo, ele reconhece que o desafio será maior, mas o período para a implantação, a fim de cobrir toda a base de clientes, será de pelo menos dois anos.

A Anbima ampliou ainda a supervisão das atividades de fundos. Segundo Doherty, o foco deste ano foi o acompanhamento da participação de títulos de crédito privado nas carteiras dos fundos de investimento. A supervisão temática começou em meados de 2007 com as Cédulas de Crédito Bancário (CCBs). O objetivo era medir a exposição do mercado a esses papéis. O processo continua até para verificar como os administradores fazem a marcação a mercado de títulos de empresas que, por exemplo, entram em recuperação judicial.

Neste ano, a entidade passou a olhar para Certificados de Depósito Bancário (CDBs), debêntures, Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs) e títulos do agronegócio. "A exposição do setor de fundos a títulos privados ainda é pequena", disse. Com CDB, soma 15% do patrimônio. Sem esse ativo, não chega a 5%. Mas a supervisão é importante por conta do risco de imagem. Um problema com um título pode afetar outras carteiras.

Os fundos de recebíveis também entraram no foco da entidade. A Anbima passou a acompanhá-los sob duas óticas: a do administrador/gestor e a do custodiante, que tem responsabilidade em atestar o lastro dos recebíveis.

Neste ano, a Anbima enviou mais de 200 cartas de recomendação, aplicou 149 multas e instaurou 5 processos para apurar irregularidades.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O desafio da educação financeira está em mudar atitudes

Valor Econômico

Haroldo Torres
10/12/2009

Quem nunca ficou enforcado no cartão de crédito ou no cheque especial? Quem conhece os truques da previdência privada? Quem sabe investir na bolsa de valores? Quem lê regularmente a seção de notícias econômicas nos jornais? Se você respondeu positivamente às quatro perguntas acima, sinta-se incluído entre o seleto grupo de brasileiros que possui um produto escasso e considerado de grande importância: educação financeira.

Além de sua óbvia relevância em países de baixa escolaridade como o Brasil, o tema da educação financeira se tornou uma preocupação global. Organizações tão diversas quanto a Financial Consumer Agency, do Canadá, o Banco Central da Áustria, a Comissão de Aposentadoria, da Nova Zelândia, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e a Financial Services Authority , da Inglaterra, estão diligentemente liderando programas de educação financeira.

A intenção é mudar o comportamento de consumidores superendividados, a mudança dos hábitos de poupança de longo prazo e o aumento do conhecimento sobre a grande gama de produtos financeiros atualmente existentes. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OECD) lançou recentemente um portal de informações (www.financial-education.org) que visa consolidar a experiência sobre o tema entre os diversos governos filiados.

Em tese, educação financeira deveria fazer parte do currículo básico de todo cidadão. Juros compostos, por exemplo, são essenciais para quem tenta construir um raciocínio sobre compras a crédito ou sobre investimentos de longo prazo. No entanto, a maioria dos brasileiros, mesmo os relativamente educados, não entende essa lógica. E, mesmo sem entender, as pessoas tomam decisões sobre esse tema o tempo todo. O que vale mais à pena: financiar três vezes no cartão ou comprar à vista? Como me organizar para quitar a casa própria ou o carro? Qual é a melhor proposta de seguro?

Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento Social anunciou que transformará, em parceria com a Caixa Econômica Federal, o cartão do Programa Bolsa Família (com 12 milhões de beneficiários) em uma conta corrente. Pela primeira vez, a população mais carente do Brasil terá acesso aos benefícios do cartão de débito, da poupança e, possivelmente, do crédito. Apesar dos méritos do projeto, como será que funcionarão esses produtos na mão de um usuário frequentemente analfabeto ou com baixíssima escolaridade?

Entre os especialistas, persistem muitas dúvidas sobre quais ações funcionam e quais não funcionam no campo da educação financeira. Afinal, uma coisa é dar informação e outra é mudar hábitos e atitudes.

Muitos sabem que não devem se endividar excessivamente, mas não resistem quando recebem uma boa proposta de crediário. Quase todos sabem que devem poupar para a velhice, mas são poucos os que se organizam efetivamente para adquirir seguros e planos de previdência privada. Como mudar atitudes? Essa é a principal pergunta do campo de educação financeira. Aliás, como fazer para mudar atitudes quando o varejo e os bancos nos bombardeiam diariamente com ofertas imperdíveis de produtos e serviços com prazos a perder de vista?

