sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Portabilidade, use e abuse

Valor Econômico

12/02/2010

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo

Os investidores de planos de previdência aberta estão usando mais a ferramenta da portabilidade, que permite trocar de seguradora. Em 2009, houve um aumento de cerca de 10% no volume de recursos que migrou de uma empresa para outra, alcançando R$ 2,37 bilhões, apontam dados da Federação Nacional de Previdência e Vida (Fenaprevi). Essa soma, no entanto, representa uma parcela muito pequena das provisões do setor. Mas pode crescer se o investidor passar a usar mais a transferência para pressionar por redução de taxas e melhor retorno dos fundos oferecidos.

Do patrimônio total acumulado pelos participantes no ano passado - cerca de R$ 177 bilhões -, o volume de portabilidades liquidadas financeiramente representou 1,34%. Em 2008, a migração de recursos entre empresas foi de R$ 2,16 bilhões, ou 1,52% das provisões. Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) dividem a portabilidade externa em valores aceitos e valores cedidos. O volume de dinheiro que saiu de planos PGBL e VGBL das seguradores, de acordo com esse levantamento, foi de R$ 2,467 bilhões em 2009.

A diferença entre as estatísticas pode ser explicada pelo fato de a Susep reunir dados de todo o mercado e a Fenaprevi apenas de entidades associadas e de portabilidades que já foram liquidadas, excluindo as cadastradas. Do lado dos valores aceitos, isto é, das seguradoras cujos planos PGBL e VGBL receberam recursos de portabilidade, o volume é ainda maior: R$ 4 bilhões, segundo a Susep. Nessa soma, além dos valores transferidos de PGBL e VGBL, podem estar recursos que saíram de planos tradicionais e até de entidades fechadas de previdência.

A portabilidade na previdência, que começou a valer em abril de 2006, funciona como no mercado de telefonia celular para a troca de operadora. Trata-se de um instrumento que garante ao participante mudar de seguradora ou ainda de planos dentro da mesma entidade, nesse caso em busca de alterar o perfil de risco do fundo ou até de reduzir custos. Para que isso aconteça, o participante deve fazer a solicitação à entidade que detém seus recursos, informando o plano no qual deseja ingressar ou, no caso de portabilidade externa, o plano e a respectiva entidade que deverá receber seu dinheiro.

Segundo a Susep, a portabilidade só é permitida entre planos do mesmo segmento, isto é, entre planos de previdência complementar aberta, como o PGBL, ou entre planos de seguro de vida com cobertura por sobrevivência, caso do VGBL. Fica vedada a transferência de recursos de um PGBL para um VGBL, por exemplo, ou entre diferentes participantes. O prazo estabelecido para que a transferência seja efetiva pela Susep é de quatro dias úteis, podendo se estender para cinco dias úteis, no caso de planos aprovados a partir de 30 de janeiro de 2007. Os recursos financeiros serão transferidos diretamente entre as seguradoras, sem passar pela conta do titular do plano.

O grande benefício da portabilidade é que ela acontece sem apuração de imposto de renda ou outra despesa. Apesar de não custar nada e estar disponível para clientes de todos os portes, só quem usa a ferramenta são os grandes investidores, conta o diretor de previdência da consultoria Quorum Saúde, Seguros e Previdência, Marcello Rudge Ribeiro. A portabilidade, segundo o especialista, é um dos maiores argumentos para vender previdência, é só dizer para o cliente que se ele não estiver satisfeito é possível trocar de plano ou empresa em poucos dias. "Na prática, dificilmente uma portabilidade acontece em quatro, cinco dias", diz. "E quando ocorre", ressalta. O cliente que tem seu processo atrasado pode levar a denúncia à Susep.

Além da questão burocrática de preenchimento e checagem de cadastros e assinaturas - que acaba atrasando o processo -, o maior volume de recursos, cerca de 95%, está nas seguradoras ligadas aos grandes grupos de varejo, cujas carteiras são extremamente pulverizadas e formadas por clientes com volumes relativamente baixos de acumulação. "Para esse porte de cliente, que tem R$ 5 mil acumulados, paga taxas altas, não há muitas alternativas de planos, são todos muito parecidos e caros", explica Ribeiro. Ainda segundo ele, dificilmente esses clientes vão recorrer à portabilidade, por conta da falta de conhecimento, mas, quando o fazem, há um trabalho forte de retenção por parte dos bancos. Isso ajuda a explicar o volume baixo de portabilidade relativamente às provisões do setor.

