quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Para onde vai o dinheiro?

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro, de São Paulo
03/12/2008



O mês de novembro termina com mais de R$ 4 bilhões deixando os fundos de investimento, o que eleva os resgates no ano para R$ 46,943 bilhões. Este é o segundo pior desempenho da história do setor no país. As saídas só são menores do que as registradas no episódio da marcação a mercado, em 2002. Na ocasião, os investidores saíram de fundos após se assustarem com perdas em carteiras conservadoras como os DIs. Naquele ano até novembro, R$ 66 bilhões tinham deixado os fundos, volume que subiu para R$ 68 bilhões no fim de dezembro.

Com o desempenho de novembro, o setor de fundos completou o oitavo mês consecutivo de resgates, acumulando saques totais de R$ 85 bilhões no período de abril a novembro de 2008, mostra o relatório semanal do site financeiro Fortuna. Observando-se somente o comportamento do setor entre abril e novembro, os resgates apresentados agora são maiores do que os R$ 69,966 bilhões que deixaram o setor no mesmo período em 2002.


Mas para onde está indo esse dinheiro? Grande parte desses recursos está migrando dos fundos para os Certificados de Depósito Bancários (CDBs), que vêm pagando taxas para lá de atraentes mesmo para aplicações menores. Levantamento do Valor Data com base nos números do Banco Central mostra que os CDBs já captaram R$ 228,330 bilhões no ano até o dia 26. Somente em novembro, R$ 4,634 bilhões ingressaram nessas aplicações até 26.


A onda mais recente de saques, no entanto, vem sendo capitaneada por pequenos e médios empresários, que estão resgatando os recursos de suas aplicações pessoais para capitalizar a empresa. "E não são apenas companhias de pequeno porte, mas grandes empresas também, uma vez que as linhas de financiamento secaram", diz um gestor. Ele conta o exemplo de uma empresa com faturamento anual da ordem de R$ 300 milhões que antes captava recursos pagando cerca de 104% do CDI e hoje esse custo aumentou para 130% do CDI. "Aí, o empresário preferiu tirar o dinheiro da sua conta de pessoa física e colocar na empresa, já que os recursos no fundo não estavam rendendo tanto e a companhia estava com um custo de captação muito caro."


Um outro gestor confirma esse movimento. Ele conta o caso de um investidor dono de uma empresa que abriu o capital durante a onda de lançamento de ações dos últimos dois anos. "A empresa precisa de caixa, o custo de captação estava muito alto e esse investidor resolveu resgatar R$ 450 milhões que estavam aplicados num fundo conservador."


No caso dos resgates apresentados em novembro, é preciso ponderar que boa parte deles pode ser explicada pelo "come-cotas", imposto de renda recolhido semestralmente por fundos das categorias curto prazo, renda fixa, DI e multimercados. Pelas regras, a alíquota de IR é de 15% sobre o rendimento das aplicações.


Os resgates no ano só não são maiores por conta dos fundos de poder público, outros (onde estão os fundos de investimento em direitos creditórios, FIDC), previdência e ações. As carteiras classificadas como poder público, que recebem aplicações só de estados e municípios, registram captação de R$ 23,042 bilhões. Já os FIDCs acumulam ingressos de R$ 10,038 bilhões, mas apenas investidores qualificados (com aplicações acima de R$ 300 mil) podem investir. Os fundos de previdência e de ações, que são abertos para o investidor de varejo, têm captação líquida de R$ 8,207 bilhões e R$ 3,820 bilhões, respectivamente.


O setor de fundos terá a partir de agora de se reinventar, diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais e superintendente de vendas da Asset Management do Banco Real. "A indústria de fundos terá de criar alternativas para concorrer com os CDBs, pois a bolsa e os multimercados dificilmente vão ganhar a briga com o CDI (o juro interbancário)", avalia.


Mesmo o investidor de varejo tem hoje acesso a CDBs com taxas que antes eram impensáveis. Para se ter idéia, no Unibanco, com R$ 1 mil, o investidor consegue uma taxa de de 100% do CDI após dois anos de aplicação. Para os clientes que têm valores expressivos, alguns bancos de primeira linha chegam a oferecer CDBs com taxas de 103%, 104% do CDI com liquidez diária. Se topar abrir mão da liquidez, o retorno é até maior.


As taxas dos CDBs subiram porque, com o aperto no crédito externo, os bancos tiveram que se voltar para o mercado local para captar recursos. Com a concorrência, as taxas oferecidas aos investidores tiveram de subir. "Fica difícil concorrer com CDB, já que em casos de bancos de primeira linha o risco é baixo, o investidor não vê volatilidade e ainda tem liquidez diária", diz Gustavo Coelho, responsável pela área de alocação da Arsenal Investimentos.


Os fundos multimercados são os que mais tiveram saques no ano, de R$ 44,280 bilhões até novembro. Em seguida, aparecem os renda fixa que podem aplicar em papéis prefixados, com resgates de R$ 38,278 bilhões. "Desde agosto do ano passado, os multimercados não têm apresentado bom desempenho e o investidor vem migrando tanto de fundos mais agressivos quanto de conservadores para os CDBs", diz Rogerio Betti, sócio da Beta Advisors.


As regras tributárias incidentes sobre os rendimentos dos fundos contribuem para os resgates, avalia Marcelo D'Agosto. Isso porque, além do come-cotas, a alíquota de IR varia conforme o prazo de permanência na aplicação, o tipo de fundo e a natureza do investidor (pessoa física, jurídica, fundo de aplicação em cotas ou institucional). "A tendência é de que quem saiu demore para voltar, já que terá de esperar dois anos para ter direito à menor alíquota de imposto (nas outras aplicações)."

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Descubra seu perfil e comece a investir

Definir qual modalidade de aplicação é a melhor para você é o primeiro passo para fazer seu dinheiro render

FABRÍCIO DE CASTRO,
fabricio.castro@grupoestado.com.br

Quando o assunto é o futuro, o educador financeiro Mauro Calil costuma comparar a postura de um investidor com a de um piloto de Fórmula 1. Ambos estão numa corrida, mas nem sempre o primeiro sabe o que está fazendo. “E investir sem conhecimento não é agressividade. É loucura”, adverte o especialista. “É como se um motorista comum pilotasse uma Ferrari.”

No Centro de Estudos e Formação do Patrimônio Calil & Calil, o educador lida com investidores de todos os tipos, de conservadores que adoram a caderneta de poupança a arrojados que preferem a bolsa de valores. “Não tem problema você ser agressivo. Desde que saiba o que está fazendo”, alerta o professor.

Na prática, a postura do investidor depende de seu apetite ao risco, de seu conhecimento sobre o mercado e de sua história de vida. Ao avaliar esses fatores, é possível descobrir seu perfil e aplicar os recursos com mais segurança.

No teste ao lado, feito a pedido do Jornal da Tarde pelo consultor financeiro Paulo Adriano Freitas Borges, é possível pesar os fatores. Ao descobrir seu perfil de investidor, o leitor pode consultar uma carteira sugerida. “Na formulação da carteira, levei em conta a crise econômica”, explica Borges. “Ela é apenas uma sugestão, e suas porcentagens podem até mudar.”

Em períodos de bonança, diz Borges, o arrojado pode aumentar a porcentagem do dinheiro investido em ações para até 50%. “Mas a pessoa precisa saber o que faz. Senão o ato de investir vira um jogo.”

Idade e família

Os jovens podem - e devem - ser mais agressivos, porque têm um longo caminho pela frente. Se perderem dinheiro, ainda há tempo para recuperá-lo.

Pessoas casadas, com filhos e mais velhas, no entanto, precisam de uma dose maior de conservadorismo. Se o dinheiro sumir, pode ser para sempre. “Muitos clientes chegam até mim machucados. Eles sofreram perdas porque não souberam investir”, diz Borges.

Esse desconhecimento provoca o que a consultora Glória Maria Garcia Pereira, autora do livro As Personalidades do Dinheiro, classifica como “efeito de manada”. “Quando a imprensa noticia que a bolsa de valores subiu demais, durante um período seguido, a pessoa embarca. Mas ela entra na bolsa com o mesmo comportamento que tinha ao investir na caderneta de poupança ou em CDBs.”

Na hora da crise, o investidor cai em desespero e acumula prejuízos. O que faltou? Conhecimento.

“Entre os meus clientes, a maioria é moderada. E esse é o perfil mais perigoso”, garante Borges. “A pessoa quer ousar, mas não sabe como. Quer ganhar um pouco mais que a poupança, mas não tem informações.”

De acordo com os consultores, é importante investir com segurança, principalmente quando a meta é arriscar mais. Novamente, isso passa pela educação financeira. “E isso não é a leitura de livros de auto-ajuda”, ressalta Glória. “A pessoa tem que fazer cursos, aprender a lidar com gráficos. Ela tem que buscar informações.”

A INTERNET A SEU FAVOR

O site da AE Investimentos (www.aeinvestimentos.com.br) é uma boa opção para quem busca informações financeiras. O conteúdo inclui notícias sobre o mercado financeiro, matérias especiais sobre investimentos e
simuladores. Com as calculadoras disponíveis, o internauta pode
planejar investimentos e acompanhar o desempenho de vários ativos

As páginas de bancos são outra fonte de informações para os investidores. No site do Itaú (www.itau.com.br), o link de “investimentos” traz vídeos com gestores do banco e chats (bate-papos online) com especialistas. O destaque são os gibis virtuais que ensinam a poupar

No site de investimentos do Bradesco (www.shopinvest.com.br), há um glossário financeiro com dezenas de termos, além de simuladores. Para os clientes, há chats com operadores para esclarecer dúvidas

O site do Banco do Brasil (www.bb.com.br) também oferece glossário e simuladores, além de um curso online de planejamento financeiro pessoal

SAIBA MAIS

CDBs

Os Certificados de Depósitos Bancários são títulos negociados pelos principais bancos. Sua rentabilidade está atrelada ao Certificado de
Depósito Interbancário (CDI) que, por sua vez, acompanha a Selic (a taxa básica de juros)

CADERNETA DE POUPANÇA

Uma das aplicações mais tradicionais no Brasil. Ela é reajustada pela taxa referencial (TR) mais 0,5%. Pelas regras em vigor, quando a TR for negativa, ela passa a ser considerada igual a zero, o que garante um
rendimento mensal de 0,5%

FUNDOS DE RENDA VARIÁVEL

São fundos que investem parte dos ativos em ações (renda variável). Existem vários fundos no mercado, alguns indexados ao Ibovespa - principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). São uma opção para investimentos em ações

FUNDOS DE RENDA FIXA

Jornal da Tarde

01/12/2008

Neste caso, os recursos são investidos em títulos públicos federais (Letras do Tesouro) e ativos de baixo risco de crédito. O investimento do dinheiro em ações (renda variável) e em moedas estrangeiras não é permitido

AÇÕES

Negociadas na Bovespa, correspondem a parcelas de uma empresa. Assim, o investidor que possui ações da Petrobrás, por exemplo, é um sócio da estatal. Os lucros do investidor vêm da variação do preço dos papéis e do pagamento de dividendos

CARTEIRA

O conceito está ligado ao conjunto de títulos, ações e participações em fundos. Ao montar uma carteira, o investidor deve diversificar sua composição. Dessa forma, ele diminui sua exposição ao risco durante as crises

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Renda fixa com emoção

Valor Econômico
Por Adriana Cotias, de São Paulo
24/11/2008



O mais recente capítulo da crise financeira global originada no "subprime" americano expôs aos investidores um risco bem específico nas aplicações de renda fixa: o de oscilação de preços. Nos fundos, alguns dias com cota negativa. No Tesouro Direto, perdas relevantes, comparáveis aos prejuízos na bolsa. Papéis longos como as Notas do Tesouro Nacional - série F (NTN-F, prefixadas) e as Notas do Tesouro Nacional - série B (NTN-B, indexadas ao IPCA) chegaram a exibir, respectivamente, desvalorizações de 10,62% e 15,60% só em outubro. No ano, as perdas chegam a 7,5% nos títulos vinculados a preços e esbarram nos 6% nos prefixados. Mas o que o aplicador deve fazer ao se deparar com variações de tal proporção? Nada.