E se mudar atitudes é difícil na Austrália e no Canadá, no Brasil o desafio da educação financeira é dobrado, pois a população adulta tem apenas sete anos de escolaridade, em média. Por aqui, precisamos dar educação financeira para quem não tem educação formal. E o nosso tardio processo de inclusão bancária tende a complicar ainda mais essa dinâmica.

As experiências que vem da área de saúde relacionadas ao combate ao hábito de fumar, à promoção do uso da camisinha e ao emprego do cinto de segurança mostram que as iniciativas mais bem-sucedidas em termos de estímulo a mudanças de hábitos considerados socialmente inadequados possuem uma combinação de elementos tão sofisticados e elaborados quanto os das melhores campanhas de marketing de bens de consumo, levando em conta aspectos educativos, promocionais e repressivos.

Mas será que estamos preparados para uma legislação mais dura na área de comunicação de produtos financeiros, a exemplo da verificada com o cigarro e com remédios? Será que deveríamos passar a multar quem deixou o nome sujo pela terceira vez?

Independente da resposta a todas essas perguntas, tudo indica que a educação financeira é um tema que veio para ficar. Bancos, varejistas, governo, mídia e autoridades regulatórias terão de se posicionar sobre o assunto. Qual é a sua posição?

Haroldo Torres é economista, demógrafo e um dos dirigentes da PlanoCDE, empresa especializada em projetos para a base da pirâmide

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quase 4 milhões de aposentados ainda trabalham

O artigo a seguir foi selecionado para alertar sobre a importância de poupar para a aposentadoria e de educar os filhos financeiramente para que sejam independentes. Claro que há situações que isto é muito difícil, mas caso você possa fazer um esforço, a recompensa será uma aposentadoria livre de preocupações.

O Globo

09/12/2009

Idosos correspondem a 23,3% dos chefes de família acima de 18 anos, segundo o IBGE, e sustentam filhos e netos

Fabiana Ribeiro

 RIO e RECIFE. A aposentadoria não é necessariamente um passaporte para ficar em casa. Tanto que quase 20% dos idosos brasileiros — 3,8 milhões de pessoas acima de 60 anos — trabalham mesmo recebendo o benefício. Continuar na ativa, entretanto, nem sempre é uma opção, já que os idosos são 23,3% dos chefes de família com mais de 18 anos, segundo o IBGE. Na maioria dos casos, é, portanto, uma questão de necessidade.

— O Brasil se caracteriza por ter rendimentos muito baixos.

É inevitável que as pessoas continuem a trabalhar. É, muitas vezes, uma questão de sobrevivência — afirmou Hildete Pereira, professora da UFF.

Segundo José Carlos Libânio, ex-coordenador do Programa de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, a renda dos idosos é crucial para o sustento material dos familiares — e não o contrário.

— Entre os idosos saudáveis e ativos, a dependência dos filhos não prevalece: fazem questão de exercer sua independência na vida financeira, ao tomar decisões, no cuidado com o lar, nas compras e na liberdade de ir e vir. Isso é possível porque a renda do trabalho declina com a idade. Já a aposentadoria é constante dentro de cada grupo de renda — comentou Libânio, acrescentando que sustentar parentes é mais comum na Região Nordeste e na classe C.

Três gerações na mesma casa, peso para o idoso

De acordo com os dados do IBGE, a renda dos aposentados brasileiros é, em média, de 1.158,23. No Estado do Rio, estado com maior proporção de idosos, chega a R$ 1.536,13.

Uma renda que pode ser acumulada com outros ganhos, ao contrário do que acontece em países da Europa.

— Cerca de 88% das pessoas acima de 65 anos recebem contribuição previdenciária, um apoio de nível europeu. Uma pessoa se aposentar antes dos 60, como acontece no Brasil, é muito cedo — disse Vinícius Pinheiro, da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Na avaliação de Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea, a presença da renda do idoso na família adia a saída dos jovens da casa dos pais.

Ou, muitas vezes, provocam um retorno — o filho que volta a morar com os pais, após uma separação, por exemplo.

— Vários fatores fazem com que, muitas vezes, três gerações morem na mesma casa, como relações afetivas instáveis, gravidez precoce e dificuldades no mercado de trabalho.

Tendência muito observada no interior — principalmente nas áreas rurais do semiárido nordestino —, é grande o número de idosos que dividem suas aposentadorias com filhos, genros, netos. Um levantamento entre grupos de convivência de Recife indicou que 80,8% dos consultados sustentam ou ajudam suas famílias, inclusive dependentes em idade produtiva.