Na alta renda, o movimento de portabilidade é forte e estimulado pela rentabilidade das carteiras, já que os custos são relativamente baixos para esse público, afirma Ribeiro. "Quem tem acima de R$ 500 mil, R$ 1 milhão, usa a ferramenta para pressionar e mudar de gestor e isso acontece em poucos dias", diz. Ainda segundo ele, por se tratar de um investidor mais sofisticado, que conhece o mercado financeiro, se o gestor do fundo de previdência não entrega retorno, ele migra. Essa é uma tendência que deve se intensificar daqui para frente, depois da entrada de gestores independentes na previdência, como Gávea, Leblon Equities, BRZ, GAP, Claritas, entre outros. O esforço dessas assets tem sido trazer para dentro de casa os recursos de previdência de seus já clientes.

Ribeiro afirma, contudo, que os clientes pequenos e distraídos deveriam usar mais a ferramenta, mesmo que dentro de casa. É o caso de participantes antigos que entraram em planos com custos altíssimos, mas que hoje já acumulam um certo patrimônio. Com R$ 50 mil a R$ 100 mil, já é possível migrar para fundos mais sofisticados e com taxas menores. Ribeiro alerta que o cliente precisa estar atento, porque o banco não vai oferecer a ele a alternativa de pagar menos, apesar de haver opções mais baratas.

Uma das maneiras de fazer pressão para reduzir as taxas de administração e carregamento é a portabilidade. Às vezes, o cliente nem precisa sair da seguradora. Ribeiro diz que as taxas de gestão vêm caindo, mas apenas no segmento de alta renda. Nesse universo, os fundos de renda fixa têm taxa média de 1%. No varejo, cobra-se entre 2% e 2,5% ao ano. As carteiras de ações cobram taxa na casa dos 2%, mas há fundos com 3,5%. As taxas de carregamento variam. Nas seguradoras independentes, com mais de R$ 30 mil, é possível zerar a taxa se o cliente ficar mais de três anos. Já os bancos de varejo não abrem mão de cobrá-la, mesmo no private. A taxa, contudo gira em torno de 0,5%. No varejo, ainda é possível encontrar taxas de 5% e até de 10%.

"A portabilidade é um instituto importante para o consumidor, que passa a ter mais liberdade para fazer escolhas", afirma o vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica, Renato Russo. À medida que a competição cresce, o volume de portabilidade tende a seguir os mesmos passos, acrescenta o executivo. Na visão do presidente da Brasilprev, Tarcísio Godoy, essa é uma questão que ainda não incomoda o setor, pelo fato de muita gente ainda não ter previdência. A indústria ainda está em fase de crescimento, diz. "Não entramos na fase do rouba-monte, temos um oceano azul para conquistar."

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Fundos imobiliários, nova era

Valor Econômico

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo
10/02/2010

O mercado de fundos imobiliários pode dobrar de tamanho em 2010. A grande expectativa gira em torno do dinheiro das fundações que deve ir para o setor - no mercado, estima-se entre R$ 3 bilhões e 4 bilhões os recursos disponíveis para a aplicação somente neste ano. Os 84 fundos imobiliários em operação hoje reúnem patrimônio líquido de R$ 5,2 bilhões. "As fundações serão os grandes fomentadores dessa indústria", afirma uma fonte do setor.

Bom para o investidor pessoa física, que passará a contar com um senhor reforço para o desenvolvimento do mercado, que já mostra sinais de amadurecimento. Basta ver o movimento cada vez maior de lançamentos de fundos com mais de um ativo - de imóveis a títulos imobiliários -, gestão ativa e participação crescente de bancos de varejo na distribuição e estruturação. Citibank, Bradesco, Santander e Caixa voltaram a dar as caras.