Assim como na bolsa, se vender os ativos agora, abaixo do valor adquirido, o investidor transformará o seu prejuízo, que por enquanto é contábil, em perda real. O melhor a fazer é levar os papéis até o vencimento, diz Fernando Marques, da Ativa Corretora. Conforme exemplifica, um aplicador que tenha comprado um lote de Letras do Tesouro Nacional (LTN, prefixadas) com resgate em janeiro de 2010 há seis meses, contratando um retorno na casa dos 13% ao ano, se quiser sair com a taxa atual, de 15%, pode levar para casa menos do que investiu. "Se ficar com os títulos até o final, o pior que pode acontecer é ter realizado um mau negócio", afirma, referindo-se ao chamado custo de oportunidade, de perder a chance de ver o seu dinheiro investido numa alternativa mais promissora.


A troca entre ativos da mesma natureza, continua Marques, só seria justificável se houvesse no horizonte um cenário extremo, como uma maxidesvalorização do real que induzisse o Banco Central (BC) a um choque de juros, tal como em 1999, quando a Selic foi elevada para os 45% ao ano. "Fora isso, o aplicador tem de ter como meta a taxa que aplicou e não as variações no meio do caminho." Substituir um título que está desvalorizado no mercado por outro que passou a pagar mais, apesar de parecer vantajoso, só efetivaria o prejuízo no papel mais antigo, acrescenta o superintendente de Tesouraria do Banco Banif, Rodrigo Trotta. Já trocar um curto que não oscilou tanto por um longo que ficou mais atraente é uma questão de oportunidade que talvez mereça ser avaliada de acordo com o apetite por risco do aplicador.


Nesses tempos de esticada da rentabilidade e recuo de preços, vale até comprar um pouco mais, acredita Marques, da Ativa, para aproveitar a valorização dos papéis ao longo do tempo. Isso porque, se as projeções do mercado se confirmarem, a taxa básica da economia estará em 13,75% ao ano na virada de 2009 para 2010 (boletim Focus, de segunda-feira), abaixo do retorno atual garantido pelos prefixados (15%). Só que o grande risco de "casar" com um título longo e de rentabilidade predefinida é o de liquidez, adverte o superintendente de Investimentos do Banco Real, Eduardo Jurcevic. "Quando um investidor compra um prefixado, é de se esperar que tenha disponibilidade para carregar o papel até o final, caso contrário, se houver um imprevisto, ele fica sujeito aos ajustes do mercado como aqueles que temos observado."


Por essa razão, Jurcevic recomenda os prefixados apenas como alternativa de diversificação. Aquele dinheiro que eventualmente pode ser usado para uma emergência deve estar em Letras Financeiras do Tesouro (LFT, pós-fixadas) ou em Certificados de Depósitos Bancários (CDB) atrelados ao Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), o juro interbancário. Ele sugere ainda que o investidor pessoa física evite os títulos vinculados ao IPCA, que, por mais interessantes que pareçam em momentos de inflação pressionada, variam em função do indicador e também dos juros implícitos. É uma conta difícil para o aplicador compreender quando recebe o seu extrato mensal.


Deflações por períodos curtos podem gerar desvalorizações em papéis atrelados a preços, mas se o investidor mantiver a aplicação até o resgate não há por que se preocupar com as oscilações diárias em títulos que vencem em 2011, 2015 ou 2024, diz Clodoir Vieira, analista da Souza Barros.. Para ele, garantir agora um juro real (descontada a inflação) em torno de 10% não pode ser encarado como um mau negócio, especialmente porque o investidor do Tesouro Direto terá o governo como credor - em tese com risco zero de não honrar as suas obrigações. Para quem não tem muito coração para ver o seu dinheiro surfar no vaivém do mercado todo mês, as LTN acabam sendo uma opção mais palatável. Isso ocorre porque por mais que as cotações oscilem durante a maturidade do papel, no vencimento, o preço unitário sempre será R$ 1 mil e o retorno do investidor vai depender do preço que ele pagou, explica Vieira.


Um aplicador que tivesse, por exemplo, comprado R$ 10 mil em LTN com resgate em janeiro de 2010 no início de outubro, teria R$ 9,8 mil no dia 27 daquele mesmo mês, um prejuízo teórico que já foi, entretanto, recuperado em novembro. No dia 21, ele somaria ao seu portfólio global R$ 10,02 mil, sem considerar impostos e taxas. Já as NTN-B e NTN-F, que têm um componente de indexação ou pagam juros semestralmente (o chamado cupom), podem ter distorções mais relevantes. Mesmo com a inflação em alta no ano, quem começou 2008 com R$ 10 mil numa NTN-B Principal de 2024 (sem cupom) tem hoje R$ 9,2 mil.


O tombo nos papéis longos foi reflexo da maciça saída de capital externo do Brasil no mês passado. No calor da sucessão de prejuízos financeiros globais desde a quebra do Lehman Brothers e uma iminente recessão global, os estrangeiros venderam ações e renda fixa com igual intensidade. Pelos últimos dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em outubro US$ 7,943 bilhões deixaram o país, um fluxo recorde.


Num momento de crise é melhor privilegiar liquidez e curto prazo, recomenda Trotta, do Banif. Como é difícil para qualquer expert acertar o binômio juros-inflação, em intervalos mais longos de tempo, os pós-fixados são a alternativa segura e que não vão tirar o sono do aplicador qualquer que seja o cenário que desponte para 2009.


Da mesma forma que um fundo de renda fixa tem cota negativa quando os juros futuros sobem e o gestor é obrigado a atualizar os papéis a preços de mercado, os títulos públicos exibem prejuízos momentâneos, explica o executivo responsável por fundos de renda fixa da BB DTVM, Aroldo Medeiros. Tanto num como no outro, a partir dessa marcação, os papéis passam então a render mais. No final, todas as emoções no meio do caminho perdem importância e o aplicador vai embolsar exatamente a taxa que contratou.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A multiplicação do risco

Valor Econômico
Por Angelo Pavini, de São Paulo
19/11/2008


"Dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio e moverei o mundo", dizia o cientista e matemático grego Arquimedes. No Brasil, os gestores alavancados conseguem fazer isso e muito mais. A alavancagem na gestão de recursos é como veneno, dependendo da dose, pode ser remédio ou matar. A observação de Dorio Ferman, da Opportunity Asset Management, é uma boa forma de olhar para a estratégia de assumir riscos acima dos valores que se tem e que pode, no limite, levar o investidor a perder tudo e ainda ter de colocar mais dinheiro no fundo para cobrir eventuais dívidas. Mas a maneira sábia de usar essa estratégia - ou não usá-la no momento certo - pode trazer lucros imensos.

O problema é que, em momentos como o atual, em que a maioria dos gestores perde, os alavancados sofrem mais e acabam no centro das atenções. Poucos reparam, no entanto, que essa mesma estratégia deu ganhos também enormes no passado, atraindo vários investidores. Mesmo hoje alguns gestores conseguem usar a estratégia a seu favor em meio à crise.


A alavancagem nada mais é que a capacidade de assumir posições grandes com valores pequenos. É o caso, por exemplo, quando o gestor compra ou vende um contrato futuro de dólar, juros ou Ibovespa e se compromete a pagar ou receber a variação de centenas de milhões de reais desse ativo diariamente, dando apenas alguns milhões de reais como garantia. Com isso, a alavancagem amplifica a variação dos ativos em várias vezes.


Em geral, a alavancagem é mais comum em fundos multimercados. Mas, neste ano, o assunto entrou no radar por conta do fundo de ações GWI FIA, que teve fortes perdas com a queda da bolsa, a ponto de a gestora fechar a carteira para resgates e verificar se os investidores queriam seguir a viagem com ele ou trocar o condutor. Até dia 13, o fundo perdia 95,61% no ano. Em 2007, esse mesmo fundo rendeu 90,30%. Os cotistas decidiram manter o gestor e reabrir a carteira para resgates dia 16 de dezembro. Procurada, a GWI não quiser falar sobre suas carteiras.


Mas, antes do GWI, outros casos de fundos alavancados tiveram resultados mais graves, lembra Marcia Dessen, da consultoria Bank-risk. "Tivemos o caso dos fundos do antigo Banco Boavista que, quando o real passou a flutuar, em 1999, perderam mais que o patrimônio". No fim, o banco acabou assumindo a dívida dos cotistas - o que levou, inclusive, o Banco Central a criar uma regra proibindo esse tipo de socorro. "Hoje, o patrimônio do fundo é totalmente separado do do banco e o investidor é responsável pelas perdas."


Apesar de os fundos que correm mais riscos que o patrimônio trazerem no nome a palavra "alavancado", muitos investidores não reparam nisso. E não é obrigatório que um fundo que pode fazer alavancagem esteja sempre alavancado, lembra Luiz Carlos Simão, da Brascan Gestão de Ativos. "Desde que a crise piorou, em junho, paramos de alavancar as carteiras e passamos a aproveitar a volatilidade dos mercados para ganhar". Segundo ele, com a forte oscilação dos mercados, uma pequena aplicação do fundo já pode trazer um grande ganho - ou uma grande perda -, sem a necessidade de alavancagem. A abstinência deu resultado: o Brascan Superior Hedge II e Brascan Superior Diferencial 30, que têm ganhos de 23,45% e 15,38% no ano até dia 13, respectivamente, para um CDI de 10,55% no período.


Outra gestora com histórico de trabalhar alavancada é a Sparta, especializada em commodities, diz o sócio Ulisses Nehmi. "Trabalhamos em 14 mercados diferentes, com 10% do patrimônio em um, 20% em outro, e acabamos ficando com posições acima do nosso patrimônio." O fundo chegou a ficar com até 100% do patrimônio alavancado em um único mercado. "Mas agora estamos trabalhando com uma alavancagem reduzida, para procurar resultados aproveitando a oscilação maior", diz.


Nehmi lembra que o impacto da alavancagem varia de acordo com o mercado. "Em euros, por exemplo, a oscilação é de 1%, 2% e dá para alavancar mais, mas na bolsa, oscilando quase 10% em um só dia, ter 100% de alavancagem do patrimônio é criminoso", diz. Ele admite que os fundos da Sparta têm oscilação alta, em torno de 50% ao ano. "Mesmo reduzindo a alavancagem, continuamos oscilando bastante por conta da volatilidade do mercado." As carteiras da Sparta perderam um pouco com o recuo das commodities na crise, mas ganharam protegendo a carteira de ações. A carteira Sparta Cíclico acumula no ano 145,44%.


Outro fundo agressivo é o Fator Hedge Absoluto. Apesar de poder alavancar em qualquer mercado, o gestor controla o risco com um limite de oscilação, o Value at Risk, ou VaR. "O fundo pode perder no máximo 5% em um dia, se passar disso, reduz as posições", explica Roseli Machado, da Fator Administração de Recursos. Dessa forma, se o mercado está muito instável, o controle de risco automaticamente reduz ou até zera a alavancagem.


Entre os multimercados alavancados, merece destaque a família Midi, do Opportunity. Os fundos Midi e Midi 90 são, de longe, os de maior risco da categoria, com possibilidade de variar mais de 100% para cima ou para baixo em relação à média histórica, segundo dados do site Fortuna. Mas, ainda assim, eles não correm risco de perder mais do que possuem, diz Dorio Ferman. Os fundos têm 70% da carteira em ações e usam os 30% restantes para operar com derivativos em câmbio, juros e opções. "Mas nós só arriscamos a parcela que sobra das ações", diz Ferman. Isso significa que, no pior cenário, o fundo perderia 30%. "E sobraria ainda a parcela em ações, que sempre vale alguma coisa."


