segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Esqueceram de mim

Valor Econômico
Por Daniele Camba e Adriana Cotias
08/10/2007



Nas últimas semanas, a bolsa se recuperou de forma rápida e acentuada do tombo que sofreu com a crise hipotecária americana. Essa volta, no entanto, não foi homogênea e se concentrou em poucas ações de grandes companhias como Vale do Rio Doce, CSN e Usiminas. Como a percepção é de que a melhora do cenário internacional veio para ficar, há uma penca de papéis cujos preços ainda estão defasados e têm tudo para oferecer bons retornos. Até porque os fundamentos das companhias justificam tais expectativas. Entre as empresas que os analistas apontam como oportunidades esquecidas estão as dos setores voltados para o mercado interno. Bancos, consumo, varejo, imobiliário, concessões e infra-estrutura integram a lista.


"As empresas de segunda e terceira linhas ficaram muito para trás, aumentando a diferença sobre as companhias de grande porte e, passado o susto dos 'subprimes', essas ações têm um potencial de valorização maior", diz o superintendente de renda variável do Itaú, Walter Mendes. Os papéis do setor imobiliário vêm sofrendo bastante, mas as perspectivas são boas para essas companhias, com o crescimento econômico do país, queda dos juros e aumento nos prazos de financiamento. "Se acreditarmos que o Brasil irá crescer entre 4% e 5% ao ano nos próximos anos e que o juro real continuará caindo, não tem como não achar que o segmento imobiliário irá deslanchar", afirma Mendes. Mas ele lembra da importância de selecionar bem, até pela quantidade de empresas do ramo que ingressaram na bolsa de 2005 para cá. "Várias prometeram bons resultados e estão entregando."


Papéis de setores voltados ao mercado interno e que de alguma forma se beneficiam da expansão da atividade estão entre os mais indicados pelos analistas desde o fim do ano passado. Com a alta inesperada das commodities metálicas e agrícolas, essas ações foram, porém, atropeladas pelos papéis de empresas como a Vale. "Esses setores devem, enfim, se valorizar, refletindo o bom momento macroeconômico", diz o chefe de análise da empresa de informações financeiras CMA, Luiz Francisco Rogé Ferreira. Para uma carteira de curto prazo, ele recomenda Porto Seguro, Localiza, Brascan Residencial, Gafisa e Natura. "São todos papéis que dependem do Brasil, o que se mostra até como uma espécie de blindagem caso o cenário externo volte a piorar."


Alguns desses papéis têm muito o que andar se comparados ao preço alvo médio de 11 casas de análise. Pelos cálculos da CMA, com base nesse consenso, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Brascan Residencial, por exemplo, têm um potencial de valorização de 52% até o fim do ano. Já as ONs da Localiza e da Natura podem subir 38% e 34%, respectivamente, até dezembro. Rogé também recomenda os papéis preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras e da Itaúsa. O levantamento revela também os setores com os maiores retornos esperados. Entre eles estão: sucroalcooleiro, transporte aéreo, serviços, como Contax e Localiza, saúde e tecnologia.


As ações dos bancos brasileiros, juntamente com os pares estrangeiros, sofreram com o contágio da crise hipotecária americana e agora estão na lista das boas oportunidades. Além da recuperação em si, a compra do ABN Amro deve reabrir a discussão sobre a consolidação do setor. "O mercado deve voltar a especular sobre um possível negócio envolvendo o Unibanco, o que irá se refletir nos papéis", diz o gerente de renda variável da Modal Asset Management, Eduardo Roche. Ele também vê com bons olhos ações dos setores de papel e celulose, tecnologia, concessões rodoviárias e elétrico.


O leilão para a concessão de sete trechos de rodovias federais, programado para amanhã, jogou os holofotes sobre as representantes do setor na Bovespa. OHL ON é uma das indicadas pela chefe de análise do Banif Banco de Investimentos, Catarina Pedrosa. "Por ser menor do que a CCR, se levar algo, a exploração do serviço tende a ter maior peso nos seus resultados."


CCR é também uma sugestão da Concórdia, apesar de o chefe de análise da corretora, Eduardo Kondo, demonstrar pouca empolgação com a disputa. "Se ganhar algo, a CCR terá um retorno menor do que em concessões anteriores e ainda é preciso ver o preço que será pago, o desembolso de investimentos", diz. "É o aumento do tráfego nas rodovias, que já foi bom no segundo trimestre, que deve favorecer a rentabilidade da empresa, independente do leilão."


Com o governo desempacotando o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), empresas da cadeia de infra-estrutura tendem a ser melhor avaliadas, pois é mais do que sabido que a expansão da atividade econômica encontra seus entraves em instalações básicas, assinala Kondo. "Especula-se que o Brasil pode ganhar o 'investment grade' (o selo de mercado não especulativo) no início de 2008, e isso vai atrair mais investimentos diretos, e sem a infra-estrutura não há como o país suportar o crescimento."


Na lista das "boas", Kondo ainda inclui Acesita PN, que tem no seu mix de produtos os aços siliciosos, usados em motores pelo setor de energia elétrica, uma das áreas beneficiadas pelo PAC.


A crise do "subprime" ainda respingou nas ações preferenciais da Gerdau, que acabaram ficando muito para trás em comparação à escalada do Ibovespa no mês passado, diz o estrategista de pessoa física da Itaú Corretora, Fábio Anderaos de Araújo. Na sua visão, o mercado puniu os papéis indevidamente, dado que as atividades da empresa nos EUA estão relacionadas a obras de infra-estrutura e não à construção civil, conforme é um dos focos no Brasil. "O padrão de construção lá é totalmente diferente do nosso, não há uso de vergalhão, alvenaria, e sim um produto de qualidade inferior, como a madeira compensada", diz. "Embora, proporcionalmente, a produção física da Gerdau seja maior no exterior, a maior parte da margem/Ebtida (sobre o retorno operacional de caixa) está no Brasil."


Mesmo sem saber qual o tamanho do buraco deixado pelo episódio das hipotecas, a redução do juro dos EUA em dose maior do que se previa deixou a sensação de que o presidente do Fed, Ben Bernanke, está disposto a acudir a economia, diz o analista da corretora do Banco Real Pedro Galdi. É por isso que ele considera que o fluxo externo continuará a fazer festa na bolsa brasileira, dando fôlego para novas altas. Otimista com as premissas para a expansão da atividade no Brasil, ele coloca AmBev PN entre suas sugestões. A melhora da renda do brasileiro, o aumento das temperaturas e a proximidade das festas de fim de ano justificam a escolha. AES Tietê, que não acompanhou a alta recente do índice, também está entre as recomendações. "É uma empresa que se beneficia do modelo de geração de energia e tem um perfil agressivo de pagamento de dividendos."

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