sexta-feira, 23 de outubro de 2009

No pós-Copom, giro dobra e juro cai

Por dentro do mercado - Luiz Sérgio Guimarães

Valor Econômico - 23/10/2009

  

Nem a surpreendente queda da taxa de desemprego conseguiu entusiasmar os "comprados" em taxa no mercado futuro de juros da BM&F. Diante do caminho da total estabilidade trilhado pelo Copom do Banco Central, não teve jeito de evitar mais uma rodada de baixa dos juros futuros. Um Copom não se esgota na decisão em si sobre a taxa Selic que irá vigorar pelos 45 dias seguintes. Ele pode manter a taxa mas, manejando habilmente o placar e o texto do comunicado, direcionar o mercado futuro para um lado ou para outro. Neste Copom de outubro, a estabilidade se deu nas três pontas: a taxa permaneceu no degrau historicamente baixo de 8,75%, a decisão foi tomada coesamente pelos oito integrantes do Comitê e nem uma vírgula foi mudada de lugar no texto da nota. Com essa plena passividade, o BC quis indicar ao mercado que as projeções de juros estão corretas? Nada disso. Os players entenderam que, para o BC, a curva estaria excessivamente inclinada para cima, embutindo aperto monetário em 2010 que o Copom não tem interesse em fazer.

O declínio dos CDIs futuros foi geral. Não só os mais curtos recuaram. Os com vencimento mais distante também. E o volume de negócios dobrou, foi para 616 mil contratos no pregão normal. O juro para a virada do ano cedeu de 8,67% para 8,65%. O contrato mais negociado, para janeiro de 2011, recuou de 10,37% para 10,28%. A taxa do swap de 360 dias caiu de 9,99% para 9,89%. A queda em bloco mostra que o mercado continua confiando na capacidade de o BC fazer, no momento em que achar necessário, a coisa certa. Pois caso interpretasse que a decisão de manter a Selic estabilizada em 8,75% por longo período foi tomada levianamente - utilizando-se critérios outros que não os exclusivamente técnicos - as taxas mais longas subiriam. Isso porque, se não houvesse reação tempestiva a pressões inflacionárias, o aperto monetário exigido no futuro teria de ser bem mais intenso.

Mas observe-se que a simples manutenção do comunicado não representa um pito do BC ao suposto exagero da inclinação positiva da curva futura. Caso quisesse derrubar para valer os juros futuros, o Copom não precisaria estabelecer dissenso no escore de 8 a zero em prol de um recuo da Selic na reunião de dezembro. Bastaria mudar o tom do comunicado, de forma a alargar ainda mais o horizonte do congelamento monetário. Se o Copom considera a taxa de 8,75% compatível com o cenário benigno de inflação desenhado para o "horizonte relevante", não será a taxa de desemprego calculada pelo IBGE - que caiu de 8,1% em agosto para 7,7% em setembro, quando os analistas esperavam baixa para 8% - que irá fazer a cabeça do mercado.

  

  

No mercado de câmbio, o dólar teve dois momentos distintos. De manhã, subiu até 0,93%, cotado a R$ 1,7410, para acompanhar a apreensão com a qual os grandes investidores globais receberam o resultado do PIB chinês no terceiro trimestre. Os mercados internacionais não ficaram decepcionados com o dado em si, embora tenha sido inferior às expectativas. A China cresceu 8,9% no trimestre, ante expansão de 7,9% registrada no período anterior, mas os economistas previam alta de 9,1%. Mas eles não gostaram nem da qualidade deste crescimento nem de sua sustentabilidade. O produto chinês cresce, por exemplo, mais em função de investimento do que de consumo - o contrário do processo brasileiro. À tarde, as bolsas americanas começaram a subir por causa de indicador americano antecedente exibindo ótimo crescimento - o Conference Board avançou 1% em setembro, na sexta alta consecutiva, para expectativa de +0,8% -, e o dólar devolveu a alta matinal. Fechou rigorosamente estável em R$ 1,7250.