A maioria dos multimercados diz que pode usar alavancagem, mas normalmente o gestor usa só uma parcela do limite que possui. Há ainda a possibilidade de um gestor que não usa alavancagem resolver usar. "No caso de uma mudança do gestor, o histórico do fundo pode não valer mais nada", diz Marcia, da Bankrisk.


Como o cotista pode saber antes de entrar? Ele deve ler o prospecto e o regulamento com muita atenção, par ver se usa alavancagem ou não, e em que mercados, se tem política de "stop loss" (limite de perda) e testes de estresse. "É preciso ver isso porque o risco está sempre de plantão", diz Marcia.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Poucos brasileiros guardam dinheiro

Jornal da Tarde
18/11/2008


Em São Paulo e no Rio, apenas 26% pouparam uma parcela da renda no período de um ano

Fabrício de Castro,
fabricio.castro@grupoestado.com.br

Os brasileiros não estão preocupados em poupar parte de sua renda para o futuro. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa feita pela LatinPanel, em 16 grandes cidades da América Latina, entre elas São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com os dados, apenas 26% dos brasileiros guardaram uma parte do salário no período de um ano, enquanto os 74% restantes gastaram todos os recursos. Em outros países, o porcentual de poupadores é maior: 42% na Argentina, 32% no Chile e 41% no México.

Na pesquisa Consumer Watch, sobre hábitos de consumo, a LatinPanel perguntou aos entrevistados, pertencentes a todas as classes sociais, se eles haviam poupado uma parcela dos recursos no período de um ano (encerrado em agosto). “O levantamento não estimou se a poupança ocorria todos os meses. Mas se a pessoa guardou dinheiro durante o ano”, explica Patrícia Menezes, gerente de marketing e comunicação da LatinPanel.

Dos 26% identificados como poupadores, apenas 10% guardaram pelo menos 10% do salário que recebem. “O que a pesquisa nos mostra é que os brasileiros ainda estão em busca dos sonhos de consumo”, afirma Patrícia. “Com a melhoria da renda nos últimos anos, eles compraram casas, carros e outros produtos. Ainda não há espaço para a cultura poupadora.”

Entre quem guarda dinheiro para o futuro, os principais objetivos são a reforma da casa, a compra de uma casa nova e a educação da família, nessa ordem. De acordo com o levantamento, apenas 10% dos poupadores investem para cobrir despesas com educação - índice abaixo do registrado por países como Argentina (12%), México (20%), Chile (25%), Colômbia (26%), Venezuela (39%) e Peru (42%).

Estabilidade econômica

Para o consultor financeiro Paulo Adriano Freitas Borges, o hábito de reservar parte do salário, todos os meses, ainda é novidade no País. “É uma questão cultural. O Brasil conseguiu estabilizar a economia há pouco tempo, e os brasileiros estão aprendendo a poupar.”

Segundo ele, as famílias estão acostumadas a investir apenas se sobrar recursos no fim do mês. “Mas se a pessoa poupar o que sobra, não vai poupar nada (porque não sobra)”, alerta. “É importante organizar o orçamento e guardar parte do dinheiro logo no início do mês.”

Dessa forma, é possível adquirir produtos à vista, fugir do financiamento e garantir a aposentadoria. É isso o que faz o analista de suporte Giliardi Rodrigues Pires, de 27 anos. “Uma das minhas preocupações é poupar para o futuro”, diz. Todos os meses, Pires reserva pelo menos 30% do salário para investimentos. “Desde 1999, guardo uma parte do meu dinheiro. Com isso, já comprei carro e apartamento.”

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Fundos de renda fixa: para investir sem estresse

Jornal da Tarde
17/11/2008

Quem procura uma aplicação sem as emoções do mercado de ações - que já caiu 43,97% desde o começo do ano - tem como alternativa as carteiras que direcionam os recursos apenas para títulos do governo, papéis de dívida de empresa e a aqueles emitidos pelos bancos privados. Porém, mesmo considerados mais seguros, estes fundos devem ser escolhidos com critério.

FABRÍCIO DE CASTRO,
fabricio.castro@grupoestado.com.br

Com a crise financeira, que fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) despencar 43,97% desde o começo do ano, muitos investidores voltaram as atenções para aplicações mais conservadoras. O fundos de renda fixa, que não investem recursos em ações, surgiram como uma alternativa mais segura, mas mesmo esse tipo de aplicação exige alguns cuidados.

Antes de aplicar, o investidor precisa saber detalhes sobre o perfil do fundo, as taxas e os impostos cobrados. “É importante conhecer a aplicação na qual você está colocando dinheiro”, alerta o consultor financeiro Reinaldo Domingos, autor do livro Terapia Financeira.

Na prática, o dinheiro colocado pelos investidores em um fundo é reaplicado pelos seus gestores em diferentes ativos financeiros. A remuneração dos gestores é garantida pela taxa de administração, e o destino dos recursos depende do perfil do fundo.

De acordo com a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), existem três tipos de fundos de renda fixa no mercado: renda fixa, renda fixa médio e alto risco e renda fixa com alavancagem. Nenhum deles pode investir em ações ou em moedas estrangeiras.

Os fundos de renda fixa propriamente ditos - os mais conservadores - são obrigados a aplicar pelo menos 80% do dinheiro em títulos públicos federais ou ativos com baixo risco de crédito - como Certificados de Depósitos Interbancários (CDBs), por exemplo. Os 20% restantes vão para ativos mais arriscados, mas o dinheiro continua longe da bolsa de valores, o que evita grandes oscilações na rentabilidade.

Os demais fundos podem aplicar uma parcela maior (mais de 20%) de recursos em ativos mais arriscados. Para saber qual é a porcentagem que vai para essas opções, o interessado deve ler com atenção o prospecto do fundo oferecido pelo banco. Alguns são ‘alavancados’, o que significa que chegam a pegar recursos de terceiros (fontes de fora do fundo) para fazer aplicações.

O investidor também precisa observar se o fundo é de curto ou de longo prazo. “Existem fundos de renda fixa que são de curto prazo e outros de longo prazo. A tributação vai ser diferente”, explica o diretor de Renda Fixa da HSBC Global Asset Management, Renato Ramos.

Os de curto prazo pagam, no mínimo, 20% de Imposto de Renda sobre os lucros a cada seis meses. Já os de longo prazo obedecem a uma tabela regressiva: quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado, melhor (veja a tributação ao lado).

O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é cobrado apenas dos mais apressados: quem deixa o dinheiro por mais de um mês fica isento do imposto.

Taxa de administração

Os valores das taxas variam de acordo com o banco. Antes de investir, aconselha Domingos, o interessado deve comparar os valores cobrados por diferentes instituições.

Ramos, do HSBC, explica ainda que quanto maior for o investimento, menor será a taxa de administração. “Existem fundos que aplicam em carteiras iguais, mas que têm taxas de administração diferentes”, diz ele. Para participar do fundo com o menor encargo, o investidor precisa aplicar mais dinheiro logo no início.

Em setembro, a taxa média de administração dos fundos de renda fixa foi de 1,11% ao ano. Já os renda fixa de médio e alto risco registraram taxa média de 0,62%.

A rentabilidade dos fundos precisa ser atrativa o suficiente para pagar a taxa de administração e os impostos. Como boa parte do dinheiro vai para títulos públicos federais, os fundos de renda fixa oscilam pouco. “Ao investir em fundos assim, a pessoa não terá grandes perdas, nem grandes ganhos”, resume Marcelo Guterman, professor de finanças do Ibmec São Paulo.

Em 2008, os fundos de renda fixa tiveram alta de 10,65%, enquanto os de médio e alto risco variaram 9,94%. Os alavancados subiram 8,60%. “A escolha do fundo vai depender também do prazo pelo qual o dinheiro vai ficar aplicado. A pessoa que tem um horizonte maior de investimento pode arriscar mais”, diz Guterman. Nesse caso, o investidor acaba procurando os fundos de ações - ou seja, sai da renda fixa para a variável.

Fundos DI

Apesar de serem vendidos nos bancos como fundos de renda fixa, os fundos DI não fazem parte dessa categoria. De acordo com a classificação da Anbid, eles são fundos referenciados, que tem como objetivo a rentabilidade do Certificado de Depósito Interbancário (CDI).

Ainda mais seguros que os de renda fixa, os fundos DI oscilam menos e seguem a rentabilidade da Selic, a taxa básica de juros da economia

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Concorrência de preços se acirra nos grandes varejistas

Jornal da Tarde
29/10/2008

Disputa entre as cadeias de lojas faz com que um mesmo produto chegue a ter uma diferença de até 37% no valor cobrado. De acordo com especialistas, competição favorece o consumidor pois a tendência é de queda de preços

MARÍLIA ALMEIDA,
marilia.almeida@grupoestado.com.br

Levantamento de preços elaborado pelo JT entre os dias 22 e 28 deste mês nas lojas de cinco redes de varejo em cada uma das cinco regiões da cidade mostra que a disputa pelo menor preço está acirrada no comércio, mas ainda há margem para variações expressivas entre um mesmo item. Essa diferença chega a atingir 37,5%, como é o caso de um aparelho microondas. O DVD também apresenta variações de cerca de 30% (ver tabela ao lado).

No ranking dos produtos mais baratos, o levantamento mostra que três redes empatam em primeiro lugar com sete produtos mais em conta: Casas Bahia, Ponto Frio e Extra Eletro. O Carrefour oferece cinco itens abaixo dos preços dos concorrentes em determinada região, e o Magazine Luiza não apresentou um produto mais barato em nenhuma das regiões pesquisadas.

Diante desse cenário, Eugenio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada em varejo e bens de consumo, afirma que a pesquisa de preços entre as lojas de uma mesma região é inevitável para uma boa compra. Porém, o consumidor não deve esquecer outros itens que fazem diferença na hora de comprar, como facilidade de crediário, atendimento, rapidez de entrega e disponibilidade de produtos. “A área de eletroeletrônico dá margem para a negociação de preços nas lojas, o que é mais restrito no hipermercado”, lembra.

O consultor também recomenda pesquisar as taxas de juros do crediário, que podem apresentar diferenças entre as lojas.

A pesquisa também mostra que o impacto da varejista Magazine Luiza, que chegou à capital no final do mês passado, ainda não pôde ser sentido no preço dos eletroeletrônicos pesquisados, conforme mostra o levantamento.

Para Foganholo, a rede estreante não tem o preço como foco central e investe mais em outros quesitos, como atendimento. Já para o consultor Emerson Kapaz, do Instituto de Desenvolvimento do Varejo, isso faz parte de um período de adaptação, e o cenário ainda pode mudar. “A estréia da rede é muito recente, mas irá haver maior disputa no mercado. Obviamente os lojistas que já estavam ocupando seu espaço irão lutar para não perdê-lo. Há, enfim, uma tendência de baixa dos preços, e quem sai ganhando é o consumidor”, afirma Kapaz.

Facilidades

Ao comentarem a pesquisa, a Ponto Frio e o Extra Eletro lembram que cada loja de sua rede tem autonomia de praticar seus próprios preços, que podem variar de acordo com a região, o que explica as diferenças observadas. Assessoria do Extra Eletro alega que as lojas da rede podem cobrir ofertas de concorrentes do entorno.

Com relação a facilidades de pagamento, no Carrefour o consumidor encontra parcelamento em até 12 vezes sem juros para todos os itens do segmento, bastando adquirir cartão da rede e informar nível de renda para saldo limite.

Nas Casas Bahia, se divide a compra em até dez vezes sem juros no cartão de crédito e em até 15 parcelas no carnê para determinados produtos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um pé na Bolsa e outro na renda fixa

Jornal da Tarde
27/10/2008


Fundos investem em ações, mas garantem o capital inicial se o mercado começar a cair


A volatilidade recente do mercado financeiro levou os bancos a apostar nos fundos de capital protegido. Atrelada ao principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, essa opção de investimento promete ao aplicador o dinheiro inicialmente depositado mesmo que o mercado tenha queda. A segurança, no entanto, tem seu custo: se os mercados apresentarem forte recuperação, o investidor pode não usufruir desse ganho.

