terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Cenário conturbado favorece arbitragem

Valor Econômico

09/02/2010

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo

Ficou mais difícil acertar a direção dos mercados. Com países europeus cambaleando, indicadores econômicos desfavoráveis, o agravamento da relação entre Estados Unidos e China, a decisão do Irã de produzir urânio enriquecido e, por aqui, eleições presidenciais, a expectativa é de que 2010 seja um ano, no mínimo, conturbado. Mas o cenário não é ruim para o universo dos investimentos de arbitragem, que tendem a se beneficiar das distorções de preços características desse ambiente.

A volatilidade dos mercados aumentou e não há perspectiva de volta, afirma o sócio da Capital Investimentos Fernando Ganme. Nesse ambiente, acrescenta, as estratégias com maior chance de oferecer retornos atraentes estão nos fundos long/short - que montam operações de compra e venda com ativos de renda variável - e quantitativos, que usam modelos matemáticos para capturar tendências e distorções de preços.

É no cenário turbulento que os ativos oscilam mais e as distorções aparecem. Os fundos quantitativos, segundo Ganme, funcionam bem como proteção para momentos de crise e devem sempre fazer parte das carteiras dos investidores. "É um hedge que não come rentabilidade."

No caso das carteiras long/short, a estratégia principal é a de montar posições compradas e vendidas na mesma proporção, a fim de ganhar com a diferença de preços entre ativos, e não correr o risco direcional de bolsa. Mas há fundos que podem assumir uma tendência, como ficar vendido em bolsa, apostando na queda.

O senso comum é de que, dificilmente, o comportamento que marcou os ativos em 2009 será repetido este ano, conforme destaca o superintendente de alocação de recursos do Banco Fator, Marcelo Figueiredo. No ano passado, o que se viu foi um mercado com tendências mais claras e de poucas oscilações.

Desde o fim do ano passado a recomendação do executivo tem sido privilegiar aplicações que se beneficiam de um cenário de maior volatilidade, como os já citados fundos long/short e também os que adotam estratégias de arbitragem no mercado de juros, câmbio, opções, entre outros. "Ficou mais difícil ganhar com estratégias direcionais."

Os especialistas ressaltam, no entanto, que o investidor não pode deixar de ter em mente que, quando se fala de futuro, tudo é expectativa. Ganme acredita na diversificação do portfólio. "Prefiro ter uma carteira equilibrada entre as várias estratégias, pois é impossível adivinhar o que vai performar mais", diz. No universo dos multimercados, que têm flexibilidade para operar nos diversos mercados, mesmo as carteiras macro, que fazem apostas direcionais, podem sair ganhando. Basta acertar a direção.

O dinheiro novo, contudo, ele sugere aplicar em fundos não direcionais, como os long/short. E se for para resgatar, o ideal é tirar dinheiro das carteiras que apostam em tendências de mercado.

Quem apostou na queda da bolsa ou na alta do dólar, por exemplo, está colhendo frutos, destaca o diretor de investimentos da Orey Financial, Carlo Moratelli. "Tem muito fundo macro com viés pessimista que está ganhando dinheiro." Moratelli argumenta, no entanto, que é precisa ser criterioso na escolha do gestor. Em termos de estratégia, os fundos de arbitragem tendem a se beneficiar mais do cenário de volatilidade.

Figueiredo, do Fator, lembra ainda que o investidor tem de ficar muito atento ao fluxo de recursos externos. A expectativa de aumento da aversão ao risco global torna 2010 um ano muito difícil para os gestores, mas importante para mostrar a capacidade de selecionar ações e acertar os momentos de entrar ou sair do mercado. "Os bons gestores vão se sobressair e tendem a ser mais requisitados, vai ficar difícil para o investidor aplicar sozinho", diz.

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