terça-feira, 6 de novembro de 2007

Para poucos e bons

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro
06/11/2007



Os fundos de ações vêm atraindo uma legião de investidores seduzidos pela forte valorização do Índice Bovespa neste ano, de 46,87% até o dia 31. Mas é preciso ficar atento: nem todos os fundos de ações ativos estão conseguindo superar o Ibovespa, embora muitos cobrem caro por uma gestão dita diferenciada. Levantamento do Valor, com base nos dados do site financeiro Fortuna, mostra que de 137 fundos de ações que buscam superar o Ibovespa, apenas 43 efetivamente rendem mais do que o índice acumulado do ano. Dos vencedores, porém, só 15 aceitam aplicação de pequenos investidores.


À primeira vista, quando se olha para o desempenho dos fundos de ações, com 31% das carteiras classificadas como Ibovespa ativo batendo o referencial, a análise é positiva, avalia Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. "Esse resultado é natural, pois não são realmente todos os gestores que conseguirão superar o índice; alguns ganham, enquanto outros perdem", avalia. "Além disso, é preciso lembrar que há o impacto da taxa de administração sobre essa rentabilidade." Para ele, como o pequeno investidor raramente consegue ter acesso a essas carteiras com melhor desempenho, ele acaba optando por fundos mais populares, com os da Vale do Rio Doce.


Para Marcelo Assalin, diretor da SulAmérica Investimentos, ao decidir aplicar num fundo, o investidor deve observar atentamente a consistência de resultados da carteira no longo prazo. Além disso, precisa ver a taxa de administração cobrada pela carteira e, se for o caso, a taxa de performance, já que as duas trazem impacto à rentabilidade líquida. Outro fator importante é se o fundo poderá alavancar ou não. Pelo conceito de alavancagem, o gestor faz um empréstimo e, portanto, consegue mais recursos do que realmente têm em carteira para aplicar, o que potencializa os ganhos ou as perdas. Nesses casos, portanto, o risco aumenta.


Para fazer o levantamento dos fundos ativos, foram levadas em consideração somente as categorias de fundos de ações cujo referencial é o Índice Bovespa e que buscam superar o indicador, adotando, ou não, o mecanismo de alavancagem. Não foram levados em conta os fundos Ibovespa passivos, cujo objetivo é apenas replicar o índice, pois, como as carteiras cobram taxa de administração, é natural que o desempenho dessas aplicações fique ligeiramente abaixo do retorno apresentado pelo indicador. Ficaram de fora também os fundos de ações diferenciados, como os de dividendos, "small caps" ou aqueles compostos somente por papéis da Vale do Rio Doce ou Petrobras. Carteiras que não divulgaram a cota do dia 31 de outubro foram ignorados.


Foi justamente essa forte valorização dos papéis da Vale que fez muitos gestores terem rendimento abaixo do Ibovespa no ano, até agora. Isso porque, diante desses altos ganhos, muitos preferiram embolsar os elevados retornos e reduzir um pouco a exposição ao papel, diz Saulo Sabbá, diretor da Máxima Asset Management.Ele lembra que somente a Vale (junto com Bradespar, controladora mineradora) tem peso de 14,61% no Ibovespa, perdendo apenas para Petrobras, com 16,15%. "Mesmo se olharmos os fundos de ações como um todo, 60% deles estão com ganho abaixo do Ibovespa no ano", diz o executivo da gestora.


Entre os 15 fundos Ibovespa ativo com desempenho acima do indicador e que estão abertos ao público em geral está o Máxima Tag Along Access, com rentabilidade acumulada de 66,32% no ano, até outubro, ante 46,87% do Ibovespa. Segundo Sabbá, o fundo busca deixar 70% da carteira atrelada ao índice e os outros 30% hoje estão em ações ligadas direta ou indiretamente ao setor imobiliário, como Cyrela, Gafisa e Duratex, e de tecnologia, como Positivo e Ideiasnet.


O relatório do site Fortuna mostra que novamente os fundos de ações foram os mais rentáveis no mês de outubro, com ganho médio de 2,36% ante 3,10% do Ibovespa no mesmo período. A boa rentabilidade ante outras aplicações atraiu pelo menos R$ 2,202 bilhões para a categoria no mês passado. No ano, até o dia 31, os fundos de ações acumulam rendimento médio de 39,18% e registram captação de R$ 18,377 bilhões.


Embora a valorização de 46,87% do Ibovespa até outubro dê a impressão de que ganhar com a bolsa tem sido moleza, não foi bem assim se analisarmos o retorno comparado ao índice. No início do ano, ganharam os gestores de recursos que fizeram as apostas em empresas de menor capitalização, as chamadas ações "small caps", lembra Assalin, da SulAmérica. Depois, em julho e agosto, a bolsa passou por um processo de correção. A recuperação do mercado nos meses seguintes, no entanto, foi puxada por Vale e Petrobras e, quem ficou com menor exposição a esses papéis, rendeu menos que o Ibovespa, diz ele.


O fundo Sul América Equilibrium, com retorno de 47,41% no acumulado do ano pode ficar até 130% investido no Ibovespa, ou seja, pode alavancar. A carteira, que já existe há 13 anos, tem hoje menor exposição a Vale e Petrobras. Em contrapartida, aumentou as aplicações em ações do setor de varejo, infraestrutura, bancos e bens de capital, diz Assalin.


Outro que pode alavancar é o fundo GWI FIA, que acumula retorno de 103,22% no ano, até o dia 31. Segundo André Cury Maialy, da GWI Asset Management, a gestora tem como filosofia investir apenas em empresas que tendem a apresentar desempenho sólido, independentemente do ambiente político e econômico. É o caso, por exemplo, dos setores de energia, metalurgia, siderurgia, varejo e infra-estrutura. A maior parte dos retornos veio do segmento de siderurgia, com 52% do total, seguido por energia, com 37%, e varejo, com 11%, conta Maialy

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page