Leia mais sobre investimentos

Somente neste mês turbulento - em que a Bolsa acumulou queda de 36,45% até a última sexta-feira - o HSBC e o ABN Amro Real abriram novos fundos de capital protegido, ainda disponíveis para aplicações. O Santander, que não contava com esse tipo de produto na prateleira para o varejo, estreou nesse mercado em setembro passado e já se prepara para lançar o segundo em breve. O Banco do Brasil também abriu um fundo do tipo em setembro, mas voltado ao investidor com mais de R$ 300 mil em aplicações financeiras.

O apelo desses lançamentos é a forte queda da Bolsa desde o acirramento da crise financeira, em setembro. “O produto elimina uma questão comportamental, a aversão à perda”, explica o estrategista de investimentos pessoais do Banco Real, Aquiles Mosca.

Carteiras fechadas

Enquadrados na categoria multimercado, esses fundos não aplicam diretamente em ações, mas fazem operações simultâneas no mercado financeiro envolvendo contratos futuros de Ibovespa e opções. Além disso, são fundos fechados: não aceitam depósitos depois do prazo definido para aplicação. O dinheiro também não pode ser resgatado antes da data definida para o encerramento. O prazo mínimo costuma ser de até um ano e meio. Isso quer dizer que a aplicação tem data para acabar.

Ao contrário do apelo comercial dos bancos, a aplicação talvez não seja a mais indicada para momentos em que o mercado acionário está desvalorizado. “São produtos mais propícios para quando a Bolsa acumula alta” (e, portanto, tem mais chance de cair), aconselha Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. “Agora estamos no fundo do poço”, avalia. Só em outubro, até a última sexta-feira, a Bolsa já perdia 36,45%.

Tendência de alta

Com tantos acontecimentos recentes pressionando a Bolsa, ninguém se arrisca a estimar quando essa recuperação poderá acontecer. “Depois de tanta baixa, a tendência é de que os preços voltem a subir. Então não compensa aceitar um limite de ganho”, completa Leite. “Entrar em fundo de capital protegido quando a Bolsa está tão desvalorizada é limitar demais os ganhos”, concorda Almeida.

Dos seis fundos de capital protegido lançados pelo HSBC desde 2006, quatro já foram liquidados. Em todos, a barreira de alta foi ultrapassada e o investidor recebeu uma taxa de juros em vez da variação do Ibovespa no período. Desses quatro, três tiveram rendimento entre 22,4% e 24,84%, enquanto a alta do índice ao fim de cada período oscilou entre 32,6% e 60%. O fundo encerrado mais recentemente foi o único efetivamente vantajoso para o investidor. A rentabilidade foi de 22,72%, enquanto o índice Bovespa perdeu 33,2%.

“Há nesses fundos um componente de sorteio. Você só sabe se foi uma alternativa boa ou má depois”, afirma o diretor do site financeiro Fortuna, Marcelo D’Agosto.

O mesmo efeito de proteção do principal pode ser conseguido pelo investidor por conta própria, afirma o professor Luiz Jurandir Simões, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). “Quem alocar 90% do patrimônio em fundos DI e os 10% na Bolsa garante o capital”, afirma. “Mesmo se as ações despencarem 50%, o rendimento da renda fixa cobre a perda.”

TRÊS CENÁRIOS

Imagine um investidor que tenha aplicado R$ 100 em um fundo com prazo de um ano e que possua um limite de 30% de alta do Ibovespa. No fim do período, existem três possibilidades:

Alta de até 30% do Ibovespa

Se o índice Ibovespa variar até 30% para cima, a rentabilidade para o investidor será equivalente à do principal índice da Bolsa. Por exemplo, em caso de alta de 25% ao fim de um ano, o investidor terá no fim desse período R$ 125

Variação superior aos 30%


Se a variação acumulada do Ibovespa superar 30% em qualquer momento dentro do período de um ano, o investidor perde a rentabilidade da Bolsa e ganha só a variação da renda fixa. Com base na variação da taxa de juros atual, o investidor ficaria com
R$ 111,75

Queda do Ibovespa
R$ 100

Caso o Ibovespa registre um cenário de queda, o investidor leva para casa o mesmo valor que aplicou há um ano, mas, como o
valor não é corrigido, na prática, o investidor sofreu uma perda referente à inflação do período, pois terá os mesmos

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

domingo, 21 de setembro de 2008

Empréstimo negociado em banco tem taxa de juro até 48% menor

http://oglobo.globo.com/economia/seubolso/mat/2008/09/19/emprestimo_negociado_em_banco_tem_taxa_de_juro_ate_48_menor-548307967.asp

Comentário: o mesmo vale para investimentos. Consegui uma taxa melhor no CDB com a gerente do meu banco em relação ao oferecido em meio eletrônico. Ou seja, preguiça custa caro.

Caminho livre para a Argentina

Jornal da Tarde
21/09/2008

Dica para o turista é trocar real por peso e evitar o dólar, que sofre a influência da crise

Rodrigo Gallo,
rodrigo.gallo@grupoestado.com.br

Os turistas que têm viagem marcada para a Argentina não devem fazer a conversão do real para o dólar antes de embarcar. Com a crise mundial, é possível que eles percam dinheiro na troca. Sendo assim, o ideal é visitar o País vizinho utilizando o peso argentino ou, se for o caso, a própria moeda brasileira - aceita em diversos comércios, hotéis e restaurantes.

Os problemas na economia internacional, desencadeados nos Estados Unidos, afetam os mercados de praticamente todo o planeta. Com isso, explica o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, os preços de pacotes turísticos, vôos e diárias de hotéis tendem a aumentar.

Mesmo assim, é possível fazer uma viagem para a Argentina sem gastar muito. Na sexta-feira, as casas de câmbio da Capital cobravam em média R$ 0,70 por um peso, ou seja, a moeda portenha vale menos do que o real. Assim, ainda não há muitos impactos para os brasileiros que pretendem visitar Buenos Aires ou Bariloche - as principais cidades turísticas do país vizinho.

Os turistas, no entanto, devem ficar atentos a um detalhe. Muitas pessoas costumam trocar o real por dólar no Brasil e, lá, comprar a moeda local. No atual cenário econômico, isso deve ser evitado a todo custo. “Como a cotação do dólar está flutuando muito, a pessoa pode escolher o momento errado para fazer a conversão e perder dinheiro. Então, os turistas devem converter o real diretamente na moeda local”, argumentou o economista Marcos Crivelaro, professor da Faculdade de Informática e Administração Pública (Fiap).

Oliveira, da Anefac, dá outra sugestão interessante. “Se o consumidor for comprar dólar, vai ter desvantagens. Então, o ideal é levar apenas reais mesmo”, disse.

Embora o custo para os turistas brasileiros em território portenho possa aumentar por causa da crise, a gerente de mercado do Instituto Nacional de Promoção Turística Argentino (Inprotur), Marcela Cuesta, não acredita na elevação de preços e nem em uma possível queda no número de desembarques. “Acreditamos na saúde da economia brasileira, na vantagem qualitativa das nossas ofertas e nos preços competitivos que temos no mercado”, enfatizou.

Segundo dados da entidade, e referentes a levantamento da Diretoria Nacional de Migração, 489.481 brasileiros desembarcaram no Aeroporto Internacional Ezeiza no ano passado. Até junho deste ano, foram 283.913 turistas do Brasil. O mês mais expressivo foi maio, com a chegada de 56.827 pessoas.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Na base da pechincha

Jornal da Tarde
03/09/2008


Preço do imóvel chega a cair até 8,5%

RODRIGO GALLO,
rodrigo.gallo@grupoestado.com.br

Pechinchar na hora de comprar a casa própria usada pode render um desconto de até 8,5% no preço final do imóvel, principalmente na chamada Zona C de São Paulo, como classificam os corretores, que compreende bairros como Tatuapé, Santo Amaro e Ipiranga, por exemplo. Portanto, a velha regra do comércio, de ‘chorar’ por preços melhores na hora de adquirir CDs, livros ou roupas, também vale para o setor imobiliário.

Conseguir esses descontos no preço final do imóvel residencial, no entanto, já foi mais fácil. Segundo cálculos do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), quem ‘chorava’ na hora de assinar o contrato de compra conseguia um desconto de até 12,97% no valor final da casa ou do apartamento em julho do ano passado.

Para chegar a esses números, técnicos do Creci levantaram os dados de 452 imobiliárias da Cidade para verificar, entre outras coisas, o comportamento do mercado imobiliário. Com isso, considerou-se o valor cobrado pela unidade e, posteriormente, o preço pelo qual o negócio foi acertado, fazendo uma comparação simples.

Segundo o presidente da entidade, José Augusto Viana Neto, a função do corretor de imóveis é justamente intermediar esse tipo de negociação para que ambas as partes, vendedor e comprador, cheguem a um preço satisfatório. “Muitas vezes um consumidor quer um apartamento de R$ 200 mil, mas, inicialmente, diz que tem apenas R$ 100 mil, para ter uma boa margem de negociação”, explicou. “Quem não tem pressa para fechar o negócio certamente consegue as melhores barganhas.”

Para tentar pechinchar na hora da compra do imóvel o ideal não é apenas tentar reduzir o preço com o corretor. O melhor é analisar o valor de oferta e apresentar uma contraproposta. Para aumentar as chances dessa barganha ser aceita, pode-se pesquisar valores de casas semelhantes na mesma região e submetê-los ao dono do imóvel, na tentativa de baixar o preço.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Aluguel de ações é boa opção

Jornal da Tarde
01/09/2008


Como um imóvel, locador pode assegurar renda fixa enquanto os papéis vão acumulando perdas

FABIO LEITE, f.leite@grupoestado.com.br

Em tempos de queda na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) - 12,84% no acumulado do ano até a última sexta -, uma boa opção para o pequeno investidor evitar maiores perdas pode ser o aluguel de ações. Da mesma forma que um imóvel, papéis como os da Vale e da Petrobrás podem ser locados a um outro investidor. Em troca, o ‘doador’ - como é conhecido quem aluga suas ações - recebe uma taxa de juros previamente definida que pode variar de 0,2% a 30% ao ano, dependendo da procura pelos papéis.

Indicada para o investidor que pensa a longo prazo, ou seja, que não pretende se desfazer dos papéis em um período inferior a cinco anos, a operação de empréstimo de ações está ‘superaquecida’ no Brasil, para ficar com o jargão do mercado imobiliário. Só nos últimos sete anos, o número de operações subiu 22.373%, saltando de 2.530 em 2000 para 568.592 no ano passado, segundo estatística da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), responsável pelo controle das operações. De janeiro a julho, 380.696 contratos foram fechados.

“É uma modalidade recente no País, mas que tem crescido bastante junto com o mercado financeiro brasileiro”, afirma o assessor comercial da corretora Planner, Paulo Roberto da Silva. Em volume de negócios, o aluguel de ações movimentou nos sete primeiros meses do ano R$ 222,29 bilhões, quantia 7.645% maior que os R$ 2,87 bilhões em ações da Bovespa alugadas em todo o ano 2000.

Igual a renda fixa

Na operação, o dono das ações autoriza a transferência temporária de seus papéis para um terceiro e recebe em troca um porcentual fixo de juros, espécie de aluguel. Para fazer isso, é preciso apenas escolher os papéis que pretende locar, procurar a corretora que administra as ações e comunicá-la o tempo de locação - a média é de 30 dias - e a rentabilidade que deseja obter, que será definida pela lei da oferta e da procura.

Em seguida, a corretora coloca as ações no banco de títulos da CBLC, espécie de imobiliária virtual, e aguarda o interesse do locatário. Chamado de ‘tomador’, o locatário pode ser tanto um fundo de investimento, como um banco comercial ou um investidor estrangeiro.

