sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Mudança torna poupança mais atraente

TONI SCIARRETTA
Folha de S. Paulo
1/2/2008


A garantia de uma remuneração mínima torna mais atraente a aplicação na caderneta de poupança -o investimento financeiro mais popular no país-, especialmente em época de turbulência nos mercados, segundo especialistas em finanças pessoais.
Nas últimas semanas, a caderneta teve um de seus menores rendimentos da história. Com a queda nos juros dos CDBs dos bancos, devido ao aumento da procura pelo investimento nos piores dias da crise, a poupança chegou a render apenas 0,5180% no dia 12 de janeiro, a menor remuneração de todos os tempos. Depois, as taxas melhoraram mas, no dia 26, desabaram para 0,5217%.
Agora, a poupança corria o risco de render menos de 0,5% por conta do número menor de dias úteis de fevereiro com o feriado de Carnaval. Segundo o matemático José Dutra Vieira Sobrinho, a TR poderia ficar negativa amanhã e no dia 3. "Prevendo essa possibilidade, o CMN [Conselho Monetário Nacional] se adiantou e criou a regulamentação", disse.
No ano passado, a poupança rendeu 7,77%, a menor valorização nominal em dez anos, segundo a consultoria Economática. Descontada a inflação pelo IPCA, a alta foi de 3,17%.
Isenta de Imposto de Renda e de taxas de administração, porém, a poupança pode render mais dos que os fundos DI e de renda fixa. É o investimento mais indicado para quem pretende mexer nas economias em curto e médio prazos. Isso porque, para resgates antes de seis meses, o investidor terá recolhido 22,5% de IR do total de rendimento.
Nos cálculos do administrador de investimentos Fabio Colombo, a poupança rende mais do que os fundos DI para quem não consegue no banco taxas de administração de menos de 2,5% e resgata a aplicação em menos de seis meses. "A poupança fica mais competitiva em relação aos fundos de investimento e ganha uma segurança a mais. A poupança é um instrumento conservador e um refúgio, que é sempre procurado em períodos de turbulência. Mas a poupança só é interessante para quem não tem acesso a taxas [de administração] de 2% e 2,5% e movimenta em menos de seis meses", disse.
"[A mudança] veio corrigir um desvio de rota feito no ano passado [outra modificação no cálculo da TR]. Se não tivesse mudado, a TR não poderia ficar negativa. [O piso] dá mais tranqüilidade para o investidor da poupança, que vai ter garantido um mínimo. A poupança continua competitiva em relação aos demais investimentos", disse José Carlos Luxo, professor do Laboratório de Finanças da USP. Colombo lembra ainda que a poupança, na prática, tem menos liquidez do que os fundos por conta das datas de aniversário. "Você tem de sacar nos aniversários para não ter perda. Se tirar um dia antes, perde o mês todo", disse.

Ô balancê, balancê

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro, de São Paulo
01/02/2008



O mês do carnaval promete para os mercados financeiros muito balanço e agitação. Especialmente nas bolsas, cuja evolução deve roubar a cena com um enredo de grande volatilidade. Depois de o Índice Bovespa encerrar o primeiro mês do ano em queda de 6,88%, os economistas não vêem um cenário de folia, pelo menos no curto prazo. Alguns estão um pouco mais otimistas, mas todos concordam num ponto: o momento é de muita, muita cautela. Para se ter idéia da forte oscilação do mercado acionário em janeiro - que pode continuar este mês -, o Ibovespa chegou a oscilar 4.000 pontos num único dia.


Como no mês passado, em fevereiro, os olhos dos investidores estarão voltados para a economia dos Estados Unidos. O temor com uma possível recessão e seus reflexos seguirão ditando o ritmo dos mercados financeiros mundiais, que oscilarão ao sabor de cada novo dado sobre os EUA. Ainda não é possível avaliar com certeza o tamanho do impacto que as perdas com os papéis hipotecários de alto risco americanos ("subprime") terão nas instituições financeiras. E, com a redução dos juros pelo Fed, banco central americano, de 4,25 para 3% ao ano em janeiro, o estoque de boas notícias, que poderiam fazer o mercado subir, está bem menor do que o de notícias ruins da economia no curto prazo.


Diante de tanta incerteza, a busca por proteção foi premiada em janeiro. O ouro foi o ativo mais rentável, com alta de 8,06%, beneficiado pelo aumento do metal no mercado internacional, contida pela modesta queda do dólar no Brasil, de 0,90%. É possível comprar contratos padrão de ouro na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a partir de 250 gramas, o que significa um investimento de R$ 13 mil, em média. "Mas a liquidez desses contratos já não é tão grande quanto na época de inflação alta", ressalva Fabio Colombo, administrador de carteiras. Ele recomenda o ouro somente como um seguro. "Se tudo for bem, ele (o ouro) não deve ter uma performance boa, mas se tudo for mal, pelo menos o investidor está protegido." O ouro em geral ganha quando há perda de valor das moedas como dólar e euro no exterior.


No caso da bolsa, hoje em níveis equivalentes aos de setembro do ano passado, alguns especialistas acreditam que o momento representa uma oportunidade, mas sugerem modera- ção. Para quem tem visão de longo prazo e quer aproveitar algumas ações que caíram muito, os especialistas recomendam adquirir papéis em doses homeopáticas, pois o forte vai-e-vem dos ativos vai continuar. E dificilmente alguém saberá o momento exato de comprar.


"Se houver realmente uma desaceleração nos Estados Unidos, é impossível dizer que o Brasil não vai sofrer ou que haverá um descolamento", diz Paulo Werneck, diretor da asset da Icatu Hartford. "Mas o mercado brasileiro ainda está barato e vem suportando bem tudo isso, a economia continua crescendo." Por conta disso, o setor de consumo é uma das recomendações do executivo, já que a renda dos consumidores C e D está crescendo bastante. Além disso, ele indica o setor de mineração (leia-se Vale), por conta da expectativa quanto ao reajuste do minério de ferro. "O chamado 'kit Brasil' - apostar na alta da bolsa e quedas do juro e do dólar - segue, mas com muito mais cautela", diz.


