terça-feira, 13 de novembro de 2007

Grande prêmio da renda fixa

Valor Econômico
Por Catherine Vieira e Danilo Fariello, do Rio e de São Paulo
13/11/2007



A freada nos cortes da taxa Selic no mês passado elevou os juros pagos em papéis prefixados e títulos atrelados à variação de índices de inflação. Para quem está em busca de um investimento pouco arriscado e rentável no longo prazo, especialistas dizem que papéis como a Letra do Tesouro Nacional (LTN, que paga juro prefixado), Nota do Tesouro Nacional da série B (NTN-B, que oferece rendimento segundo o IPCA mais uma prêmio de juro) e da série F (NTN-F, que também garante retorno prefixado, mas com pagamentos periódicos) voltaram a ser boa alternativa, assim como os fundos de investimentos prefixados ou ativos, que aplicam nesses papéis.


Nas últimas semanas, os títulos prefixados de cerca de dois anos apresentavam taxas acima do juro corrente, de 11,25% ao ano - encostando até em 12% ao ano -, e os papéis ligados à inflação agora oferecem retornos acima de 7% ao ano. Contudo, "é indiscutível que a trajetória da taxa de juros no Brasil em prazos mais longos ainda seja de queda", avalia Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica. A idéia é de que, no longo prazo, a Selic volte a cair, mas o aplicador que entrar agora nesses títulos garantiria esse lucro polpudo. Os riscos da opção, porém, são o juro permanecer elevado por muito tempo ou até subir e daí, os aplicadores teriam um rendimento abaixo do corrente.


Para o economista da Gap Asset Management, Alexandre Maia, quem pensa em resgatar os investimentos num prazo de seis meses ou até um pouco mais, deve tomar cuidado. "É preciso ter claro que neste momento temos uma dicotomia com relação aos horizontes de investimento", diz. "Para aqueles que olham o longo prazo, as perspectivas são interessantes, mas no curto e médio prazos podemos ainda ter alguns percalços e esse prêmio que existe hoje poderia subir mais." Quem investiu nesses papéis em setembro, por exemplo, e quiser resgatá-los agora, teria prejuízo com a aplicação, com o aumento recente das taxas.


Sofreram nesse período principalmente os papéis com vencimento mais longos. A NTN-B com vencimento em 2024, por exemplo, tem prejuízo de 3,68% nos últimos 30 dias, até ontem. No entanto, esses títulos rendem 19,37% no ano. Quanto mais longo o vencimento dos papéis, mais eles sofrem oscilações com as intempéries do mercado.


A variação dos prefixados e de inflação tem sido mais alta do que o usual, por isso os riscos do curto prazo. "O mercado veio de um exagero de otimismo, antes da interrupção dos cortes pelo Banco Central, para um pessimismo talvez exagerado também agora", diz Guilherme Abbud, superintendente de renda fixa e multimercados da Votorantim Asset Management. Esse pessimismo, segundo ele, é que elevou a taxas dos papéis prefixados e de inflação. "É preciso ter paciência e tolerância com essas mudanças de curto prazo", diz.


Para Maia, da GAP, a oportunidade é interessante para quem quer se posicionar por muito tempo nos títulos prefixados ou nas NTN-Bs. Isso porque a tendência para o futuro é de que o juro seja menor e que o apetite por títulos brasileiros aumente, também em função da expectativa do grau de investimento em 2008 ou 2009. Nos próximos meses, uma certa indefinição ainda pode pairar, ressalva. "Nesse cenário, para aqueles que vão resgatar entre seis meses e um ano pode não ser o melhor momento para comprar prefixados", afirma Maia. "A retomada dos cortes de juros ainda está um pouco incerta."


Já Sérgio Goldenstein, estrategista da Arx Capital, é mais otimista e acredita que os prêmios embutidos nos títulos estão interessantes. "Nossa perspectiva é de que a redução da Selic possa ser retomada a partir de março, não vemos pressões de inflação que justifiquem o contrário", analisa. Pelas projeções do economista, que já foi chefe de mercado aberto do Banco Central, a inflação em 2008 pode ficar em cerca de 3,7%. Para ele, o prêmio mais atrativo está nos papéis, como as NTN-Bs, no meio da curva de vencimentos, ou seja, nem muito curtos e nem longuíssimos. "Esses títulos são mais interessantes para os investidores que puderem manter os papéis até o vencimento", pondera ele. A NTN-B teria ainda uma proteção a mais contra eventual alta do dólar no longo prazo, caso o IPCA refletisse as conseqüências dessa variação.


Os investidor pode encontrar esses títulos também em fundos de investimento prefixados, mas Abbud lembra que as diferenças entre as carteiras dos fundos são muitas e o investidor deve estar atento para o grau de exposição do gestor a prefixados e para o prazo médio dos títulos. "Ele poderá fazer a aposta certa, mas não levar o rendimento todo, se o gestor for mais conservador do que pensou."

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