Interesse aumenta

Segundo a CBLC, a participação de investidores pessoa física entre os locadores tem aumentado significativamente nos últimos anos. Dados do mês de junho mostram que eles já são 23,57% do total, atrás apenas dos fundos mútuos (25,75%) e dos estrangeiros (38,41%). Esses dois últimos, aliás, também são os maiores locatários de ações, com 40,22% e 36,59% de participação, respectivamente.

“São dois lados totalmente opostos. Um é aquele investidor mais conservador, com visão de médio e longo prazo, que não pretende se desfazer dos papéis tão cedo, mas que não quer deixá-los parado desvalorizando. O outro é o investidor mais dinâmico, que trabalha com especulação. Ele aluga as ações para vendê-las mais caras e depois recomprá-las mais baratas”, explica o gerente comercial da Ágora Corretora de Valores, Hélio Pio Júnior.

O especialista destaca que, para o locador, a operação não apresenta risco algum, já que o pagamento dos juros e a devolução das ações são garantidos pela CBLC. “O único ponto negativo é que enquanto as ações estão alugadas, o doador não pode se desfazer delas”, diz.

Contudo, o locador que empresta seus títulos não deixa de receber, no período, eventuais proventos como dividendos e lucros, além da taxa de empréstimo. Já o locatário fica livre para vender as ações locadas quando quiser, mas também é obrigado a devolver a mesma quantidade ao término do contrato e com preços corrigidos.

Reembolso vira trocado

Jornal da Tarde
01/09/2008


Valor restituído ao consumidor, em quase 90% dos casos, não chega a R$ 20

CAROLINA DALL’OLIO,
carolina.dallolio@grupoestado.com.br

Depois de seis meses informando seu CPF a cada compra que realiza, a administradora de empresas Lúcia Barreto, 30 anos, foi finalmente checar o valor da restituição a que tem direito pelo programa Nota Fiscal Paulista. Mas ficou decepcionada com o que encontrou. “Tinha só R$ 0,37 de crédito! E o número de notas cadastradas no site era muito inferior ao que eu juntei de verdade”, diz a administradora, referindo-se aos R$ 750 que constam no sistema da Secretaria da Fazenda, valor equivalente ao que ela costuma gastar em uma única semana com almoços, gasolina e compras de supermercado.

Lúcia é uma das 3.9926.764 pessoas - 87,8% do total de consumidores que já solicitaram Nota Fiscal Paulista - que receberam créditos inferiores a R$ 20. “Não entendo como pode ser tão pouco”, reclama.

Parte da explicação para a desproporcionalidade entre o valor gasto e o restituído pelo programa está na falta de colaboração dos empresários. Segundo a Secretaria da Fazenda, 80% das reclamações feitas ao órgão são referentes a notas que não foram sequer cadastradas no sistema. “Para evitar que isso aconteça, ampliamos a fiscalização e já aplicamos mais de R$ 30 milhões em multas a comerciantes que burlam o programa”, diz Newton Oller, diretor-adjunto de fiscalização da Secretaria da Fazenda.

Mas, mesmo quando os lojistas cadastram todas as notas, nem todo tributo pago pela loja é restituído ao consumidor. De acordo com as regras da Nota Fiscal Paulista, somente 30% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que for “efetivamente recolhido pelo estabelecimento ao Estado” vai retornar a quem informou o CPF na hora da compra.

Acontece que o regime de substituição tributária, implementado pelo governo no fim do ano passado, mudou a forma de cobrança do ICMS. Antes, o imposto incidia sobre o varejista. Pela nova regra, ele passa a ser recolhido direto da fonte, ou seja, na própria fábrica.

Portanto, como a Nota Fiscal Paulista não computa o ICMS recolhido à indústria - entra na conta apenas o tributo pago pelo varejista diretamente ao Estado, - o valor da restituição acaba sendo nulo em muitos casos. “A Nota Fiscal Paulista pedida em um posto de gasolina, por exemplo, não gera nenhum crédito, assim como boa parte das compras de supermercado e farmácia”, diz o contabilista Rogério Kita, diretor no escritório NK Contabilidade. “Por isso, mesmo depois de informar seu CPF, o consumidor não deve esperar nem R$ 1 de restituição por essas compras.”

Quanto mais, menos

Mas ainda há situações em que o ICMS incide sobre o varejo. É o caso do setor de vestuário, em que a alíquota é de 18%. Nesses estabelecimentos, se o consumidor gastar R$100 em compras, R$18 serão repassados ao governo como pagamento do ICMS. Desse total, portanto, 30% (ou R$ 5,4) deveriam retornar ao consumidor, certo? Não exatamente.

É que os 30% do ICMS total que a loja recolher terão de ser divididos, proporcionalmente, entre todos os consumidores que informaram o CPF na nota. “Se a loja vender R$ 1 milhão no mês e não sonegar nada, ela vai recolher R$ 300 mil em ICMS, e o governo vai dividir o valor entre os clientes que pediram Nota Fiscal Paulista naquele estabelecimento”, exemplifica Nadja Carvalho Barreto, advogada da consultoria tributária Cenofisco. “Portanto, quanto mais pessoas tiverem requisitado a nota naquela loja, menos cada uma delas vai receber.”

E não pára por aí. Se o consumidor conseguir passar por todos esses meandros e, finalmente, conquistar o direito à restituição, ainda restará uma barreira a superar: o valor do crédito não poderá ser superior a 7,5% do valor total da nota fiscal. Ou seja, quem fizer uma compra de R$ 100, na melhor das hipóteses, poderá reaver R$7,50.

“Depois de ver o valor dos créditos, cheguei à conclusão de que a Nota Fiscal Paulista não compensa financeiramente”, diz a consumidora Lúcia. “Mas vou continuar pedindo porque agora eu já me acostumei.”

O PASSO-A-PASSO DO PROGRAMA

O programa Nota Fiscal Paulista restitui ao consumidor o valor equivalente a 30% do ICMS pago pelo lojista ao Estado

Para participar, é preciso cadastrar o CPF no site www.nfp.fazenda.sp.gov.br/

Depois disso, a cada compra que fizer, o consumidor deve informar seu CPF (ou o CNPJ de alguma entidade filantrópica) ao comerciante e solicitar a Nota Fiscal Paulista

O lojista tem um mês para cadastrar a nota no sistema da Secretaria da Fazenda

O governo, por sua vez, pode demorar de 60 dias a 90 dias para calcular os créditos de cada nota

O consumidor pode acompanhar a movimentação pelo site do programa. Basta informar seus dados que a lista de notas já processadas e os créditos devido aparecem na tela

Caso perceba que alguma nota não está cadastrada no sistema, é possível reclamar pelo site
Porém, para identificar o estabelecimento que não fez o cadastro, é preciso ter guardado a nota e informar o valor exato da compra e os dados da loja

Os créditos gerados pelo programa podem ser usados para abater do valor do IPVA do carro, creditado em cartão de crédito, transferido para outra pessoa ou debitado em conta corrente

Porém, o consumidor só pode ter acesso ao dinheiro depois que o valor dos créditos forem
superiores a R$ 25

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Alta maior da Selic infla a rentabilidade de prefixados

Adriana Cotias
Valor Econômico
27/8/2008

Enquanto as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B, atreladas ao IPCA) apresentaram perdas consideráveis com o aumento da Selic em dose maior do que o mercado esperava em julho, os prefixados tiveram ganhos para lá de convidativos. A Nota do Tesouro Nacional série F (NTN-F, papel pré que paga juros semestralmente) com vencimento em 2017 rendeu 6,04%. Mesmo a Letra do Tesouro Nacional (LTN) com resgate mais curto, em janeiro de 2010, teve um retorno nada desprezível para um único mês: de 1,52%.

Isso ocorreu porque quando o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou o juro básico em 0,75 ponto percentual - acima do 0,50 ponto dos encontros anteriores -, para 13% ao ano, as projeções de juros mais longas caíram e, com isso, os preços dos papéis subiram no mercado secundário. "Com a alta maior agora, ficou a percepção de que lá na frente será necessário menos juros para conter a inflação", diz Paulo Certain, gestor de Renda Fixa da Unibanco Asset Management (UAM). Quem comprou pré longo antes do ajuste acabou embolsando o retorno melhor.

Para Certain, os prefixados com prazos mais longos têm gordura para queimar e, portanto, ainda têm retornos atrativos. "Se o investidor comprar esses papéis para os próximos seis meses ou um ano, a rentabilidade efetiva ficará em função somente da política monetária." Assim, se o aplicador levar a aplicação até o vencimento, não há chance de perda de capital. Mas se a Selic subir além do inicialmente previsto, ele terá uma perda em relação ao custo de oportunidade, ou seja, o que ele ganharia se tivesse aplicado pela nova taxa mais alta.

Apesar de os retornos dos prefixados encherem os olhos, as taxas implícitas nos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) - mais elevadas do que a Selic projetada para a virada de 2009 para 2010, em 14% (Focus) - sinalizam que correr risco puro de taxa de juros é só para os corações mais fortes, adverte o diretor de Tesouraria do Banif Banco de Investimentos, Rodrigo Boulos. "O investidor precisa ter outros recursos para liquidez, porque se precisar do dinheiro no meio do caminho, pode não ter uma saída feliz por causa da marcação a mercado (o ajuste do valor dos títulos aos juros)", diz. "Na NTN-B, a queda no cupom (a taxa pré além da inflação) pode ser compensada com a inflação mais alta, há uma certa proteção, enquanto no prefixado a perda fica mais evidente."

A recente queda das commodities e a atuação austera do BC cumpriram o papel de conter as pressões sobre os preços, o que significa que o pico de alta talvez tenha ficado para trás, afirma o diretor da corretora Interfloat Roberto Lombardi. "Se o investidor acredita que o repique inflacionário passou, é recomendável caminhar para os prefixados." Ele não sugere papéis muito longos, mais suscetíveis às variações no secundário, e prefere as Letras do Tesouro Nacional (LTN), prefixadas, com resgate em até dois anos. O título com vencimento em janeiro de 2010 garantia ontem um retorno de 14,81%.

Com o aumento da instabilidade no mercado acionário, os títulos públicos passaram a ser uma opção para o investidor típico da bolsa diz Jansen da Costa, da Ativa Corretora, que percebeu neste ano o aumento da procura por quem nunca tinha investido no Tesouro Direto. "É uma forma de o aplicador fugir das altas taxas de administração cobradas pelos bancos nos fundos de investimentos"

Ele lembra, porém, que um dos aspectos inconvenientes do Tesouro Direto é que o investidor sempre estará negociando com o próprio governo, dada a ausência de um mercado secundário, especialmente para a pessoa física. Quando precisa de liquidez, o aplicador depende das recompras semanais do Tesouro, realizadas às quartas-feiras. E quando há eventos como o Copom, as negociações são interrompidas. "O mercado de renda fixa acabou se limitando a um perfil de investidor mais profissional", diz.


sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Juros e comemoração dos brasileiros

Artigo - Alexandre Marinis
Valor Econômico
15/8/2008


Você financiaria uma geladeira a uma taxa de juros de 57%? E que tal passar 12 meses pagando por uma única torradeira? Está no cheque especial? Prepare-se para pagar juros a uma taxa anual de 159%. Os brasileiros se envolvem nessas transações insensatas a cada dia. Mesmo os mais educados e melhor versados na arte de ganhar e gastar dinheiro podem ser seduzidos a comprar uma TV de tela plana de 50 polegadas numa promoção de vendas que promete o mesmo preço de US$ 3 mil, independente de você pagar pelo aparelho à vista ou em 12 prestações mensais. Não importa que os custos dos juros estejam embutidos no negócio.

