domingo, 19 de agosto de 2007

Hora de sair do vermelho

Jornal da Tarde 19/08/2007

Quem tem dívidas sabe como é difícil se livrar delas. Mas para voltar a ter o nome limpo, todo esforço é válido

Marcos Burghi, marcos.burghi@grupoestado.com.br


Você está superendividado? Para responder à pergunta, some as dívidas com prestações de carro e casa, por exemplo, mais cheque especial e cartões de crédito. Segundo o economista Willian Eid Junior, se o resultado for igual ou superior a 30% de sua renda líquida, a resposta é sim. O problema pode ter diversas origens. Desemprego, saúde e descontrole orçamentário pessoal são apenas alguns casos. O resultado, porém, é quase sempre o mesmo: a restrição do crédito.

Dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) informam que cerca de duas mil pessoas, superendividadas ou apenas endividadas, comparecem diariamente à instituição com objetivo de verificar as pendências financeiras para, quem sabe, negociá-las e conseguir reabilitar o nome.

É o que tenta fazer o segurança Carlos dos Santos, 44 anos. Tudo começou, conta ele, em 2002, quando ficou desempregado e perdeu o controle das contas. De la para cá, negociou e pagou uma dívida de R$ 1 mil e, no momento, garante que outra de R$ 5 mil está quase quitada, ambas relacionadas a cheques devolvidos. “Negocio uma de cada vez”, diz.

Embora não revele o salário atual, Santos diz que para cumprir os compromissos cortou despesas de lazer, inclusive as viagens anuais que fazia a Sergipe, seu Estado natal, para visitar os pais. Também vendeu o carro. Assim que pagar os atuais compromissos, afirma, quer saldar sua dívida de maior valor, um financiamento feito para um conhecido comprar uma motocicleta, que está em R$ 30 mil. Para piorar, recentemente ele pagou R$ 200 a uma empresa que prometia “limpar” seu nome de vez. “Perdi o dinheiro e continuo sem crédito”, lamentou.

O funcionário público Jorge Menezes, 40 anos, relata que acumulou entre 2003 e 2006 uma dívida de R$ 18 mil em cartões de crédito e cheque especial. Com uma renda mensal de R$ 800, Jorge quer negociar com os credores aos poucos e, para isso, já reserva 30% do salário mensal para começar a regularizar o nome. Além das idas a restaurantes, ele conta que cortou gastos com telefone e internet.

Ricardo Leme da Silva, 36 anos, também está a caminho de ter o crédito reabilitado. Comprometido desde 2003, quando fez empréstimo em uma financeira, ele acumulou uma dívida de R$ 1,1 mil, bem mais do que ganhava como vigilante em uma empresa na Capital.

Mesmo desempregado, ele conseguiu este ano quitar parte do débito - cerca de R$ 400 -, com a ajuda da mãe e dos irmãos. “A força da família é fundamental”, garante. Para pagar o restante, Silva planeja o orçamento com a ajuda da esposa e busca alternativas que caibam no bolso.

Quem atingiu o objetivo de vez foi a comerciante Leonor Fernandes, 60 anos. Um problema de saúde em 2004 a fez gastar no cheque e no cartão de crédito valores acima dos quais dispunha e, conseqüentemente, não conseguiu pagar. Ficou com uma dívida de R$ 2 mil e o nome incluído no serviço de proteção ao crédito. Cerca de um ano depois começou a pagar, com a força dos filhos, que colaboravam nas receitas da casa.

Compromisso cumprido, recentemente ela esteve no serviço de proteção ao crédito da ACSP e deixou o local, com satisfação, após receber a confirmação de que seu nome estava reabilitado. Leonor conta que cortou todas as despesas de lazer, além de gastos com roupas, sapatos e perfumes. Ela recomenda aos endividados que não tenham vergonha, tampouco receio, de negociar com os credores.

PROCON SP

Palestras mensais sobre organização do orçamento doméstico, com entrada franca

DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL

Assessoria jurídica gratuita a superendividados com renda até 5 salários mínimos;
atendimento de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h (Avenida Liberdade, 32.
Tel. 0800-178989)

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL

Instituição faz cartilhas com dicas sobre reabilitação do crédito e uso consciente do
cheque


ORIENTAÇÃO GRATUITA

AS DICAS PARA SELIVRAR DAS DÍVIDAS SEM RESTRIÇÃO AO CRÉDITO

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crédito ou cheque especial, por mais baratas, como empréstimo consignado, se possível

Faça um planejamento do orçamento doméstico para pôr fim a despesas desnecessárias

COM RESTRIÇÃO AO CRÉDITO

Avalie os valores devidos e reserve 20% do orçamento para líquidá-los, mas de uma forma que caiba no bolso

Use o dinheiro para que as dívidas não se multipliquem; nada de recorrer a um
empréstimo para liquidar outro

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