Segundo Karina Antunes, diretora de Proteção Social Básica da Secretaria de Ação Social da Prefeitura do Recife, a pesquisa mostrou que 52,9% são provedores, enquanto 27,9% contribuem para a renda familiar. Na capital pernambucana, a maioria dos aposentados recebe apenas um salário mínimo. E é nessa faixa que se concentram aqueles que se veem obrigados a dividir os proventos com até 15 pessoas.

— Essa situação preocupa muito, porque os provedores sustentam grandes famílias, são explorados e sofrem toda sorte de violência, inclusive psicológica.

Transformam-se em alvos seja do empréstimo com desconto em folha ou dos familiares.

Por isso, têm que ser instruídos para que não sejam enganados, inclusive pelos bancos.

João Francisco Sales, de 82 anos, é um exemplo de aposentado que mantém a família.

Residindo há quase 40 anos na favela Caranguejo Tabaiares, ele sustentava dez pessoas até a semana passada, entre a mulher (Lindalva Oliveira Salles, de 66 anos), filhos, nora e netos. Em novembro, o filho Isaías, de 30 anos, arranjou emprego de pedreiro e passou a sustentar mulher e o filho. Mesmo assim, mora na casa dos pais.

— É muita gente. Eu, minha velha, filho, nora, netos, tudo para eu dar de comer. A dificuldade é grande, falta dinheiro para comida e remédio. E a luz e a água estão atrasados — diz seu João Francisco.

— A gente come por 15 dias. E os outros do mês Deus sabe como a gente passa. Tem semana que só come pão com mortadela, e assim vai levando a vida até quando Deus quiser — conforma-se dona Lindalva.

1,6 milhão de mulheres com mais de 60 anos sem renda Em Recife, calcula-se em mais de 152 mil os idosos, cerca de 9,9% da população. No Nordeste, 63,5% dos domicílios possuem o idoso contribuindo com mais da metade do orçamento das famílias. "Tais números podem indicar uma elevação de renda média dos idosos, mas também podem sugerir que a renda dos mais jovens seja mais instável e relativamente menor, daí o aumento da necessidade do suporte da renda disponível da pessoa idosa", afirma o estudo diagnóstico dos grupos de idosos da cidade do Recife.

De acordo com Hildete Pereira, professora da UFF, o país conta ainda com brasileiros sem renda alguma. Há cerca de 1,6 milhão de mulheres com mais de 60 anos sem qualquer rendimento. Entre homens, o número é menor: 288 mil.

— Quem trabalha acima dos 60 anos, em sua maior parte, é o homem. E, assim, essa mulher fica na dependência da família — concluiu Hildete.


COLABOROU: Letícia Lins, de Recife

Está mais fácil comprar imóvel popular em São Paulo

Jornal da Tarde

09/12/2009

Oferta de casas e apartamentos de dois dormitórios aumentou este ano na capital em comparação com 2008. Na esteira do programa 'Minha Casa, Minha Vida', construtoras concentram lançamentos em unidades desse tipo

CAROLINA DALL'OLIO, carolina.dallolio@grupoestado.com.br

De olho no consumidor de baixa e média renda, as construtoras lançaram imóveis menores - e mais baratos - em 2009, mudando o perfil do mercado imobiliário paulistano. Até o ano passado, as unidades de três dormitórios respondiam pela maior parte dos lançamentos. Agora, quem for comprar a casa própria vai perceber que a oferta se concentra nas de dois dormitórios.
Segundo estudo do Sindicato da Habitação (Secovi-SP) divulgado ontem, os imóveis com dois quartos passaram de 34,6% dos lançamentos em 2008 para 45,9% em 2009. Já as unidades com três quartos caíram de 38,2% para 32,4% do total (veja ao lado).

Crédito mais farto e mais barato explica, em parte, a mudança de perfil das unidades lançadas. Em 2009, os juros caíram, e o volume de recursos voltados ao financiamento imobiliário aumentou - devendo fechar o ano na casa dos R$ 32 bilhões, 6,3% a mais que os R$ 30,1 bilhões emprestados em 2008. Com isso, ficou mais fácil fazer a prestação da casa própria caber no bolso.

Mas o principal incentivo para as construtoras mudarem de foco, investindo menos em imóveis de alto padrão e priorizando os populares, partiu do governo. Com o lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, que subsidia o financiamento de imóveis novos de até R$ 130 mil voltados para famílias com renda de até dez salários mínimos, o mercado recebeu uma injeção de capital para empréstimos diretos a construtoras e mutuários. Somados os recursos do FGTS, do Orçamento Geral da União e do BNDES, o projeto vai contar com uma verba total de R$ 34 bilhões até 2010.