O Brasil possui uma taxa de juros anual real (ajustada à inflação) de quase 7%, uma das mais altas do mundo. Se pensarmos nisso, perceberemos que uma TV paga à vista hoje não pode custar o mesmo que outra financiada em 12 meses. Quanto ao adiamento da satisfação, os brasileiros não querem nem saber disso. Eles preferem comprar hoje e pagar amanhã. Além disso, enquanto a prestação couber no contracheque mensal, para que se preocupar com cobrança de juros, certo?

A ignorância financeira é um dos motivos para o combate à inflação ser tão complexo e custoso. Se os consumidores se comportam como se as taxas de juros não fossem importantes, a demanda agregada se torna menos sensível à política monetária ou leva mais tempo para reagir às alterações na política. O índice anual de preços no varejo no Brasil dobrou, de 3% em março de 2007, para 6,1% em junho. Isso levou o Banco Central a elevar a taxa de juros referencial Selic em 175 pontos-base desde setembro, para 13%. O país já possui a quarta taxa básica nominal de juros mais alta do mundo entre as 52 taxas de bancos centrais monitoradas pela Bloomberg, atrás apenas da Venezuela (23%), Turquia (16,75%) e Islândia (15,5%). São esperados aumentos de taxa adicionais. No fim de julho, autoridades do BC disseram que atuarão "vigorosamente" para controlar a inflação.

Fazer a inflação retornar à sua meta anual de 4,5% pode se revelar uma tarefa desencorajadora, especialmente se os consumidores desprezam os custos dos juros e se as autoridades do governo fora do Banco Central continuam pressionando por mais crédito a custo menor. Em junho, o total de créditos em aberto atingiu um recorde de R$ 1,1 trilhão (US$ 680 bilhões), ou 37% do PIB do Brasil. Esse número pode parecer baixo, especialmente num momento em que o crédito supera os 60% do PIB nos EUA, México e Chile. Apesar disso, esses países desenvolveram sistemas de financiamento para a compra da casa própria, ao passo que o financiamento residencial no Brasil praticamente nem decolou.

O uso de financiamento imobiliário para a compra da casa própria só está começando, mas já há sinais de apetite insaciável por crédito

A quantidade de crédito no Brasil continuou se expandindo a taxas anuais de mais de 30%, mesmo depois de o Banco Central ter começado a aumentar as taxas de juros. A expansão não cessou mesmo depois de o governo ter instituído algumas medidas que não foram especificamente dirigidas para frear o crédito, mas que mesmo assim podem ajudar. Em janeiro, na tentativa de reaver receita perdida depois de o Congresso ter abandonado a cobrança de um imposto de 0,38% que incidia sobre saques bancários, o governo dobrou o tributo chamado IOF sobre empréstimos bancários, de 1,5% para 3,38%. Naquele mesmo mês o governo brasileiro também impôs uma exigência de reserva mais elevada sobre operações de leasing, numa medida que deverá enxugar até R$ 40 bilhões de liquidez do mercado, mas que não conseguiu conter a expansão do crédito.

A economia brasileira está se expandindo a uma taxa anual de quase 6% e os consumidores continuam comprando a um ritmo ainda mais acelerado. As vendas anuais no varejo cresceram em mais de 19% desde janeiro e não dão sinais de moderação. As vendas de automóveis novos atingiram um recorde no primeiro semestre de 2008 e ficaram quase 30% acima do resultado no mesmo período do ano anterior. O uso de financiamento imobiliário para a compra da casa própria só está começando, mas os sinais do apetite insaciável dos brasileiros por crédito já estão claros. Empréstimos a pessoas que compram moradias ainda correspondem a apenas R$ 3,1 bilhões, mas a taxa de crescimento é espantosa: 89% nos 12 meses passados, de acordo com o BC.

Se, por um lado, a inflação acelera e os consumidores não demonstram nenhum comedimento, o governo, por sua vez, está preocupado com a possibilidade de que qualquer providência que venha a tomar para conter o crédito, além dos aumentos nos juros, produzirá uma desaceleração econômica antes das eleições municipais de outubro. O controle das pressões inflacionárias, portanto, recaiu quase inteiramente sobre o Banco Central. Além disso, deixar a moeda se apreciar contra o dólar não é mais uma opção tão boa como foi no passado. As contas externas do Brasil estão se deteriorando. O superávit anual na balança comercial despencou, indo de US$ 48 bilhões no ano anterior, para US$ 31 bilhões em junho, e a conta-corrente ficou deficitária pela primeira vez desde 2003.

Provavelmente os brasileiros aprenderão a sua lição da forma mais difícil. Eles continuarão comprando e tomando crédito adicional até que a inflação tenha erodido os seus rendimentos a ponto de terem de escolher entre comprar pão ou pagar a próxima parcela da torradeira. O derradeiro recurso antes do calote nas prestações da loja será tomar crédito caro de curto prazo. A extensão de crédito a pessoas que entraram no cheque especial - os que pagam aquela taxa anual de 159% - aumentou 8,1% em junho na comparação com o ano anterior. Dinheiro emprestado a portadores de cartão de crédito aumentou ainda mais: 18%.

Mas o crédito de curto prazo não está surtindo efeito. De todas as pessoas que tomaram emprestado para comprar produtos, 14% já não conseguem quitar os seus empréstimos, numa elevação de 12% ante março, de acordo com o Banco Central. Acho melhor parar de pensar naquela TV de tela plana.

Alexandre Marinis é colunista da "Bloomberg News".

domingo, 3 de agosto de 2008

Nem sempre o barato sai caro

Jornal da Tarde
03/08/2008


Teste entre produtos de diversas marcas mostra que os de menor preço têm mesmo desempenho

Eleni Trindade, eleni.trindade@grupoestado.com.br


Preço mais alto não é sinônimo de qualidade máxima, pelo menos na hora de escolher uma câmera fotográfica digital. Essa foi a constatação da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste), que realizou teste em 19 máquinas fotográficas digitais compactas de oito marcas. Os resultados mostram que é o preço que deve definir o item a ser comprado, já que os produtos analisados, com valores de R$ 799 a R$ 2,6 mil, têm qualidade de imagem e funções semelhantes.

Os especialistas recomendam: economize comprando a máquina certa para suas necessidades. Foram testadas câmeras da Panasonic, Sony, Casio, Fuji, Nikon, Olympus, Kodak e Samsung.

“Nem sempre o produto mais caro é o melhor. Um exemplo desse teste é o quesito foco. Praticamente todas as máquinas tiveram desempenhos aceitáveis”, afirma Alessandra Macedo, coordenadora da Área Técnica de Produtos da Pro Teste. Outro quesito avaliado pela entidade é o número de megapixels (MPx) do equipamento (unidade que mede a qualidade da resolução da imagem capturada).

Todas as câmeras foram bem sucedidas nesse item. Segundo Alessandra, elas têm quantidade de megapixels acima do necessário para o usuário comum. “Uma câmera com três megapixels já é suficiente para impressão de boa qualidade.”

A Pro Teste avaliou, ainda, nitidez, cores, distorção e captação de imagens. Para isso, as fotos foram analisadas no computador e após impressão em papel especial. “Constatamos que a reprodução de cores das máquinas, em geral, é pouco fiel à realidade no modo automático, ou seja, no modo em que o consumidor não precisa se preocupar em fazer configurações específicas para cada situação”, explica Alessandra.

As marcas Panasonic, Casio e Fuji dizem não ter o que contestar no teste. Sony, Samsung e Kodak preferiram não se manifestar.

A Olympus destaca que, em nenhum momento, foi procurada pela Pro Teste para prestar informações. Suas câmeras analisadas são de 2007, e que, hoje, já há modelos mais atualizados.

A Nikon informou que as câmeras L12, L15 e S50 não são mais fabricadas e que “novas versões foram lançadas para corrigir algumas deficiências apontadas”.

Pesquisa

Mas como escolher a melhor câmera sem gastar muito? “É preciso evitar a compra por impulso”, alerta Fátima Lemos, assistente de Direção do Procon de São Paulo. “As propagandas são muito convincentes e, se o consumidor não tomar cuidado, pode se decepcionar.”

Foi o que aconteceu com Leila Fonseca. “Vi o comercial, liguei e comprei porque me chamaram a atenção as funções informadas na TV. Falavam que ela tirava fotos de boa qualidade, além de ter função MP3 e gravar vídeos. Só que, se eu tirasse dez fotos, não tinha mais memória para usar as outras funções.” Como a compra foi feita por telefone, ela conseguiu desistir no prazo de sete dias como determina o artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor. “Agora, estou pesquisando para comprar outro modelo.”

Para evitar situações assim, é essencial se informar. “É preciso procurar o modelo que melhor atende suas expectativas e ter paciência para pesquisar, pois praticamente todos os meses as empresas fazem lançamentos. Uma vez escolhido o equipamento, procure entender suas funções e características e pesquisar preços em várias lojas”, aconselha Fátima Lemos.

A web designer Shirley Santos é um bom exemplo de consumidor que exige qualidade no equipamento. “Verifico qual máquina tem a melhor captação de luz e boa resolução das imagens. Pesquiso na internet as funções das máquinas, as configurações, a capacidade de armazenamento e o preço.”


FIQUE ATENTO

Leia atentamente o manual de instruções para configurar o
equipamento de acordo com o ambiente ou objeto fotografado

Para ocupar menos espaço na memória, configure a máquina para tirar fotos com resolução menor

Verifique durante a compra a capacidade de armazenamento do cartão de memória para não ter de comprar um acessório à parte

Em caso de defeito em equipamento novo, reclame ao fabricante. Se, após 30 dias, o problema não for resolvido, o consumidor tem o direito à troca do item ou devolução do dinheiro

Se o consumidor for obrigado a retornar à assistência técnica
várias vezes sem solução (dentro do prazo de 30 dias), tem direito à troca ou devolução sem ter de acumular mais 30 dias a cada ida à assistência

FONTES: Ourivaldo Barbosa do Valle, diretor da Confederação
Brasileira de Fotografia, e Fátima Lemos, do Procon-SP

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Prepare-se para agosto

Valor Econômico
Por Angelo Pavini e Luciana Monteiro, de São Paulo
01/08/2008


Agosto costuma ter uma fama negativa, de mês agourento. Mas, depois de dois meses seguidos de queda da bolsa, com o Ibovespa recuando 18,03%, 8,48% só em julho, o investidor está mais do que escaldado para enfrentar o "mês do cachorro louco". Será preciso ficar de olho no comportamento da inflação, no Brasil e no exterior, na safra de balanços do segundo trimestre, nos preços das commodities, especialmente do petróleo, e na situação do sistema financeiro americano. Da combinação dessas variáveis deverá sair boa parte dos ganhos e das perdas de agosto.


Em julho, o Ibovespa não resistiu à realização de preços das commodities e às perdas dos balanços do setor financeiro lá fora. No ano, o índice perde 6,86%. E, para este mês, as perspectivas não são lá muito animadoras. No curto prazo, a bolsa brasileira pode ter uma certa recuperação, mas a mensagem é que ainda se espera um período de volatilidade nos mercados, diz Eduardo Roche, gerente de Análise da Modal Asset Management. "Não dá para dizer que, depois dessa forte realização recente e dessa alta do fim do mês, o mercado vai retomar a tendência de alta", diz.


Algum refresco para o mercado pode vir com as divulgações dos balanços do segundo trimestre neste início de mês. O Bradesco, no dia 4, e o Itaú, no dia 5, dão a largada nos números do setor de bancos, que devem vir bem melhores do que os vistos no exterior, especialmente nos EUA. O resultado da Vale, esperado na quarta, também promete boas novas, uma vez que trará o reajuste do minério de ferro de 71%, recuperando as quedas com o níquel no primeiro trimestre. Já Petrobras sai no dia 11 e pode ajudar a recuperar o papel.


