quarta-feira, 25 de julho de 2007

Fuga do risco estremece mercados

Valor Econômico de 25/07/2007


O comportamento exibido ontem pelos mercados financeiros não surpreendeu pelo viés negativo, já que desde a semana passada não falha a alternância entre dias bons e ruins, mas sim pela intensidade das perdas. Não se trata mais apenas de uma mera volatilidade ao sabor das notícias do dia. Instalou-se ontem nos pregões o medo de que os EUA podem estar se desacelerando rápido demais. Essa percepção afugentou os grandes investidores dos ativos sujeitos a risco. Causou mal-estar a informação de que a operação destinada a levantar recursos para a aquisição da Allison, unidade de transmissão da General Motors, pelas empresas Carlyle Group e Onex Group, havia sido adiada por falta de interesse de investidores em comprar títulos de empréstimo de alto risco, no valor de US$ 3,1 bilhões, que iriam ser vendidos por um respeitável grupo de instituições peso pesadas, como Citigroup, Lehman Brothers e Merrill Lynch. Os investidores não desconfiam mais apenas de obscuros hedge funds atolados em créditos podres.
Mais duas notícias agourentas se juntaram a esta. A Countrywide Financial Corp., líder americana de financiamento imobiliário, anunciou lucro 33% menor no segundo trimestre. A razão é que o desaquecimento econômico aumenta a inadimplência dos mutuários. Isso pode deslocar uma bola de neve sobre o mercado de títulos hipotecários de baixa qualidade carregados por fundos já super-alavancados em outros segmentos e com lastro seguro insuficiente para honrar todas as operações. Afora a ressurreição do fantasma do subprime, Wall Street surpreendeu-se com os balanços aquém das expectativas de gigantes como American Express, Texas Instruments e Dupont.
Dólar sobe 1,14% e Embi Brasil salta 4,14%
Ordens de defesa do patrimônio foram disparadas. Isso significa vendas de ativos de risco (ações em geral, bônus e moedas de países emergentes, e ativos especulativos, como petróleo e alguns metais) e compra de títulos do Tesouro americano. Refletindo a ampliação da procura pelos treasuries, o juro do papel de 10 anos cedeu de 4,95% para 4,92%. As bolsas tombaram com gosto. O Dow Jones caiu 1,62% desencadeando pesada realização de lucros na Bovespa. O índice paulista fechou em queda de 3,86%, para 55.794 pontos. O dólar negociado no mercado doméstico, que na véspera havia rompido a fronteira de R$ 1,85, fechou em alta de 1,14%, a R$ 1,8630, por causa do desmanche de operações especulativas ameaçadas pela possibilidade de a turbulência externa precipitar uma depreciação cambial superior ao ganho pago pela Selic. O risco-país saltou 4,14%, para 176 pontos-base.

No mercado futuro de juros da BM&F, o desmonte dos negócios dos investidores estrangeiros ficou evidente no fato de que foram os contratos de vencimento mais distante, os mais requisitados por eles, os que mais subiram. Enquanto o CDI previsto para a virada de setembro para outubro ficou estável em 11,28%, o contrato para janeiro de 2010 saltou 0,11 ponto, para 10,88%.
A fuga do risco decorrente do sentimento de que pode não haver crescimento econômico suficiente para sustentar as armações do mercado veio num dia desprovido de indicadores importantes sobre atividade econômica. Mas ao buscarem refúgio nos treasuries, os investidores estão dizendo ao Federal Reserve (Fed) que o seu foco primordial - o combate à inflação - pode estar errado. Deveria se preocupar mais com os riscos associados à expansão econômica. Hoje saem dois indicadores cruciais sobre o mercado imobiliário americano que, dependendo do resultado, podem intensificar o movimento de retirada. Sairão dados do setor hipotecário referentes a julho e vendas de imóveis já existentes em junho. Será publicado também o Livro Bege do Fed.
O dado efetivo sobre a face real dos EUA mais aguardado da semana sairá só na sexta-feira. Trata-se do resultado do PIB no segundo trimestre. A expectativa da LCA Consultores é que o dado confirmará o diagnóstico de que a economia americana continua a sustentar um ritmo moderado de crescimento. Projeta uma expansão trimestral anualizada de 2,8% comparativamente ao trimestre anterior, taxa ligeiramente inferior à expectativa predominante nos mercados, de crescimento anualizado de pouco mais de 3%. "A projeção pressupõe que a expressiva desaceleração do consumo das famílias - em boa medida associada aos efeitos do encarecimento de combustíveis e alimentos sobre a renda real disponível - deverá ser compensada pela aceleração do investimento não residencial e por um ritmo um pouco menor de contração do investimento residencial", diz a LCA. O setor externo e a variação de estoques deverão contribuir para a aceleração do PIB agregado. Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças luiz.guimaraes@valor.com.br

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