quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Taxação cria oportunidade em títulos prefixados

Autor(es): Alessandra Bellotto

Valor Econômico - 21/10/2009

  

A medida do governo de taxar o capital estrangeiro que entra no país para investimentos em ações e títulos de renda fixa com Imposto de Operações Financeiras (IOF) de 2% mexeu com a curva de juros, formada pelas projeções do mercado financeiro para o CDI para diferentes períodos. Os vencimentos mais longos, os preferidos dos estrangeiros, foram os mais afetados, com a alta dos prêmios exigidos para acomodar a nova taxação. Isso abriu oportunidades para o investidor local. Mas vale ressaltar que as taxas pagas estão maiores porque a percepção de risco também piorou.

"A curva de juros abriu (com a alta dos prêmios) para acomodar o investidor estrangeiro e o retorno para o local ficou melhor", afirma o economista-chefe da corretora Gradual, Pedro Paulo da Silveira. Segundo ele, o aumento dos prêmios não chega a ser proporcional aos 2% de taxação, mas está acima de 1%.

Ele cita como exemplo o contrato de DI com vencimento em janeiro de 2012 negociado na BM&F, que chegou a pagar 11,70% ontem, ante 11,20% da véspera. Esse aumento de meio ponto ao ano, afirma Silveira, no prazo de 26 meses até o vencimento significa um ganho de 1,10% na taxa. Para o investidor do varejo, na visão do economista, há boas oportunidades nas Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F), títulos prefixados.

No Tesouro Direto, sistema de negociação de títulos públicos para pessoa física, as NTN-F de mesmo vencimento foram negociadas ontem a 11,91%. "Neste nível de taxa, vale a pena apostar no papel", acredita Silveira. Ele argumenta que, mesmo num cenário bastante conservador - de alta do juro de 0,25 ponto percentual em dezembro e outras seis de meio ponto no ano que vem, elevando a Selic dos atuais 8,75% para 12% -, a aplicação ainda oferece um potencial de retorno atraente.

Isso porque o CDI estimado para esse período, levando em conta o aumento da Selic para 12% no fim do ano que vem, é de 11,10%. "Esse é o preço justo estimado para a NTN-F hoje, o que significa que quem conseguir uma taxa de 11,91% estará recebendo mais de 107% do CDI", diz.

Entre as diversas alternativas disponíveis para o investidor, a renda fixa de longo prazo é a que mais oferece oportunidades hoje, na visão de Carlo Moratelli, diretor de investimentos da Orey Financial Brasil, family office controlado pelo grupo português Orey. Ele cita a diferença grande entre as taxas dos contratos de juros futuros de curto e longo prazos. Enquanto o DI com vencimento em janeiro de 2010 marcava ontem 8,67%, o de 2017 pagava 12,94%, uma diferença de mais de 4 pontos percentuais. "Uma taxa de quase 13%, apesar do horizonte de longo prazo, pode significar um juro real de cerca de 8%, considerando uma inflação de 5%", diz. Moratelli ressalta, contudo, que não há indícios de pressão forte dos preços.

As NTN da série B, títulos públicos que pagam IPCA mais juro, também passaram a oferecer prêmios maiores. Os títulos com vencimento em 2017 ontem foram negociados a 6,70%. Quanto mais perto dos 7%, melhor, destaca o diretor da Orey. Ele lembra que no auge da crise financeira, em outubro, esses títulos chegaram a sair a 10% e, no início deste ano, ainda num cenário conturbado, a 7,70%. Na mínima do ano, o juro foi de 6,25%. "Os prêmios voltaram a subir e pode ser oportunidade para o investidor que quer se proteger de inflação." Hoje, o juro real (descontada a inflação) está pouco acima de 4%, compara.

Além disso, Moratelli acredita que o risco de investir em ações no curto prazo aumentou, por conta da taxação. "A bolsa precisa de fluxo novo e contínuo para manter o crescimento", afirma.

Para o economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho Filho, operar no mercado de renda fixa pode ser muito arriscado no momento. "A curva abriu, mas porque há muitas incertezas sobre o cenários de juros e a taxação é só mais uma delas", diz. Ele cita a possível saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central e a própria eleição presidencial. Os títulos mais longos estão sujeitos a todos esses fatores de risco, lembra Carvalho, e não oferecem prêmios tão vigorosos assim.

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