domingo, 22 de julho de 2007

O sonho da sede própria

Jornal da Tarde de 22/07/2007

Micro ou pequeno empreendedor deve avaliar bem se é hora de sair do aluguel e comprar o imóvel próprio

Charlise Morais, charlise.morais@grupoestado.com.br

O sonho da casa própria não é exclusividade de quem quer garantir um teto para a família. Quer seja por necessidade ou como investimento, o micro ou pequeno empresário também persegue a expectativa de adquirir uma sede para sua empresa. Mas como saber o momento certo de dar esse passo?Segundo o consultor financeiro do Sebrae Luís Alberto Lobrigatti, não é possível determinar a hora certa para comprar o imóvel da empresa. Mas existem fatores que devem ser avaliados com cuidado para não prejudicar a saúde financeira do empreendimento.“É algo que deve ser muito bem pensado e analisado”, afirma Lobrigatti. “Deve-se levar em consideração que, hoje em dia, grandes empresas, como bancos, estão vendendo suas instalações para ter mais capital de giro. Para eles, é muito mais vantajoso pagar aluguel e oferecer esse dinheiro como empréstimo a seus clientes.”Para quem está começando, ele recomenda não investir tanto dinheiro em algo que ficará parado. “O melhor é seguir o exemplo dos bancos e investir em algo que vai proporcionar mais lucro, deixando para comprar o imóvel quando o negócio estiver mais sólido”, diz.Essa é a situação que enfrenta o proprietário da Território Bike, Vando Oliveira, de 40 anos. Há dois anos, ele montou sua loja de bicicletas e acessórios, que também organiza passeios ciclísticos. O imóvel da empresa é alugado e fica em Santana, Zona Norte da Capital. O aluguel é pesado - cerca de 25% do faturamento da loja. “Tenho perspectiva de comprar a minha sede. Mas não considero que seja o momento ideal. Preciso esperar minha empresa estar mais sólida”, completa.No caso de Oliveira, o ponto comercial em que está localizado é muito importante para suas vendas. Para comprar um imóvel semelhante, na mesma região, teria de desembolsar muito. “Mudar para outro bairro, que é mais em conta, poderia afetar muito meu negócio.”Esse é outro ponto que deve ser bem analisado, como ensina o consultor . “Quando a região é boa e promissora para uma atividade, isso valoriza o negócio e o ponto. Nesse caso, vale a pena comprar. Quando o imóvel é alugado, a valorização do ponto pode fazer com que o aluguel suba muito, além de provocar uma sensação de instabilidade para o empresário”, diz Lobrigatti.Outro ponto negativo em manter-se em imóvel locado é quando há necessidade de muitas adaptações no prédio para adequar-se ao ramo de atividade do locador, pois investe-se muito em algo que é de outra pessoa. No caso de reparos estruturais, é vantajoso, pois a obra fica a cargo do dono e não do inquilino.Quando comprar é vantagemRonaldo Leite Gomes, 33 anos, enfrentou um problema sério com o imóvel onde estava sua gráfica há três anos. A empresa ficou 16 anos no Brás, região central, mas o proprietário recebeu uma oferta boa pelo imóvel e ele teve de se mudar. Foi o que faltava para comprar a sede própria. “Comecei a analisar outros locais para alugar, mas a mudança de uma gráfica é extremamente onerosa e exige algumas licenças. Passar por isso de novo em um prazo curto, caso não desse certo a locação, seria muito custoso. Então, optei pela compra”, explica.Faltou espaçoO empresário William Naswaty, 42 anos, procura um imóvel para o depósito da sua empresa. Ele é dono da Teleloc - especializada em locação de móveis para escritórios e eventos. Há 20 anos o depósito era alugado, no Jabaquara, Zona Sul, mas a empresa cresceu e agora falta espaço. “No tamanho e localização que preciso, está difícil achar para alugar. Creio que a melhor opção no momento é comprar ou construir”. Nessa situação, a necessidade é maior que a vontade ou capital disponível. “Sei que não é o momento, não tenho tanto capital disponível, mas não vejo outra saída”.Lobrigatti ensina que o valor do imóvel próprio sempre deve ser incorporado ao patrimônio da empresa. Quando a compra for necessária, ela não pode descapitalizar o negócio. “Tem de ser respeitada a capacidade da empresa em pagar pelo imóvel. Às vezes, vale mais investir em uma ampliação dos negócios, na abertura de uma nova sede ou na diversificação dos serviços.

”'Quando a região é boa e promissora para certa atividade, isso valoriza o negócio e o ponto. Nesse caso, vale a pena comprar.”
LUÍS ALBERTO LOBRIGATTI, CONSULTOR FINANCEIRO DO SEBRAE

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