 

 

Neste ano, a primeira oferta registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai nessa linha. Trata-se do fundo Max Retail, que definiu como foco a exploração de empreendimentos comerciais destinados à exploração do segmento varejista, mas não descarta a chance de investir em papéis como certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), letras hipotecárias (LHs) e de crédito imobiliário (LCIs).

O setor de fundos imobiliários está mudando de cara, afirma o advogado Carlos Eduardo Ferrari, do escritório Lobo & de Rizzo. O ingresso de dinheiro novo de fundos de pensão vai criar um mercado com um tamanho mais atraente, aponta. "Uma indústria como a de hoje, de R$ 5 bilhões, é muito pequena para oferecer liquidez e crescer." Apesar da demanda crescente de investidores, há escassez de ofertas, diz. Mas, com o comprometimento do investimento por parte de fundos de pensão, haverá estímulo para a estruturação de carteira maiores, de pelo menos R$ 100 milhões, porque parte já estará garantida para os institucionais. "O fundo de pensão vai acabar dando respaldo para o crescimento das ofertas."

Quem ganha com isso é o mercado todo, inclusive a pessoa física, já que o problema da falta de liquidez poderá ser minimizado. Os fundos imobiliários são fechados. Para o investidor sair da aplicação, só vendendo as cotas no mercado secundário, para outro investidor. E, das 84 carteiras, apenas 31 estão listadas em bolsa. "A entrada de fundos de pensão cria uma porta de saída para a pessoa física", diz Ferrari. Ele destaca ainda o ganho de qualidade com a participação crescente das fundações. Segundo ele, os grandes fundos de pensão têm um processo de análise de investimento muito criterioso, além de cobrarem mais responsabilidade do gestor e administrador.

Fora isso, o potencial de investimento em fundos imobiliários para os próximos anos é enorme. A flexibilização pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) das regras de aplicação das fundações, com a Resolução 3792 de setembro do ano passado, abriu espaço para a aplicação de até 10% do patrimônio para essas carteiras. Foi criada uma rubrica específica para esse tipo de investimento.

Isso equivaleria a quase R$ 50 bilhões - o patrimônio da fundações está perto de R$ 500 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Como não há mercado para absorver todo esse dinheiro, qualquer 1% já será significativo. Hoje, os fundos de pensão não têm nem 1% do patrimônio aplicado em fundos imobiliários, segundo uma fonte do mercado.

Esse interesse de investidores institucionais coincide com um mercado de fundos imobiliários em evolução. Não de tamanho, mas de estrutura e até de cultura dos participantes. "Hoje, o fundo imobiliário pode comprar tudo desde que o ativo seja imóvel ou tenha base imobiliária", afirma a advogada Marina Procknor, do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga.

A flexibilização veio no fim de 2008, com a publicação pela CVM da primeira revisão de regras do setor desde a origem, em 1994, e do ajuste no ano passado na legislação que estendeu a isenção de imposto de renda para pessoas físicas também para fundos que compram cotas de outras carteiras ou títulos isentos como o CRI e as letras. "Essa é uma mudança de conceito que vai impulsionar o mercado", diz Marina.

O fundo imobiliário ficou com mais cara de mercado de capitais, afirma o diretor-executivo da RB Capital, Marcelo Michaluá. "Isso permitirá que mais pessoas acessem esse tipo de fundo, que tem o apelo da isenção para esse público, em ofertas pulverizadas."

Culturalmente, o fundo imobiliário sempre foi de um imóvel só. Além de a antiga regra orientar o mercado para esse formato, o investidor precisava conhecer o empreendimento, entrar no imóvel, para se sentir confortável. Isso também já começa a mudar, destaca Marina. Além disso, a indústria criou um histórico que permite avançar para fundos diversificados e com gestão ativa.

O mercado, inclusive, coleciona experiências bem-sucedidas. Entre os destaques, estão fundos como o CSHG Brasil Shopping, que tem participação em cinco shoppings, o genérico CSHG Real Estate, com 62 imóveis comerciais na carteira, predominantemente lajes corporativas. No fim do ano passado, a Rio Bravo conseguiu a aprovação da maioria dos cotistas do Financial Center para alterar o regulamento do fundo, que só permitia investir no Edifício JK Financial Center, em São Paulo. O argumento apresentado para os cerca de 400 cotistas foi o de aproveitar as oportunidades no setor de lajes corporativas e escritórios nas regiões comerciais e, assim, diluir os riscos de vacância e até inadimplência de inquilinos.

