quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O futuro ao alcance de todos

Valor Econômico
Por Adriana Cotias, de São Paulo
29/11/2007


Não podia ser diferente. Depois de ter a sua banda de preços elevada em mais de 20%, as ações da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) saíram no novo teto, a R$ 20,00. Após a colocação dos lotes excedentes, a operação movimentará R$ 5,984 bilhões. Será a segunda maior captação em ofertas iniciais (IPO) do mercado brasileiro, só perdendo para o lançamento da Bovespa Holding, que movimentou R$ 6,625 bilhões e atraiu quase 64 mil investidores pessoas físicas. A demanda teria repetido o sucesso da bolsa pioneira e superado em dez vezes a oferta.


Do bolo todo, para o varejo deve sobrar pouco mais de R$ 500 milhões. Com a procura insana das pessoas físicas após a escalada de Bovespa HLD na estréia em 26 de outubro - alta de 52% -, o rateio foi apertado. As condições serão divulgadas hoje, mas no mercado falava-se numa divisão entre R$ 3 mil e R$ 8 mil por CPF. A exemplo do que ocorreu com a Bovespa, os investidores classificados como não-prioritários vão sair de mãos abanando. Quem participou dos IPOs da própria Bovespa, Helbor, Amil e Laep e ficou com saldo de menos de 80% de ações em duas ou mais operações no dia seguinte da estréia é que caiu na malha fina.


Desde o início do prazo de reservas, no dia 19, o ritmo de abertura de contas pelas corretoras foi intenso. Mesmo as pequenas chegaram a cadastrar mais de 300 CPFs por dia. Para não ficar com um lote pequeno, foi prática entre os investidores encomendar lotes de ações em até dez CPFs diferentes. Houve também quem recorresse a empréstimos das corretoras para abocanhar uma fatia maior e tentar vendê-las com lucro logo no primeiro dia, o chamado "flipping".


Sobrou, entretanto, frustração para quem reservou os papéis por meio do Banco do Brasil. Sem corretora própria, a instituição não permitirá que os investidores de varejo negociem os papéis na data da estréia, na sexta-feira, e somente quando as ações estiverem na custódia, após a liquidação no dia 4. Apenas os clientes dos segmentos Estilo (alta renda) e private poderão se desfazer dos papéis no dia. As corretoras, em geral, pedem depósitos de garantias e liberam a negociação sob a forma de crédito para seus clientes.


Na operação da BM&F foram colocadas à venda, inicialmente, 260,160 milhões de ações ordinárias (ON, com direito a voto), avaliadas num intervalo de R$ 14,50 a R$ 16,50, elevado na segunda-feira para uma faixa entre R$ 18,00 e R$ 20,00. Ao sair no teto, a quarta maior bolsa de futuros do mundo vai chegar ao pregão com um valor de mercado de R$ 18,037 bilhões. Sem considerar nenhuma projeção de crescimento a longo prazo, é um preço equivalente a 60 vezes o lucro previsto para este ano, na casa dos R$ 300 milhões e superior à relação atual da Bovespa HLD, em 43,8 vezes, ou da própria Chicago Mercantile Exchange, negociada com um Preço/Lucro de 41,7 vezes.


Após o ajuste no valor da ações, sobrou pouco potencial de valorização para os investidores com perfil de longo prazo, assinala o chefe da área de Renda Variável da Fundação Cesp, Paulo de Sá Pereira. Pelos cálculos do especialista, na média, as bolsas de ações mundiais com clearing, mesmo modelo da Bovespa HLD, têm um P/L projetado para 2008 de 30 vezes, enquanto as de mercadorias uma relação em 32 vezes. Para a BM&F, na cotação antiga e considerando o múltiplo da própria Bovespa como referência, ele chegou a 35 vezes, nível que possibilitaria um ganho de até 25% para os papéis no futuro. Como a cotação foi elevada em 21%, o espaço para altas adicionais ficou limitado.


"Isso não quer dizer que, no curto prazo, as ações não oscilem acima do preço justo, o fluxo tende a fazer isso", diz Pereira. Como negócio, ele considera que a BM&F tem um risco menor do que a própria Bovespa HLD, por ter uma geração de caixa previsível e mais diversificada do que a bolsa de ações e por contar com grandes volumes em contratos de câmbio e juros.


Enquanto a Bovespa ficou mais suscetível à concorrência após o IPO, as barreiras de entrada para novos competidores da BM&F são maiores, avalia Willian Eid Jr, do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). "Derivativos são um negócio mais complexo para se replicar e a BM&F é uma das bolsas de futuros mais inovadoras do mundo."

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