terça-feira, 11 de março de 2008

Mesada ajuda na orientação

Jornal da Tarde
11/03/2008

Valor depende da idade, e criança que recebe o dinheiro deve assumir responsabilidades


Pagar uma mesada ao filho é o mais indicado? E quanto ele deve receber, considerando a idade? Essas dúvidas são bastante comuns entre os pais, que nem sempre conseguem tomar a decisão mais equilibrada.

O consultor financeiro Álvaro Modernell explica que a partir dos três anos a criança já pode receber algumas moedas para comprar pequenas coisas, como balas ou figurinhas. Segundo ele, os valores são baixos e a regularidade não é importante. 'Mas a criança deve ser incentivada a comprar por conta própria, a ir até o caixa da loja para pagar a bala', diz.

Ações simples como essa favorecem a autonomia da criança, que passa a entender o valor dos produtos: para comprar uma bala, é preciso ter dinheiro.

Após os cinco anos, ela já está pronta para receber a primeira semanada. Como a criança ainda entende o mês como um período muito longo, os pagamentos semanais são mais indicados.

O valor, no entanto, depende de critérios subjetivos. Sílvia Lambert, diretora do The Money Camp, curso de educação financeira para crianças e adolescentes, diz que a semanada precisa caber no bolso da família. 'Alguns consultores indicam o valor de R$ 1 para cada ano de vida da criança, mas não concordo com o cálculo. Acho que o valor deve ser conversado.'

A família deve estimar algumas despesas da criança - com figurinhas, balas, sorvetes e gibis, por exemplo - e buscar um valor que seja razoável.

O pagamento da semanada, segundo o consultor Paulo Adriano Freitas Borges, leva à transferência de algumas responsabilidades para o filho. Se o dinheiro da criança serve para comprar gibis, os pais não devem pagar essa despesa por ela. 'Quando os pais começam a dar a semanada, a tendência é que ela acabe antes', diz Borges. 'Mas eles não podem cair na tentação de dar mais dinheiro.'

Com o tempo, o filho passa a organizar melhor seus gastos e a priorizar despesas. Nesta etapa, mais importante que o valor é a regularidade. Se os pais se comprometem a dar aos filhos um valor fixo, todos os sábados, o compromisso deve ser cumprido. 'Não pode haver 'inadimplência'', afirma Modernell. 'Ou a criança vai crescer achando que pode atrasar pagamentos', completa Borges.

Tempo ampliado

Na medida em que vai crescendo, a criança amplia sua percepção do tempo. A semanada pode se transformar em quinzenada e em mesada - o que geralmente ocorre perto dos 12 anos. Os valores, mais uma vez, são calculados conforme as despesas da criança e são acompanhados da transferência de responsabilidades.

Os pais também devem incentivar os filhos a poupar, todos os meses, uma parcela dos ganhos. Borges defende que 30% dos ganhos sejam colocados em um cofrinho ou na poupança. O valor da mesada pode até ser maior, para que a criança tenha folga no orçamento para guardar dinheiro.

A funcionária pública Patrícia Paiva, de 36 anos, paga mesada de R$ 10 para a filha Gabriela, de 7 anos. 'Faço o pagamento, inclusive com recibo preenchido por ela', diverte-se a mãe.

Gabriela recebe ainda uma mesada do pai e costuma colocar uma parcela dos ganhos em um cofrinho. 'Ela até economizou para comprar um aparelho de celular', conta Patrícia.

Aluna da escola Castello Branco, que oferece aulas em parceria com o curso The Money Camp, Gabriela já faz algumas compras por conta própria. 'Ela vai até o caixa da loja, paga e se sente orgulhosa com isso', completa a mãe.

No longo prazo, o jovem adquire conhecimentos matemáticos mais complexos e passa a entender melhor a influência de juros e de prazos de pagamento sobre as finanças. Resta aos pais a função de incentivar a busca de conhecimento e orientar os filhos.


VALORES PAGOS

Aos três anos, a criança já pode receber algumas moedas e ser incentivada a colocá-las no cofrinho. Compras pequenas são feitas, mas a maior parte das despesas ainda são pagas pelos pais

Após os cinco anos, os pais podem adotar a semanada. O valor vai depender das despesas que serão transferidas para a criança. Se ela compra balas e gibis, por exemplo, a semanada vai cobrir essas despesas. É aconselhável deixar uma folga no orçamento, para que ela possa poupar uma parcela todas as semanas

A poupança, porém, precisa ter um objetivo. A criança que deseja comprar brinquedos mais caros deve ser incentivada a guardar dinheiro para isso. Com o tempo, cria-se o hábito

Quando a noção de tempo se amplia, a criança pode passar a receber uma mesada. Nessa
fase, ela controla melhor os gastos e consegue guardar dinheiro até o fim do mês.
Geralmente, isso ocorre na pré-adolescência, por volta dos 12 anos

Os pais não podem atrasar o pagamento. Se o dia combinado é o sábado, a criança deve
receber o que foi acertado. Assim, ela começará a entender a dinâmica dos pagamentos e, mais importante ainda, terá um bom exemplo. A mensagem transmitida é a de que as contas devem ser pagas em dia

Quando a criança gasta toda a mesada, os pais não devem dar mais dinheiro. É uma questão de educação. O filho precisa ser levado a equilibrar seus gastos e a fazer escolhas. Quem gasta tudo hoje, fica sem nada amanhã

O filho também precisa entender que nem todos os produtos são acessíveis. Os mais caros só podem ser comprados com o tempo, por meio de uma poupança regular. Essa noção surge na infância

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page