sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Análise de perfil do investidor chega ao varejo em janeiro

Valor Econômico

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo
11/12/2009

O dinamismo do mercado de capitais aumentou o trabalho da área de regulação e melhores práticas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Na agenda de 2010, destaca-se, por exemplo, a supervisão da implantação da Análise de Perfil do Investidor (API, nome adotado no Brasil para o conceito de "suitability") no varejo bancário de todo o país já a partir de janeiro.

Esse trabalho de verificar a adequação das recomendações de investimento ao perfil do cliente começou a ser desenvolvido nas áreas private, em julho de 2008. Naquele momento, foram definidas as políticas, procedimentos e prazos para que as instituições apresentassem suas metodologias. O processo de verificação do perfil do investidor no varejo deverá ser aplicado inicialmente para aquisição de cotas de fundos de ações, multimercados ou de renda fixa com crédito privado.

"O mercado brasileiro evoluiu, é preciso avançar", disse o presidente da Anbima, Marcelo Giufrida. O juro baixo tem levado investidores a buscar alternativas com potencial de ganho maior e, muitas vezes, mais sofisticadas. "A implantação da API no varejo mostra o cuidado com o investimento da pessoa física", reforçou o vice-presidente da Anbima, Demosthenes Madureira de Pinho Neto. Além disso, segundo ele, traz mais transparência e elementos para que o processo de decisão seja tomado de forma consciente.

Os bancos deverão confrontar o perfil do investidor com as características das aplicações. Caso o investidor opte por um fundo que, em tese, não se enquadra ao seu perfil, terá de registrar sua intenção por escrito, disse Giufrida. Ainda segundo ele, no futuro, a ideia é estender o processo para todos os investimentos.

As áreas de private banking de 18 entidades que já implantaram a "suitability" foram alvo neste ano, de uma supervisão in loco. O objetivo era verificar se a recomendação de investimentos estava adequada. Segundo o superintendente de regulação e melhores práticas da Anbima, José Carlos Doherty, o resultado mostra que os processos foram bem implantados.

A verificação, segundo ele, é por amostragem e envolveu a análise de todo o procedimento adotado pelo banco na oferta de produtos aos clientes, como os questionários aplicados e registros assinados. No varejo, ele reconhece que o desafio será maior, mas o período para a implantação, a fim de cobrir toda a base de clientes, será de pelo menos dois anos.

A Anbima ampliou ainda a supervisão das atividades de fundos. Segundo Doherty, o foco deste ano foi o acompanhamento da participação de títulos de crédito privado nas carteiras dos fundos de investimento. A supervisão temática começou em meados de 2007 com as Cédulas de Crédito Bancário (CCBs). O objetivo era medir a exposição do mercado a esses papéis. O processo continua até para verificar como os administradores fazem a marcação a mercado de títulos de empresas que, por exemplo, entram em recuperação judicial.

Neste ano, a entidade passou a olhar para Certificados de Depósito Bancário (CDBs), debêntures, Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs) e títulos do agronegócio. "A exposição do setor de fundos a títulos privados ainda é pequena", disse. Com CDB, soma 15% do patrimônio. Sem esse ativo, não chega a 5%. Mas a supervisão é importante por conta do risco de imagem. Um problema com um título pode afetar outras carteiras.

Os fundos de recebíveis também entraram no foco da entidade. A Anbima passou a acompanhá-los sob duas óticas: a do administrador/gestor e a do custodiante, que tem responsabilidade em atestar o lastro dos recebíveis.

Neste ano, a Anbima enviou mais de 200 cartas de recomendação, aplicou 149 multas e instaurou 5 processos para apurar irregularidades.

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