segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Aprendizes do futuro

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro, de São Paulo
28/01/2008



Num momento de forte turbulência dos mercados, com o Índice Bovespa caindo 10,05% no ano, muita gente se pergunta como proteger suas economias. A resposta pode estar justamente nos contratos futuros ou, no jargão econômico, nos derivativos. Foi o que aprendeu, por exemplo, o gerente financeiro de uma empresa do segmento de limpeza, Luciano Eugênio Silveira, de 38 anos. Em setembro do ano passado, ele resolveu dar seus primeiros passos com derivativos usando o simulador lançado pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) em parceira com o Valor. Com muita dedicação e atenções voltadas a qualquer informação relevante, ele se deu tão bem que foi um dos primeiros colocados no ranking anual da competição lançada pela bolsa para popularizar o simulador.


E para quem acha que derivativos são um assunto muito complicado, que só os especialistas entendem, Silveira, gerente financeiro da empresa da família, faz questão de ressaltar que terminou apenas o primeiro grau. "Meu sonho sempre foi servir o exército e, então, eu parei de estudar", lembra ele. "Depois, quando saí de lá, fui trabalhar e acabei não terminando o segundo grau, mas a competição me reacendeu a vontade de estudar e pretendo voltar neste ano."


Com os contratos futuros, um investidor pode, por exemplo, vender contratos de Ibovespa, caso acredite que o indicador vai cair. Se o aplicador confia na alta do dólar, ele pode comprar contratos futuros de dólar. No mercado de derivativos, é possível limitar as perdas travando um preço para o ativo. "Preciso conhecer esse tipo de operação, já que também sou responsável por fazer os investimentos da empresa", diz Silveira.


Com ganhos de saltar aos olhos - apesar de ilusórios -, na casa dos 850.000% e 840.000% em quatro meses, os três primeiros colocados do ranking anual receberão um notebook, oferecido pelas corretoras parceiras do projeto, cursos online do do Instituto Educacional BM&F e uma assinatura anual do Valor Econômico. Do quarto ao décimo lugares, ganha-se cursos online e assinaturas semestrais do jornal. Qualquer pessoa pode participar da competição, basta cadastrar-se no simulador. Cada um recebe uma quantia fictícia de R$ 150 mil para comprar ou vender contratos. Atualmente, é possível aplicar em minicontratos de Índice Bovespa e dólar. Além disso, pode-se operar contratos padrão de café, boi gordo, milho e soja. No fim do ano, os ganhos foram zerados, dando início a uma nova fase da competição.


Ganhar diante da forte volatilidade, principalmente dos contratos de índice, foi a estratégia adotada por Alvaro de Almeida, de 51 anos, que ficou na primeira colocação. Formado em administração de empresas, ele trabalha desde 1978 no mercado financeiro e hoje atua na tesouraria de um banco com foco em crédito consignado. "Como o índice oscila muito, tentava capturar o 'gap' (diferença) de compra e venda." Como o executivo não trabalha diretamente ligado a derivativos, pôde participar do ranking. Pelas regras, os participantes ligados ao mercado de derivativos não podem concorrer a prêmios, embora possam acessar livremente o sistema. Os usuários do simulador operam o mercado do dia, com cotações reais e dados atualizados, mas com 15 minutos de atraso em relação ao pregão real. O negócio, no entanto, é fechado pelo preço do mercado naquele momento, sem "delay".


Além de operar basicamente índice e dólar, os primeiros colocados têm outro ponto em comum: correram riscos altíssimos. Todos ficaram o tempo todo alavancados, ou seja, aplicaram mais recursos do que têm em carteira. "Às vezes, minhas posições eram tão grandes que eu me sentia um Titanic", brinca Igor Constantino Hidalmasy Kazakos, de 27 anos, no terceiro lugar do ranking anual. "Investi praticamente tudo o que tinha (no simulador) o tempo todo e dificilmente dormia posicionado", conta ele, que chegou a fazer mais de 250 operações num único dia. Apesar de ser estudante de física da Universidade de São Paulo (USP), a grande paixão de Kazakos é mesmo o mercado financeiro, onde pretende atuar como profissional. "Coloquei em prática meus conhecimentos teóricos e, com o simulador, ratifiquei o meu gosto pelo mercado", diz.


Mas não foram somente os melhores desempenhos que foram premiados. Os cinco cadastrados com os maiores ganhos no bimestre novembro-dezembro também receberam prêmios - cada um ganhou um iPod, além de cursos online e assinaturas do Valor. Para este ano, no entanto, houve uma pequena mudança na regra e o ciclo de premiação passou a ser a cada quatro meses, mas o anual foi mantido. "A premiação a cada dois meses se revelou curta demais e, agora, o participante poderá aprender a fazer rolagem (renovação dos contratos)", diz Verdi Rosa Monteiro, diretor de Projetos de Desenvolvimento e Fomento de Mercado da BM&F.


Com quase 15 mil participantes cadastrados no simulador, a bolsa começou a testar neste mês o Simulador BM&F Mobile, uma ferramenta para simular negócios com contratos futuros que pode ser acessada a partir do celular, Palm Top ou outros dispositivos móveis. Com isso, o usuário tem acesso à carteira e pode comprar ou vender contratos utilizando o mesmo usuário e senha cadastrados na versão internet. Todas as operações - tanto pela ferramenta móvel como pelo site - farão parte da carteira do participante no simulador.


O ranking que mostra o desempenho dos participante sofreu mudanças em relação ao ano passado. A colocação de cada um dos cadastrados será revelada somente às sexta-feiras. Antes, a informação era diária. É possível ver somente as posições no ranking, sem o percentual de ganhos teóricos. A idéia é que fazer com que os estudantes não se desestimulem ao conhecer o desempenho do adversário.


Uma novidade que deve chegar aos participantes do simulador em meados de fevereiro é a possibilidade de operar contratos de juros futuros, chamados de DIs, que hoje são os de maior liquidez na BM&F.

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