sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Ô balancê, balancê

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro, de São Paulo
01/02/2008



O mês do carnaval promete para os mercados financeiros muito balanço e agitação. Especialmente nas bolsas, cuja evolução deve roubar a cena com um enredo de grande volatilidade. Depois de o Índice Bovespa encerrar o primeiro mês do ano em queda de 6,88%, os economistas não vêem um cenário de folia, pelo menos no curto prazo. Alguns estão um pouco mais otimistas, mas todos concordam num ponto: o momento é de muita, muita cautela. Para se ter idéia da forte oscilação do mercado acionário em janeiro - que pode continuar este mês -, o Ibovespa chegou a oscilar 4.000 pontos num único dia.


Como no mês passado, em fevereiro, os olhos dos investidores estarão voltados para a economia dos Estados Unidos. O temor com uma possível recessão e seus reflexos seguirão ditando o ritmo dos mercados financeiros mundiais, que oscilarão ao sabor de cada novo dado sobre os EUA. Ainda não é possível avaliar com certeza o tamanho do impacto que as perdas com os papéis hipotecários de alto risco americanos ("subprime") terão nas instituições financeiras. E, com a redução dos juros pelo Fed, banco central americano, de 4,25 para 3% ao ano em janeiro, o estoque de boas notícias, que poderiam fazer o mercado subir, está bem menor do que o de notícias ruins da economia no curto prazo.


Diante de tanta incerteza, a busca por proteção foi premiada em janeiro. O ouro foi o ativo mais rentável, com alta de 8,06%, beneficiado pelo aumento do metal no mercado internacional, contida pela modesta queda do dólar no Brasil, de 0,90%. É possível comprar contratos padrão de ouro na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a partir de 250 gramas, o que significa um investimento de R$ 13 mil, em média. "Mas a liquidez desses contratos já não é tão grande quanto na época de inflação alta", ressalva Fabio Colombo, administrador de carteiras. Ele recomenda o ouro somente como um seguro. "Se tudo for bem, ele (o ouro) não deve ter uma performance boa, mas se tudo for mal, pelo menos o investidor está protegido." O ouro em geral ganha quando há perda de valor das moedas como dólar e euro no exterior.


No caso da bolsa, hoje em níveis equivalentes aos de setembro do ano passado, alguns especialistas acreditam que o momento representa uma oportunidade, mas sugerem modera- ção. Para quem tem visão de longo prazo e quer aproveitar algumas ações que caíram muito, os especialistas recomendam adquirir papéis em doses homeopáticas, pois o forte vai-e-vem dos ativos vai continuar. E dificilmente alguém saberá o momento exato de comprar.


"Se houver realmente uma desaceleração nos Estados Unidos, é impossível dizer que o Brasil não vai sofrer ou que haverá um descolamento", diz Paulo Werneck, diretor da asset da Icatu Hartford. "Mas o mercado brasileiro ainda está barato e vem suportando bem tudo isso, a economia continua crescendo." Por conta disso, o setor de consumo é uma das recomendações do executivo, já que a renda dos consumidores C e D está crescendo bastante. Além disso, ele indica o setor de mineração (leia-se Vale), por conta da expectativa quanto ao reajuste do minério de ferro. "O chamado 'kit Brasil' - apostar na alta da bolsa e quedas do juro e do dólar - segue, mas com muito mais cautela", diz.


Para o analista da Prosper Gestão de Recursos, Gustavo Barbeito, com o último corte da taxa de juros americana, o mercado pode ficar mais forte, reduzindo a possibilidade de novos movimentos de quedas acentuadas das bolsas. "Os investidores querem novos cortes dos juros americanos, mas já se espera que os que já foram feitos comecem a surtir efeito na economia", diz Barbeito. Ele acredita que essa percepção pode predominar sobre os números da economia americana, que devem continuar saindo ruins. "O mercado deve ignorar um pouco o passado, que são exatamente esses números negativos, e dar mais importância para o futuro, que tem tudo para ser o reaquecimento dos EUA", diz o analista.


Ele lembra, no entanto, que é preciso continuar de olho no sistema financeiro dos EUA, que ainda está bastante frágil depois das perdas que os bancos amargaram com os títulos "subprime". "Se a situação não melhorar, os bancos não voltarão a emprestar como antes e isso pode impedir a retomada do crescimento americano", completa Barbeito.


Em janeiro, os fundos de ações compostos por Petrobras apresentavam queda de 9,06% até o dia 28. Nesse retorno, no entanto, ainda não estão computadas as perdas de 0,74% dos papéis ordinários (ON, com direito a voto) da estatal do petróleo entre os dias 29 e 31. Já os fundos de Vale registravam desvalorização de 18,14% até o dia 28%, mas nesse número também não está a alta de 3,14% dos papéis nos últimos três dias do mês.


Mas o mercado continuará extremamente volátil e será preciso ter muita coragem para apostar na bolsa neste momento, diz Alexandre Espírito Santo, sócio da Plenus Gestão de Recursos e chefe do Departamento de Economia e Finanças da ESPM-RJ. Isso significa que o melhor é ficar nos juros? A resposta é: depende. "A inflação por aqui já está começando a incomodar e a possibilidade de o Banco Central elevar os juros não é tão remota, o que quer dizer que investir em juros prefixados no curto prazo também não é indicado." Isso quer dizer que, para quem precisar mexer nos recursos em até um ano, diz o executivo, é melhor ficar em fundos DI ou até na boa e velha caderneta de poupança se a taxa de administração do fundo for alta demais - 3% ou 4% ao ano. Já para quem tem visão de longo prazo e acredita na queda dos juros nos próximos anos, os papéis prefixados estão atrativos, assim como os fundos de renda fixa com taxa de administração baixa.


Diante desse cenário, os papéis atrelados ao IPCA são alternativas bem interessantes, diz Fábio Colombo, lembrando que os cupons (percentual de juros pago pelos papéis) estão na faixa de 6% a 7,5% ao ano, dependendo do vencimento. Ontem, no Tesouro Direto - sistema de negociação de títulos via internet -, as Notas do Tesouro Nacional série B com vencimento em maio de 2011 eram negociadas a 7,71% ao ano, além da variação do IPCA. (Colaborou Daniele Camba)

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