quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Dinheiro do Leão na boca do caixa

Jornal da Tarde
14/02/2008


Crédito para quem deve receber restituição estará disponível em março nos bancos. Mas só pegue em último caso

Fabrício de Castro,
fabricio.castro@grupoestado.com.br

As linhas de crédito para quem deseja antecipar a restituição do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) já começaram a ser divulgadas pelos bancos. A partir de março, com o início do período de declaração, o contribuinte poderá antecipar até 100% do valor a ser recebido no segundo semestre. Especialistas em finanças afirmam, no entanto, que o empréstimo deve ser feito apenas em último caso, já que os juros chegam a 3,5% ao mês.

Por enquanto, quatro bancos divulgaram as condições oferecidas. No Santander, os clientes poderão receber até 100% da restituição. Os juros mensais são de 2,9% ao mês, mas variam de acordo com o nível de relacionamento do cliente com o banco. A tarifa de abertura de crédito (TAC), cobrada na liberação do empréstimo, é de 6%.

A Caixa Econômica Federal vai antecipar até 85% da restituição, com juros de 2,65% e TAC de 4%. Já o Unibanco trabalha com um limite de 80% e juros de 3,3% a 3,5%. A TAC cobrada é de 6%.

No HSBC, o valor antecipado corresponde a 75%. Os juros mensais são de 2,99%, e a TAC, de 5%. Até o fim de fevereiro, outras instituições, como o Banco do Brasil, o Bradesco e o Real, devem lançar suas linhas.

O consultor Reinaldo Domingos, autor do livro Terapia Financeira, diz que o consumidor não deve se iludir com o crédito fácil. “É uma loucura antecipar a restituição”, defende. “Você pode cair na malha fina. E quanto mais o dinheiro demorar a cair em sua conta, mais juros você vai pagar.”

Domingos lembra que opções de crédito direto ao consumidor (CDC) chegam a cobrar juros menores do que algumas linhas vinculadas ao IRPF. “É importante comparar as condições oferecidas.”

O consultor financeiro Tom Coelho afirma que a antecipação é vantajosa apenas se o cliente trocar uma dívida cara por outra mais barata. “A pessoa não deve pegar o empréstimo sem necessidade. Mas se estiver pagando juros altos no cheque especial, por exemplo, poderá usar o dinheiro da antecipação para quitar a dívida mais cara.”

Para Domingos, nem mesmo a troca de dívidas justifica a antecipação. “Se você está com problemas no cheque especial e paga juros de 10% ao mês, sente-se com o gerente e negocie um CDC com juros menores”, defende. “Não mexa no dinheiro que você nem recebeu.”

Para antecipar a restituição, o cliente deve informar, na declaração, os dados da conta bancária que receberá o dinheiro. O pagamento da dívida ocorrerá quando a restituição cair na conta.

A quitação antecipada - antes mesmo que a restituição caia na conta - também é possível. Basta entrar em contato com o banco e comunicar o pagamento. Santander, Caixa Econômica Federal e Unibanco, por exemplo, fazem a quitação antecipada sem a cobrança de taxas adicionais.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Vítimas do custo

Valor Econômico
Por Angelo Pavini, de São Paulo
12/02/2008


Que os fundos DI e renda fixa oferecidos para o varejo perdem para a caderneta de poupança depois do desconto do imposto de renda, já se sabia. A novidade é que mesmo fundos que exigem aplicações maiores, de R$ 10 mil, R$ 30 mil, também estão rendendo menos que a aplicação mais conservadora do mercado. Trata-se de um alerta importante para o investidor que, assustado com o comportamento oscilante da bolsa e dos multimercados, procura agora a proteção nessas carteiras -até dia 7 de fevereiro, os DIs captaram R$ 8,251 bilhões no ano.


Um levantamento feito pelo Valor com base nos dados do site Fortuna mostra que, entre 30 fundos oferecidos nas agências, apenas 10 ganharam dos 7,70% pagos pela poupança no ano passado. Isso considerando que a aplicação no fundo tenha mais de dois anos e a alíquota de imposto seja a mais baixa, de 15%. Se considerarmos a alíquota mais alta, de 22,5%, para aplicações até seis meses, nenhum dos 30 fundos ultrapassa a poupança.


O resultado mostra o efeito das taxas de administração cobradas pelos bancos nas carteiras mais populares, com valor de aplicação entre R$ 500 e R$ 1 mil. Há fundos que cobram 5% ao ano, o equivalente a 44,44% da taxa básica de juros, de 11,25%. Isso significa que, do ganho obtido com a aplicação do dinheiro do cliente no mercado, quase metade fica com o banco. E há diversos fundos com taxas de 3,5% a 4% ao ano, o que equivale a um terço da taxa de juros. O Valor procurou todos os bancos citados - Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, ABN Amro Real, Santander, Caixa Econômica Federal, Unibanco - e a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), mas apenas a Caixa, justamente a que tem as taxas mais baixas, se dispôs a comentar o desempenho.


