sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Juros futuros e títulos do Tesouro sentem efeitos do IOF

Valor Econômico

22/10/2010

Enfim, o mercado financeiro levou a sério a determinação do governo de conter o processo de valorização do real frente ao dólar. Depois das mudanças na taxação do capital externo, investidores reagiram à demonstração do Banco Central de que vai fechar as brechas e impedir que os estrangeiros escapem do imposto. Em reação, os juros futuros de longo prazo dispararam na BM&F, o Tesouro diminuiu a oferta de títulos prefixados no leilão e não vendeu os papéis mais longos (NTN-F) com vencimento em 2021, os preferidos pelos estrangeiros. No mercado secundário, os prêmios das NTN-F cresceram.

O mercado entende que, se o ímpeto do estrangeiro diminuir, os juros terão motivos adicionais para subir, entre eles a perspectiva de encarecimento da rolagem da dívida pública e, no limite, dificuldade de financiamento do déficit em conta corrente, que vem se agravando.

Enfim, IOF maior afeta o mercado e juro sobe

Lucinda Pinto e Angela Bittencourt | De São Paulo

Enfim, o mercado levou a sério a determinação do governo brasileiro de conter o processo de valorização do real frente ao dólar. Depois das mudanças na taxação do capital externo, investidores reagiram à demonstração do Banco Central de que vai fechar as brechas e impedir que os estrangeiros escapem do imposto. Em reação, os juros futuros de longo prazo dispararam na BM&F, o Tesouro diminuiu o tamanho dos lotes de títulos prefixados no leilão e não vendeu os mais longos (NTN-F 2021), justamente os preferidos pelos estrangeiros. Reação que demonstra que, enfim, o investidor entendeu que a enxurrada de dólares para comprar ativos prefixados no Brasil vai perder força.

Ontem, o Tesouro fez um leilão de títulos públicos considerado bastante "modesto", compatível com um ambiente de menor apetite do investidor. É bom lembrar que o Tesouro consulta as mesas de operação para avaliar a demanda e, então, definir os lotes. Ontem, foram ofertadas 150 mil unidades para cada um dos três vencimentos - 2015, 2017 e 2021 - das NTN-F, papéis prefixados com pagamento de cupom semestral. Para se ter uma ideia, na semana anterior, os volumes haviam sido de 500 mil, 1 milhão e 150 mil, respectivamente. No caso das LTNs, o volume total de ontem somou 3,5 milhões, contra 5,5 milhões na semana anterior.

O Tesouro pagou mais caro por todos os papéis e, no caso dos títulos 2021 - a menina dos olhos dos estrangeiros - recusou todas as propostas de preço que, segundo o secretário Arno Augustin, não eram "razoáveis". Provavelmente, segundo fontes do mercado, houve muita dispersão entre as taxas pedidas pelos investidores. No mercado secundário, as NTN-F 2021 eram negociadas a uma taxa 0,35 ponto percentual acima do DI de prazo equivalente (chamado prêmio do papel). Na semana anterior, o prêmio era de 0,24 ponto.

Esse prêmio mais elevado foi estabelecido sobre taxas que também já estavam em alta. A primeira reação às medidas do governo foi percebida justamente no mercado de juros futuros, na BM&F, que ajuda a balizar os demais negócios com ativos prefixados.

Todos os contratos registraram alta, mas os mais longos subiram com mais força - o que, no jargão do mercado, é chamado de "inclinação positiva da curva de juros". Isso ocorre porque, no momento, o estrangeiro, o grande aplicador em juros de longo prazo, vai pedir taxa maior para comprar esses contratos, para compensar a perda que terá com o IOF mais alto.

Profissionais de mercado calculam que para levar a mesma rentabilidade que antes no contrato com vencimento em janeiro de 2017, é preciso obter uma taxa 0,40 ponto porcentual maior do que antes do IOF maior. Para um vencimento em 2013, o prêmio seria de 0,5 ponto.

O investidor local, por outro lado, enxerga que as medidas restritivas ao capital externo terão efeito e identifica o risco de que outras ações podem ser adotadas e frear o investimento estrangeiro. E vê, portanto, um cenário de juros mais altos lá na frente.

