segunda-feira, 26 de abril de 2010

Alta dos juros deve beneficiar fundos DI

Folha de São Paulo

26/04/2010

Modalidade que acompanha Selic é a que menos deu retorno e a que mais sofreu saques no ano; BC decide taxa nesta semana

Para analista, investidor deve aguardar ao menos duas elevações dos juros para então decidir se muda de aplicação

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A semana deve marcar o início do ciclo de elevações da taxa básica Selic, que a levará a rondar os 11,50% no fim do ano. Ao menos é o que projeta o mercado. Nesse cenário, as aplicações que seguem os juros vão começar a recuperar a rentabilidade perdida desde o início de 2009, quando a taxa básica da economia brasileira passou a ser reduzida pelo Banco Central.
Em tese, os fundos DI e outras aplicações com taxas pós-fixadas serão os maiores beneficiados. Isso ocorre porque tais investimentos acompanham com maior proximidade as oscilações da taxa Selic, que hoje está em 8,75% anuais.
No sentido contrário, aplicar em ações tende a ser menos atraente com a alta dos juros.
No acumulado do ano, os fundos DI estão na lanterna, com rentabilidade média de 2,46%, até o dia 20. Seu concorrente direto, a renda fixa, tem retorno de 3,16% no período. Apesar de os dois tipos de fundo seguirem os juros, eles têm características diferentes.
"Os fundos DI estão atrás em termos de rentabilidade no ano, o que tem motivado muitos saques. Mas daqui a uns dois meses, considerando que os juros realmente comecem a ser elevados agora, devem começar a atrair mais os investidores com os retornos crescentes", afirma Mauro Calil, do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil & Calil.
Levantamento da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostra que os fundos DI são os que mais perderam aplicações neste ano, com saída líquida de R$ 2,95 bilhões. Já a renda fixa recebeu R$ 28,76 bilhões no período.
O fundo DI tem em sua carteira principalmente títulos públicos que seguem a Selic. Dessa forma, sofrerá o impacto direto da alta da taxa básica. Já as carteiras dos fundos de renda fixa têm uma liberdade maior para serem formadas, carregando uma variedade de papéis públicos e privados -o que explica sua melhor performance até o momento no ano.
Entre as outras aplicações que pagam juros, o atual cenário promete ser menos favorável à poupança, que vai perder a atratividade que conquistara em 2009 (leia ao lado). No caso do Tesouro Direto, vai depender do tipo de título que o investidor decidir comprar.
Outra categoria que paga juros é o CDB (Certificado de Depósito Bancário). Emitido pelos bancos, o CDB paga taxas diferentes dependendo da instituição que o negocia. Devido à liberdade de que dispõem, os bancos oferecem as taxas que acharem justas. Nos períodos em que desejam atrair os clientes para esse tipo de aplicação, os bancos elevam o juro oferecido -como ocorreu em 2008.

Disputa
"Até que haja ao menos uns dois aumentos da Selic, que permitam que os fundos voltem a pagar taxa em torno de 1% ao mês, os investidores não devem ficar ansiosos para migrar de uma aplicação à outra", avalia Aquiles Mosca, estrategista de investimentos do Santander Asset Management. Mosca também afirma que, devido à maior liberdade para os gestores formarem as carteiras dos fundos de renda fixa, eles podem buscar alternativas para driblar o ganho potencial do DI. "O gestor pode manter o retorno da renda fixa interessante, concorrendo com o DI, se assim desejar", afirmou.
A renda fixa costuma ser conhecida como aplicação prefixada -ou seja, tem suas taxas definidas no momento em que a aplicação é feita. Mas essa aplicação tem maleabilidade para ter parte da sua carteira composta por papéis pós-fixados, que vão ganhar daqui para a frente com a alta da Selic.
Isso significa que, se a princípio será o DI que vai ganhar com a alta do juro, a renda fixa poderá não ficar para trás, dependendo da atuação do gestor.

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