quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Análise de perfil de aplicador de varejo deve revelar gosto maior por risco

Valor Econômico

Antonio Perez, de São Paulo
20/01/2010

A chegada da "suitability" aos fundos de investimento voltados ao varejo deve revelar que o investidor brasileiro está mais disposto a assumir riscos para elevar a rentabilidade de seu portfólio. Essa é a avaliação de executivos de grandes bancos de varejo que integram à Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A "suitability" consiste na avaliação do perfil do investidor para que a venda de um produto financeiro seja feita de maneira correta.

Desde 4 de janeiro, todos os clientes de varejo que procuram fundos de ações, multimercados e renda fixa com crédito privado devem passar pelo processo de "suitability". Os bancos montaram questionários com perguntas envolvendo aspectos como idade, experiência em investimentos, horizonte de aplicação, finalidade, valor aplicado e tolerância ao risco. Adotado no segmento de "private banking" desde julho de 2008, a "suitability" chega ao varejo com o nome de Análise do Perfil do Investidor (API).

O Itaú Unibanco começou a aplicar questionários ao varejo de alta renda, do Itaú Personalité, em setembro. Após analisar cerca de 20% da base de clientes, a análise revelou que apenas 35% possuem carteira de investimentos compatível com seu perfil de risco. Já 40% deveriam ter parcela maior de investimentos em ativos de risco e outros 25% assumiam mais riscos do que deveriam.

Hoje, cerca de 70% do patrimônio dos fundos do Itaú Unibanco está em aplicações conservadoras, como fundos DI e de renda fixa. "Claramente, deveria haver uma mudança, com parcela maior em ativos de risco em temos de captação", afirma o diretor de produtos de investimento do Itaú Unibanco, Claudio Sanches.

Segundo o coordenador da Comissão de Distribuição de Produtos de Varejo da Anbima, Marcos Villanova, do patrimônio total de R$ 1,4 trilhão do setor de fundos, apenas 11% está em fundos que incluem ativos de risco, como ações e crédito privado. Do patrimônio mundial de U$ 26 trilhões em fundos, de 40% a 45% estão em ativos de risco, isso levando em conta pessoas físicas e jurídicas. Excluindo as pessoas jurídicas, a fatia sobe para 80%.

Villanova identifica uma clara tendência de aumento da aplicação em ativos de risco, que deve ser revelada à medida que o API avance sobre a base de clientes das instituições. "O cliente de varejo no Brasil vai caminhar para isso", diz. "Com o juro menor, o investidor vai ter de arriscar mais para manter a rentabilidade."

Apesar de o cliente de varejo estar mais propenso a correr riscos para manter a rentabilidade elevada de seus investimentos, no início não deve haver uma mudança grande no fotografia do setor de fundos no Brasil, avalia Rosaline Nunes, superintendente do HSBC. "Esse rebalanceamento da carteira é delicado e vai demorar" , diz a executiva.

A Anbima não fixou prazo para que toda a base de clientes de fundos de varejo dos bancos associados passe pelo API. A perspectiva é de que a adoção ocorra à medida que os clientes decidam realizar novos investimentos.

Os investidores que optarem por aplicar em fundos que sejam mais arriscados do o questionário revelou terão de assinar um termo reconhecendo que estão cientes dos riscos de perdas. O mesmo se aplica ao cliente que não quiser passar pelo API, já que o processo não é obrigatório.

Segundo a Anbima, até o momento 100% dos investidores que resolveram aplicar em fundos com ativos de risco aceitaram responder ao questionário.

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