Para o analista da Prosper Gestão de Recursos, Gustavo Barbeito, com o último corte da taxa de juros americana, o mercado pode ficar mais forte, reduzindo a possibilidade de novos movimentos de quedas acentuadas das bolsas. "Os investidores querem novos cortes dos juros americanos, mas já se espera que os que já foram feitos comecem a surtir efeito na economia", diz Barbeito. Ele acredita que essa percepção pode predominar sobre os números da economia americana, que devem continuar saindo ruins. "O mercado deve ignorar um pouco o passado, que são exatamente esses números negativos, e dar mais importância para o futuro, que tem tudo para ser o reaquecimento dos EUA", diz o analista.


Ele lembra, no entanto, que é preciso continuar de olho no sistema financeiro dos EUA, que ainda está bastante frágil depois das perdas que os bancos amargaram com os títulos "subprime". "Se a situação não melhorar, os bancos não voltarão a emprestar como antes e isso pode impedir a retomada do crescimento americano", completa Barbeito.


Em janeiro, os fundos de ações compostos por Petrobras apresentavam queda de 9,06% até o dia 28. Nesse retorno, no entanto, ainda não estão computadas as perdas de 0,74% dos papéis ordinários (ON, com direito a voto) da estatal do petróleo entre os dias 29 e 31. Já os fundos de Vale registravam desvalorização de 18,14% até o dia 28%, mas nesse número também não está a alta de 3,14% dos papéis nos últimos três dias do mês.


Mas o mercado continuará extremamente volátil e será preciso ter muita coragem para apostar na bolsa neste momento, diz Alexandre Espírito Santo, sócio da Plenus Gestão de Recursos e chefe do Departamento de Economia e Finanças da ESPM-RJ. Isso significa que o melhor é ficar nos juros? A resposta é: depende. "A inflação por aqui já está começando a incomodar e a possibilidade de o Banco Central elevar os juros não é tão remota, o que quer dizer que investir em juros prefixados no curto prazo também não é indicado." Isso quer dizer que, para quem precisar mexer nos recursos em até um ano, diz o executivo, é melhor ficar em fundos DI ou até na boa e velha caderneta de poupança se a taxa de administração do fundo for alta demais - 3% ou 4% ao ano. Já para quem tem visão de longo prazo e acredita na queda dos juros nos próximos anos, os papéis prefixados estão atrativos, assim como os fundos de renda fixa com taxa de administração baixa.


Diante desse cenário, os papéis atrelados ao IPCA são alternativas bem interessantes, diz Fábio Colombo, lembrando que os cupons (percentual de juros pago pelos papéis) estão na faixa de 6% a 7,5% ao ano, dependendo do vencimento. Ontem, no Tesouro Direto - sistema de negociação de títulos via internet -, as Notas do Tesouro Nacional série B com vencimento em maio de 2011 eram negociadas a 7,71% ao ano, além da variação do IPCA. (Colaborou Daniele Camba)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ligadas no dividendo

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
31/01/2008



Aplicadores regrados, que costumam olhar para os dividendos - parte do lucro distribuído aos acionistas - pagos pelas empresas na hora de escolher uma ação, têm agora um bom momento para comprar esses papéis. Isso ocorre porque, com a queda do preço das ações nos últimos três meses, ficou maior o valor proporcionalmente pago pelas empresas em dividendos, juros sobre capital e outros proventos. Em geral, o cálculo é dado em percentual do valor da ação e normalmente é comparado à taxa de juro corrente, hoje em 11,75% ao ano, na hora de medir quão atraente é o papel. Na nova edição da Carteira Valor Dividendos, dez corretoras indicam 30 papéis com projeções de "dividend yield" (retorno em dividendos) acima até de 13% nos próximos 12 meses. Vale destacar que sobre esse ganho não há imposto de renda, que é pago diretamente pela companhia.


Entre as ações preferidas pelas corretoras como boas pagadores de dividendos figuram, principalmente, as companhias do setor elétrico. São três as empresas que pertencem ao segmento entre as cinco que compõem a Carteira Valor Dividendos: CPFL Energia ON, Transmissão Paulista PN e AES Tietê PN. As outras duas são Telesp Operacional PN e CSN ON. "São empresas com menores necessidades de investimento e que, portanto, podem distribuir maior parte do lucro aos acionistas", explica Fabio Anderaos Araújo, estrategista da Itaú Corretora. No total, foram 11 as empresas do setor elétrico indicadas, além de Comgás PNA, do ramo de energia.


Destaque nesta edição da carteira é a freqüência na indicação dos papéis de Transmissão Paulista, que teve quatro recomendações entre as corretoras participantes. "O novo controlador depois da privatização (a colombiana ISA) deixou claro que não fará grandes investimentos e terá uma política de dividendos agressiva", diz Eduardo Kondo, economista da Concórdia. O mesmo princípio vale para a Telesp, que atua somente na área de telefonia fixa. "É a ação mais defensiva do setor, menos dinâmica, com reserva de mercado e que já investiu bastante", explica José Francisco Cataldo, analista da corretora do Banco Real. A Planner, porém, retirou de sua lista a Telesp, pela concorrência que se acirrou no setor.


Para quem investe aos poucos, em parcelas, de olho na distribuição de lucros das empresas, o mais racional é avaliar, além do "dividend yield", o potencial de valorização das ações. "Mesmo que a ação não suba tanto, pelo menos se deve procurar aqueles papéis mais seguros, com menos perspectiva de queda, em que o retorno por causa do dividendo garanta a alta", avalia Anderaos, da Itaú. Mas ele reconhece que essa tarefa não tem sido fácil.


