sábado, 25 de agosto de 2007

Fundos levam R$ 21 bi para "fazer nada", diz professor

Folha de S Paulo 25/08/2007

Valor equivale a 1,5% do PIB do país apenas com taxas de administração

Ney Ottoni Britto, professor da UFRJ, afirma que valor remunera um dos trabalhos mais simples do sistema financeiro internacional

TONI SCIARRETTA
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

Os gestores dos fundos de investimento se apropriam de R$ 21 bilhões, o equivalente a 1,5% do PIB brasileiro, apenas com taxas de administração, sendo que a maioria deles tem apenas a tarefa burocrática de comprar títulos da dívida pública do governo que têm garantido juros altíssimos independentemente do cenário econômico.
A afirmação foi feita ontem pelo consultor Ney Ottoni Britto, professor de finanças da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e causou constrangimentos em uma platéia de cerca de 800 pessoas, a maioria executivos do mercado financeiro, no congresso de derivativos da BM&F.
"A pergunta que faço é: os gestores ganham R$ 21 bilhões para fazer o quê? Qual o trabalho de comprar títulos do governo? Por que e para quê os gestores são remunerados?", provocou o professor.
Segundo Britto, os administradores dos fundos brasileiros embolsam R$ 21 bilhões por ano para fazer um dos trabalhos mais simples do sistema financeiro internacional, que pouco envolve a prestação de um serviço de valor ao cotista.
Ele afirma que cada vez mais os cotistas terão necessidade de um serviço personalizado, que atenda às necessidades particulares de alocação de recursos e de tomada de risco. Brito considera que a indústria de fundos administra R$ 1,4 trilhão e cobra taxas médias de administração de 1,5% do patrimônio anual dos recursos administrados.
Para Britto, a perspectiva de juros ainda baixos no país colocará os gestores de fundos contra a parede: eles terão de mostrar mais resultado, fazer uma gestão de patrimônio mais personalizada e ainda cobrar taxas menores. O efeito colateral é assumir cada vez mais riscos.
"Há muita riqueza correndo atrás de poucos ativos. Com o aumento da riqueza, os investidores tendem a aceitar mais riscos. A indústria [de fundos] vai responder com mais oferta de investimento de risco, o que elevará a volatilidade nos mercados", disse.
Segundo o professor, essa "sede por risco" aconteceu nos EUA e é um dos fatores que explicam a atual crise no mercado imobiliário americano. "Houve uma subestimação do risco com a demanda aquecida por investimentos de alto retorno. A quantidade de créditos ruins no mercado americano é enorme. Por isso, ninguém sabe quanto tempo vai durar a crise", disse.
Para o professor, o aumento nos preços das ações e a febre de IPOs (ofertas públicas de ações, na sigla em inglês) no Brasil já refletem essa demanda aquecida por risco no país.

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