segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Anúncios de automóveis escondem taxas de juros

FABIANO SEVERO
da Folha de S.Paulo
04/11/2007


"TAC não inclusa." Essa é a frase mais lida naquelas letras minúsculas entremeadas no pé dos anúncios de automóveis.

O que poucos sabem, porém, é que essa Taxa de Abertura de Crédito, sem piso ou teto estabelecido pelo Banco Central, é variável e usada para mascarar a taxa de juros mensal.

"Como não há intervenção do BC, as revendas elevam a TAC e "derrubam" a taxa mensal", explica Daniel Ghovatto, professor de planejamento de vendas do curso de pós-graduação da FEI (Fundação Educacional Inaciana). Ghovatto diz ainda que, em geral, na iminência da compra, as pessoas ficam muito entusiasmadas e não fazem conta.

"O brasileiro só quer saber se a parcela cabe no seu bolso.

Manipular a TAC não é ilegal, nem se trata de má-fé dos vendedores. É apenas uma ferramenta de marketing para confundir o consumidor." Um vendedor da Mitsubishi, que preferiu não se identificar, diz que a TAC é parte da comissão de venda dos funcionários. "Quando vemos que o cliente está muito empolgado e não irá reparar nas taxas, "jogamos" a TAC lá no alto", conta.

Em outra revenda, uma simulação de financiamento de um Ford EcoSport revela que a TAC varia com a instituição financeira, e não com o modelo ou o valor do carro arrendado.
Pelo banco Safra, a TAC fica em R$ 800, R$ 200 a mais do que no Ford. No Itaú, que controla a carteira de clientes do banco Fiat, ela cai para R$ 590.

Descontos

A contadora Vera Lúcia Silva, 43, comprou um EcoSport este ano e pagou R$ 590 para abrir o crédito, mas não sabia que a TAC variava com o banco.

"Fiquei decepcionada quando soube que uma amiga tinha negociado e pagado uma TAC de R$ 450 no Bradesco", diz.

"Dependendo da relação do cliente com o banco, ele consegue taxas bem mais baixas", afirma Victor Bialski, gerente de vendas e marketing do Ford Credit. A Finasa, que tem um acordo operacional com a Ford, cobra de R$ 400 a R$ 800.

Essa variação também ocorre de acordo com a região e com a competição dos mercados locais. "Uma região mais pobre tem TAC mais baixa", afirma. Ele diz que 99,9% das TAC são diluídas no financiamento.

"O consumidor dá, além do carro usado, o dinheiro que tem. Parcelar a TAC é a única saída." O fato de os juros mensais incidirem sobre a TAC não incomoda a todos. "Pagar R$ 10 a mais na prestação não faz muita diferença. Mesmo que, no fim dos 60 meses, uma TAC de R$ 600 vire R$ 1.000", conclui.

com ROSANGELA DE MOURA, colaboração para a Folha

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