quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ligadas no dividendo

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
31/01/2008



Aplicadores regrados, que costumam olhar para os dividendos - parte do lucro distribuído aos acionistas - pagos pelas empresas na hora de escolher uma ação, têm agora um bom momento para comprar esses papéis. Isso ocorre porque, com a queda do preço das ações nos últimos três meses, ficou maior o valor proporcionalmente pago pelas empresas em dividendos, juros sobre capital e outros proventos. Em geral, o cálculo é dado em percentual do valor da ação e normalmente é comparado à taxa de juro corrente, hoje em 11,75% ao ano, na hora de medir quão atraente é o papel. Na nova edição da Carteira Valor Dividendos, dez corretoras indicam 30 papéis com projeções de "dividend yield" (retorno em dividendos) acima até de 13% nos próximos 12 meses. Vale destacar que sobre esse ganho não há imposto de renda, que é pago diretamente pela companhia.


Entre as ações preferidas pelas corretoras como boas pagadores de dividendos figuram, principalmente, as companhias do setor elétrico. São três as empresas que pertencem ao segmento entre as cinco que compõem a Carteira Valor Dividendos: CPFL Energia ON, Transmissão Paulista PN e AES Tietê PN. As outras duas são Telesp Operacional PN e CSN ON. "São empresas com menores necessidades de investimento e que, portanto, podem distribuir maior parte do lucro aos acionistas", explica Fabio Anderaos Araújo, estrategista da Itaú Corretora. No total, foram 11 as empresas do setor elétrico indicadas, além de Comgás PNA, do ramo de energia.


Destaque nesta edição da carteira é a freqüência na indicação dos papéis de Transmissão Paulista, que teve quatro recomendações entre as corretoras participantes. "O novo controlador depois da privatização (a colombiana ISA) deixou claro que não fará grandes investimentos e terá uma política de dividendos agressiva", diz Eduardo Kondo, economista da Concórdia. O mesmo princípio vale para a Telesp, que atua somente na área de telefonia fixa. "É a ação mais defensiva do setor, menos dinâmica, com reserva de mercado e que já investiu bastante", explica José Francisco Cataldo, analista da corretora do Banco Real. A Planner, porém, retirou de sua lista a Telesp, pela concorrência que se acirrou no setor.


Para quem investe aos poucos, em parcelas, de olho na distribuição de lucros das empresas, o mais racional é avaliar, além do "dividend yield", o potencial de valorização das ações. "Mesmo que a ação não suba tanto, pelo menos se deve procurar aqueles papéis mais seguros, com menos perspectiva de queda, em que o retorno por causa do dividendo garanta a alta", avalia Anderaos, da Itaú. Mas ele reconhece que essa tarefa não tem sido fácil.


A Planner, por exemplo, resolveu substituir a Equatorial Energia de sua carteira recomendada pela CPFL, embora esta segunda tenha uma projeção de "dividend yield" menor, diz Ricardo Tadeu Martins, chefe do departamento de pesquisa da corretora. "Mas a CPFL tem uma perspectiva de crescimento maior", avalia.


Desde que foi criada, em 20 de abril de 2006, até terça-feira, a Carteira Valor Dividendos apresenta valorização de 29,13%. No mesmo período, o Ibovespa avançou 49,67%. No entanto, esse foi um período em que as ações da Petrobras e Vale, com forte peso no Ibovespa mas que não figuram entre as melhores pagadoras de dividendos, subiram muito. "Esse avanço menor é natural, porque a Carteira Valor Dividendos corre menos riscos", explica Anderaos. "Mas, no longo prazo, esse portfólio ainda tem melhores perspectivas."


Para quem se preocupa mais com o curto prazo, Kondo, da Concórdia, diz que este momento é também interessante para ficar atento ao pagamento de dividendos da empresas, porque a maioria delas intensifica a distribuição de lucros no começo do ano. "Algumas companhias distribuem dividendos apenas uma vez por ano, nesta época, e outras costumam engordar o pagamento com o fechamento do balanço do ano", comenta ele.


O economista da Link Investimentos, Celso Boin Júnior, explica por que os "dividend yields" normalmente sobem nesta época de turbulência do mercado. "Com a crise, aplicadores passam a exigir dividendos proporcionalmente maiores, o que acaba derrubando o valor das ações no curto prazo." O parâmetro é o valor pago pelos títulos públicos sem risco, em 11,75% ao ano. Antes, quando havia perspectiva de queda dos juros, aceitava-se também menores "dividend yields", comenta Boin. Mas, agora, com o juro estável, a situação mudou. "O 'yield' de várias empresas melhorou por conta disso", conta o economista.


O "dividend yield" pode melhorar quando as ações se desvalorizam, porque não há tanta relação, no curto prazo, entre o preço dos papéis e o lucro obtido pelas empresas - que será distribuído a acionistas -, explica Boin. "O valor absoluto pago em dividendos não cai tanto quanto o valor das ações, porque essa crise atual é mais financeira do que real, pelo menos por enquanto", explica ele.


Por esse motivo, as empresas escolhidas pelas corretoras são aquelas menos ligadas ao mercado externo, como as o setor elétrico e de telefonia. "O Brasil não vai ser tão influenciado por essa crise como era antes, por isso, não se espera tanta queda nos lucros pagos", diz Martins, da Planner. "Para quem está de olho em dividendos para o longo prazo, portanto, é interessante investir agora", completa.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page