Outro exemplo de sucesso foi a colocação da oferta, em dezembro, do fundo RB Capital Renda I. A demanda, que superou em 2,8 vezes a oferta de R$ 132 milhões em cotas, atraiu 1.172 pessoas físicas e um investidor institucional. A carteira já nasceu com um portfólio formado por sete imóveis, todos com contratos de locação de longo prazo fechados com grandes empresas, como AmBev, C&A, Magazine Luiza, entre outras. A oferta nova, liderada pelo Ourinvest, vai usar os recursos da primeira emissão, de R$ 70,15 milhões, para a compra de oito imóveis espalhados pelo país, já locados para a Lojas Americanas, Carrefour e Bom Preço.

Para Ferrari, fundos de um imóvel só serão cada vez mais raros. O mercado, acredita ele, caminha para carteiras setoriais. Os fundos de CRIs também terão papel relevante para o crescimento do setor, diz o advogado. E até podem liderar a evolução. Segundo fontes do mercado, há projetos de bancos e gestores como a RB Capital para lançar carteiras de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões de patrimônio. Quanto maior a escala, melhor tende a ser a liquidez.

O ambiente atual é propício para fundos imobiliários. Para a pessoa física, o grande atrativo é a possibilidade de capturar o ganho da atividade imobiliária, que anda pujante no país, com a possibilidade de isenção de imposto sobre rendimento. Também segundo Ferrari, as pessoas têm procurado esse tipo de fundo por ele ter se mostrado resistente a crises. "Com a volatilidade, o fundo imobiliário é uma opção intermediária entre a renda fixa tradicional e a renda variável, com ótimo retorno."

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Uma pausa na folia

Valor Econômico

09/02/2010

Por Luciana Monteiro, Antonio Perez e Alessandra Bellotto, de São Paulo

O clima é de festa à espera do Carnaval, mas a hora pode ser de guardar a fantasia e dar uma pausa na folia das aplicações mais arriscadas. O aumento da aversão ao risco deve trazer oportunidades no mercado e conseguirão tirar proveito aqueles que se mantiverem calmos e com algum recurso em caixa. O momento, portanto, é de repensar as estratégias diante das preocupações crescentes com a situação delicada das contas públicas dos PIGS - sigla ironicamente usada para denominar o grupo formado por Portugal, Itália, Grécia e Espanha e que, em inglês, significa porcos.

Como se não bastassem as inquietações com alguns países europeus, a economia do Japão ainda se mostra enfraquecida. Já nos Estados Unidos, apesar de uma certa melhora, o nível de desemprego está na casa dos 10% e o setor financeiro ainda merece atenção. Para completar, a China vem tentando frear os empréstimos. Tudo isso levanta novamente a lebre de que o movimento da economia seria em forma de "W", ou seja, haveria uma nova queda antes de uma recuperação sustentável. Não por acaso, os investidores estrangeiros deixam o país, provocando queda de 7,92% do Ibovespa e alta de 7,52% do dólar no ano.

Diante de tantas incertezas, o que fazer com aquele dinheiro novo, que ainda não está aplicado? Com o cenário bem pouco favorável para ativos mais arriscados no curto prazo, a recomendação é ficar fora de bolsa neste momento, diz Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ. "Toda essa turbulência afasta os investidores da bolsa, assim como as empresas que estavam pensando em abrir capital", diz. "E os estrangeiros já deixaram claro que, quando querem entrar ou sair, não olham preço, portanto, a possibilidade de grandes perdas na bolsa não pode ser descartada."

Já o investidor que tem aplicações em bolsa deve manter mais do que nunca a calma e, se for o caso, até reduzir a exposição de sua carteira em renda variável, avalia o professor. "Se o quadro não desanuviar, o investidor pode até considerar sair de bolsa; quem surfou a onda da renda variável no ano passado pode agora aproveitar a da renda fixa." Aplicar mais dinheiro em ações só é recomendável para aqueles com predisposição ao risco e que tenham visão de médio e longo prazos, diz Espírito Santo.