Em sintonia

"Os produtos ofertados pelas incorporadoras, na cidade de São Paulo, agora estão indo ao encontro das necessidades do consumidor", avalia Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP. As vendas de 2009 mostram que Petrucci está certo. De acordo com a pesquisa do Secovi-SP, 41,5% dos imóveis novos vendidos em 2009 tinham dois dormitórios. Em 2008, eles eram 31,7%.
O comportamento das vendas dos imóveis usados já indicava que havia uma lacuna no mercado a ser preenchida. "Para as imobiliárias, as casas e apartamentos de dois quartos sempre foram os mais vendidos", relata José Viana neto, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-SP). Em 2009, os usados responderam por mais de 50% das unidades comercializadas.

"Os imóveis usados chegam a custar até metade do preço dos novos, e há opções muito variadas", descreve Viana. "Por isso, quem não encontrava um imóvel novo por um preço acessível ou no tamanho que queria, se voltava para os imóveis usados."
A tendência é que as construtoras continuem lançando imóveis populares em 2010. Afinal, apenas 300 mil unidades foram contratadas pelo 'Minha Casa, Minha Vida' em todo País até agora, estima o Secovi-SP. Para cumprir a meta do programa de financiar 1 milhão de moradias até 2010, faltariam, portanto, 700 mil contratos a serem fechados em 12 meses. Do total de imóveis financiados pelo projeto, 184 mil devem estar no Estado de São Paulo.


COMO FAZER

PARA QUEM GANHA ATÉ TRÊS SALÁRIOS MÍNIMOS

É preciso procurar a prefeitura, o governo do Estado ou movimentos sociais para se cadastrar no 'Minha Casa, Minha Vida'

A parcela a ser paga durante dez anos será simbólica: o custo mínimo é de R$ 50 e pode chegar a, no máximo, 10% da renda

PARA QUEM GANHA DE QUATRO A DEZ SALÁRIOS

A venda dos imóveis será feita por meio das próprias construtoras e da Caixa Econômica Federal
Basta encontrar um imóvel novo, que custe até R$ 130 mil e solicitar no financiamento um
financiamento do 'Minha Casa, Minha Vida'

Será preciso passar por uma análise de crédito

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Alugue já

Retorno na casa dos dois dígitos de algumas operações de empréstimos de ações é um estímulo para investidores que mantêm carteiras de longo prazo

Valor Econômico

Por Adriana Cotias, de São Paulo
07/12/2009

Você tem ações dos frigoríficos Minerva, Marfrig, Açúcar Guarani, Nossa Caixa, Energias do Brasil, Banco Cruzeiro do Sul, MMX ou Guararapes na sua carteira? Então ponha para "alugar". No Banco de Títulos (BTC) da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), esses papéis têm ofertas registradas com taxas na casa dos dois dígitos, entre 10% e 18% ao ano. Para quem estiver disposto a fazer o que se chama formalmente de empréstimo a outro investidor - em geral os institucionais locais e estrangeiros -, tal transação pode representar um ganho extra, prefixado, para os portfólios de longo prazo. Ao mesmo tempo, reduz o custo de carregamento dos ativos, as despesas de manutenção, como a taxa de custódia e até mesmo a corretagem inicial.

Apesar de soar complicado, emprestar ou colocar ações para alugar, como se diz no jargão do mercado, é uma operação relativamente simples. O investidor tem apenas de fechar um contrato com uma corretora, formalizando a sua intenção. Será a instituição, no seu papel de intermediadora, que procurará potenciais tomadores para aqueles papéis. A custódia é então temporariamente transferida para o locatário. No período em que as ações ficarem emprestadas, o proprietário mantém o direito a receber dividendos, juros sobre capital próprio ou eventuais bonificações, só perdendo a prerrogativa do voto em assembleias da empresa emissora.

"Se o investidor não tem perspectiva de venda no médio prazo, não tem sentido ficar simplesmente carregando a ação, vale a pena saber se há demanda pelo papel, isso vai definir o preço, é uma mensuração que todo mundo deveria fazer", diz o superintendente comercial da Santander Corretora, Orlando Zainaghi. "As taxas recebidas com o aluguel vão compor o rendimento total da carteira, junto com a valorização na bolsa e os dividendos."

