sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Na carona das bolsas

Valor Econômico
Por Adriana Cotias, de São Paulo
30/11/2007


Com o interesse estrondoso da pessoa física nas ofertas iniciais (IPO, na sigla em inglês) da Bovespa Holding, e, particularmente, da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a nova venda de papéis do Banco do Brasil (BB) não poderia vir em melhor hora. Com uma operação totalmente voltada para o varejo, com até 80% das ações endereçadas para esse público, a instituição financeira pega carona no crescente apetite do pequeno investidor pelo mercado acionário. O rateio no lançamento da BM&F escancarou tal disposição. Cada aplicador levou apenas 91 ações, o equivalente a R$ 1,82 mil, o que, segundo cálculos do Valor baseados nos critérios da distribuição, representa uma participação mínima de 284 mil CPFs, 91% da base ativa da bolsa. É um número que supera em larga escala a quantidade de participantes no IPO da Bovespa, que atraiu 63,9 mil investidores e já tinha sido um recorde de bilheteria.


É nesse clima de euforia que chega a oferta do BB, toda secundária, de papéis pertencentes a BNDESPar e Caixa de Previdência dos funcionários do Banco do Brasil (Previ). À venda, foram colocadas, inicialmente, 87,217 milhões ações ordinárias (ON, com voto), numa oferta que, com os lotes extras, pode alcançar os R$ 3,3 bilhões. As reservas começam hoje e se estendem até 11 de dezembro.


O candidato às ações poderá comprá-las por intermédio de uma corretora, em aquisições a partir de R$ 1 mil, ou por meio de fundos de ações, que aceitarão aplicações a partir de R$ 200,00. As carteiras serão especialmente estruturadas para a operação e distribuídas pela rede bancária, a exemplo das edições do fundo Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB) e das ofertas de Vale do Rio Doce e Petrobras, com recursos do FGTS. O próprio BB e o Santander já têm fundos específicos registrados na na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), enquanto Itaú e Bradesco vão pelo mesmo caminho.


Considerando-se uma taxa de administração de 1,5% ao ano e o imposto de renda, aplicar nos fundos compensa para investimentos de até R$ 3 mil. Acima disso, a aquisição direta seria mais vantajosa. Esses valores são apenas estimativas e a despesa final do investidor dependerá da política de tarifa de cada corretora ou administrador. Vale lembrar que para vendas de ações em volume inferior a R$ 20 mil ao mês não há, para a pessoa física, incidência do IR e nem cobrança da CPMF. Já nos fundos, o IR equivale e 15% do rendimento na data do resgate, sem CPMF apenas para quem transfere os recursos da conta investimento.


Com a oferta, o BB vai elevar o seu capital em circulação de 14,8% para até 19,6%, ficando ainda abaixo das exigências de "free float" do Novo Mercado, de 25%. Em tese, isso quer dizer que o banco dependerá de uma nova oferta para atingir o percentual até maio de 2008, quando completará dois anos no segmento especial de governança.


Entre os papéis do setor bancário listados no Ibovespa, o BB é o que sobe mais no ano, 38,6%, embora ainda perca para o índice, 39,8%. Pela base de dados da Thomson One Analytics, das 12 corretoras que cobrem as ações, 11 indicam compra. Na média, o preço alvo é de R$ 36,65, ante os R$ 28,80 atuais. O crescimento dos resultados, a melhora dos índices de eficiência e expansão do crédito sem grande deterioração da carteira justificam a avaliação, diz o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues. "Os custos administrativos ainda são mais elevados do que nos bancos privados, mas já houve uma melhora significativa", diz. Nos primeiros nove meses do ano, o banco obteve um retorno sobre o patrimônio de 31,7%, acima de Bradesco (20,5%), Itaú (18,6%) e Unibanco (16,3%).


Como os papéis já são listados no pregão, comprá-los na oferta só compensará se houver desconto da ordem de 5%, contrapõe o economista da Lopes Filho, João Augusto Sales. Esse desconto, se existir, só será conhecido após a definição do preço, conforme a demanda dos institucionais pela fatia de 20% que lhes cabe na oferta. "Como 30% da carteira de crédito do banco advém do setor rural, com margens mais baixas do que em outras linhas, dificilmente o BB sustentará lucro próximo dos privados", diz. O fato de ser um banco público, sujeito a ingerências políticas, representa um risco adicional. O BB ainda batalha para entrar no financiamento imobiliário, atual coqueluche do setor, mas encontra barreiras perante a líder absoluta Caixa Econômica Federal.


Ter uma rede de distribuição espalhada por todo o país e uma marca nacionalmente conhecida são pontos a favor, diz o professor Ricardo Della Torres, da Brazilian Business School (BBS). Além disso, os papéis caíram após a divulgação da oferta, deixando a ação com um preço mais convidativo.

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