domingo, 20 de março de 2011

Taxa de administração superior a 1,5% torna fundos péssimo negócio


20/03/2011

 

SEU BOLSO

Bancos cobram de 0,5% a 4% sobre o valor aplicado para gerir o investimento. Tarifa elevada faz rendimento perder da poupança

Vera Batista

Fábio Monteiro

Fundos de investimento se tornaram as aplicações preferidas de quem entende pouco de mercado financeiro e não tem muito dinheiro disponível. Com sua ascensão, as classes C, D e E se tornaram alvo da cobiça de gestores, administradores e distribuidores do produto ao mesmo tempo em que bancos e corretoras abriram uma guerra pela melhor oferta. O que faz a diferença ao escolher onde aplicar os recursos é a taxa de administração. Às vezes, ela está disfarçada sob o pomposo nome de taxa de performance (penduricalho cobrado, caso o gestor do fundo ultrapasse os objetivos de rentabilidade).
A taxa de administração varia de 0,5% a 4% sobre o valor aplicado — não sobre o rendimento. Se R$ 10 mil forem investidos à taxa de 2%, serão descontados R$ 200 ao ano (ou cerca de R$ 17 ao mês). Os investidores devem ficar atentos: qualquer cobrança superior a 1,5% pode tornar a aplicação nos fundos um péssimo negócio porque come excessivamente o rendimento. Como ainda é preciso recolher o Imposto de Renda, os ganhos ficam muito pequenos, frequentemente menores do que os da caderneta de poupança, que é isenta tanto da taxa como do tributo.
Segundo estudo da Associação Brasileira de Entidades Financeiras e de Capitais (Anbima), as taxas das principais categorias de fundos caíram de dezembro de 2010 para janeiro, mas as cobradas dos investidores de varejo ficaram acima do nível médio. A categoria Referenciado DI subiu 0,46 ponto percentual, para 1,35%; e a de Renda Fixa teve alta de 0,28 ponto percentual, ficando em 1,12%.
O professor César Frade, 39 anos, começou a investir em 1996. À época, por não dominar o assunto, optou pelos fundos dos bancos. Após 10 anos, entendeu que as taxas são abusivas. “Dependendo do quanto você investe, a taxa de administração pode ficar muito alta”, analisa. Hoje, paga mensalidade de R$ 10 para uma corretora e faz movimentações por conta própria. “Resolvi cuidar sozinho porque aprendi como funciona e sei o que quero investir. Estava pagando caro por uma coisa que posso fazer.” Mas o professor alerta: ganhar autonomia requer estudo e experiência. “Cuidar das próprias aplicações é um caminho arriscado e perigoso para quem não entende.”
Os bancos se defendem afirmando que os custos das operações levam em conta a experiência dos profissionais envolvidos. “Temos uma equipe especializada, que acompanha as movimentações do mercado. Isso, evidentemente, gera custos, mas garante tranquilidade ao cotista que não tem tempo ou conhecimento”, argumenta Clayton Calixto, gerente de Relacionamento do grupo Santander. Saulo Sappir Sabbá, diretor de Gestão da Máxima Asset, ressalta que as “casas menores” oferecem melhor atendimento, maior rentabilidade e cobram menos.
Para Francisco José Santos, superintendente de Relações com Investidores Institucionais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo porte do setor, que envolve patrimônio de R$ 1,5 trilhão, 10 mil fundos e 10 milhões de cotistas, a incidência de problemas e reclamações é bem pequena, até mesmo se comparada a estatísticas internacionais. Assim mesmo, para os investidores, todo cuidado é pouco. “Façam análise do seu perfil de risco, verifiquem se os gestores e os administradores são registrados na CVM e procurem estudar o histórico desses profissionais”, aconselha.
Lucro gordo
Não é à toa que os fundos de investimento estão em alta. Nos cálculos de Saulo Sappir Sabbá, diretor de Gestão da Máxima Asset, quem comprou cota de um fundo de renda fixa, no valor de R$ 1 mil, em 2001, e “esqueceu o dinheiro lá por 10 anos”, acordou em 2011 com um lucro de 323,81% e pôde resgatar R$ 4.238. Se investiu em bolsa de valores, ganhou 329,32% (R$ 4.293). “Só perdeu 13,89% se optou pelo fundo cambial (acompanha a variação do dólar). Acabou ficando com R$ 861”, garantiu Sabbá.

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