segunda-feira, 12 de novembro de 2007

BM&F replica em seu IPO o filtro antiespeculadores

Valor Econômico
Por Adriana Cotias
12/11/2007


O controverso filtro inaugurado na oferta pública inicial (IPO, em inglês) da Bovespa Holding para barrar especuladores de primeira hora será replicado na venda de ações da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). A operação pode beirar os R$ 5 bilhões (com o lote extra), gigantismo similar ao observado no IPO da Bovespa, que movimentou R$ 6,625 bilhões. As reservas começam no dia 19 e se estendem até o dia 27.


A oferta consistirá na venda de 260,161 milhões de ações ordinárias (ON, com voto), avaliadas entre R$ 14,50 e R$ 16,50. De 10% a 20% dos papéis serão direcionados ao público de varejo, para encomendas entre R$ 5 mil e R$ 300 mil. No ato da reserva, o investidor terá de se classificar como "com" ou "sem prioridade de alocação". Ao se identificar como preferencial, o candidato a minoritário da bolsa de futuros autoriza a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) a investigar o seu comportamento de manutenção dos ativos nas últimas quatro ofertas públicas de ações ou certificados de ações, o que significa, em tese, avaliar os IPOs da Laep Investments, Amil Participações, Helbor e o da própria Bovespa HLD.





Nessa peneira, vai passar o aplicador que manteve saldo de 80% das ações adquiridas em, pelo menos, três das quatro ofertas consideradas após o primeiro dia de negociação na bolsa. Quem não se classificar como prioritário, cairá automaticamente no limbo dos não-preferenciais e, na hora do rateio, pode ficar sem nada, como ocorreu na oferta da Bovespa HLD. O mecanismo da CBLC foi criado para dar a opção aos emissores e coordenadores das ofertas de privilegiar os investidores de varejo com perfil de longo prazo e coibir a atuação dos "flippers", que vendem os papéis das novatas logo no primeiro pregão.


Só que, com a alta de mais de 50% das ações da Bovespa HLD na estréia, em 26 de outubro, muitos investidores que nunca haviam participado de ofertas públicas acabaram se rendendo ao apelo do lucro rápido, se desfazendo dos papéis. Isso não quer dizer que eles não sejam elegíveis, agora, ao IPO da BM&F, pois isso dependerá do comportamento em outras três ofertas. Se não participou de nenhuma outra, o aplicador pode ainda ser considerado preferencial e levar até R$ 20 mil. O não-prioritário ficará, no máximo, com R$ 5 mil no caso de rateio.


No mercado, chegou-se a comentar que o filtro utilizado na oferta da Bovespa HLD não teria funcionado e que os "flippers" conseguiram passar. Só que a maioria das ofertas consideradas para a avaliação do filtro na ocasião veio a mercado no meio do burburinho da crise das hipotecas americanas de alto risco, com o varejo mostrando pouco apetite para participar, o que, de cara, inibiu a atuação dos "flippers". As operações avaliadas foram as da General Shopping, que contou com menos de 5 mil investidores pessoas físicas; Cosan Limited, com 1,6 mil CPFs, Satipel Industrial, com 6,8 mil participantes, além da SulAmérica, um pouco mais disputada, com cada aplicador levando, no máximo, 222 ações.


Quaisquer desses números destoam dos resultados do IPO da Bovespa HLD, que atraiu 63.929 CPFs, a maior participação do varejo num IPO no Brasil. Cada aplicador levou para casa 526 ações, o equivalente a R$ 12,1 mil. Apesar da dispersão, o varejo ficou com menos de 10% das ações vendidas, com um total de R$ 556,5 milhões. Como a demanda superou em 20 vezes a oferta, os investidores classificados como "sem prioridade" foram excluídos da operação. Já os estrangeiros abocanharam 78% das ações.


A oferta da BM&F tem ingredientes para repetir, em alguma medida, o sucesso do IPO Bovespa HLD, embora a expansão da bolsa de futuros no mercado local seja considerada mais limitada, pela natureza do negócio. Com o foco em derivativos, a BM&F atua num nicho em que há forte concorrência das bolsas estrangeiras. Em contrapartida, a listagem no pregão facilitaria uma eventual consolidação, pois a moeda de troca passa a ser ações. No mês passado, o CME Group, de Chicago, que controla a maior bolsa de derivativos do mundo, comprou 10% da BM&F por R$ 1,3 bilhão. Antes disso, a bolsa já havia vendido 10% do seu capital para o fundo americano General Atlantic Private Equity, por R$ 1 bilhão.


Com o IPO, a BM&F vai colocar até 33,2% do seu capital em circulação no mercado. A exemplo da oferta da Bovespa HLD, todo o dinheiro levantado vai para o bolso dos acionistas vendedores, as corretoras e pessoas físicas detentoras dos títulos patrimoniais, que foram convertidos em ações no processo de desmutualização. As corretoras manterão uma participação de cerca de 65% no negócio.


Entre os riscos descritos no prospecto, a BM&F cita a falta de experiência em atuar com fins lucrativos. Além disso, adverte que podem surgir eventuais contingências fiscais, já que a Receita Federal questionou numa solução de consulta se a legislação brasileira permitiria a transferência do patrimônio de uma associação sem fins lucrativos para uma sociedade com finalidade de lucros, colocando em xeque o processo de desmutualização das bolsas.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page