terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Uma pausa na folia

Valor Econômico

09/02/2010

Por Luciana Monteiro, Antonio Perez e Alessandra Bellotto, de São Paulo

O clima é de festa à espera do Carnaval, mas a hora pode ser de guardar a fantasia e dar uma pausa na folia das aplicações mais arriscadas. O aumento da aversão ao risco deve trazer oportunidades no mercado e conseguirão tirar proveito aqueles que se mantiverem calmos e com algum recurso em caixa. O momento, portanto, é de repensar as estratégias diante das preocupações crescentes com a situação delicada das contas públicas dos PIGS - sigla ironicamente usada para denominar o grupo formado por Portugal, Itália, Grécia e Espanha e que, em inglês, significa porcos.

Como se não bastassem as inquietações com alguns países europeus, a economia do Japão ainda se mostra enfraquecida. Já nos Estados Unidos, apesar de uma certa melhora, o nível de desemprego está na casa dos 10% e o setor financeiro ainda merece atenção. Para completar, a China vem tentando frear os empréstimos. Tudo isso levanta novamente a lebre de que o movimento da economia seria em forma de "W", ou seja, haveria uma nova queda antes de uma recuperação sustentável. Não por acaso, os investidores estrangeiros deixam o país, provocando queda de 7,92% do Ibovespa e alta de 7,52% do dólar no ano.

Diante de tantas incertezas, o que fazer com aquele dinheiro novo, que ainda não está aplicado? Com o cenário bem pouco favorável para ativos mais arriscados no curto prazo, a recomendação é ficar fora de bolsa neste momento, diz Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ. "Toda essa turbulência afasta os investidores da bolsa, assim como as empresas que estavam pensando em abrir capital", diz. "E os estrangeiros já deixaram claro que, quando querem entrar ou sair, não olham preço, portanto, a possibilidade de grandes perdas na bolsa não pode ser descartada."

Já o investidor que tem aplicações em bolsa deve manter mais do que nunca a calma e, se for o caso, até reduzir a exposição de sua carteira em renda variável, avalia o professor. "Se o quadro não desanuviar, o investidor pode até considerar sair de bolsa; quem surfou a onda da renda variável no ano passado pode agora aproveitar a da renda fixa." Aplicar mais dinheiro em ações só é recomendável para aqueles com predisposição ao risco e que tenham visão de médio e longo prazos, diz Espírito Santo.

Dinheiro novo não deve ir para a bolsa, alerta Dany Rappaport, sócio-gestor da InvestPort. O Ibovespa pode voltar a subir, mas não terá forças para ir além dos 70 mil pontos. Ele também recomenda que os investidores que já possuem ações diminuam gradualmente a fatia. Quem tem 30% do patrimônio em ações, por exemplo, deve reduzir esse percentual para 20% ao longo das próximas semanas, diz.

É hora de repensar as estratégias de investimento de curto prazo, avalia Carlo Moratelli, diretor de investimentos da Orey Financial. A melhor alternativa no momento é privilegiar posições mais conservadoras e de curto prazo. "Só com liquidez será possível aproveitar as oportunidades que certamente vão surgir ao longo do ano, com o aumento da volatilidade." Ele estima que o Ibovespa pode cair para 55 mil pontos, o que seria um bom ponto de compra.

O socorro financeiro aos PIGS, atolados em déficits fiscais, deve vir em no máximo dois meses, seja diretamente dos gigantes europeus, seja por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI), aposta Rogério Bastos, sócio da consultoria de investimentos FinPlan. "É uma crise de 45 ou 60 dias, os países não são bancos que simplesmente quebram", diz. Até lá, os ativos de risco, como ações e o dólar, devem continuar chacoalhando.

Na visão do executivo, para quem está na bolsa em busca de retornos no longo prazo, a sugestão é ficar parado. O recuo recente do Ibovespa não altera a tendência positiva para a renda variável. Se a estratégia do investidor foi bem montada, não há razão para se desfazer da carteira de ações, diz Bastos.

Apesar das incertezas, o aumento de volatilidade já era algo esperado, dado que havia um excesso de otimismo no fim do ano passado, afirma Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Gestão de Patrimônio. Isso, no entanto, não muda os bons fundamento da economia brasileira. Na opinião dele, quem quer ter entre 15% e 25% em ações pode neste momento comprar aos poucos de modo a atingir o menor percentual. "Mais do que nunca o investidor precisa ter muito claro seus objetivos de investimento e fazer uma reavaliação de suas alocações se necessário", diz o executivo.

As condições fiscais dos PIGS já eram conhecidas e o atual movimento de queda da bolsa se mostra uma realização de lucros, avalia Francisco Costa, sócio do escritório de aconselhamento Capital Investimentos. "Isso não significa que não há mais espaço para quedas", alerta. Para quem tem visão de longo prazo e perfil mais agressivo, a recomendação é de comprar ações gradativamente.

No Banco Fator, é justamente a perspectiva favorável para o país, apesar do cenário externo nebuloso, que está por trás da recomendação para aqueles investidores que estão fora da bolsa a começar a montar posições em ações. "O investidor deve aproveitar os momentos de queda, como os que marcaram as últimas duas semanas, para começar a compor um portfólio de ações", afirma Marcelo Figueiredo, superintendente de alocação de recursos do banco.

Com perspectivas tão complicadas para a bolsa, o porto seguro da renda fixa pós-fixada ganha destaque nas recomendações dos especialistas. A expectativa é de o Comitê de Política Monetária (Copom) comece um movimento de aperto monetário, deixando os juros reais mais atraentes para o investidor. Quem tem dinheiro novo na mão deve priorizar os fundos DI, indica Bastos, da FinPlan.

A renda fixa deve ser o destino tanto para o dinheiro retirado da bolsa quanto para novos recursos, diz Rappaport, da InvestPort. O executivo trabalha com a Selic em 10,75% no fim do ano e avalia que há prêmios atraentes em títulos prefixados, apesar da queda recente dos juros futuros.

Na avaliação de Rappaport, o investidor também pode ganhar com a alta do dólar. Ele acredita que a taxa de câmbio encerre o ano acima de R$ 2. Mas a aposta não deve ser em fundos cambiais, já que apenas a alta da moeda americana não será capaz de cobrir o ganho proporcionado pela renda fixa. "Dá para aplicar em multimercados com posições vendidas em dólar", diz.

O cenário de incertezas e a busca por ativos mais conservadores devem favorecer o ouro, avalia Espírito Santo, da Way Investimentos. Com isso, o investidor poderia ganhar com a valorização do metal no mercado externo e a alta do dólar aqui.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page