Só não caiu porque o IOF de 2% exerce inibições à livre movimentação de capitais voláteis, de curto prazo. Como a taxa come quase três meses da rentabilidade paga pela Selic, se o capital for embora agora o momento do reingresso terá de ser muito bem avaliado para que a variação cambial não anule fatia ainda maior da rentabilidade. Diante desse risco introduzido pela tributação, irão crescer as operações informais destinadas a driblá-la. E grande parte delas passa pelos mercados de derivativos, um fluxo de dólares sintéticos que não será alcançado pela estatística oficial da balança cambial.

Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Renda fixa apresenta retorno menor que fundos DI no mês até dia 16

Autor(es): Luciana Monteiro

Valor Econômico - 22/10/2009

  

A subida das taxas de juros futuras nas últimas semanas trouxe impacto nos fundos com papéis prefixados em suas carteiras. Os fundos de renda fixa, por exemplo, já apresentam ganhos inferiores aos dos fundos DI no acumulado do mês.

Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), até o dia 16, as carteiras que podem aplicar em prefixados registram ganho médio de 0,34%, enquanto os DI rendem 0,38%. No mesmo período, o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o juro interbancário que serve de referencial para as carteiras mais conservadoras) variou 0,36%. E essa diferença deverá se acentuar ainda mais por conta da elevação dos juros futuros nesta semana após a decisão do governo de taxar em 2% o capital externo para investimentos em renda fixa e ações, anunciada na segunda-feira.

  

  

A boa notícia é que as taxas projetadas no mercado futuro também podem representar a oportunidade de o investidor travar agora ganhos maiores. Isso porque muitos analistas avaliam que as taxas futuras estão muito acima do que a correção que o governo deve fazer na Selic. Haveria, portanto, prêmios nos papéis prefixados, principalmente naqueles com vencimento mais longos. Este seria, portanto, um momento interessante para aplicar num fundo de renda fixa. Já os investidores que já estão numa carteira desse tipo estão perdendo, mas não devem sair para não perderem a recuperação que essas aplicações terão.

O desempenho dos renda fixa pode ser explicados por alguns motivos. Primeiramente, diante dos sinais de recuperação da economia brasileira, os investidores começaram a projetar um aumento da Selic no futuro para evitar pressões inflacionárias. A segunda causa estaria no temor com relação à substituição de do presidente do Banco Central (BC) e de três diretores.

A alta mais recente do juro futuro foi por causa do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% sobre investidores estrangeiros em ações e títulos de renda fixa. Para compensar esse custo maior, o investidor externo passou a exigir um retorno maior.

"Acho que neste momento o melhor que o investidor tem a fazer é não fazer nada", avalia Alexandre Espírito Santo, diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ. "O juro futuro pode estar exagerado porque a Selic pode não subir tudo isso que o mercado está projetando", diz. Ele, por exemplo, trabalha com a Selic em 10,75% no fim do ano que vem, admitindo um BC conservador e não desenvolvimentista. "De qualquer forma, este é um momento delicado, portanto, não faria mudança de portfólio agora", afirma. "Acho que a história do IOF traz uma volatilidade desnecessária."

No acumulado do ano, entretanto, os fundos de renda fixa ainda ganham mais que os DI. Até o dia 16, o ganho soma 8,51%, enquanto os fundos DI rendem 8,27% em média. O CDI no período apresenta variação de 8,02%.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Taxação cria oportunidade em títulos prefixados

Autor(es): Alessandra Bellotto

Valor Econômico - 21/10/2009

  

A medida do governo de taxar o capital estrangeiro que entra no país para investimentos em ações e títulos de renda fixa com Imposto de Operações Financeiras (IOF) de 2% mexeu com a curva de juros, formada pelas projeções do mercado financeiro para o CDI para diferentes períodos. Os vencimentos mais longos, os preferidos dos estrangeiros, foram os mais afetados, com a alta dos prêmios exigidos para acomodar a nova taxação. Isso abriu oportunidades para o investidor local. Mas vale ressaltar que as taxas pagas estão maiores porque a percepção de risco também piorou.