A Planner, por exemplo, resolveu substituir a Equatorial Energia de sua carteira recomendada pela CPFL, embora esta segunda tenha uma projeção de "dividend yield" menor, diz Ricardo Tadeu Martins, chefe do departamento de pesquisa da corretora. "Mas a CPFL tem uma perspectiva de crescimento maior", avalia.


Desde que foi criada, em 20 de abril de 2006, até terça-feira, a Carteira Valor Dividendos apresenta valorização de 29,13%. No mesmo período, o Ibovespa avançou 49,67%. No entanto, esse foi um período em que as ações da Petrobras e Vale, com forte peso no Ibovespa mas que não figuram entre as melhores pagadoras de dividendos, subiram muito. "Esse avanço menor é natural, porque a Carteira Valor Dividendos corre menos riscos", explica Anderaos. "Mas, no longo prazo, esse portfólio ainda tem melhores perspectivas."


Para quem se preocupa mais com o curto prazo, Kondo, da Concórdia, diz que este momento é também interessante para ficar atento ao pagamento de dividendos da empresas, porque a maioria delas intensifica a distribuição de lucros no começo do ano. "Algumas companhias distribuem dividendos apenas uma vez por ano, nesta época, e outras costumam engordar o pagamento com o fechamento do balanço do ano", comenta ele.


O economista da Link Investimentos, Celso Boin Júnior, explica por que os "dividend yields" normalmente sobem nesta época de turbulência do mercado. "Com a crise, aplicadores passam a exigir dividendos proporcionalmente maiores, o que acaba derrubando o valor das ações no curto prazo." O parâmetro é o valor pago pelos títulos públicos sem risco, em 11,75% ao ano. Antes, quando havia perspectiva de queda dos juros, aceitava-se também menores "dividend yields", comenta Boin. Mas, agora, com o juro estável, a situação mudou. "O 'yield' de várias empresas melhorou por conta disso", conta o economista.


O "dividend yield" pode melhorar quando as ações se desvalorizam, porque não há tanta relação, no curto prazo, entre o preço dos papéis e o lucro obtido pelas empresas - que será distribuído a acionistas -, explica Boin. "O valor absoluto pago em dividendos não cai tanto quanto o valor das ações, porque essa crise atual é mais financeira do que real, pelo menos por enquanto", explica ele.


Por esse motivo, as empresas escolhidas pelas corretoras são aquelas menos ligadas ao mercado externo, como as o setor elétrico e de telefonia. "O Brasil não vai ser tão influenciado por essa crise como era antes, por isso, não se espera tanta queda nos lucros pagos", diz Martins, da Planner. "Para quem está de olho em dividendos para o longo prazo, portanto, é interessante investir agora", completa.

"O que as Mulheres Querem Saber sobre Finanças Pessoais" - Humberto Veiga,

Valor Econômico
31/01/2008

hesaurus Editora, 160 páginas, R$ 34,90



À primeira vista, bastante semelhante a outros tantos manuais de iniciação no mundo fascinante e perigoso das aplicações financeiras, "O que As Mulheres Querem Saber sobre Finanças Pessoais", do economista Humberto Veiga, representa um avanço. Livro despretensioso, traz vários aperfeiçoamentos, como um glossário, muito útil para quem está começando a se interessar por aplicações financeiras. Outro capítulo interessante, um apêndice da obra, ajuda o investidor a se classificar em termos de risco - conservador, moderado ou agressivo -, facilitando a tomada de decisão sobre qual aplicação financeira escolher, por qual prazo e em que condições.


A preocupação em ser didático também transparece nas explicações sobre detalhes vitais para o investidor como as taxas de administração cobradas pelos bancos e corretoras. São dados exemplos que facilitam as comparações entre as opções de investimento.


A maior crítica que se poderia fazer é de que esta é uma obra para ser lida por qualquer pessoa, homem ou mulher. Com raras exceções, procura dirimir as dúvidas dos investidores de forma geral, sem realmente focar necessidades específicas das mulheres - até porque é discutível se os interesses e as preocupações das mulheres são muitos diferentes, em se tratando de investimentos pessoais.


A forma de apresentação foi, sim, elaborada para atrair mulheres, com títulos de capítulos como "A Escolha de Sapatos" ou "Na Minha Casa ou na Sua" (sobre financiamentos imobiliários). Um capítulo, batizado de "À Beira de um Ataque de Nervos", trata de questões que os homens consideram que as mulheres não conseguem resolver, como o controle dos gastos na hora das compras. Como resistir às tentações das vitrines de roupas femininas? E se não resistir, como não exagerar? pergunta o autor. Ou como controlar as compras feitas a prestação? As sugestões de Humberto Veiga valem, claro, para mulheres. Mas também podem ser valiosas para muitos homens, inadimplentes. (CGF)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A bolsa na crista da onda

Valor Econômico
Por Daniele Camba, da Praia do Embaré, em Santos
30/01/2008


Em 1997, alguns meses antes de estourar a crise da Ásia, o comerciante português aposentado Luiz de Jesus Fernandes começou totalmente por acaso a investir em ações. Ele havia vendido um apartamento em Santos (litoral de São Paulo), onde morava, para comprar um maior, mas o vendedor do imóvel morreu. Sem saber o que fazer com o dinheiro e ouvindo falar que a bolsa subia de vento em popa, Seu Luiz, como é conhecido, resolveu aplicar os R$ 290 mil que tinha em ações do Banespa. "Na época, eu li que o Banespa seria privatizado e que era um diamante a ser lapidado, me entusiasmei e resolvi apostar na história", lembra Fernandes.


Cinco meses depois, o valor das ações saltou para R$ 950 mil e Seu Luiz tirou parte dos ganhos para comprar um apartamento de 360 metros quadrados, muito maior do que o anterior.