Dinheiro novo não deve ir para a bolsa, alerta Dany Rappaport, sócio-gestor da InvestPort. O Ibovespa pode voltar a subir, mas não terá forças para ir além dos 70 mil pontos. Ele também recomenda que os investidores que já possuem ações diminuam gradualmente a fatia. Quem tem 30% do patrimônio em ações, por exemplo, deve reduzir esse percentual para 20% ao longo das próximas semanas, diz.

É hora de repensar as estratégias de investimento de curto prazo, avalia Carlo Moratelli, diretor de investimentos da Orey Financial. A melhor alternativa no momento é privilegiar posições mais conservadoras e de curto prazo. "Só com liquidez será possível aproveitar as oportunidades que certamente vão surgir ao longo do ano, com o aumento da volatilidade." Ele estima que o Ibovespa pode cair para 55 mil pontos, o que seria um bom ponto de compra.

O socorro financeiro aos PIGS, atolados em déficits fiscais, deve vir em no máximo dois meses, seja diretamente dos gigantes europeus, seja por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI), aposta Rogério Bastos, sócio da consultoria de investimentos FinPlan. "É uma crise de 45 ou 60 dias, os países não são bancos que simplesmente quebram", diz. Até lá, os ativos de risco, como ações e o dólar, devem continuar chacoalhando.

Na visão do executivo, para quem está na bolsa em busca de retornos no longo prazo, a sugestão é ficar parado. O recuo recente do Ibovespa não altera a tendência positiva para a renda variável. Se a estratégia do investidor foi bem montada, não há razão para se desfazer da carteira de ações, diz Bastos.

Apesar das incertezas, o aumento de volatilidade já era algo esperado, dado que havia um excesso de otimismo no fim do ano passado, afirma Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Gestão de Patrimônio. Isso, no entanto, não muda os bons fundamento da economia brasileira. Na opinião dele, quem quer ter entre 15% e 25% em ações pode neste momento comprar aos poucos de modo a atingir o menor percentual. "Mais do que nunca o investidor precisa ter muito claro seus objetivos de investimento e fazer uma reavaliação de suas alocações se necessário", diz o executivo.

As condições fiscais dos PIGS já eram conhecidas e o atual movimento de queda da bolsa se mostra uma realização de lucros, avalia Francisco Costa, sócio do escritório de aconselhamento Capital Investimentos. "Isso não significa que não há mais espaço para quedas", alerta. Para quem tem visão de longo prazo e perfil mais agressivo, a recomendação é de comprar ações gradativamente.

No Banco Fator, é justamente a perspectiva favorável para o país, apesar do cenário externo nebuloso, que está por trás da recomendação para aqueles investidores que estão fora da bolsa a começar a montar posições em ações. "O investidor deve aproveitar os momentos de queda, como os que marcaram as últimas duas semanas, para começar a compor um portfólio de ações", afirma Marcelo Figueiredo, superintendente de alocação de recursos do banco.

Com perspectivas tão complicadas para a bolsa, o porto seguro da renda fixa pós-fixada ganha destaque nas recomendações dos especialistas. A expectativa é de o Comitê de Política Monetária (Copom) comece um movimento de aperto monetário, deixando os juros reais mais atraentes para o investidor. Quem tem dinheiro novo na mão deve priorizar os fundos DI, indica Bastos, da FinPlan.

A renda fixa deve ser o destino tanto para o dinheiro retirado da bolsa quanto para novos recursos, diz Rappaport, da InvestPort. O executivo trabalha com a Selic em 10,75% no fim do ano e avalia que há prêmios atraentes em títulos prefixados, apesar da queda recente dos juros futuros.

Na avaliação de Rappaport, o investidor também pode ganhar com a alta do dólar. Ele acredita que a taxa de câmbio encerre o ano acima de R$ 2. Mas a aposta não deve ser em fundos cambiais, já que apenas a alta da moeda americana não será capaz de cobrir o ganho proporcionado pela renda fixa. "Dá para aplicar em multimercados com posições vendidas em dólar", diz.

