segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Renda fixa é a maior aposta estrangeira

Valor Econômico
Fabio Graner
O Estado de S. Paulo
12/11/2007

Expectativa de melhora na classificação de risco do País já provoca corrida por compra de títulos públicos

Apesar de o ano de 2007 registrar uma sucessão de recordes de pontuação do Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), exibindo um apetite considerável dos investidores nacionais e estrangeiros pelas ações brasileiras, os números revelam que os estrangeiros preferiram, pelo menos até agora, investir em títulos de renda fixa. Dados do Banco Central (BC) mostram que, de janeiro a setembro, o investimento líquido dos estrangeiros em ações somou US$ 14,7 bilhões. Já os investimentos em títulos de renda fixa chegaram a US$ 21,1 bilhões. Nos mesmos nove meses do ano passado, a relação foi inversa: as ações tiveram a preferência, com ingresso líquido de US$ 4,7 bilhões, enquanto a renda fixa ficou com US$ 1,3 bilhão.

Somados, os investimentos em carteira no ano acumulam ingressos líquidos de US$ 35,467 bilhões, volume maior do que os US$ 28 bilhões que entraram no País para a produção, o Investimento Estrangeiro Direto (IED). As compras líquidas de ações e títulos de renda fixa superam, inclusive, a previsão de ingressos de IED para o ano, que é de US$ 32 bilhões, o que implicaria uma elevação de 70% em relação a 2006. Os investimentos em carteira, na comparação com janeiro a setembro de 2006, quando somaram US$ 1,7 bilhão, cresceram cerca de 21 vezes.

A DIFERENÇA

Em termos de entradas de recursos, os volumes para renda fixa e ações são semelhantes, na casa de US$ 69 bilhões em cada um deles. A diferença está na manutenção do investimento. Enquanto as saídas dos estrangeiros posicionados em ações somaram US$ 54,5 bilhões, as da renda fixa ficaram em US$ 48,6 bilhões, o que pode indicar um impacto maior da crise externa no mercado acionário, que, por natureza, é mais volátil que a renda fixa.

Na estatística do BC, não são consideradas operações internas de investidores estrangeiros, ou seja, casos em que o investidor comprou um título direto lá de fora e, depois, dentro do Brasil, trocou de investimento, comprando ações.

Para o economista-chefe da GAP Asset Management, Alexandre Maia, há uma combinação de fatores que podem explicar o fenômeno dos investimentos em renda fixa superarem as ações.

Além do benefício fiscal aos estrangeiros em títulos públicos, concedido ainda no primeiro semestre de 2006, e das taxas de juros no Brasil ainda estarem acima da média de outros emergentes, Maia destaca que a sinalização cada vez mais clara de que o País caminha para atingir o grau de investimento atraiu para a renda fixa muitos investidores institucionais de longo prazo.

"Os investidores estão percebendo que o investment grade está vindo rapidamente", afirmou Maia. "Esses investidores institucionais, que trabalham com outro horizonte de investimento, apostam no carregamento de papéis do Brasil por mais tempo."

Maia adiciona a esses fatores a situação de estabilidade econômica e política e o crescimento econômico mais sólido. Ele destacou o fato de que o apetite maior do estrangeiro pela renda fixa começou por volta de março deste ano. Segundo Maia, naquele mês os investimentos em títulos de curto, médio e longo prazos atingiram US$ 4,1 bilhões no acumulado em 12 meses, ante US$ 1,3 bilhão no final de 2006. Nos 12 meses encerrados em setembro, esses investimentos atingiram US$ 25,45 bilhões.

"PARAÍSO TROPICAL"

O economista da GAP minimiza o fato de os investimentos em carteira superarem o IED. Para ele, os dois são muito bem-vindos. "O fato é que o Brasil está se firmando como um pólo de atração de investimentos, em seu significado mais amplo".

Para o professor da PUC-SP, especialista em setor externo, Antônio Corrêa de Lacerda, o que está por trás do melhor desempenho da renda fixa é a combinação de política monetária e cambial, com juros altos e câmbio em trajetória de valorização. "Isso favorece muito a arbitragem e explica o interesse do investidor estrangeiro em renda fixa. É o que chamo de paraíso tropical". Ele destacou também o efeito da isenção de IR para investidores em títulos públicos e a proximidade do grau de investimento.

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