O restante dos recursos ficou na bolsa e, sempre que podia, aplicava outras economias nas ações. Hoje, aos 76 anos, o alegre português, ex-dono de uma padaria, orgulha-se em dizer que ficou milionário com a bolsa. O termo não é exagerado, já que Seu Luiz tem R$ 5,2 milhões aplicados em ações. Só em papéis do Banco do Brasil e da Petrobras, ele tem nada menos que R$ 4,6 milhões. O restante está em ações da Vale e da Telemar.


"Se não fosse a bolsa, eu não teria o apartamento e tudo que eu tenho hoje", diz o aposentado, que conversou com o Valor diante do furgão da Bovespa, batizado de Bovmóvel, na Praia do Embaré, em Santos.


O caso de sucesso de Seu Luiz, que não é raro, mas também não pode ser generalizado, se mistura com a história de popularização do mercado de capitais, que vem ganhando força nos últimos anos. Exatamente cinco anos depois, a reportagem do Valor voltou a Santos para ver o que mudou na reação dos banhistas ao furgão da bolsa, no projeto "Bovespa vai à praia", uma das várias iniciativas para atrair as pessoas físicas.


Apesar de ainda haver um certo desconhecimento, os progressos são nítidos. Em 2003, a reportagem do Valor ouviu uma pessoa perguntando aos consultores da Bovespa se a bolsa que estavam vendendo era de couro e qual o tipo fecho. Outras perguntavam se a Bovespa era uma empresa do Banespa, se era preciso ter muito dinheiro para aplicar em bolsa ou quanto teriam de retorno.


Dessa vez, a grande maioria que parava no Bovmóvel para conversar com os profissionais já tinha alguma noção do assunto ou até investia em ações. É o caso da auxiliar administrativa Elizangela Vidal Valverde. Ela é uma dessas pessoas que estrearam recentemente no pregão, mas admite que ainda tem muito o que aprender. Em setembro do ano passado, Elizangela aplicou num fundo de ações juntamente com amigos do trabalho. Tomou gosto e, em novembro, entrou no IPO (oferta pública inicial na sigla em inglês) da BM&F. Só que a jovem, de 29 anos, está preocupada com a turbulência dos mercados e ainda tem dúvidas se o melhor não seria sair da bolsa antes que não tenha mais ganho algum para tirar da aplicação. "Todo mundo diz que bolsa é longo prazo, mas quem vendeu as ações da BM&F no dia da estréia ganhou 22%, enquanto eu amargo uma perda de 13,19%", lamenta.


Ao contrário de Elizangela, Seu Luiz não está muito preocupado com os mercados. "Vim aqui para conversar um pouquinho com eles (os consultores) e saber o que estão achando dessa crise dos Estados Unidos" diz. E se engana quem pensa que ele pensa em tirar o dinheiro da bolsa. "Quero saber se as ações vão continuar caindo porque quanto mais cair, melhor, assim compro a preços menores e maiores são minhas chances de retorno, quando o mercado se recuperar."


Ele não fala da boca para fora. Em todas as últimas grandes crises (da Ásia, Rússia, da desvalorização do real, da bolha do Nasdaq, da Argentina e do atentado às torres gêmeas nos EUA), Seu Luiz aproveitou para aumentar a carteira. "Antes, acessava todos os dias o computador para ver se tinha ganhado ou perdido em relação ao dia anterior; hoje eu aplico e só olho no fim do mês, quando chega o extrato do banco", afirma o aposentado.


O movimento de popularização da bolsa encontrou terreno fértil com a retomada das ofertas públicas de ações , a partir de 2004, e com a extensa fase de valorização dos papéis, com Índice Bovespa subindo durante cinco anos consecutivos. Entre 2003 e 2007, o indicador se valorizou 466,97%, de longe a melhor aplicação entre as principais opções de investimento. "É inegável que tem gente que parou aqui entusiasmada pelas altas, mas que não tem realmente perfil para um mercado de risco como a bolsa é, e que, portanto, irá sair no primeiro susto", diz Antonio Carlos Nogueira de Sá, da Planner, uma das corretoras que acompanham os consultores da bolsa nas visitas em outras cidades.


Mas Sá lembra que as perguntas já são bem mais complexas do que há alguns anos. "Hoje as pessoas já perguntam sobre opções (direito de comprar ou vender uma ação a um determinado preço), sobre a diferença de tributação entre comprar ações diretamente ou via fundos e qual é o código do Darf (Documento de Arrecadação de Receitas Federais) para recolher o imposto de renda em ações", exemplifica Sá.


O período de bonança do mercado nos últimos anos faz brilhar os olhos até de quem se traumatizou com perdas passadas. Aos 18 anos, o empresário Mário Rodrigues Pinto, vendeu um apartamento que ganhara do avô para investir no antigo mercado de "overnight". No entanto, caiu no conto de uma falsa corretora de valores e perdeu tudo. Hoje, aos 46 anos, Pinto começa a se interessar por bolsa e pensa em aplicar em ações parte dos recursos que ganhou na venda de sua empresa. "O mercado é mais sério, controlado, por isso, só preciso estar preparado para perder dinheiro com as oscilações dos papéis", diz o ex-empresário, que buscava informações sobre home broker (negociação via internet) com os consultores do Bovmóvel.


O amplo programa de popularização da Bovespa foi responsável pelo ingresso de muitos investidores no mercado de ações. O ex-operador e hoje promotor de negócios do Bovmóvel Ricardo Siqueira lembra que, em 2003, em uma visita do furgão à cidade de Jaú, no interior de São Paulo, um pequeno agricultor que tinha R$ 862 mil numa caderneta de poupança, resolveu diversificar, colocando parte do dinheiro em bolsa. Já na última vez que a equipe da Bovespa visitou a cidade do Guarujá, no litoral de São Paulo, um ambulante passou a aplicar R$ 200 por mês em duas ou três ações. "Algumas pessoas ainda ficam surpresas de saber que podem aplicar o quanto quiserem em bolsa, muitos ainda têm a visão de que ações é apenas para ricos, mas, aos poucos, esse engano vai se corrigindo", acredita Siqueira.