No caso dos fundos de renda fixa, vale a ressalva que essas carteiras foram prejudicadas também pela alta dos juros no mercado futuro no segundo semestre de 2007 - algumas chegaram a registrar perdas nas cotas. Mas com certeza as taxas de administração também ajudaram a derrubar os ganhos.


O impacto das taxas de administração aumentou com a queda dos juros. E a caderneta de poupança tem a vantagem de não pagar imposto de renda e ter um ganho real de 0,5% ao mês, ou 6,17% ao ano acima da Taxa Referencial (TR). Com a decisão do governo de evitar que a TR fique negativa - o que teria ocorrido já em dois dias deste mês -, esse ganho seguirá intacto.


Os renda fixa são muito similares aos DIs e seu desempenho depende fundamentalmente da taxa de administração, que é elevada para o varejo, afirma o professor William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Segundo Eid, para empatar com a caderneta neste ano - imaginando-se um rendimento de 7,5% -, um fundo sujeito ao imposto de renda de 22,5% até seis meses teria de cobrar no máximo 1,5% de taxa de administração. Para a alíquota mais baixa, de 15%, a taxa de administração máxima seria de 2,25%. "E isso tendo de esperar dois anos para resgatar o dinheiro", afirma Eid.


O economista observa que, apesar de a taxa de administração ser crucial, o investidor de varejo não olha para esse custo. "Não é falta de opção, é falta de informação e atenção, e não é só problema de pequenos aplicadores", diz. "Tenho um amigo com R$ 3 milhões em um fundo de um grande banco e ele não sabe quanto paga pela administração." Para Eid, esses fundos mais caros sobrevivem "porque o gerente da agência vende bem" e porque o investidor não tem o hábito de comparar aplicações. Essa clientela cativa permite aos bancos manter as taxas.


Tanto as taxas de administração quanto o imposto de renda dos fundos são altos para as atuais condições do mercado, o que faz com que a caderneta, isenta, leve vantagem, explica Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna. A diferença entre o ganho da poupança e o CDI também caiu muito no último ano, o que reduziu a competitividade dos fundos. "De 1998 a 2006, o CDI ficou em média 6 pontos percentuais acima do retorno da caderneta, mas essa diferença caiu para 4 pontos no ano passado", afirma D'Agosto. Os bancos, lembra ele, argumentam que não podem reduzir taxa porque o custo de atender muita gente é elevado, porque oferecem várias comodidades para o investidor, e o governo diz que precisa do imposto. Nesse impasse, uma alternativa seria reduzir o ganho da poupança - o que não parece estar nos planos do governo por enquanto pelo desgaste político.


D'Agosto lembra que a taxa de administração média do mercado está caindo nos últimos anos, mas que isso reflete mais a entrada de novos fundos destinados à alta renda do que reduções de taxas no varejo - alguns bancos chegaram a aumentar o custo nos últimos anos para carteiras de menor valor, caso do BB. "Os fundos estão se elitizando, essa pode ser a opção dos bancos", diz D'Agosto, que lembra que há também pouca transparência nos custos das carteiras. "Talvez com mais transparência, poderia-se discutir formas de reduzir esses custos, como diminuir a periodicidade de envio de extratos para fundos de menor risco".


O fundo Caixa Prefixado Renda Fixa sofreu no ano passado por conta da alta dos juros, como os demais fundos da categoria, explica o gerente nacional de fundos de renda fixa da Caixa, Marcelo de Jesus. "Mas os outros dois, DI e Prêmio, superam a poupança se considerada a alíquota mais baixa, para dois anos", diz ele, observando que esses fundos são de longo prazo e indicados para quem quer esperar esse prazo. Segundo Jesus, a situação para os fundos DI em relação à caderneta pode melhorar este ano, uma vez que os juros pararam de cair e alguns falam até em alta das taxas por conta da inflação mais alta.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A bolsa na palma da mão

Valor Econômico
Por Adriana Cotias e Danilo Fariello, de São Paulo
11/02/2008



Nestes tempos de forte oscilação das bolsas, fica mais evidente que cada segundo ou minuto pode fazer diferença nas aplicações de curto prazo. É exatamente neste momento que as corretoras começam a oferecer a seus clientes serviços de negociação de ações por meio do telefone celular, quebrando qualquer barreira geográfica. Se a primeira onda de popularização do mercado acionário se deu pela criação do home broker (o sistema de compra e venda da Bovespa pela internet), é factível que uma segunda fase seja agora inaugurada com a mobilidade dada pela telefonia celular, até em aparelhos menos sofisticados.


Os números do home broker da Bovespa, preferencialmente usado por jovens entre 19 e 30 anos, com plena afinidade com as novas tecnologias, dão pistas do mercado potencial. Em janeiro, as pessoas físicas negociaram o recorde de R$ 24,7 bilhões, em 2,52 milhões de transações. Mais de 200 mil aplicadores colocaram ordens de compra ou venda pelo sistema. Se um terço deles aderir às operações via celular, serão 65 mil investidores.


