segunda-feira, 23 de julho de 2007

Fim de temporada

Valor Econômico de 23/07/2007

Por Adriana Cotias

Quatro empresas debutantes, além das novas ações da Cia. Hering, já veterana de pregão, começam a ser negociadas hoje na Bovespa. Até a próxima semana serão mais sete estréias, além da operação do Banrisul, presente na bolsa desde velhos carnavais. Com o auge do verão americano e europeu em agosto, as companhias apertaram o passo para colocar as ofertas na rua antes das férias. A correria resultou num período de intensa atividade, jamais visto no mercado brasileiro, com opções de variados tamanhos e setores para o investidor.
Até a virada do mês terão sido 15 ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) só em julho e 2 de empresas já listadas, somando R$ 15,6 bilhões. No ano, serão 47 IPOs e 8 de companhias já no pregão, num total de R$ 41,2 bilhões. É um número que supera com larga margem os R$ 30,4 bilhões ofertados ao longo de todo ano passado. Agosto tende a impor um freio às operações, mas quando setembro chegar o ímpeto das companhias para financiar suas atividades via mercado não deve ser refreado.
Em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), há mais meia dúzia de ofertas, além das companhias que pediram registro inicial, com potencial de engrossar a lista rumo à bolsa. São nomes como a B2W , a PPE Fios Esmaltados, a Helbor Empreendimentos , o BICBanco ou o Bonsucesso.
"Os fundos dedicados à América Latina consideram que o Brasil tem boas histórias para contar e continuarão empenhados em ficar com belas fatias dos IPOs", diz o gestor de renda variável da Sul América Investimentos, Alexandre Vianna, com a percepção de quem está numa instituição associada a um grande grupo internacional, o holandês ING."Nos últimos lançamentos, gestores que não compravam Brasil, com origem na Ásia e Oriente Médio, passaram a participar."
Enquanto o fluxo de capitais para alguns emergentes vinha derrapando nos últimos meses, o Brasil continuou a receber recursos para investimentos em portfólio, arremata o responsável pela área de renda variável da Fundação Cesp, Paulo de Sá Pereira. E, nos IPOs, especificamente, é esse capital que tem demonstrado maior gana, levando, na média, 70% das ações. "Há setores novos na bolsa, desconhecidos para o investidor local, mas que o estrangeiro domina por ter com o que comparar lá fora." A disputa pelas ações da Redecard foi uma prova do quanto pode ser voraz esse apetite. A demanda pelo maior IPO brasileiro, de R$ 4,07 bilhões, superou a oferta em dez vezes. A faixa de preço foi elevada no dia da definição do preço, com os papéis saindo no teto, a R$ 27,00.
Na lista de estréias na bolsa hoje estão MRV Engenharia, a empresa de concessões rodoviárias Triunfo, Açúcar Guarani e a Kroton Educacional. Destaque para a MRV, cuja demanda superou em 16 vezes a oferta, possibilitando a colocação integral do lote adicional, numa captação que já soma R$ 1,06 bilhão. Apesar de ter havido uma aparente sobreoferta do setor imobiliário na bolsa - foram 12 operações só neste ano -, o investidor gostou da estratégia da incorporadora, que atua no segmento de baixa renda. "Pelo lado dos fundamentos, o que se tem provado é que há espaço para todas essas do ramo de construção civil", assinala o sócio da GAS Investimentos, Roberto Knopfelmacher.
Para quem ainda não entrou nessa festa, termina hoje o prazo para as ofertas da Multiplan, dona do Shopping Morumbi, da Estácio Participações e do Banrisul. Amanhã, a Providência é que encerra o seu período de reserva e, na quarta, aAliansce e a General Shopping. No meio dessa salada toda, o que vale um olhar mais cuidadoso?
No ramo de shopping centers, Sá Pereira assinala que a Multiplan tem uma estratégia parecida com a da Iguatemi, por investir na valorização das suas marcas, em contrapartida à da BR Malls, que tem tocado um plano agressivo de crescimento via aquisições, comprando participações pequenas até em shoppings em que não participa da administração. "As estratégias são diferentes, mas as duas podem ser vencedoras", diz. Já a Aliansce tem o apelo de ter como sócios capitalistas a General Growth Properties (GGP), uma das maiores companhias imobiliárias americanas, e o fundo da Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
A Estácio tenta seguir os passos da Anhangüera Educacional e da Kroton, mas os negócios não são de todo comparáveis, adverte Sá Pereira. Enquanto a Anhangüera e a Kroton têm modelos administrativos replicáveis, a Estácio, a maior universidade privada do país, ainda tem pontos que precisam ser digeridos, como a remodelagem fiscal recém realizada para transformá-la em entidade com fins lucrativos. "A chegada à bolsa parece ser um pouco prematura, mas a instituição quer ser uma consolidadora e outras universidades tendem a trilhar o mesmo caminho."
Depois da Redecard, a maior oferta dessa temporada promete ser a do Banrisul, de R$ 2,08 bilhões, embora menos de R$ 800 milhões representem caixa para o banco. O restante provém de ações do governo do Estado do Rio Grande do Sul. Comparativamente ao Banco Nossa Caixa, o Banrisul tem a vantagem de já ter a folha de salários do funcionalismo de uma região que representa 8,1% do PIB do país, com renda per capta superior à média nacional, destaca o economista da Lopes Filho João Augusto Salles. O convênio vai até 2012, o que, na sua opinião, pode justificar o investimento num horizonte de médio prazo. Ele ressalva que há riscos de ingerências políticas na troca de governos.
Se a pausa em agosto se confirmar, será saudável para o mercado assimilar o que já foi distribuído, pondera Nami Neneas, do Banif Banco de Investimentos. Depois do recesso, as chances de a roda girar tão rápido quanto antes são grandes, dado que a migração de recursos de fundos conservadores para multimercados ou carteiras de ações está em pleno curso. "A cada 1% do setor, são mais R$ 10 bilhões que podem rumar para a bolsa."

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