"A curva de juros abriu (com a alta dos prêmios) para acomodar o investidor estrangeiro e o retorno para o local ficou melhor", afirma o economista-chefe da corretora Gradual, Pedro Paulo da Silveira. Segundo ele, o aumento dos prêmios não chega a ser proporcional aos 2% de taxação, mas está acima de 1%.

Ele cita como exemplo o contrato de DI com vencimento em janeiro de 2012 negociado na BM&F, que chegou a pagar 11,70% ontem, ante 11,20% da véspera. Esse aumento de meio ponto ao ano, afirma Silveira, no prazo de 26 meses até o vencimento significa um ganho de 1,10% na taxa. Para o investidor do varejo, na visão do economista, há boas oportunidades nas Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F), títulos prefixados.

No Tesouro Direto, sistema de negociação de títulos públicos para pessoa física, as NTN-F de mesmo vencimento foram negociadas ontem a 11,91%. "Neste nível de taxa, vale a pena apostar no papel", acredita Silveira. Ele argumenta que, mesmo num cenário bastante conservador - de alta do juro de 0,25 ponto percentual em dezembro e outras seis de meio ponto no ano que vem, elevando a Selic dos atuais 8,75% para 12% -, a aplicação ainda oferece um potencial de retorno atraente.

Isso porque o CDI estimado para esse período, levando em conta o aumento da Selic para 12% no fim do ano que vem, é de 11,10%. "Esse é o preço justo estimado para a NTN-F hoje, o que significa que quem conseguir uma taxa de 11,91% estará recebendo mais de 107% do CDI", diz.

Entre as diversas alternativas disponíveis para o investidor, a renda fixa de longo prazo é a que mais oferece oportunidades hoje, na visão de Carlo Moratelli, diretor de investimentos da Orey Financial Brasil, family office controlado pelo grupo português Orey. Ele cita a diferença grande entre as taxas dos contratos de juros futuros de curto e longo prazos. Enquanto o DI com vencimento em janeiro de 2010 marcava ontem 8,67%, o de 2017 pagava 12,94%, uma diferença de mais de 4 pontos percentuais. "Uma taxa de quase 13%, apesar do horizonte de longo prazo, pode significar um juro real de cerca de 8%, considerando uma inflação de 5%", diz. Moratelli ressalta, contudo, que não há indícios de pressão forte dos preços.

As NTN da série B, títulos públicos que pagam IPCA mais juro, também passaram a oferecer prêmios maiores. Os títulos com vencimento em 2017 ontem foram negociados a 6,70%. Quanto mais perto dos 7%, melhor, destaca o diretor da Orey. Ele lembra que no auge da crise financeira, em outubro, esses títulos chegaram a sair a 10% e, no início deste ano, ainda num cenário conturbado, a 7,70%. Na mínima do ano, o juro foi de 6,25%. "Os prêmios voltaram a subir e pode ser oportunidade para o investidor que quer se proteger de inflação." Hoje, o juro real (descontada a inflação) está pouco acima de 4%, compara.

Além disso, Moratelli acredita que o risco de investir em ações no curto prazo aumentou, por conta da taxação. "A bolsa precisa de fluxo novo e contínuo para manter o crescimento", afirma.

Para o economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho Filho, operar no mercado de renda fixa pode ser muito arriscado no momento. "A curva abriu, mas porque há muitas incertezas sobre o cenários de juros e a taxação é só mais uma delas", diz. Ele cita a possível saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central e a própria eleição presidencial. Os títulos mais longos estão sujeitos a todos esses fatores de risco, lembra Carvalho, e não oferecem prêmios tão vigorosos assim.

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