Segundo o diretor de marketing da bolsa, Luís Abdal, dentro do projeto "Bovespa vai até você", que engloba a ida ao litoral, às universidades, aos municípios, às fábricas, o "Bovespa vai à praia" é um dos que mais têm retorno. Entre os 460 mil cadastros, cerca de 120 mil foram feitos nesses cinco anos de visitas ao litoral. Numa pesquisa feita no fim de 2006 com 20 mil dessas pessoas cadastradas, 32% delas já aplicavam em bolsa, um percentual considerável, lembra Abdal. "Não sabemos quantas dessas pessoas começaram a aplicar depois de terem contato com um dos programas do 'Bovespa vai até você', mas, sem dúvida, uma parte foi", acredita. Para obter exatamente essa resposta, este ano a bolsa fará uma nova pesquisa perguntando há quanto tempo essas pessoas aplicam em ações, o que as levou para a bolsa e de que forma aplicam, via fundos, carteiras próprias, home broker ou clubes.


Mas, mesmo em menor escala, a iniciativa da Bovespa ainda atrai desavisados. Alguns banhistas se aproximam do Bovmóvel achando que se trata de um terminal eletrônico de banco, provavelmente mais pela cor vermelha, do que pela falta de conhecimento do que é o mercado de ações. Quem sabe no próximo "Bovespa vai à praia", no verão de 2009, as dúvidas dos banhistas sejam menores e a bolsa não resolva mudar a cor do Bovmóvel?

Caminhos para que o sonho da casa própria se torne real

Valor Econômico
Alcides Leite Júnior
30/01/2008


Muitos ainda se perguntam, com alguma dose de preconceito, como é possível que um morador de favela possa comprar eletrodomésticos sofisticados e até carro novo, enquanto aceita viver em condições tão degradantes de higiene e segurança. Entretanto, a questão seria mais esclarecedora se fosse formulada de outra forma. Partindo do pressuposto que a maioria das pessoas sabe escolher suas prioridades de consumo e investimento - e que se pudesse optaria por morar em condições mais favoráveis-, como é possível que o morador da favela possa ter acesso à compra de produtos de avançada tecnologia, como eletrodomésticos sofisticados e automóveis novos, e, no entanto, não consiga obter financiamento para melhorar suas condições de moradia?


É bem provável que, na maioria das grandes cidades brasileiras, o preço de um imóvel seja superior ao de um automóvel novo. Mas também é provável que, se houvesse financiamento de longo prazo com taxas de juros reduzidas, muitos moradores de favela ou cortiços teriam renda suficiente para pagar as prestações de uma casa própria.


Para se adquirir um automóvel novo hoje no país basta entrar em uma concessionária, escolher o veículo, fazer o plano de pagamento e sair com o carro. Se o modelo de aquisição da casa própria chegasse próximo do processo de aquisição do automóvel, com certeza teríamos menos pessoas alojadas em habitações populares precárias. É óbvio, porém, que a compra de um bem como o imóvel requer muito mais fiscalização do Estado e precauções pelo adquirente do que um carro. Mas, convenhamos, há um fosso creditório muito grande entre ambos bens na hora de alcançá-los.


Hoje, o déficit habitacional brasileiro chega a mais de oito milhões de unidades. Se considerarmos aquelas famílias que têm casa própria, porém em condições precárias, a demanda por investimentos no setor imobiliário seria ainda maior. Experiências bem-sucedidas no México mostram que é possível atender à demanda por moradia a custos e prazos satisfatórios, desde que o mercado financeiro desenvolva instrumentos de investimento rentáveis e de financiamento compatíveis com a renda da população.


A maioria dos empreendimentos habitacionais mexicanos é de responsabilidade da iniciativa privada, que desenvolveu técnicas modernas de construção em escala industrial, com boa qualidade e preços baixos. Uma casa de 70 m2 de área privativa é colocada à venda por um preço em torno de US$ 20 mil, algo como R$ 35 mil. Se financiada em 30 anos, com taxa de juros reais de 6% ao ano, a prestação mensal não passaria de R$ 200, ou cerca de um quarto da renda familiar da maioria da população que mora em favela em São Paulo.


A solução do problema habitacional brasileiro também passa pela questão da regularização da propriedade dos imóveis e pelo equacionamento da colateralidade necessária aos financiamentos. Hoje, muitos moram em áreas invadidas e não possuem nenhum título de propriedade. E a maioria não tem acesso a crédito porque não tem garantias para sustentá-lo.


Segundo o economista peruano Hernando de Soto, essas questões estão interligadas. Soto ficou mundialmente conhecido pela difusão de sua teoria sobre a importância da regularização da unidade habitacional familiar como instrumento de melhoria da condição social das camadas mais pobres da população. Segundo ele, o título de propriedade serve como importante garantia na obtenção de recursos para o financiamento de pequenos negócios que multiplicam a renda familiar e possibilita a aquisição de imóvel de melhor qualidade ou de realizar reforma do imóvel atual.


Um mutirão de regularização dos imóveis, ainda que precários, pode ser uma forma de se iniciar um círculo virtuoso no mercado imobiliário de baixa renda no Brasil. Recentes avanços na economia brasileira, como o controle da inflação, a redução das taxas de juros, o desenvolvimento de novos mecanismos de poupança e empréstimos, a abertura de capital das principais construtoras e a implantação de medidas que fortalecem as garantias dos empréstimos, como a alienação fiduciária e o patrimônio de afetação dentre outros, já permitem vislumbrar melhorias no mercado imobiliário.