Na média, as taxas de aluguel representam um adicional de 5% ao ano na remuneração de um ativo, mas há casos que superam os dois dígitos. Tal preço resulta da relação entre a disponibilidade das ações no BTC e a sua procura, definida pelos institucionais estrangeiros e os fundos de investimentos, os grandes tomadores. Nesse ambiente, a liquidez não encontra, necessariamente, referências com o que ocorre com os papéis no mercado à vista, explica Maurício Ceará, também da Santander Corretora. "As empresas de construção civil, por exemplo, têm muita liquidez na Bovespa e pouca no mercado de aluguel." Cyrela, por exemplo, tem, na média, operações registradas a 8,88% ao ano; Rossi a 8,52%; Gafisa numa média de 6,23%; MRV, de 6,22%, e Rodobens, de 10,32%.

Isso ocorre porque os contratos de aluguel servem a inúmeras estratégias dos fundos "long/short" (de arbitragem), que compram, por exemplo determinada ação e ficam "vendidos" numa outra do mesmo setor, apostando na baixa ou na valorização inferior.

Pessoa física pode comprar papéis do BNDES até quinta

Investimento deverá oferecer rentabilidade superior à dos fundos de renda fixa

Aplicação é uma opção de investimento para pessoas avessas ao risco da Bolsa; valor mínimo é de R$ 1.000 e máximo, de R$ 500 mil

FOLHA DE SÃO PAULO

07/12/2009


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) retomou a venda de debêntures (papéis de dívida privada que rendem juros) da BNDESPar, seu braço de participações em empresas privadas. O banco havia feito ofertas semelhantes em 2006 e 2007.
Segundo analistas, a aplicação é uma opção de investimento para pessoas avessas ao risco da Bolsa e que buscam um retorno superior ao dos fundos de renda fixa, que seguem a variação dos juros da dívida pública, hoje em 8,75% ao ano.
O prazo para aplicação vai até quinta-feira, dia 10 deste mês. Para comprar os papéis, o investidor precisa ter conta em uma corretora de valores, como ocorre com as transações com ações e com títulos do Tesouro Direto. O investimento mínimo é de R$ 1.000 e o máximo, de R$ 500 mil.
A taxa de juros desses papéis será fixada de acordo com a demanda do mercado -quanto maior a procura, menor a taxa paga. O risco é o do próprio governo, como nos papéis do Tesouro Direto. A diferença é que se trata de um papel de dívida privada de uma empresa.
São dois tipos de debêntures: uma prefixada no momento da compra, com vencimento em 1º de janeiro de 2013, e outra com rendimento atrelado ao IPCA (índice de inflação medido pelo IBGE) mais uma taxa de juros também prefixada, que vai até 1º de janeiro de 2015.
A primeira debênture só paga os juros no dia do vencimento, e a segunda, em quatro parcelas anuais, sendo a primeira em 15 de janeiro de 2012.
A expectativa é que o papel prefixado tenha retorno anual em torno de 12,5% a 12,8%. A taxa Selic, que referencia o CDI, está hoje em 8,75% ao ano, mas o mercado acredita em aumento a partir de abril de 2010 diante do aquecimento da economia brasileira.
Para Fabio Colombo, administrador independente de investimentos, a aplicação valerá a pena se a taxa final ficar pelo menos um ponto percentual acima da de títulos semelhantes vendidos no Tesouro Direto. "É o prêmio por ser um título privado e pela liquidez baixa [dificuldade para negociar]."
Segundo Mauro Halfeld, consultor financeiro, dificilmente os papéis sairão com juros abaixo dos vendidos no Tesouro Direto. Para Halfeld, uma taxa entre 0,5 ponto e 1 ponto percentual acima da do Tesouro Direto já se torna interessante. "Diria que é o melhor investimento em renda fixa disponível hoje no mercado."
Na última sexta-feira, o Tesouro Direto oferecia LTN (título prefixado) com vencimento em 1º de janeiro de 2012 com juros de 11,83% ao ano.
Os papéis corrigidos pelo IPCA com rendimentos mais próximos dos da debênture do BNDES são as NTNB e NTNB série especial com vencimento em 15 de abril de 2015. Esses papéis eram negociados com juros de 6,76% e 6,8% mais a variação do IPCA.
Quem não pretende ficar com o título até o vencimento poderá vendê-lo a outro investidor por meio do Bovespa Fix ou da CetipNet, o chamado mercado secundário. No caso, o papel sairá com um deságio que refletirá o juro parcial aferido no momento da venda.
Dependendo da demanda, o BNDES pode ampliar a oferta em até 35%, o que levaria à venda de R$ 1,35 bilhão. Dessa forma, os juros não ficarão muito baixos e não haverá rateio entre os investidores. Do total oferecido, o BNDES reservou 50% para pequenos investidores pessoas físicas. O restante vai para fundos de investimento.

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