De olho nesse quinhão, algumas corretoras já se movimentam. Na semana passada, o Itaú lançou o seu "mobile broker" para os chamados "smart phones", celulares inteligentes que também têm a função de computador de mão, tais como Blackberry, MotoQ, HTC e iPhone. E, a partir de hoje, a Ativa será a primeira corretora independente a oferecer o serviço, que estará disponível até em aparelhos mais populares como o V3 da Motorola, que custa cerca de R$ 250,00. O sistema foi testado em um aparelho desses pela reportagem do Valor, com uma ordem de compra de Petrobras, executada em tempo real. No momento seguinte, a operação apareceu na carteira do cliente.


A tecnologia foi desenvolvida pela Cellbroker, especialmente para a Ativa, que terá três meses de exclusividade. De cara, 40 tipos diferentes de aparelhos poderão ser habilitados. O objetivo, segundo a diretora comercial, Silvia Werther, é aprofundar as relações com o varejo. Fundada em 1983, só há dois anos a corretora passou a ter produtos e serviços específicos para o pequeno investidor, lançando seu home broker. "Temos atingido um público que desconhecia o mercado de capitais e agora queremos levar vantagem pelo pioneirismo." Além de cativar quem já está dentro de casa, Sílvia espera atrair 400 novos clientes para a corretora.


Hoje, a base de pessoas físicas da Ativa chega a 30 mil investidores e a expectativa é de que algo entre 20% a 30% deles incorporem as transações pelo celular no seu dia-a-dia, estima o gerente de operações Jansen da Costa. O sistema estará disponível por R$ 30,00 ao mês, com isenção para clientes que acumulem R$ 495,00 de gastos com corretagem no período. O custo por ordem de compra e venda será de R$ 16,50, R$ 1,50 acima do cobrado nas transações pelo home broker tradicional.


A Cellbroker já contava com um serviço de difusão de informações pelo celular, com cotações em tempo real, livros de ofertas e gráficos, mas era um sistema passivo, conta o diretor executivo Paulo Baratta. "Agora, a interatividade chega de fato às mãos do investidor." Tanto as cotações quanto a execução de ordens são em tempo real e entram automaticamente nas posições do investidor. Tais tecnologias começaram a ser desenvolvidas há dois anos e demandaram investimentos de R$ 2 milhões. A Cellbroker espera distribuir seu sistema de negociação pelos celulares em parceria com outras 20 corretoras ainda este ano. "Grande parte dos consumidores de celular no Brasil prefere os aparelhos simplificados e não está disposto a investir R$ 2 mil num celular."


A CMA, outra fornecedora de serviços de tecnologia para instituições financeiras, também já possui todos os sistemas engatilhados para lançar o serviço de operações pelo celular. A empresa gastou US$ 700 mil - em estrutura dentro e fora do Brasil - no sistema de informações remotas, já disponível a 365 clientes de algumas corretoras e outras empresas, mas ainda se prepara para lançar a plataforma de negociações eletrônicas. Segundo a CMA, as 57 corretoras clientes da empresa estão em negociações e têm interesse no modelo de negociação por telefone. Elas perfazem cerca de 90% do mercado do home broker.


Para César Spadaccia, diretor de sistemas informativos da CMA, o volume de procura por informações no celular pelos clientes já é intenso. Spadaccia diz que, pela plataforma da CMA, há investidores que já consultam informações sobre o mercado de diversos locais e até de outros países, como EUA, Chile e Uruguai. Mas as operações ainda tendem a demorar mais um pouco.


Para o investidor ter acesso a um sistema de informações sobre ações no celular, ele precisa baixar um programa, tanto no Cellbroker quanto pela CMA. Na CMA, o download é gratuito, mas o cliente paga pela senha que lhe dá direito a acessar os dados. Esse custo poderá variar ao redor de R$ 100, se o aplicador for cliente de uma das 57 corretoras que adotam os serviços da CMA, ou até de R$ 500 - variando conforme o conteúdo contratado -, se ele ainda não tiver conexão com outros produtos da empresa de serviços de tecnologia.


Pela CMA, apenas aparelhos celulares com tecnologias mais de ponta podem ter acesso, os chamados computadores de mão. No http://mobile.cma.com.br é possível descobrir quais são os aparelhos compatíveis. Além de um aparelho bom, é recomendável que o cliente tenha um pacote sem limites para transferências de dados com a operadora.


No Itaú, que começou a oferecer a negociação por celular na sexta-feira, o investidor precisa ter um aparelho com a tecnologia HTML, diz o diretor-geral da corretora, Roberto Nishikawa. "Hoje, 10% a 15% dos celulares no Brasil já são HTML", diz. Segundo Nishikawa, a corretora espera que até o fim do ano, 15% dos clientes ativos da instituição usem a negociação via celular. "Hoje temos 50 mil clientes ativos, mas pretendemos chegar a 100 mil no fim do ano, com 15 mil negociando pelo telefone", diz. No sistema do Itaú, o investidor acessa o site da corretora e a área de negociação de ações. Depois, faz a ordem e dá a senha do cartão do banco. "O sistema é seguro, porque o dinheiro só sai da conta para as ações e vice-versa, e tudo com a senha do banco." (Colaborou Angelo Pavini)
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