quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Sangue-frio na previdência

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro
13/09/2007


Mesmo diante da forte turbulência que se abateu sobre os mercados no mês passado, os planos de previdência um pouco mais arriscados mantiveram sua tendência de captação. Segundo relatório mensal elaborado pelo site financeiro Fortuna para o Valor, os fundos classificados como balanceados ou multimercados tiveram captação de R$ 1,129 bilhão em agosto. Já as carteiras mais conservadoras, DI e Renda Fixa, registraram resgates de R$ 331 milhões, seguindo um movimento iniciado em julho.


O sangue-frio que o investidor demonstrou durante a crise revela que as pessoas estão mais amadurecidas em relação aos seus investimentos, principalmente na previdência, diz Antonio Cássio dos Santos, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) e da Mapfre Seguros. Embora os especialistas em previdência não se cansem em repetir que o investimento em previdência deve sempre ter um horizonte de longo prazo, esse foi o primeiro teste do setor durante o processo recente de diversificação. Para o executivo, outro fator que contribui para esse comportamento mais tranqüilo é a tabela regressiva do imposto de renda, que varia de 35% a 10% conforme o tempo em que o aplicador permanece no fundo. "A tributação caracteriza a previdência como um investimento de longo prazo e mostra para o investidor que não dá para especular com ela", diz.


Até abril deste ano, as captações maiores aconteciam sempre na renda fixa. Mas, com a taxa de juros num dos níveis mais baixos da história do país, muitos aplicadores resolveram diversificar com fundos que investem em ações. Em maio, pela primeira vez desde que os fundos de previdência existem, o ingresso de recursos em planos mais arriscados superou o da renda fixa. Vale lembrar, no entanto, que, por lei, as carteiras de previdência podem aplicar no máximo 49% dos recursos em ações.


A queda da bolsa abriu várias oportunidades, mas o investidor não deve pensar em diversificação só neste momento, e, sim, ter visão de longo prazo, alerta Luciano Snel, diretor de produtos da Icatu Hartford. Ele diz que a demanda de clientes preocupados com o impacto da turbulência foi muito menor do que a instituição esperava. Outra grata surpresa foi a forte procura das equipes de venda interessadas em entender o que estava acontecendo e orientar possíveis questionamentos dos clientes. No primeiro semestre, do total captado pela instituição, só 17% foram para renda fixa. Entre os clientes da Icatu que migraram para multimercados, o percentual passou de 10% em junho de 2006 para 43% em junho deste ano.


Os especialistas lembram, no entanto, que não dá para dizer que o pior momento já passou e que não haverá mais forte volatilidade no mercado. E, se novas turbulências tomarem conta do mercado, o conselho é o mesmo: muita calma. Quando o cenário não está muito bem definido, os gestores tendem a adotar uma postura mais conservadora, reduzindo a parcela em bolsa.


O aplicador se deu conta que o sucesso com previdência privada não é fruto de uma decisão de momento. Portanto, não é um momento de turbulência que trará grandes diferenças no resultado final de longo prazo, avalia Marcelo Teixeira, diretor-executivo da HSBC Seguros. "O investidor percebeu que a renda variável é um componente importante para a aposentadoria", diz. Segundo ele, normalmente, 80% das aplicações em previdência do banco já são feitas com pelo menos uma parcela em renda variável, seja em fundos moderados ou mais agressivos. Há dois anos, esse número não chegava a 60%.


Em termos de rentabilidade, os fundos cambiais tiveram seu momento de glória em agosto, com 3,08%, ante 4,50% do dólar. Essas carteiras, no entanto, são muito pequenas, com patrimônio de R$ 10 milhões. O ganho não foi suficiente, entretanto, para compensar as perdas no ano da categoria, que cai 4,09%, para uma desvalorização de 8,23% do dólar. Os fundos renda fixa - que podem aplicar em papéis prefixados - e os DIs tiveram retorno de 0,81% e 0,80%, respectivamente, para 0,99% do CDI no mês. No ano, os renda fixa rendem 7,83% e os DIs, 6,67%. Já os multimercados, que podem aplicar em renda fixa, bolsa, juros ou câmbio, fecharam agosto com perda de 0,34%, mas lideram no ano, com ganhos de 12,83%. Os balanceados tiveram retorno de 0,04% e, no ano, rendem 11,98%.

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