No final do ano passado, foi veiculado nos principais jornais do país que uma importante empreiteira brasileira deseja construir na Grande São Paulo um megaprojeto habitacional nos moldes mexicano. Esperamos que esta iniciativa tenha sucesso e que muitas outras sejam implantadas em curto espaço de tempo. Se isso acontecer, ninguém mais precisa ficar surpreso quando souber que, além de eletrodomésticos sofisticados e carro novo, a população de baixa renda também poderá ter acesso a uma casa decente.


Alcides Domingues Leite Júnior é professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios


E-mail: alcides.leite@trevisan.edu.br


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Aos 40, Ibovespa ainda seduz mercado

Valor Econômico
29/01/2008


Num momento em que a turbulência dos mercados tira o sossego do investidor, serve de consolo saber que muitos ativos sobreviverão à tempestade atual. A Bovespa comemora hoje os 40 anos do Índice Bovespa, o indicador mais antigo do mercado brasileiro. E entre as 58 empresas que compõem o índice atualmente, seis estavam presentes no primeiro Ibovespa, em 1968. As ações do banco Itaú, da Duratex e da Lojas Americanas, por exemplo, faziam parte da primeira carteira do índice e se mantêm na atual. Já os papéis da Vale, Souza Cruz e AmBev (antiga Antarctica e Brahma) estiveram presentes em todas as carteiras do Ibovespa, sem terem ficado fora do indicador sequer uma única vez.



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Vale, AmBev e Souza Cruz estão na lista desde o início
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"Esse levantamento é interessante porque mostra para o investidor que há no mercado brasileiro companhias longevas, saudáveis e que permanecem, enquanto as crises financeiras passam", diz o diretor de operações da Bovespa, Ricardo Pinto Nogueira. O desempenho do Ibovespa nesses 40 anos também é outro sinal importante de que o sobe-e-desce do dia-a-dia se dilui no longo prazo e o que predomina, na maior parte das vezes, são os bons retornos. Desde 1968, o índice acumula alta de 3.540%, corrigido pelo IGP-DI. Já quanto às ações que fazem parte do indicador desde o começo, não é possível fazer o mesmo cálculo, pois a base de dados disponível das empresas individualmente existe apenas desde 1986.






Ao longo desses 40 anos, o Ibovespa mudou muito, refletindo os altos e baixos da economia e as transformações no perfil da indústria brasileira. Algumas das "blue chips" da primeira carteira do indicador, por exemplo, já nem existem mais, como Banco da América, Cimento Itaú, Casa Anglo Brasileiro (ex-Mappin), Banco Comercial do Estado e Cimaf (fabricante de aço e ferro). Em 1968, o índice tinha apenas 27 ações, o menor número desde que ele existe, sinal de como o mercado era incipiente. Em 1980, as ações da Petrobras já figuravam entre as vedetes do Ibovespa, juntamente com Banco do Brasil, Banespa, Vidraria Santa Marina, Varig e Cobrasma. "A década de 80 foi marcada pelo aumento no número de empresas e pela diversificação de setores na bolsa", diz Nogueira. Já na década seguinte, o mercado voltou a se concentrar, com a falecida Telebrás chegando a representar quase 50% do índice.


Atualmente, as gigantes Vale e Petrobras brigam palmo-a-palmo pela liderança dentro do índice, além da estréia de novos setores, resultado da retomada das ofertas públicas de ações (IPOs) a partir de 2004. "Essa diversificação é saudável e tende a se intensificar nos próximos anos, já que os papéis das novas companhias vão ganhando liquidez e, assim, ficam em condições de disputar um lugar dentro do índice", diz Nogueira. Entre esses novos setores estão: imobiliário, educação, saúde, frigoríficos e prestadoras de serviços, como as ações da própria Bovespa Holding e BM&F.


Depois de variar entre o campo positivo e negativo durante todo o dia, o Ibovespa ontem fechou em alta de 1,97%, aos 58.593 pontos. As ações ON (com voto) e PN (sem voto) da Petrobras subiram mais de 5% e influenciaram positivamente o índice.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

Leão manso

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
29/01/2008

Cada vez menos dinheiro está saindo do bolso dos investidores de fundos de renda fixa, DI e multimercados para os cofres do governo. Um estudo da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) para o Valor mostra que o total recolhido semestralmente - em maio e novembro - por esses fundos à Receita Federal, conhecido como come-cotas, está caindo nos últimos dois anos, apesar de as alíquotas continuarem as mesmas.


Em novembro último, o governo recolheu R$ 2,53 bilhões, 15% menos do que a média entre maio de 2005 e novembro de 2007. O valor supera apenas o recolhimento de novembro de 2005, quando o patrimônio dos fundos que bancavam o imposto era 19% menor do que o atual. De acordo com a Anbid, são duas as principais razões para a queda do valor cobrado: o encolhimento recente do patrimônio dos fundos sobre os quais incide o come-cotas e a menor rentabilidade média dessas carteiras.


Cálculos do site Fortuna indicam que a rentabilidade média dos fundos com come-cotas caiu de cerca de 8% nos semestres anteriores para 5,17% no período encerrado em novembro. Como o come-cotas toma por base a rentabilidade - sobre a qual incidem as alíquotas de 15% nos fundos de longo prazo e 20% nos de curto prazo -, com os ganhos menores, o valor abocanhado pelo leão caiu. É o lado bom de uma notícia ruim.


Além do pagamento semestral, os aplicadores dos fundos de renda fixa, DI e a maior parte dos multimercados pagam o IR também no resgate, de acordo com a variação do valor das cotas desde a última cobrança. Se o aplicador tiver perda no fundo até a data do saque, poderá compensá-la futuramente.


