segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Metade dos planos investe em cotas de multimercado

Valor Econômico
Fernando Travaglini
10/09/2007


Os fundos de pensão devem repetir neste ano o bom desempenho que apresentaram em termos de rentabilidade no ano passado. Estudo da consultoria RiskOffice mostra que praticamente todas as entidades já atingiram a meta anual até julho, com rentabilidade média acumulada de 10,08%.


O levantamento, que levou em conta 145 planos, mostra ainda que boa parte desse resultado se deve à ampliação dos investimentos em renda variável. O caminho preferencial tem sido os fundos multimercado. Mais da metade deles (51%) já investe em fundos multimercado, com alocação média dos recursos garantidores em 22%.


"Os fundos de pensão estão reduzindo a parcela atrelada ao CDI e tomando mais riscos", avalia o sócio-diretor da consultoria, Fernando Lovisotto.


Nem mesmo a recente turbulência internacional, provocada por uma alta na inadimplência no mercado de crédito imobiliário de segunda linha nos Estados Unidos, reduziu essa tendência, diz Lovisotto. "Em agosto, enquanto o rendimento da Bovespa foi nulo, muitos fundos tiveram ganhos de até 10%".


A queda nas taxas de juros contribui para essa migração. Há dois anos o Banco Central mantém a distensão da política monetária. Nesse período, a taxa básica de juros caiu de 19,75%, em setembro de 2005, para os atuais 11,25%. Com isso, o rendimento real dos títulos públicos começa a ficar próximo das metas dos fundos de pensão (na faixa de 6% mais a variação de algum índice inflacionário).


Lovisotto estima que até o fim do próximo ano os fundos devem elevar a parcela de ações de 16% para 30%. Ele lembra ainda que muitos títulos que estão nas carteiras das fundações (que somam quase R$ 30 bilhões) vencem entre 2008 e 2009. "Isso depende da velocidade da queda dos juros", pondera.


Os bons resultados não são fruto apenas dos investimentos em ações. Em recente entrevista ao Valor, o presidente da Fundação Real Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas, Sérgio Wilson Fontes, avaliou que o primeiro semestre foi o melhor da história da entidade, com 15,73% de ganhos. Apesar de a bolsa ter tido bom desempenho, o ganho foi puxado pela renda fixa, disse o diretor.


Os títulos de longo prazo atrelados aos índices de inflação, principalmente NTN-B, ajudaram a carteira de renda fixa a ter variação positiva de 14,99%.


Com o resultado total obtido, a fundação alcançou um superávit acumulado de R$ 1,2 bilhão e tem agora um ativo líquido de R$ 6,5 bilhões. Segundo Fontes, a fundação conseguiu bater com folga a meta atuarial, fixada em INPC mais 6%, que foi de 5,2% no semestre, e também o CDI, que variou 6% no período.


Outros fundos também tiveram boa rentabilidade em renda fixa, como a Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, cujo ganho foi de 11,06% com títulos, e a Fundação Eletrobrás de Seguridade Social (Eletros), com 11,34% de rentabilidade na renda fixa no primeiro semestre.


Além disso, os investimentos em fundos enfrentam algumas resistências. Em maio, o Conselho Monetário Nacional (Resolução 3456) autorizou a alocação de até 3% dos ativos dos fundos de pensão em fundos multimercado que realizem day-trade (operação de compra e venda no mesmo dia) e que fiquem alavancados. Problemas na cobrança desses fundos multimercado, no entanto, como a taxa de performance vinculada ao CDI, têm limitado a alocação neste tipo de investimento.


Outra possibilidade de investimento são as debêntures. Lovisotto acredita que as dificuldades de captação por parte das empresas no mercado externo devido à crise de liquidez pode estimular o mercado de emissão de dívida no mercado interno e que os fundos de pensão estão de olho nesse mercado. Ele ressalta, no entanto, que para os fundos o ideal é que a correção dos papéis seja pelo IPCA, devido à trajetória de queda da Selic.

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