Petrobras e Vale são fundamentais para a definição da tendência do Ibovespa. No caso da mineradora, a expectativa é com o preço das commodities e com uma eventual aquisição, cujo impacto no curto prazo vai depender do preço pago, das condições de financiamento e da importância estratégica que a compra terá para a Vale. Na Petrobras, além do preço do petróleo, há o impacto das discussões sobre a forma como o governo vai regular a exploração do pré-sal, se com aumento nos royalties ou com a criação de uma nova estatal.


Os balanços no exterior também podem ajudar a reduzir o receio em torno de uma recessão mundial, como ocorreu na semana passada, com os resultados das siderúrgicas internacionais mostrando números fortes de demanda. "Mas o investidor têm de ter cautela, pé no chão, pois o mercado ainda está muito sensível, as variáveis externas como inflação e crescimento continuam sem solução clara", explica Roche, da Modal. O fato de Petrobras e Vale serem muito líquidas, com 30% do Ibovespa, é um fator importante, pois se houver um retorno do investidor estrangeiro para a Bovespa, elas devem ser as primeiras beneficiadas.


No mês passado, as carteiras de Petrobras e Vale sofreram bastante, perdendo 26,07% e 24,13%, respectivamente, até o dia 28. No ano, os fundos compostos por ações da estatal perdem 19,86% e os da mineradora, 27,21%. Os números ainda não levam em conta a alta de 4,42% da ação da Petrobras e de 7,62% da Vale entre os dias 29 e 31.


A combinação de alta da inflação e elevação da taxa de juros deixa o ambiente inóspito para os investimentos em bolsa. "As perspectivas para os mercados emergentes são mais positivas no longo prazo, já que essas economias estão com seus sistemas financeiros mais saudáveis, pois não têm problemas de crédito", diz Francisco Meirelles de Andrade, sócio da Nest Investimentos. Para ele, nos próximos seis meses ou um ano, as bolsas mundiais devem continuar sofrendo. "A crise nos EUA não atingiu seu pico e, enquanto isso não acontece, o momento não é de compras", diz. "É prematuro achar que agora é um momento que traz oportunidade de compras."


Após a forte realização da bolsa no mês passado, os investidores devem ficar atentos às oportunidades, mas não esperar uma recuperação vigorosa, diz Nicholas Barbarisi, sócio da Hera Investment. "Há oportunidade, mas é preciso fracionar as compras, com foco maior nas 'blue chips' de commodities e bancos", afirma. "O mercado ainda pode apresentar novas perdas, mas, em caso de melhora do cenário, os papéis mais líquidos tendem a se recuperar mais rápido." Já as ações de menor liquidez, as "small caps", tendem a continuar esquecidas e as perspectivas de médio prazo não são animadoras, diz.


Agosto promete ser mais calmo, pelo menos em comparação a junho e julho, quando houve uma saída de R$ 15 bilhões em investimentos estrangeiros da bolsa, afirma Joaquim Kokudai, gestor de fundos multimercados e de renda fixa da Rio Bravo Investimentos. "Apesar de ser o mês do cachorro louco, a tendência é dar uma acomodada, tem muita ação barata e os bancos americanos já mostraram suas perdas no mês passado."

CVM flexibiliza regras para fundos com cotas em bolsa

Valor Econômico
Por Catherine Vieira, do Rio
01/08/2008


A partir de agora, poderá ficar mais fácil investir em fundos semelhantes aos do Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB), que foi formatado pelo BNDES e reproduz o índice IBrx-50. Ontem, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu flexibilizar, por meio de uma análise caso a caso, alguns requisitos de estruturação, emissão, registro e distribuição de cotas de fundos de índices de mercado. Conhecidos como Exchange-Traded Funds (ETF) no mercado externo, esses fundos são parecidos com os diversos fundos de índices que já existem no mercado local sob o ponto de vista da composição da carteira, mas guardam semelhanças com o PIBB por serem negociados em bolsa.


De acordo com o superintendente de relações com investidores institucionais da CVM, Carlos Alberto Rebello Sobrinho, a decisão da autarquia de analisar dispensas de requisitos caso a caso poderá viabilizar fundos de índices que não sejam apenas aqueles que comportam as empresas mais líquidas. "As regras exigem que o fundo replique a carteira de um índice, na exata proporção, mas como alguns índices são compostos por empresas que não têm ampla liquidez, isso se tornava um fator que dificultava a criação de algumas carteiras", explica.


Em alguns países, nos quais o mercado de ETFs já é mais desenvolvido, as instituições buscam resolver os problemas dos ativos com baixa liquidez e que fazem parte dos índices a serem seguidos com operações que envolvem outros ativos e que possuem alta correlação com eles, por exemplo. Nos Estados Unidos, o Barclays criou um sistema especialmente dedicado a esse mercado, chamado Ishares, com uma grande família de ETFs, ou seja, fundos de índice de mercado de diversos tipos.


Com isso, é possível que surjam produtos semelhantes ao PIBB, porém, replicando inúmeros outros índices sejam eles setoriais ou com um determinado foco, como governança ou sustentabilidade. A Bovespa vem criando ao longo dos anos diversos indicadores que poderão servir de base para esses fundos nos moldes dos ETFs.


Na visão da CVM, os ETFs são produtos que podem ser interessantes para o mercado local por serem uma alternativa de aplicação em fundo de ações a um custo mais baixo. Isso porque a taxa de administração costuma ser menor em produtos como o PIBB do que nos fundos abertos de ações que replicam índices.


No comunicado divulgado ontem, a autarquia ressaltou que há evidências de que fundos como os ETFs ajudam a aumentar a liquidez dos ativos que compõem os índices seguidos. "Produtos como os ETFs podem contribuir para a diversificação de riscos dos investidores e para o aumento da competição entre produtos de investimento e, por isso, são desejáveis", diz a nota da autarquia.


Por enquanto, o colegiado da CVM decidiu apenas analisar caso a caso as possibilidades de dispensa ou abrandamento de requisitos da Instrução 359, que rege esses fundos. Porém, a autarquia não descarta uma futura mudança nas regras, caso as experiências indiquem que esse é o melhor caminho e vai ouvir também as sugestões do mercado sobre o assunto.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Rentabilidade de prefixados dispara com alta da Selic

Valor Econômico
Por Adriana Cotias, de São Paulo
30/07/2008


A alta da Selic na semana passada, em proporção maior do que muitos previam, pegou os gestores de renda fixa na mão certa. O aumento de 0,75 ponto percentual imposto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) ao juro primário, para 13% ao ano, representou um adicional e tanto nas cotas dos fundos prefixados passivos, que têm o compromisso de aplicar em ativos com rentabilidade definida no momento da compra ou se valem de derivativos na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).


O resultado se observa no desempenho desses fundos em julho. Até o dia 25, as carteiras prefixadas tinham um retorno de 1,86% em comparação ao 0,73% dos referenciados DI ou o 0,50% dos portfólios atrelados a índices de preços. O CDI ficou em 0,87% no período. Os dados são do site financeiro Fortuna.


Tradicionalmente comprados em taxas longas (apostando na queda dos juros no decorrer do tempo), os portfólios prefixados levaram a melhor justamente porque o remédio do juro veio em dose maior do que o 0,50 ponto percentual projetado pela maioria dos analistas. O ajuste teve o efeito de pressionar as taxas das Letras do Tesouro Nacional (LTN, prefixada) e contratos de depósitos interfinanceiros (DI) curtos, ao mesmo tempo em que suavizou os prêmios embutidos nos papéis com prazo acima de dois anos.


"No longo prazo a curva (de juros) está invertida e a alta da Selic só pronunciou essa tendência", diz o economista Marcelo D'Agosto, diretor do Fortuna. Tal comportamento explica-se pela leitura de que a aceleração do aumento do juro de curto prazo surtirá resultado mais rápido no controle dos índices de custo de vida logo adiante. "Ao ser mais conservador, o Banco Central (BC) passou a mensagem de que será vigilante e não deixará a inflação escapar do controle", diz o gestor de Renda Fixa da Unibanco Asset Management (UAM) Paulo Certain.


Enquanto as taxas dos DIs com vencimento em 2008 e 2009 subiram para se adaptar à aceleração do ciclo de alta, os contratos de 2010 seguiram a rota contrária. Conforme exemplifica Certain, o DI de janeiro, que chegou a bater 15,48% ao ano, ontem era negociado a 14,91%. O contrato com vencimento em 2012 caiu de 15,2% no início do mês para os atuais 14,29%. Para a UAM, a Selic fecha o ano em 15%, tem mais um ajuste de 0,25 ponto percentual no início de 2009, mas já começa a cair a partir do segundo semestre, virando 2010 a 13,5% ao ano. Se tal previsão se concretizar, vale investir em fundos de renda fixa que tenham prefixados longos, defende.


Em julho, quem possuía esses papéis registrou um lucro contábil na marcação a mercado, explica o operador da SLW Corretora Rogério Adriani Rosa. Isso ocorreu porque a redução das taxas longas vem acompanhada pela alta do preço unitário dos papéis, valorizando, portanto, os ativos que estavam nos portfólios.


O aumento do diferencial de juros locais e externos também elevou a atratividade dos prefixados aos olhos do investidor estrangeiro, resultando em demanda extra, conta Renato Ramos, diretor de Renda Fixa, da HSBC Global Asset Managment. Maior procura significa preços mais altos - e taxas em queda. Isso não quer dizer que os prefixados serão uma aposta de lucro certeira, adverte. O cenário para a renda fixa permanece nebuloso, com a inflação mundial de alimentos e a alta das commodities jogando uma sombra sobre o futuro da política monetária brasileira. "Neste momento, talvez seja melhor privilegiar títulos de inflação." As projeções da HSBC são de IPCA em 6,5% neste ano, caindo a 5% em 2009, com a Selic em 14,75% em dezembro próximo, cedendo a 14% no fim de 2009.


Na conta de 2008, os fundos prefixados ainda ficam para trás, com rentabilidade de 4,37%, quando comparados às carteiras que têm os índices de preços como referência, com retorno de 5,84%, ou os DIs, com 5,12%. Todos aquém do CDI, em 6,31%. Isso explica por que os portfólios de renda fixa perderam R$ 16,6 bilhões do patrimônio nos sete primeiros meses do ano - só em julho, as saídas líquida alcançaram R$ 3,1 bilhões. Os multimercados tiveram desempenho pior, perdendo R$ 22,2 bilhões no ano e R$ 2,7 bilhões no mês, até o dia 25

terça-feira, 29 de julho de 2008

Caderneta brilha menos

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro e Alessandra Bellotto, de São Paulo
29/07/2008



Depois de competir em pé de igualdade com os fundos mais conservadores de renda fixa, a boa e velha caderneta de poupança perdeu parte de seu brilho. Com a alta da taxa de juros, hoje em 13% ao ano, para conter as pressões inflacionárias, mesmo os fundos DI ou de curto prazo que cobram salgadas taxas de administração ficaram mais atrativos ante a caderneta, algo que havia mudado quando a trajetória da Selic era de queda.


Quanto maior a taxa de juros, melhor será a rentabilidade dos fundos mais tradicionais ante o retorno da caderneta, que oferece a variação da Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano. E essa relação deve ficar ainda mais desfavorável para a poupança caso se confirmem as projeções de mercado de 14,25% para a taxa Selic no fim do ano. Sem falar do investidor que tem horizonte de longo prazo, em que o imposto de renda nos fundos de renda fixa cai.


Há um ano e meio, quando a taxa Selic estava em 11,75% ao ano, só os fundos com taxa de administração abaixo de 2% conseguiam superar os ganhos da poupança para prazos acima de um ano. Hoje, uma carteira que cobre 3% já rende mais que a caderneta, dependendo do prazo da aplicação.