O mercado entende que, se os estrangeiros deixarem de entrar no mercado brasileiro, os juros por aqui terão motivos adicionais para subir. Entre eles, a perspectiva de encarecimento da rolagem da dívida pública pelo Tesouro e, no limite, dificuldade de financiamento do déficit em conta corrente, que vem se agravando. A aposta de que as taxas continuarão em queda, por causa do ingresso de capital de fora, mudou. Isso justifica uma correção para cima das taxas, tanto dos DIs quanto dos títulos públicos. Um DI com vencimento em 2017 - vedete dos estrangeiros na BM&F - teria de subir 0,35 ponto percentual para compensar a perda com o IOF.

O que não se vê no mercado, entretanto, é uma fuga de capital. Afinal, quem conseguiu escapar do IOF mais salgado vai pensar muitas vezes antes de deixar o mercado. Além disso, esse investidor perdeu rentabilidade em relação à última semana - mas ainda está ganhando muito mais do que na maior parte do mundo.

Nesse ambiente, cresce a aposta de que o Tesouro pode ampliar a oferta de bônus em reais no exterior - que saem mais barato para o governo e suprem parte do apetite do investidor sem pressionar o câmbio. Entre especialistas do mercado, é consenso que essa deve ser a tendência. "Tudo indica que o espaço para grandes lotes de papéis prefixados aqui diminuiu realmente e emitir no exterior pode ser uma boa opção de financiamento mais barata para o Tesouro", afirma um profissional.

Há outros ingredientes pressionando os juros neste momento. Ontem, saiu a taxa de desemprego, que despencou para 6,2% em setembro, a menor em oito anos. O mercado de trabalho aquecido alimenta a aposta de que a taxa Selic vai voltar a subir em 2011. Além disso, o fato de o Tesouro ter feito esta semana uma oferta de R$ 1 bilhão em bônus no exterior pode, de alguma maneira, reduzir o apetite por parte dos estrangeiros por papéis no Brasil.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Tudo pelo investidor

Valor Econômico
19/10/2010
Bolsa prepara para novembro o programa de milhagem para o acionista e uma série de iniciativas para aumentar o número de aplicadores.

