segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Feitas para durar

Valor Econômico

11/01/2010


 


 

Nelson Niero e Daniele Camba, de São Paulo


 

Elas foram feitas para durar. Veteranas da bolsa de valores, sobreviveram ao confisco do governo Collor, à abertura de mercado, às crises do México, da Ásia e da Rússia e chegaram ao fim dos anos 2000 com uma valorização mais que robusta.


 

Uma carteira com os papéis de empresas como Gerdau, Itaú Unibanco, Vale e Petrobras trazida desde os turbulentos anos 90 até agora seria hoje uma garantia de aposentadoria milionária. Mas talvez nem o investidor mais ousado imaginaria que no topo da lista estariam empresas completamente fora do radar.


 

A produtora de chapas de aço de Gravataí (RS), Panatlântica, e a fabricante de peças para máquinas agrícolas, Metalúrgica Timboense, de Timbó (SC), valorizaram 148.355% e 49.791% no período, em valores corrigidos pela inflação, números espantosos para qualquer investimento. São papéis de pouca liquidez, algo que afugenta muitos gestores de carteiras, mas não se trata dos famosos "micos", empresas quebradas que continuam subindo e descendo desenfreadamente na bolsa. As duas têm uma história consistente de receita e lucro crescentes, o que é garantia de pagamento de dividendos todo fim de período.


 

No entanto, mesmo a valorização acima de 40.000% para uma "blue chip" como a siderúrgica Gerdau é sem parâmetros -o Índice Bovespa subiu 5.097% no mesmo período. Nos Estados Unidos, ressalvando-se que se trata de um mercado muito mais maduro, a campeã é a Dell, com 1.490%. Entre as empresas da América Latina, com base nos dados da consultoria Economática, não há nada que se compare com a valorização das companhias brasileiras.


 

As duas últimas décadas contam a história do renascimento do mercado de capitais brasileiro, um mercado muito mais consistente do que a desastrada experiência na época do "milagre econômico", nos anos 70. A retomada das aberturas de capital a partir de 2004 provavelmente não seria possível sem a estabilização da economia na década anterior, que livrou a gestão das empresas das garras da inflação.


 

Será difícil uma repetição de saltos como esses nos preços das ações nos próximos anos. É como se tivesse havido uma apreciação acelerada nas duas últimas décadas para trazê-las ao patamar de seus pares do mundo desenvolvido. Criar valor agora passa a ser uma questão mais milimétrica.


 

O processo de crescimento econômico brasileiro nos últimos anos, aliado a uma boa gestão, explica o desempenho de boa parte das vencedoras ao longo destas últimas duas décadas, acredita o diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino. "As histórias individuais das companhias são sempre importantes, mas certos eventos macroeconômicos são determinantes para o futuro delas", afirma.


 

É o caso de gigantes como Petrobras e Vale, que fazem parte do ranking das mais valorizadas. As ações da Petrobras despontaram principalmente após 1999, quando os combustíveis passaram a ser reajustados, para que a tradicional conta-petróleo pudesse contar positivamente no superávit primário de 3,25% que o Brasil tinha se comprometido em fazer junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Só para se ter ideia do impacto de tal medida para a Petrobras, suas ações ordinárias (ON, com voto) subiram 411,5% em 1999, corrigido pela inflação. "É inegável que a gestão da companhia melhorou ao longo dos anos, mas a medida macroeconômica na conta-petróleo foi mais importante do que qualquer governança", explica.


 

Para a Vale, o crescimento da China e, consequentemente, o expressivo aumento do minério de ferro foram decisivos para a valorização dos papéis, principalmente a partir de 2000. O preço do minério subiu de US$ 20 por tonelada para US$ 80 em alguns anos. No caso da mineradora, a privatização em 1997 foi um divisor de águas na gestão.


 

Existem também exemplos de boa gestão na veia. Gerdau é um deles. Simino lembra da época em que era analista e no banco em que trabalhava costumava-se dar três notas para as empresas: no aspecto financeiro, no operacional e no comercial. "Era muito difícil encontrar uma companhia que tivesse nota boa nas três áreas, e a Gerdau conseguia."


 

No grupo das perdedoras existe um denominador comum: a abertura comercial no início da década de 90, que dizimou o setor têxtil, por exemplo. Não é à toa que Teka, Tecelagem São José, Botucatu Têxtil, Schlosser e Tecelagem Blumenau estão entre as maiores desvalorizações. A abertura comercial também prejudicou o setor de autopeças.


 

A pergunta que todo investidor deve estar se fazendo agora é quais serão as ganhadoras dos próximos 20 anos. Simino acredita que nomes como Petrobras, Vale, Gerdau e Itaú Unibanco continuarão na lista. Já entre as debutantes, ele arrisca que estejam empresas do setor imobiliário, cujo crescimento parece estar apenas no começo.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page