sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Programa ensinará educação financeira para os militares

Valor Econômico

Por Janes Rocha, do Rio
11/12/2009

Está marcada para 8 de março a primeira aula de educação financeira do Banco Central (BC) para os militares da Aeronáutica. O curso será numa sede da Aeronáutica no Rio, que está para ser definida, e os militares vão receber treinamento sobre como lidar com o dinheiro, organizar o orçamento pessoal, como evitar as armadilhas do crédito e aplicar o excedente financeiro.

O BC também vai levar o curso para o Exército e a Marinha. A ideia é que eles formem grupos que, no futuro, vão levar orientação financeira para os lugares remotos do país aonde só eles chegam. "O curso é bem simples", explica Sergio Lima, consultor da presidência do BC e coordenador do grupo de trabalho de educação financeira do banco. "A ideia não é transferir conhecimentos técnicos sofisticados, mas sensibilizar as pessoas para que consumam de forma mais consciente", diz Lima.

O projeto faz parte do programa de educação financeira do governo federal, que está em elaboração e envolve o Ministério da Educação e quatro órgãos relacionados com as finanças - BC, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

O grupo nasceu de um decreto de 2007, que criou um comitê de fiscalização da área financeira, o Coremec. Uma das tarefas do comitê é propor um programa nacional de educação financeiro como política pública nacional. Na divisão de funções dentro do projeto, a CVM ficou de levar a educação para crianças e adolescentes nas escolas e o BC, ao público adulto.

A aproximação com os militares se deu durante a busca por parceiros que fossem "multiplicadores" do programa de educação financeira que o BC já tinha, mas que não conta com estrutura própria para se difundir, explicou Lima. Com a mesma finalidade foram contatados centros acadêmicos como a Unesp, Instituto Militar de Engenharia, a Universidade Católica de Petrópolis, e instituições de outros ramos como o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo e a Associação de Prefeituras do Vale do São Francisco.

O objetivo final, explica o consultor do BC, é dar conta de um enorme desafio que vem pela frente: atender o programa do governo de levar serviços financeiros para os 12,4 milhões de titulares da bolsa família.

Os beneficiários do programa de complementação de renda do governo já estão de posse de cartões de débito e a Caixa Econômica Federal (CEF) já abriu conta corrente para dois milhões deles. A Caixa tem manifestado que o próximo passo será dar acesso a produtos financeiros como crédito e microsseguros por meio dessas contas.

José Alexandre Vasco, superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores da CVM e coordenador do grupo dentro da autarquia, completa que há também uma preocupação com a entrada maciça de investidores no mercado. Só na área da comissão, já são 552 mil investidores no mercado de ações e 13 milhões de cotistas de fundos de investimentos.

A população inserida no mundo financeiro conta ainda com 92 milhões de aplicadores nas cadernetas de poupança e um número não calculado de tomadores de crédito. "O movimento de redistribuição de renda que estamos assistindo, e que se espera que continue, fará com que cada vez mais pessoas ingressem no mundo das finanças", diz Vasco.

Para o coordenador da CVM, "é por meio da escola que vamos construir uma relação saudável dessas pessoas com o dinheiro". Vasco diz que o projeto também tem um aspecto importante que é não apenas evitar o superendividamento, que leva à inadimplência, mas também as captações irregulares (como as pirâmides) e as fraudes contra os investidores.

A preocupação não é só no Brasil. Na próxima terça-feira, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vai realizar uma conferência internacional no Rio, junto com a CVM, para discutir educação financeira. A conferência será nos dias 15 e 16 de dezembro de 2009 no Hotel Sofitel. Serão seis sessões de debates, divididas entre os dois dias de evento, com representantes de reguladores e outras entidades relacionadas à educação financeira de todo o mundo.

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