quarta-feira, 12 de março de 2008

Previdência em alerta

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
12/03/2008


Os investidores da previdência privada têm migrado com persistência para os planos mistos, com parte em ações, mesmo após as reviravoltas do mercado iniciadas em agosto do ano passado. Essa tendência, porém, arrefeceu em fevereiro, após a queda forte de 6,88% do Índice Bovespa (Ibovespa) em janeiro. No mês passado, a captação dos PGBLs e VGBLs com renda variável caiu para R$ 600 milhões, a metade do que foi no primeiro mês do ano. Os planos puros de renda fixa voltaram a ter captação, mas com apenas R$ 6 milhões.


Embora os participantes continuem a apostar na bolsa para o longo prazo, porém, o episódio recente de volatilidade das ações serve para aplicadores ficarem alertas às diferenças de estilo de gestão desses planos, que vão além dos nomes de balanceados, multimercados ou compostos. Há planos cuja estratégia é fixa, com determinado percentual em ações e pouca flexibilidade nesse sentido, e outros em que a aplicação em renda variável pode ficar ao gosto do gestor, oscilando dentro de uma banda, comenta Renato Russo, diretor da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) e vice-presidente da SulAmérica.


Dependendo do objetivo de cada fundo e da conjuntura do mercado, é compreensível que determinado gestor queira às vezes reduzir o que investe em bolsa, comenta Marcelo Rudge Ribeiro, responsável pela área de previdência da Quórum Seguros. "Na dúvida, ele pode ficar mais conservador e evitar perdas esporádicas."


Por esse motivo, pôde-se verificar que, em fevereiro, apesar de os planos com ações terem captado mais, as carteiras em que PGBL e VGBL aplicam reduziram sua exposição em bolsa. Saíram dos fundos de ações especialmente destinados aos planos de previdência R$ 116 milhões em fevereiro, segundo dados do site financeiro Fortuna. Parte desse resgate se deve à realocação dos planos fixos, que tiveram de reduzir a parcela em bolsa após a subida de 6,72% do Ibovespa em fevereiro justamente para respeitar os limites de alocação. A outra parte, porém, fica por conta de gestores que resolveram ficar mais conservadores neste vaivém do mercado.


Esse foi o caso da Caixa. Segundo Juvêncio Braga, diretor de Vida e Previdência da instituição federal, em momentos de muita volatilidade, como o atual, os planos podem ficar menos expostos em bolsa. Os planos mistos da Caixa são distribuídos como carteiras com alocação até 15%, 30% e 49% em bolsa, mas não é nesse limite que mantêm o tempo todo, explica Braga. Procura-se, porém, respeitar sempre o piso de metade da alocação indicada, diz ele.


Para o aplicador, é fácil descobrir se o plano que investe o tempo todo em percentual fixo em ações ou varia. No prospecto do PGBL ou do VGBL há a indicação se a exposição é de determinada parcela ou até determinado percentual. Se houve a palavra "até", significa que a fatia pode ser menor em determinados momentos. Há também os gestores que indicam uma banda. O Flexprev V40, do Itaú, por exemplo, aplica de 30% a 49% em renda variável.


Para o investidor, a possibilidade de se mexer no nível de alocação em bolsa é uma variável a mais para ser observada quando se escolher um plano composto, diz Marcelo D'Agosto, do Fortuna. A priori, não há estratégia melhor ou pior, diz Russo, da Fenaprevi. "Mas cabe ao aplicador entender as diferenças dos estilos", completa.


O investidor que optar pela parcela variável em bolsa deposita uma dose a mais de confiança na habilidade do gestor em fazer essas escolhas, diz Ribeiro, da Quórum. No longo prazo - característica natural dos planos de previdência -, essa atuação do gestor pode fazer bastante diferença em relação a um plano que tenha percentual fixo em determinado índice de bolsa. No entanto, alguns consultores defendem que os índices tendem a ter desempenho melhor ao longo do tempo do que a maioria dos gestores que tentam selecionar os melhores papéis. "Acertar o momento certo de entrar e sair é difícil", diz Ribeiro.


Em fevereiro, por exemplo, o gestor que reduziu posições dos planos de previdência em renda variável pode ter perdido parte da recuperação da bolsa, que praticamente zerou as perdas apresentadas em janeiro.


Executivos do mercado lembram, ainda, que a alocação natural dos planos de previdência já é reduzida. A Superintendência de Seguros Privados (Susep) limita a 49% a exposição dos gestores dos PGBL e VGBL em bolsa. Ribeiro, que prefere os fundos com percentual fixo em ações do que variável, lembra ainda que, em geral, os investidores têm parte das aplicações apenas em previdência privada, o que significa que a tolerância a riscos pode ser maior. Segundo o Fortuna, em média, os planos compostos aplicam apenas 25% da carteira total em ações, ou seja, a metade do possível dentro do limite.


A noção de risco já parece bastante difundida entre os participantes, ao menos se comparada há um ano. Segundo o Fortuna, apesar dos resgates nos fundos de ações pelos planos de previdência em fevereiro, a participação da renda variável na carteira dos PGBL e VGBL mais que dobrou em pouco mais de dois anos: subiu de 6% em dezembro de 2005 para 12,5% em fevereiro.


Grande parte desse movimento, segundo o Fortuna, se deve ao recente bom desempenho das ações e, por conseqüência, dos planos com bolsa. De janeiro de 2006 até fevereiro deste ano, os planos puros de renda fixa tiveram uma rentabilidade média de 25,3%, segundo o Fortuna, enquanto os planos com ações avançaram 38,4%. Se considerada a variação ao ano, os planos com ações superaram o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) em 2,6%, enquanto os renda fixa ficaram 2% abaixo.


Os números de retorno dos planos acima, porém, devem ser analisados com cuidado pelo aplicador. O participante não deve ficar avaliando o retorno do PGBL ou VGBL mês a mês, diz Ribeiro. Com essa noção, muitos continuaram a aplicar em planos com ações, mesmo com a instabilidade recente da bolsa. No entanto, o investidor também deve ter noção de que o retorno das ações nos últimos anos pode não continuar nos próximos. Mais do que em outras aplicações, em previdência o investidor deve ter noção de que ganho passado não é garantia de lucro futuro. Ainda mais se esse futuro se referir a décadas

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