Por Angelo Pavini | De São Paulo

A BM&FBovespa está trabalhando a todo vapor para atrair mais investidores pessoa física para o mercado. Além da campanha estrelada pelo rei Pelé, que começou em algumas cidades em setembro e parte agora para todo o Brasil, a bolsa se prepara para começar, em novembro, o programa de milhagem do investidor, o Fica Mais, no qual o acionista ganhará pontos toda virada de mês em que mantiver as ações em custódia ou indicar amigos para o mercado. Os pontos poderão ser trocados por viagens e livros e até por consultoria financeira básica, uma demanda grande detectada pela bolsa.
Essas são apenas algumas ações desenvolvidas dentro do esforço de popularizar o mercado, diz José Antônio Gragnani, diretor-executivo de Desenvolvimento e Fomento de Negócios da BM&FBovespa. Ex-secretário adjunto do Tesouro Nacional, Gragnani traz a experiência de ter montado o sistema de negociação de papéis federais de varejo via internet, o Tesouro Direto.
Além do programa de milhagem, a bolsa se prepara para transformar o Desafio Bovespa, competição entre estudantes de escolas envolvendo noções de mercado, em um programa de auditório. O programa, a ser lançado no ano que vem, será transmitido pela TV Futura, sob coordenação do consultor financeiro Gustavo Cerbasi.
A BM&FBovespa está montando ainda um simulador no Facebook e prepara dois programas de rádio via web, o Desafio Bovespa, para as escolas e jovens, e o Mulheres em Ações, ambos no site da bolsa. Serão 24 horas de programação com música e conteúdo de educação financeira. Essas iniciativas se juntam ao programa de televisão na TV Cultura sobre educação financeira exibido aos sábados.
Já a campanha de divulgação com Pelé, exibida nas cidades de Belo Horizonte, Curitiba e Campinas, estreou neste mês na tevê a cabo - GloboNews, HBO, Telecine, Nat Geo e Discovery - e, no dia 13, na tevê aberta via TV Cultura. Nas próximas semanas, deve ser ampliada para outros canais abertos.
O objetivo da bolsa, diz Gragnani, é aumentar tanto o número de empresas quanto de investidores do mercado. No caso das empresas listadas, a meta são 200 novas em cinco anos. Na parte dos investidores, além de dinamizar a parte internacional, o projeto é chegar a 5 milhões de investidores. "Não é tão difícil se imaginarmos que a China tem 80 milhões de investidores, os Estados Unidos 90 milhões e a Coreia do Sul 5 milhões numa população de 50 milhões", destaca.
Ainda na área de pessoas físicas, Gragnani destaca a parte educacional, voltada para a formação do investidor de todas as idades. Para crianças a partir de sete anos, há o site da Turma da Bolsa, que busca dar noções de equilíbrio financeiro. No ar desde abril, o site já tem 6 mil crianças cadastradas. Outro site, o Quer ser Sócio? já registrou 63 mil visitas desde 20 de agosto.
Gragnani diz que está trabalhando também no projeto de redução das taxas de custódia para valores menores de ações. Hoje o investidor paga no mínimo R$ 120 por ano para guardar os papéis, o que torna inviáveis aplicações menores. O projeto está em discussão com as corretoras.
Outra iniciativa foi a criação de uma ferramenta de pesquisa "Vitrine das Corretoras", que permite ao investidor definir um perfil de instituição de acordo com suas aplicações. O site teve 24 mil acessos desde 13 de setembro.
Uma forma de ajudar indiretamente os investidores é o Programa de Qualificação Operacional da corretoras, o PQO. Ele busca aumentar o nível de exigência e o padrão das instituições que atendem os acionistas. Em sua última versão, divulgada há duas semanas, o PQO definiu um prazo de um dia para a transferência de custódia entre corretoras, fonte de constantes reclamações de investidores. Foi também criada uma categoria de home broker, com exigências específicas para esse serviço, e estabelecidos critérios de controle maior dos agentes autônomos, outra fonte de reclamações dos investidores.
Muita coisa está sendo feita na campanha de popularização, mas o mais importante é a educação financeira, afirma Gragnani. Por isso, a primeira meta de trabalho é aumentar o conhecimento dos investidores e das empresas, diz. Para isso, foi criado um instituto educacional com cursos de derivativos e mercados de capitais para empresários e pessoas físicas. "Há agora duas novas linhas de cursos, uma escola de empreendedores e empresas e uma escola de investidores", explica Gragnani.
No alvo estão as 15 mil empresas menores, com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 400 milhões anuais. "São empresas que não acessam plenamente o mercado", afirma Gragnani. "Queremos mostrar como elas podem chegar à forma ótima na relação entre ações e dívida", diz.
Muitas delas são candidatas naturais a usar o mercado de acesso da bolsa, o Bovespa Mais, que tem menos exigências que o mercado oficial. "No Canadá, o mercado de acesso, chamado de Venture, tem 2.400 empresas e o oficial 1.500, das quais 400 vieram do Venture nos últimos dez anos", diz Gragnani.
O Bovespa Mais tem hoje apenas uma empresa, a Nutriplant. Para Gragnani, o mercado de acesso perdeu espaço na fase áurea da bolsa, antes da crise de 2008, porque era tão fácil lançar empresas na bolsa direto que ninguém se preocupava em passar por uma fase de preparação. Agora, o mercado está mais seletivo e a procura pelo Bovespa Mais cresceu. "Pelo menos dez empresas já nos procuraram mais de uma vez para saber das condições", afirma Gragnani. Ele espera que o Bovespa Mais deslanche a partir da terceira empresa registrada.
A bolsa fez ainda uma parceria na área de empreendedorismo com o Grupo Endeavor para trazer para o Brasil o programa da Kauffman Foundation. Ele foi tropicalizado e transformado no programa Fast Track, que será oferecido a partir deste mês. A bolsa fechou uma parceria com o Babson College, da Universidade de Boston, um dos principais centros de empreendedorismo do mundo, que trará no ano que vem um programa adaptado para o Brasil.
Serão três módulos a partir de março de 2011, buscando levar maior conhecimento do mercado de capitais para o empreendedor. "A proposta é começar de baixo, ajudando desde o plano de negócios, contabilidade, abertura da empresa, marketing, até gerenciamento de risco, governança corporativa, transparência e boas práticas de mercado", diz.
A bolsa também está investindo em um escritório no parque tecnológico de São José dos Campos, que funciona como uma incubadora de projetos de empresas.
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