Outro fator que tem feito a arrecadação cair é a migração dos investidores para outros investimentos. Em 2007, por exemplo, houve migração maciça dos pequenos aplicadores dos fundos de renda fixa para a caderneta de poupança, que teve captação de R$ 33,3 bilhões. Já os fundos de renda fixa perderam R$ 12,856 bilhões em 12 meses, e os DIs, R$ 9,751 bilhões, segundo dados do Fortuna. Os fundos de ações, que não pagam come-cotas, captaram R$ 23,3 bilhões. Entre os fundos sujeitos ao imposto, cresceu apenas o número de investidores institucionais, como fundos de pensão, que não pagam o come-cotas. O percentual de clientes não-institucionais, no qual se incluem pessoas físicas e jurídicas, caiu, diz a Anbid.


Aplicadores não apenas deixaram os fundos de renda fixa e DI à procura de outras alternativas conservadoras sem come-cotas, como também partiram para aplicações em renda variável, cuja incidência de imposto de renda ocorre apenas no resgate, comenta Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec-Rio. "A queda da taxa de juro e o vigor da bolsa nos últimos anos levaram a essa realocação e à queda de receita do governo no recolhimento semestral."


Para Andréa Bazzo, do escritório Mattos Filho Advogados, também pode ter reduzido o recolhimento da Receita a decisão dos investidores de migrar para carteiras de recebíveis ou mesmo aplicar em imóveis, que não têm incidência do come-cotas. Outro motivo seria o maior número de fundos fechados, cuja incidência do recolhimento periódico é discutível e pouco aplicada, diz ela.


Até 2004, o recolhimento do come-cotas ocorria ao fim de cada mês. Quanto menor a freqüência da cobrança, melhor para o aplicador, porque pode obter rendimento sobre o valor antecipado aos cofres da Receita. "A mudança de mensal para semestral estimulou as aplicações em fundos", diz Braga, do Ibmec-Rio.


Para Braga, o caminho natural da tributação come-cotas seria transformá-la agora em anual e depois extingui-la. "No entanto, no atual contexto da não renovação da CPMF no Congresso, acho que isso ainda não é para 2008, uma vez que o come-cotas representa cerca de 5% do que o fisco vai deixar de arrecadar com a contribuição". Não há, atualmente, nenhuma discussão em pauta no governo sobre revisão dos critérios do come-cotas. "No longo prazo, porém, a Receita poderia até passar a arrecadar mais sem o come-cotas", diz ele.


A derrubada do come-cotas poderia levar a uma queda das taxas de administração cobradas pelos fundos, porque seriam reduzidos a burocracia e os custos de administração das carteiras, acredita Braga. Para outros profissionais do mercado, porém, grande parte dos investimentos necessários para o recolhimento do come-cotas já foram feitos pelos administradores, portanto, haveria pouco impacto nos custos com sua derrubada.


Vale lembrar que o aplicador que ficar menos de dois anos em um fundo de investimento está sujeito a um ajuste do IR recolhido no come-cotas. O motivo é que a alíquota recolhida semestralmente é a menor possível a ser paga pelo aplicador - de 15% nos fundos de longo prazo e multimercados e 20% nos de curto prazo. Se o aplicador de um fundo de longo prazo resgatar em um período entre um ano e meio e dois anos, por exemplo, pagará alíquota de 17,5% sobre o seu lucro. Mas bancará no resgate a diferença entre a cobrança de 15% do come-cotas e os 17,5% de imposto sobre o ganho no período de um ano e meio
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Perda de fundo pode ser abatida em outra carteira

Valor Econômico
De São Paulo
29/01/2008


Aplicadores que se apressaram em sacar recursos de fundos agressivos neste período de turbulência e resgataram suas cotas com prejuízo podem estar isentos de imposto de renda até retomarem seu capital inicial. A Receita Federal prevê que, sobre a recuperação de perdas em fundos, os cotistas não precisam recolher IR. Porém, isso deve ocorrer em carteiras de mesmo perfil de tributação e ligadas ao mesmo administrador - que, vale lembrar, pode ser uma instituição distinta da do gestor.


O direito vale apenas para investidores que tenham sacado seus recursos com prejuízo. "Quem tem perda fica com um crédito tributário", explica Gilberto Braga, professor do Ibmec-Rio. Para aqueles que mantiverem a aplicação, a compensação é automática e se dá no momento de cálculo do imposto (no resgate ou no recolhimento do come-cotas, o que vier depois).


A superintendente de Relacionamento com Gestores do BNY Mellon Serviços Financeiros, Simone Rosa, explica que o investidor poderá compensar perdas em fundos com mesmo perfil tributário (curto prazo, longo prazo ou renda variável), mas não necessariamente na mesma carteira. Se houver um fundo com perda e outro com ganho sob a mesma administração, automaticamente haverá essa compensação, explica ela. O investidor tem prazo para essa recuperar as perdas, até o fim do ano seguinte ao saque realizado no fundo com prejuízo, completa.


Do lado burocrático, o administrador do fundo guarda no CPF ou CNPJ do investidor o crédito tributário a que tem direito. Tudo isso costuma ser feito de forma automática, mas o aplicador deve fiscalizar se os créditos são considerados e, do contrário, reclamar.


Ele deve estar alerta, ainda, para o fato que não há como transferir esses créditos entre diferentes administradores. Dessa forma, levam alguma vantagem os aplicadores com cotas de fundos de algum dos 140 gestores de fundos administrados pela BNY Mellon (na maioria, multimercados), porque as perdas de um podem ser compensadas pelos ganhos de outro, explica Simone. A BNY Mellon é a principal administradora de fundos de gestores independentes do país. Fundos dos maiores bancos de varejo costumam ser administrados por instituições ligadas ao próprio grupo.


