sexta-feira, 6 de julho de 2007

Ganho com a diferença

Do Valor Econômico de 06/07/2007:

Por Luciana Monteiro

Os gestores de multimercados precisaram suar a camisa para ganhar dinheiro no mês passado. Apesar de o Índice Bovespa ter fechado em alta pelo quarto mês consecutivo, de 4,06%, o Copom ter reduzido mais os juros, em 0,5 ponto percentual, e as perspectivas de longo prazo continuarem favoráveis, o forte vai-e-vem dos ativos, especialmente no fim de junho, pegou alguns gestores de surpresa. Deram-se bem nesse cenário as carteiras que buscam ganhar com a diferença entre os preços de determinadas ações e os fundos que tentam capturar os movimentos de curto e médio prazos.
Dados do escritório de aconselhamento financeiro Arsenal Investimentos mostram que, em média, os multimercados conseguiram passar pela prova de fogo da volatilidade no mês passado. Das 114 carteiras que compõem os índices elaborados pela instituição, 68 tiveram retorno acima do CDI no mês. Mas, olhando de perto, nem todos estão indo tão bem quando comparados com a média dos concorrentes que adotam a mesma estratégia de gestão, alerta Gustavo Coelho, responsável pela área de alocação da Arsenal. A comparação por estratégia é importante porque os multimercados, apesar de estarem sob uma mesma classificação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), são muito diferentes. Para se ter uma idéia, dos 114 fundos, só 54 tiveram ganhos superiores aos seus respectivos índices.
No início de junho, o retorno dos títulos do governo americano de dez anos saiu de 5% ao ano e chegou a 5,30% ao ano, diante do receio dos investidores com a inflação nos EUA. A luz amarela acendeu depois que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) colocou a inflação como um risco maior que a recessão. A interpretação do mercado foi de que o Fed poderia elevar a taxa de juros em vez de começar a reduzi-la. Depois, no fim do mês, problemas em fundos hedge que aplicaram em papéis de hipotecas nos EUA, chamados de subprime, causaram nova onda de aversão ao risco. Isso fez o Ibovespa cair e a curva de juros com vencimento mais longo negociado na BM&F subir - também por conta da confusão no Brasil em torno da meta de inflação para 2009, de 4,5% para o governo e 4% para o Banco Central. "Isso trouxe perdas para muitos gestores que apostavam num cenário de queda dos juros", lembra Coelho. Até o dólar comercial fechou pela primeira vez no ano em alta, com modesta valorização de 0,21%.
Alheias a esse revés do mercado, as carteiras que adotam a estratégia "equity hedge" foram bem. Os fundos da categoria renderam 1,37% em junho, em média, bem acima do CDI, que variou 0,90% no período. A classe dos "equity hedge" é formada por multimercados e por alguns fundos de ações que ganham com arbitragem utilizando ações e seus derivativos como principal estratégia. São os fundos long/short, que procuram ganhos somente entre ações que tenham alguma correlação - ON com PN de uma mesma empresa, por exemplo. No ano, a categoria acumula 8,89%, ante 6,01% do CDI. Em 12 meses, o ganho médio é de 20%, muito acima dos 13,23% do CDI.
Segundo Coelho, boa parte do retorno veio da recuperação de ações que estavam fora do Ibovespa. "Durante uns três meses, o fluxo de recursos na bolsa foi principalmente para ações de maior liquidez e, no mês passado, houve uma recuperação dos papéis que renderam menos que o índice", diz. Ele observa, porém, que, entre as carteiras, os ganhos são bem diferentes: dos 33 fundos que compõem o Equity Hedge da Arsenal, só 14 tiveram retorno acima do índice.
Já os fundos que a dotam a estratégia macro, ou seja, que buscam ganhar com o cenário econômico e a tendência dos ativos, foram bastante afetados pela volatilidade. No mês passado, o retorno médio das carteiras que compõem a categoria foi de 0,83%. No ano, porém, o rendimento médio é de 8,99% e, em 12 meses, 20,09%. Os fundos macro compõem a maior parcela dos multimercados brasileiros - 45 dos 114 fundos que fazem parte dos índices da Arsenal. Em junho, os macro foram responsáveis pela metade da captação de R$ 2 bilhões verificada pela Arsenal entre as carteiras abertas.
Já os multimercados com estilo trading de gestão apresentaram rentabilidade média de 0,99% em junho e, dos 24 fundos que compõem o índice, 10 superaram o indicador. Fazem parte dessa categoria os multimercados que atuam em todos os segmentos, mas o gestor busca capturar os movimentos de curto prazo, como uma tesouraria de banco, mudando de estratégia rapidamente. "A categoria aproveitou o movimento de volatilidade ao longo do mês e obteve o segundo maior desempenho em junho", diz Coelho. No ano, o índice Arsenal Trading registra ganho de 6,81% e, em 12 meses, tem alta de 16,36%.
Os fundos de arbitragem - multimercados que buscam ganhar com a diferença de preços entre ativos em diversos mercados como juros, câmbio e bolsa - tiveram rentabilidade média de 0,91% em junho. Segundo Coelho, essas carteiras conseguiram tirar proveito de boa parte da volatilidade do mês passado, mas perderam gás com a volta de um cenário de tendência mais definida. No ano, o índice Arsenal Arbitragem apresenta rendimento de 6,64% e, em 12 meses, a alta é de 15,19%.

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