Simulação feita pelo Valor Data mostra que, mesmo considerando-se as projeções de 14,25% para a Selic no fim do ano, os fundos DI com taxa de administração acima de 3% ao ano ainda perdem para a caderneta de poupança no curto prazo. Isso ocorre por causa do imposto de renda maior cobrado no fundo. Pelos cálculos, num prazo de seis meses, o aplicador de um DI receberia 4,18%, para 4,27% da poupança, que é isenta. A projeção considera o imposto de renda regressivo para os fundos de renda fixa - de 22,5% para aplicações de até seis meses; de 20% para mais de seis meses a um ano; de 17,5% de um ano a dois; e de 15% acima de dois anos.


A situação muda quando se olha o longo prazo. Para as aplicações com prazo superior a dois anos, o ganho desses fundos seria de 20,24%, para 18,22% da poupança. Vale lembrar, no entanto, que a simulação considera a Selic sem alterações nesse período, o que pode não acontecer.


Isso quer dizer que, independente da taxa de administração, é um bom negócio trocar a caderneta por um fundo DI? Não é bem assim. Numa carteira que cobre 4% ao ano, a poupança só deixa de ser interessante para investimentos acima de dois anos. Nesse caso, o ganho líquido do fundo seria de 18,59%, para 18,22%.


Mas, nessa história toda, o aplicador deve considerar também que a própria poupança deve ter um rendimento maior. Isso porque a Taxa Referencial (TR), que corrige a aplicação, é calculada com base na rentabilidade média dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) e dos Recibos de Depósito Bancário (RDB), cujas taxas acompanham a alta da Selic. Sobre essa média, chamada de Taxa Básica Financeira (TBF), é aplicado um redutor. Pelas projeções do mercado, a TR de julho deve ficar em 0,22%, para 0,11% de junho, elevando o ganho da poupança para 0,70% no mês. "No início do ano, a poupança não rendia mais que 0,60%", ressalta Felipe Vaz, gerente de investimentos do Banco Real.


A diferença entre o ganho da caderneta de poupança e a rentabilidade dos fundos ainda é muito pequena, diz Marcos Villanova, superintendente executivo da área de investimentos do Bradesco. "Quem é poupador da caderneta não deve mexer em seus investimentos, porque a diferença é muito pequena, mas isso vai mudar se a Selic for para 14% ao ano", diz.


Mas mesmo mais interessantes que a caderneta no longo prazo, o investidor não deve se acomodar com fundos mais caros, diz Rodrigo Menon, sócio da Beta Advisors. "A Selic agora está em alta, mas o mercado projeta queda dos juros a partir do segundo semestre do ano que vem", lembra. "É interessante que o investidor procure desde já alternativas mais baratas", diz Menon, lembrando, no entanto, que é difícil para o pequeno poupador ter acesso a taxas de administração na faixa de 1% em fundos DI. "Mas ele pode recorrer ao Tesouro Direto, onde a concorrência de taxa é maior."


A caderneta perdeu terreno com a alta dos juros e, no caso dos fundos DI, eles ainda podem ser beneficiados pelas taxas melhores oferecidas hoje pelos CDBs, diz Marcia Dessen, sócia da Bankrisk Consultoria e Treinamento. Isso porque, por lei, os fundos referenciados precisam ter 80% de sua carteira em títulos pós-fixados do Tesouro Nacional ou de emissores classificados como de baixo risco, onde entram os CDBs. Para obter retornos maiores, alguns gestores costumam colocar uma pitada desses títulos privados na carteira.


A poupança sempre foi muito procurada pelos investidores mais tradicionais e deve continuar atraindo recursos, diz Fabio Colombo, administrador de investimentos. Ele ressalta, no entanto, que ela é mais indicada para quem tem até R$ 60 mil, limite coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). "Acima desse valor, o poupador começa a correr o risco de crédito da instituição."


No fundo DI, que aplica majoritariamente em títulos públicos pós-fixados, o risco que o investidor corre é o de o governo não honrar o pagamento da dívida, o que é hoje improvável. Além disso, Colombo destaca que o fundo conta com liquidez diária, enquanto que a poupança tem dia certo para sacar os recursos se o aplicador não quiser perder os rendimentos.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Doutores do dinheiro

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
22/07/2008


Quando se tem um problema jurídico, consulta-se um advogado. Se doente, procura-se um médico. É seguindo esses princípios que começa a aparecer no Brasil a figura do consultor financeiro esporádico. Ele atua como um freelancer, auxiliando, por exemplo, quem acaba de receber uma herança, quem avalia uma proposta de trabalho, aquele que quer planejar a aposentadoria, melhorar sua estrutura tributária ou apenas fazer uma check-up para saber se a vida financeira está em linha com os seus objetivos pessoais para o futuro.


O consultor financeiro já é uma profissão reconhecida e respeitada entre os endinheirados brasileiros. Nos últimos anos, prosperam os private banks e "family offices", que cuidam das questões ligadas a dinheiro de famílias milionárias. Geralmente, esses escritórios cobram um percentual fixo sobre o patrimônio administrado em troca de seus préstimos.


Agora, diante da demanda por esses profissionais, alguns jovens começam a popularizar a consultoria financeira atuando de maneira mais flexível, cobrando por hora de consulta, por exemplo. Eles ainda possuem a vantagem ante outros profissionais de não ter conflitos de interesse, uma vez que são pagos apenas pelos clientes, enquanto privates banks e family offices podem ter parte da receita oriunda das entidades onde o cliente aplica. "A minha simples presença no banco com o cliente já fez com que o atendimento pelo gerente fosse diferente", diz Marcelo Junqueira Angulo, um consultor independente.


A hora cobrada por uma assessoria financeira, por enquanto, varia de R$ 300 até mais de R$ 1 mil, dependendo da experiência do consultor. Normalmente, há um contrato sobre os serviços prestados. A expectativa é de que a atividade seja cada vez mais popular, prevê Giuliano DeMarchi, diretor do Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). "E um dos caminhos para a popularização é a cobrança por hora de consulta." Os consultores autônomos reconhecem, porém, que ainda há dificuldades em cobrar pelos serviços por conta da falta de cultura da profissão no país. Por isso, o escritório de Fabiano Calil, especializado em consultoria financeira, promoverá neste mês a primeira palestra para os interessados que quiserem tirar suas dúvidas, a R$ 50,00.


A consulta financeira por hora já é mais tradicional nos EUA, onde a pioneira delas, a Sheryl Garrett, acabou montando uma empresa com consultores franqueados. Por enquanto, aqui o contato com os consultores ainda é no boca-a-boca, a partir de conhecidos de clientes ou amigos.


A maior demanda por esse tipo de consulta cobrada por hora parte, principalmente, dos mais jovens, que estão começando a estruturar a vida financeira, entendem melhor o valor da assessoria financeira e começam a pensar no longo prazo, conta Angulo. "Eu costumo indicar inicialmente livros e palestras para ele ir se inteirando do assunto", diz ele, autor do livro "Suasfinanças.com: os 101 melhores sites para cuidar do seu dinheiro e ajudá-lo a enriquecer", da editora Campus Elsevier.


Apesar da pouca idade que esses pioneiros na consulta financeira por hora têm, eles já possuem experiência comprovada no ramo. Eles possuem o Certified Financial Planner (CFP) - crédito internacional a planejadores financeiros com critérios de experiência, conhecimento e ética -, têm livros publicados, blog ou site e títulos acadêmicos na bagagem.


Ao se formar na faculdade, em 2005, Caio Fragata Torralvo, de 28 anos, trabalhava na área de gestão de recursos de um dos maiores bancos do país, mas achou que já era a hora de virar a carreira. Tirou o CFP e uniu-se ao escritório de Fabiano Calil, consultor já de maior renome, para fazer a consultoria financeira personalizada. "No consultório, as pessoas abrem a sua vida financeira e buscam uma luz de como dirigi-la", diz Torralvo, que também é pesquisador de temas ligados à psicologia econômica. Além de Torralvo, Calil tem outros consultores atendendo clientes por hora em seu escritório e pensa em expandir diante da forte demanda.


Angulo diz que atende pessoas que ainda não são milionárias, mas que querem trilhar esse caminho ou lidar melhor com questões específicas e pontuais. "Muitas querem saber como começar a se planejar, querem os caminhos para alcançar suas metas."


Ambos fazem questão de frisar que a consulta não tem relação com auto-ajuda e, por ser técnica, a pessoa que os procurar tem de estar disposta a abrir toda sua vida financeira para a assessoria valer a pena. Como os profissionais são certificados, o cliente tem mais segurança porque, se houver problema, é possível recorrer ao IBCPF, responsável pelo título CFP no Brasil. O IBCPF tem um código de ética rígido e as apurações de casos suspeitos envolvendo seus afiliados é julgada abertamente.


Como acontece em um consultório médico, na primeira fase do atendimento, os consultores financeiros fazem um diagnóstico financeiro, a partir do qual se busca entender a realidade e as metas do cliente. "Verificamos principalmente o orçamento e o patrimônio, mas também os anseios da pessoa", diz Angulo. Em seguida, é a vez de colocar a mão na massa e fazer a gestão do patrimônio, completa Torralvo que, juntamente com o professor de finanças das FEA/USP Almir Ferreira de Souza escreveu o livro "Aprenda a administrar o próprio dinheiro", da Editora Saraiva.


Mesmo que se trate de um problema esporádico, como a escolha de uma alternativa para financiamento imobiliário, Calil diz que há aqueles clientes que retornam em consultas periódicas para fazer uma espécie de check-up da evolução financeira. "Dúvidas e novas questões surgem todos os dias", explica.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Faça a restituição do seu IR render

Jornal da Tarde
14/07/2008


Com a liberação do 2º lote amanhã, opções são investir no Tesouro Direto ou na renda fixa

RODRIGO GALLO, rodrigo.gallo@grupoestado.com.br


A Receita Federal vai liberar amanhã o dinheiro referente ao segundo lote das restituições do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) 2008, ano-base 2007. Quem tiver dívidas deve usar esses recursos para pagá-las. Já quem estiver no azul pode aplicar esses recursos a fim de fazê-los render. Atualmente, Tesouro Direto e renda fixa são as melhores opções.

De acordo com o Fisco, 958.614 contribuintes vão receber o dinheiro da restituição amanhã, que será depositado com uma correção de 2,84%, correspondente à taxa básica de juros, a Selic, de maio a junho, e 1% de julho.

O matemático financeiro José Dutra Sobrinho argumenta que, no geral, o dinheiro da restituição não deve ser usado para comprar ações na Bolsa de Valores. O motivo é simples: para entrar no mercado de renda variável, é preciso ter um montante considerável para investir, do contrário, não compensa o risco.

Dutra Sobrinho dá duas orientações. Uma é colocar o dinheiro no Tesouro Direto, uma forma criada pelo governo que permite investimentos de pessoas físicas em títulos da dívida pública , cuja rentabilidade pode chegar a 1% ao mês, ou seja, bem superior à da poupança. Nesse sistema, a compra dos papéis é feita pela internet (www.tesourodireto.gov.br). A aquisição desses títulos é uma operação parecida com a compra de um eletroeletrônico pela internet. Os investimentos diretos no Tesouro estão disponíveis exclusivamente pela web. Antes, é preciso fazer um cadastro simples e aplicar pelo menos R$ 100.

Na prática, a pessoa pode gerenciar sozinha seus investimentos. Porém, o Ministério da Fazenda informa que, caso o investidor prefira, é possível autorizar uma instituição financeira a efetuar as transações. Essas empresas não cobram taxas de administração. Dutra Sobrinho alerta que há uma taxa de custódia. 'Essa taxa varia conforme a corretora. É preciso pesquisar antes de investir o dinheiro do IR.'

Alternativa

Como alternativa ao Tesouro Direto, o matemático também orienta as pessoas a colocar a restituição em fundos de investimentos de renda fixa, também levando em consideração a taxa de administração cobrada pela empresa. Segundo ele, o ideal é encontrar uma instituição financeira que pratique taxas entre 2% e 2,5%, no máximo. 'Além do Tesouro Direto, a renda fixa é uma boa opção para quem quiser investir a restituição do IR.'

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