quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Em um dia, multimercados perdem o ganho de um mês

Valor Econômico 22/08/2007

Por Luciana Monteiro

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Os fundos multimercados perderam, em média, o equivalente a 19 dias de variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) somente no dia 16, quando a crise do setor de hipotecas de alto risco americano ("subprime") causou pânico nos mercados mundiais e a bolsa brasileira chegou a cair 8,8% durante o pregão. Os prejuízos dessas carteiras num único dia corroeram também o equivalente a todo o ganho do CDI no mês. Apesar de o CDI, que é um referencial para a renda fixa, não ser o melhor referencial para comparar o desempenho dos multimercados, que investem em vários tipos de ativos, a taxa dá uma dimensão das perdas sofridas pelas carteiras.


O Índice Composto elaborado pela Arsenal Investimentos - e que leva em conta fundos multimercados com estratégias de gestão bem diferentes entre si - mostra que a categoria apresentou perdas médias de 0,81% no dia 16, para 0,043% do CDI (ver tabela). No mês, até o dia 16, o prejuízo médio é de 1,31%, para um CDI em 0,51%. Observando-se um prazo mais longo, no entanto, a maioria dos multimercados ainda supera o CDI tanto no ano quanto em 12 meses.


Em termos de estilo de gestão, os multimercados que adotam a estratégia macro, ou seja, procuram ganhar com as tendências dos ativos, foram os que mais sofreram com a mudança de humor do mercado. Segundo a Arsenal, essas carteiras registraram quedas de 0,90% no dia 16 e, no mês, acumulam perdas de 1,70%. Já os multimercados classificados como "equity hedge" tiveram prejuízo ainda maior no dia 16, com queda de 0,99%. No mês, a perda é de 1,58%. Essas carteiras ganham com arbitragem utilizando ações e seus derivativos como principal estratégia. São os fundos long/short de ações, que procuram ganhos somente com papéis e seus derivativos. Apesar do resultado, no ano e em 12 meses, as duas categorias superam o CDI nos respectivos períodos.





O consenso de que o real se manteria forte, a bolsa superaria os 60 mil pontos e a taxa de juros teria mais duas quedas de 0,25 ponto percentual neste ano acabou diante da forte volatilidade que tomou conta das bolsas mundiais, lembra Gustavo Coelho, responsável pela área de alocação da Arsenal. "Hoje as opiniões são discrepantes; o que antes era certeza hoje é dúvida, e a volatilidade deve continuar alta", diz. Para os investidores mais preocupados, o executivo diz que é preciso manter a calma e avaliar se realmente têm perfil para estar em produtos como esse. "A forte oscilação faz parte dos investimentos mais arriscados como os multimercados, portanto, o investidor deve evitar modismos e aplicar somente em produtos que estejam adequados ao seu perfil de risco", diz.


O índice composto pelos multimercados trading registraram no dia 16 perda média de 0,72%, elevando para 1,02% o prejuízo no mês. Fazem parte dessa categoria os multimercados que adotam posições direcionais, mas em que o gestor busca capturar os movimentos de curto e médio prazos constantemente.


Já os fundos de arbitragem - multimercados que buscam ganhar com a diferença de preços entre ativos em diversos mercados como juros, câmbio e bolsa - tiveram as menores perdas no dia 16, de 0,16%. No mês, a categoria era a única que ainda registrava ganhos no mês, de 0,26%.


Só para se ter uma idéia do estrago causado pelo enorme aumento de volatilidade neste mês, até julho, todos os índices de multimercados elaborados pela Arsenal fecharam com ganhos bem superiores ao CDI, alguns até rendendo mais de 10% no ano e 21% em 12 meses. "Às vezes, os movimentos para cima, de ganho, são mais lentos do que os de baixa", diz Coelho. "Mas tomar qualquer decisão em meio a um furacão é difícil e, na maior parte das vezes, é a decisão errada."


Como boa parte dos multimercados adota prazo de carência para resgates, ainda não é possível ter uma dimensão exata do comportamentos dos investidores diante da turbulência, lembra Coelho. "O investidor deve ter, no entanto, um horizonte de longo prazo ao analisar o desempenho desses fundos, e não o resultado de uma única semana."


Coelho lembra também que os retornos do dia 16 foram distorcidos pela forma de cálculo das cotas dos fundos. As cotas são atualizadas pelo valor dos ativos pela média, o que elimina os efeitos de uma recuperação que ocorra no fim do dia. Foi justamente o que aconteceu no dia 16: como o Ibovespa bateu 8,8% de baixa, mas fechou em queda de 2,57%, a média do dia ficou negativa em 7,18%. A recuperação do fim do dia só foi captada pelas cotas do dia 17.

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