O cenário de incertezas e a busca por ativos mais conservadores devem favorecer o ouro, avalia Espírito Santo, da Way Investimentos. Com isso, o investidor poderia ganhar com a valorização do metal no mercado externo e a alta do dólar aqui.

Cenário conturbado favorece arbitragem

Valor Econômico

09/02/2010

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo

Ficou mais difícil acertar a direção dos mercados. Com países europeus cambaleando, indicadores econômicos desfavoráveis, o agravamento da relação entre Estados Unidos e China, a decisão do Irã de produzir urânio enriquecido e, por aqui, eleições presidenciais, a expectativa é de que 2010 seja um ano, no mínimo, conturbado. Mas o cenário não é ruim para o universo dos investimentos de arbitragem, que tendem a se beneficiar das distorções de preços características desse ambiente.

A volatilidade dos mercados aumentou e não há perspectiva de volta, afirma o sócio da Capital Investimentos Fernando Ganme. Nesse ambiente, acrescenta, as estratégias com maior chance de oferecer retornos atraentes estão nos fundos long/short - que montam operações de compra e venda com ativos de renda variável - e quantitativos, que usam modelos matemáticos para capturar tendências e distorções de preços.

É no cenário turbulento que os ativos oscilam mais e as distorções aparecem. Os fundos quantitativos, segundo Ganme, funcionam bem como proteção para momentos de crise e devem sempre fazer parte das carteiras dos investidores. "É um hedge que não come rentabilidade."

No caso das carteiras long/short, a estratégia principal é a de montar posições compradas e vendidas na mesma proporção, a fim de ganhar com a diferença de preços entre ativos, e não correr o risco direcional de bolsa. Mas há fundos que podem assumir uma tendência, como ficar vendido em bolsa, apostando na queda.

O senso comum é de que, dificilmente, o comportamento que marcou os ativos em 2009 será repetido este ano, conforme destaca o superintendente de alocação de recursos do Banco Fator, Marcelo Figueiredo. No ano passado, o que se viu foi um mercado com tendências mais claras e de poucas oscilações.

Desde o fim do ano passado a recomendação do executivo tem sido privilegiar aplicações que se beneficiam de um cenário de maior volatilidade, como os já citados fundos long/short e também os que adotam estratégias de arbitragem no mercado de juros, câmbio, opções, entre outros. "Ficou mais difícil ganhar com estratégias direcionais."

Os especialistas ressaltam, no entanto, que o investidor não pode deixar de ter em mente que, quando se fala de futuro, tudo é expectativa. Ganme acredita na diversificação do portfólio. "Prefiro ter uma carteira equilibrada entre as várias estratégias, pois é impossível adivinhar o que vai performar mais", diz. No universo dos multimercados, que têm flexibilidade para operar nos diversos mercados, mesmo as carteiras macro, que fazem apostas direcionais, podem sair ganhando. Basta acertar a direção.

O dinheiro novo, contudo, ele sugere aplicar em fundos não direcionais, como os long/short. E se for para resgatar, o ideal é tirar dinheiro das carteiras que apostam em tendências de mercado.

Quem apostou na queda da bolsa ou na alta do dólar, por exemplo, está colhendo frutos, destaca o diretor de investimentos da Orey Financial, Carlo Moratelli. "Tem muito fundo macro com viés pessimista que está ganhando dinheiro." Moratelli argumenta, no entanto, que é precisa ser criterioso na escolha do gestor. Em termos de estratégia, os fundos de arbitragem tendem a se beneficiar mais do cenário de volatilidade.

Figueiredo, do Fator, lembra ainda que o investidor tem de ficar muito atento ao fluxo de recursos externos. A expectativa de aumento da aversão ao risco global torna 2010 um ano muito difícil para os gestores, mas importante para mostrar a capacidade de selecionar ações e acertar os momentos de entrar ou sair do mercado. "Os bons gestores vão se sobressair e tendem a ser mais requisitados, vai ficar difícil para o investidor aplicar sozinho", diz.

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