terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Cresce dispersão entre os retornos de renda fixa e DI

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
08/01/2008


Em uma economia mais estável, com juros menores, o retorno da renda fixa varia mais. Essa é a conclusão a que se chega ao avaliar o retorno dos fundos de renda fixa e DI mais populares do mercado. Segundo o site Fortuna, essas carteiras tiveram retorno bastante disperso. No ano passado, o retorno dos fundos de renda fixa variou entre 6,94% e 12,18%. Os fundos DI ganharam entre 6,45% e 11,78%. Isso significa que alguns cotistas tiveram praticamente a metade do rendimento de outros na mesma categoria de fundos. Muitos lucraram até menos do que o ganho de 7,70% da caderneta de poupança - que, diferentemente dos fundos, é isenta de imposto de renda. A maior distância entre os melhores e os piores fundos ocorreu no ano em que o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) ficou em apenas 11,81%, o menor retorno do Plano Real.


Quanto menor o CDI, maior é o impacto da taxa de administração nos fundos. Essa é a primeira explicação para a grande dispersão. Além disso, conforme cai o juro corrente, também aumenta a tendência de os fundos correrem mais riscos, com mais papéis privados, de longo prazo, prefixados ou em títulos que rendem segundo índices de inflação. Dessa forma, também as carteiras passam a render de maneira mais distinta do que quando quase todas aplicavam apenas em títulos públicos de curto prazo, como era há poucos anos.


O impacto da taxa de administração aumenta porque elas não variam conforme o retorno dos fundos. Considere duas carteiras que renderam conforme o CDI em 2003, por exemplo (quando o índice variou 23,26%). A primeira, com taxa de administração de 0,5% ao ano, teria apresentado retorno de 22,64% (ou 97% do CDI) e a segunda, com taxa de 4% ao ano, teria valorizado 18,33% (ou 79% do CDI). No mesmo exemplo em 2007, quando o CDI subiu 11,81%, o primeiro fundo, com taxa de 0,5%, teria rendido 11,25%, ou 95% do CDI, e o segundo, com taxa de 4%, teria avançado apenas 7,34%, ou 62% da variação do CDI.


Todos os fundos perdem mais com um juro menor em relação ao CDI, se mantida estável a taxa de administração. Mas os fundos com taxas altas têm recuo ainda mais severo no ganho, por isso a distância maior entre os lucros.


O rendimento dos fundos de renda fixa ficou mais diferenciado também pela mudança de perfil de risco dos gestores, além do peso dos custos. Há alguns anos, os juros altos não exigiam dos gestores grandes esforços para obter bom retorno, mas isso mudou. Em 2007, cresceram as aplicações em taxas prefixadas, títulos de inflação e papéis privados, o que acabou se refletindo no desempenho dos gestores, diz Marcelo de Jesus, gerente operacional de fundos de renda fixa da Caixa Econômica Federal. "Para lucrar mais, os aplicadores tiveram de elevar o risco de mercado", acrescenta.


Também os aplicadores optaram por esse caminho. Em 2007, os fundos com médio e alto riscos - que aplicam em papéis privados e apostam na variação futura dos juros - foram os que mais captaram, com R$ 3,5 bilhões, segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid). Já os fundos regulares perderam R$ 11,6 bilhões.


Segundo dados do Fortuna, no ano passado, o retorno médio de todos os fundos de renda fixa foi de 11,46% e o dos DIs, de 11,22%. Só que essas médias incluem fundos exclusivos e private, com taxas de administração muito inferiores às dos fundos de varejo.


Por essa distorção, Paulo Certain, responsável pela área de gestão de renda fixa da Unibanco Asset Management (UAM), diz que a habilidade dos gestores das categorias deve ser sempre avaliada pela comparação de carteiras de mesma taxa de administração.


No caso dos fundos DI, em que os gestores têm menos espaço para grandes peripécias, a taxa de administração é praticamente o único fator a pesar no retorno dos fundos, observa Ricardo Leal, professor de Finanças do Instituto Coppead/UFRJ. Embora essas carteiras comportem papéis privados, ainda é pequeno o espaço, no Brasil, para se obter retorno extraordinariamente maior com risco privado, porque o juro básico, apesar de menor, ainda é elevado para as empresas. "Na categoria renda fixa, há outros elementos, porque o gestor tem um pouco mais de liberdade para escolher os títulos prefixados ou de inflação, por exemplo."


Leal, do Coppead, diz que o investidor tem de olhar para as taxas de administração dos fundos de investimento como quem compara preços de bens de alto valor em diferentes lojas. É o principal fator para o desempenho dos fundos mais conservadores, ratifica ele. "Tem quem aplique R$ 10 mil em um fundo que aceita depósitos a partir de R$ 100, mas poderia pagar taxas menores em outra carteira , dentro da mesma instituição."


O site Fortuna prevê em seu relatório semanal que, para 2008, dado o cenário esperado de uma maior volatilidade do mercado, é provável que os fundos continuem apresentando uma significativa dispersão de rentabilidades. Vale lembrar que, diferentemente do ano passado, este começa sem consenso do mercado quanto ao rumo da taxa de juros até o fim do ano. Portanto, se os gestores dos fundos de renda fixa elevarem suas apostas em prefixados, opção de maior risco, as variações entre os retornos das carteiras poderá ser ainda maior em 2008.


Se os juros voltarem a cair e as taxas de administração antigas permanecerem, também a dispersão entre os retornos tenderá a aumentar, como ocorreu entre os anos anteriores e o último.


Nos primeiros dois dias do ano, boa parte dos recursos que deixaram os fundos nos últimos dias de 2007 regressou. Até o dia 3, segundo o Fortuna, o setor captou R$ 9,6 bilhões e bateu a barreira de R$ 1,2 trilhão de patrimônio.

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