segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Será que os "hedge funds" valem as taxas que cobram?

Valor Econômico
Mara Luquet
10/09/2007


Agosto colocou mais lenha na fogueira dos "hedge funds". No mercado internacional há um intenso debate sobre o custo dessas carteiras vis-à-vis o retorno que entregam. O "alpha" (que corresponde ao ganho que o gestor é capaz de produzir além da média do mercado) é a promessa feita por todo gestor de "hedge fund" e, por isso, ele cobra de seu cotista 2% ao ano de taxa de administração mais 20% de taxa de performance sobre o que exceder o ganho do mercado (estabelecido a partir de determinado ponto de referência, no Brasil, em geral é o CDI).


O problema é que este custo vem sendo questionado por estudiosos e observadores desse mercado. Na avaliação desse grupo, o "alpha" não está sendo entregue. As perdas espetaculares ocorridas nas carteiras de muitos "hedge funds" com o aumento da volatilidade (oscilação dos preços) dos mercados no mês passado tiraram um pouco mais do encanto do "alpha".


Esperava-se que os gestores de "hedge funds" fossem capazes de manter seus clientes a salvo da queda geral dos mercados impulsionada pela crise nas hipotecas americanas. No entanto, foram muitos os gestores que tiveram que pedir desculpas a seus clientes. Dados da consultoria americana Hedge Fund Research, com base em Chicago, mostram que as perdas nas carteiras dos "hedge funds" ocorreram em praticamente todas as categorias desses fundos.


Qualquer que fosse a estratégia, ela falhou na hora de manter os cotistas fora da onda de destruição de riqueza que se observou no mês passado. Em agosto, a média das perdas ficou em 3,2%, o pior mês desde novembro de 2000, quando os "hedge funds" perderam 3,5%.


Com isso, reverbera o coro daqueles analistas que vêm mostrando que esta é uma aplicação boa para os gestores. Já para seus cotistas, nem tanto. A principal crítica é o custo, as taxas cobradas que representam receita para o gestor e saem do bolso dos cotistas.


"Nós também achamos que o investidor está pagando muito caro pelo 'alpha'", diz Roger Wright, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Arsenal Investimentos, ex-sócio de Jorge Paulo Lemann no lendário banco de investimentos Garantia (vendido para o Credit Suisse nos anos 90) e um talento reconhecido no mercado financeiro. "O segmento que estava produzindo mais 'alpha' foi o mais afetado", acrescenta. Os "hedge funds" em geral, diz Wright, buscavam cada vez mais arbitrar ativos mais exóticos.


O último ano em que os gestores de "hedge funds" conseguiram entregar o "alpha" foi em 2002, na avaliação de especialistas. Wright concorda. Estudos recentes mostram que os ganhos das carteiras de "hedge funds" internacionais foram proporcionados pelo "beta", a segunda letra do alfabeto grego que empresta o nome ao mercado financeiro para designar os ganhos "direcionais", ou seja, que seguem uma tendência do mercado. E os mercados nos últimos anos estiveram em franca ascensão, por isso não foi necessário muito esforço para embolsar os ganhos.


Portanto, os observadores desse mercado dizem que os cotistas de "hedge funds" pagaram caro pelo retorno que teriam mesmo se estivessem em fundos mais baratos. É claro que sempre há aqueles que conseguem entregar o "alpha", mas eles são poucos e encontrá-los não é uma tarefa simples. "Está muito difícil buscar 'alpha' lá fora e o que ocorre é que um gestor arbitra o outro", diz Wright.


A indústria de "hedge funds" teve um crescimento explosivo nos últimos anos. O patrimônio sob gestão nessas carteiras, que chegava a US$ 15 bilhões no início dos anos 90, está em mais de US$ 1 trilhão. São cerca de 8 mil fundos espalhados pelo mundo e estudos mostram que apenas 20% deles são capazes de produzir ganhos que justifiquem os custos cobrados.


Por isso, se você não se acha capaz de encontrar esse seleto grupo de gestores que são capazes de lhe entregar o "alpha" prometido, o melhor é buscar ajuda com consultores especializados ou manter-se nos veículos tradicionais de investimento. Para fazer uma alocação eficiente, ou seja, aquela que lhe permite o maior ganho ao menor risco, é necessário pesquisa e trabalho duro. Mesmo quem está acostumado aos sinuosos caminhos do mercado financeiro não dispensa a pesquisa. "Aqui nós só trabalhamos com processos", diz Wright. O ponto de partida dos trabalhos da Arsenal, segundo ele, é uma extensa série histórica que permite seu time mapear os mercados.


Mara Luquet é editora da revista ValorInveste e autora do livro O Assunto é Dinheiro, escrito em parceria com o jornalista Carlos Alberto Sardenberg


E-mail mara.luquet@valor.com.br

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