Andrea Bazzo, do Mattos Filho Advogados, recomenda aos aplicadores não teimar em arriscar mais apenas por ter direito a lucros sem incidência de imposto. "A decisão não é só fiscal, mas, se o aplicador mantiver o apetite financeiro e a estratégia comportar aplicação, valerá a pena aproveitar." (DF)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Aprendizes do futuro

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro, de São Paulo
28/01/2008



Num momento de forte turbulência dos mercados, com o Índice Bovespa caindo 10,05% no ano, muita gente se pergunta como proteger suas economias. A resposta pode estar justamente nos contratos futuros ou, no jargão econômico, nos derivativos. Foi o que aprendeu, por exemplo, o gerente financeiro de uma empresa do segmento de limpeza, Luciano Eugênio Silveira, de 38 anos. Em setembro do ano passado, ele resolveu dar seus primeiros passos com derivativos usando o simulador lançado pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) em parceira com o Valor. Com muita dedicação e atenções voltadas a qualquer informação relevante, ele se deu tão bem que foi um dos primeiros colocados no ranking anual da competição lançada pela bolsa para popularizar o simulador.


E para quem acha que derivativos são um assunto muito complicado, que só os especialistas entendem, Silveira, gerente financeiro da empresa da família, faz questão de ressaltar que terminou apenas o primeiro grau. "Meu sonho sempre foi servir o exército e, então, eu parei de estudar", lembra ele. "Depois, quando saí de lá, fui trabalhar e acabei não terminando o segundo grau, mas a competição me reacendeu a vontade de estudar e pretendo voltar neste ano."


Com os contratos futuros, um investidor pode, por exemplo, vender contratos de Ibovespa, caso acredite que o indicador vai cair. Se o aplicador confia na alta do dólar, ele pode comprar contratos futuros de dólar. No mercado de derivativos, é possível limitar as perdas travando um preço para o ativo. "Preciso conhecer esse tipo de operação, já que também sou responsável por fazer os investimentos da empresa", diz Silveira.


Com ganhos de saltar aos olhos - apesar de ilusórios -, na casa dos 850.000% e 840.000% em quatro meses, os três primeiros colocados do ranking anual receberão um notebook, oferecido pelas corretoras parceiras do projeto, cursos online do do Instituto Educacional BM&F e uma assinatura anual do Valor Econômico. Do quarto ao décimo lugares, ganha-se cursos online e assinaturas semestrais do jornal. Qualquer pessoa pode participar da competição, basta cadastrar-se no simulador. Cada um recebe uma quantia fictícia de R$ 150 mil para comprar ou vender contratos. Atualmente, é possível aplicar em minicontratos de Índice Bovespa e dólar. Além disso, pode-se operar contratos padrão de café, boi gordo, milho e soja. No fim do ano, os ganhos foram zerados, dando início a uma nova fase da competição.


Ganhar diante da forte volatilidade, principalmente dos contratos de índice, foi a estratégia adotada por Alvaro de Almeida, de 51 anos, que ficou na primeira colocação. Formado em administração de empresas, ele trabalha desde 1978 no mercado financeiro e hoje atua na tesouraria de um banco com foco em crédito consignado. "Como o índice oscila muito, tentava capturar o 'gap' (diferença) de compra e venda." Como o executivo não trabalha diretamente ligado a derivativos, pôde participar do ranking. Pelas regras, os participantes ligados ao mercado de derivativos não podem concorrer a prêmios, embora possam acessar livremente o sistema. Os usuários do simulador operam o mercado do dia, com cotações reais e dados atualizados, mas com 15 minutos de atraso em relação ao pregão real. O negócio, no entanto, é fechado pelo preço do mercado naquele momento, sem "delay".


Além de operar basicamente índice e dólar, os primeiros colocados têm outro ponto em comum: correram riscos altíssimos. Todos ficaram o tempo todo alavancados, ou seja, aplicaram mais recursos do que têm em carteira. "Às vezes, minhas posições eram tão grandes que eu me sentia um Titanic", brinca Igor Constantino Hidalmasy Kazakos, de 27 anos, no terceiro lugar do ranking anual. "Investi praticamente tudo o que tinha (no simulador) o tempo todo e dificilmente dormia posicionado", conta ele, que chegou a fazer mais de 250 operações num único dia. Apesar de ser estudante de física da Universidade de São Paulo (USP), a grande paixão de Kazakos é mesmo o mercado financeiro, onde pretende atuar como profissional. "Coloquei em prática meus conhecimentos teóricos e, com o simulador, ratifiquei o meu gosto pelo mercado", diz.


Mas não foram somente os melhores desempenhos que foram premiados. Os cinco cadastrados com os maiores ganhos no bimestre novembro-dezembro também receberam prêmios - cada um ganhou um iPod, além de cursos online e assinaturas do Valor. Para este ano, no entanto, houve uma pequena mudança na regra e o ciclo de premiação passou a ser a cada quatro meses, mas o anual foi mantido. "A premiação a cada dois meses se revelou curta demais e, agora, o participante poderá aprender a fazer rolagem (renovação dos contratos)", diz Verdi Rosa Monteiro, diretor de Projetos de Desenvolvimento e Fomento de Mercado da BM&F.


Com quase 15 mil participantes cadastrados no simulador, a bolsa começou a testar neste mês o Simulador BM&F Mobile, uma ferramenta para simular negócios com contratos futuros que pode ser acessada a partir do celular, Palm Top ou outros dispositivos móveis. Com isso, o usuário tem acesso à carteira e pode comprar ou vender contratos utilizando o mesmo usuário e senha cadastrados na versão internet. Todas as operações - tanto pela ferramenta móvel como pelo site - farão parte da carteira do participante no simulador.


O ranking que mostra o desempenho dos participante sofreu mudanças em relação ao ano passado. A colocação de cada um dos cadastrados será revelada somente às sexta-feiras. Antes, a informação era diária. É possível ver somente as posições no ranking, sem o percentual de ganhos teóricos. A idéia é que fazer com que os estudantes não se desestimulem ao conhecer o desempenho do adversário.


Uma novidade que deve chegar aos participantes do simulador em meados de fevereiro é a possibilidade de operar contratos de juros futuros, chamados de DIs, que hoje são os de maior liquidez na BM&F.
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