terça-feira, 11 de setembro de 2007

Carteira de índices míngua apesar da alta da inflação

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro
11/09/2007


A recente alta dos índices de preços no país fez com que analistas elevassem suas projeções para a inflação em 2007. Pesquisa semanal divulgada ontem pelo Banco Central revela que a projeção para a inflação neste ano medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi elevada de 3,92% para 3,99%. Em maio, essa projeção chegou a 3,50%, quase meio ponto percentual abaixo da expectativa atual. Para 2008, entretanto, a aposta continua sendo de que a inflação ficará em 4%.


Mesmo diante desse cenário, os especialistas em investimentos são muito reticentes em recomendar fundos atrelado a índice de preços ao investidor que quer proteger seu potencial de compra. Dados do site Fortuna mostram que as duas maiores carteiras atreladas a índices de preços - o BB RF LP Índice de Preço, do Banco do Brasil, e o Caixa FIC Capital RF Longo Prazo, da Caixa Econômica Federal -, somam pouco mais de R$ 542 milhões e contam com cerca de 12 mil cotistas. Em termos de retorno, essas carteiras registram ganho médio de 7% no ano, até dia 5, ante 8,23% do CDI.


Segundo relatório do Fortuna, a pressão recente dos preços dos alimentos sobre o IPCA e o IGP-M mostra que existe a possibilidade de a inflação aumentar. Mas um descontrole parece ser improvável, mesmo com os sinais negativos dados pelo governo ao não reduzir a meta de inflação para o próximo ano. "Esse cenário (de inflação em alta), que seria o melhor do ponto de vista da rentabilidade dos fundos de Inflação, é improvável", avalia o relatório, levando em conta a atuação firme do BC.


Os fundos de inflação aplicam em papéis que pagam a variação de um índice de preços mais uma taxa de juros. Para a pessoa física, essas carteiras ganharam destaque em 2002, quando houve o aumento de percepção de risco com a proximidade da eleição presidencial que mostrava Lula como favorito. Além disso, os gestores foram obrigados a marcar a mercado as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) - papéis pós-fixados-, o que trouxe perdas para fundos conservadores, como os DIs, e muitos foram para essas carteiras. Números do Fortuna mostram que, em 2002, havia pelo menos 39 fundos atrelados ao IGP-M. De lá para cá, com a inflação sob controle e o menor interesse dos investidores por essas aplicações, muitas carteiras foram encerradas ou incorporadas e outros fundos.


Para o investidor que quer proteger os recursos da inflação, os investimentos via Tesouro Direto podem ser mais interessantes, avalia Rogerio Betti, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. Ele lembra que o pagamento de imposto de renda ocorre somente no momento venda, enquanto nos fundos o IR é semestral pelo chamado come-cotas. "Nos próximos meses, vamos provar um período novo após diversos cortes nos juros e o Banco Central terá de monitorar esse momento com atenção para avaliar se o aumento da inflação é apenas momentânea ou se começaremos a viver uma certa inflação de demanda, além de monitorar a crise imobiliária americana", diz o executivo. "Após isso, teremos uma noção maior de qual o nível de juro real que a economia como um todo agüenta de forma sustentável."


Para o executivo, o país dificilmente terá uma situação como a de dois anos atrás, quando a inflação já estava dentro da meta e a Selic nas alturas, na faixa de 19,75%. "Chegamos ao momento de ajustes finos na economia, mesmo havendo ainda um bom espaço para o corte nos juros." Dados do Tesouro Direto de ontem mostravam as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) com vencimento em maio de 2009 eram vendidas com taxa de 6,96%, além da inflação. Esses títulos têm rentabilidade vinculada à variação do IPCA acrescida de juros definidos no momento da compra.


Números do site Fortuna mostram que, à semelhança dos fundos de renda fixa prefixados, os fundos de índices de preços também tiveram perdas de rentabilidade durante a crise. No dia 27 de junho, por exemplo, os dois maiores fundos atrelados à inflação tinham R$ 960 milhões, com 15 mil cotistas, e captação de R$ 678 milhões. A rentabilidade média dessas carteiras no ano até aquela data era de 7,35% ante 5,91% do CDI no período. De lá para cá, no entanto, os fundos do Banco do Brasil e da Caixa tiveram juntos resgates de cerca de R$ 414 milhões, com retorno médio de 0,28%, ante 2,14% do CDI no período.


O mês de setembro começou com resgates no setor de fundos, com saques de R$ 5,130 bilhões até o dia 5. A maior parte dessas saídas aconteceu, entretanto, entre os fundos classificados como poder público (de governos e municípios), com saques de R$ 2,918 bilhões. Os fundos de renda fixa que podem aplicar em papéis prefixados apresentam resgates de R$ 1,254 bilhão até o dia 5, enquanto os DI perdem R$ 909 milhões. Já os fundos de ações seguem captando, com ingresso de R$ 196 milhões no mês. Os multimercados registram resgates de R$ 318 milhões até dia 5.


Em termos de retorno, as carteiras de renda fixa pré e os DIs têm rentabilidade média de 0,12% até o dia 5, ante 0,13% do CDI. Já os multimercados rendem 0,06%. A boa notícia fica por conta dos fundos de ações, com ganho médio de 0,20% no mês para uma queda de 0,42% do Índice Bovespa no período. Não está aqui, porém, a queda do Ibovespa de ontem, de 3,51%.


No ano, até dia 5, a liderança de captação se mantêm com os multimercados, com R$ 27,576 bilhões. Os fundos de ações aparecem em seguida, com R$ 16,475 bilhões, registrando ainda as maiores rentabilidades médias no ano, de 24,74%, enquanto o Ibovespa sobe 22,34%. Os renda fixa, que podem aplicar em títulos pré, têm ingresso de R$ 4,659 bilhões, enquanto os DI perdem R$ 10,582 bilhões.

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