quarta-feira, 25 de agosto de 2010

NTN-B de longo prazo tem a menor taxa em três anos

Valor Econômico

25/08/2010

Lucinda Pinto, de São Paulo

O forte apetite dos investidores por ativos de renda fixa, alimentado pela perspectiva de que a economia global seguirá enfraquecida, também foi percebido ontem no mercado brasileiro. E, de forma mais evidente, na oferta de NTN-Bs, títulos públicos atrelados ao IPCA. No leilão realizado ontem pelo Tesouro Nacional, os juros dos títulos de prazo mais longos caíram ao menor nível em mais de três anos, abaixo de 6% ao ano. A última vez que isso ocorreu foi em maio de 2007, quando o Tesouro vendeu o papel com vencimento em 2045 - o mais longo à época - a 5,82%. Ontem, a NTN-B 2050 foi vendida a 5,88%. Os demais prazos também mostraram quedas expressivas de suas taxas em relação à última oferta, como reflexo da demanda crescente por papéis de longo prazo, especialmente de investidores estrangeiros.

Em parte, a maior procura pelos títulos se deve ao fato de ter havido um vencimento grande, de R$ 33 bilhões, de NTN-Bs na semana passada. Mas especialistas enxergam, mais do que isso, um forte fluxo de investidores globais à procura de melhores taxas de retorno, em um momento em que os juros dos Treasuries rompem importantes níveis de suporte.

Essa corrida ganhou corpo quando o Fed decidiu, na reunião do dia 10 de agosto, prosseguir comprando títulos da dívida americana, incluindo as chamadas Tips (papéis atrelados a índices de preços), o que derrubou os juros desses papéis. Desde então, uma série de indicadores econômicos fracos alimenta a queda dos juros dos Treasuries. E, ontem, essas taxas chegaram a níveis históricos, com os dados do setor imobiliário de trabalho alimentando o temor de que os Estados Unidos ingressem em uma nova onda recessiva.

"A queda dos juros dos Treasuries provoca uma onda em cadeia no mundo todo", afirma o economista do J.P. Morgan Julio Callegari. "Hoje, fatores locais têm pouca relevância para a tendência dos juros", explica. O economista diz que há dois fatores impulsionando os investidores na direção dos ativos de renda fixa. O primeiro é o diferencial entre os juros internacionais e o brasileiro, que cresce e torna o ganho potencial para o investidor cada vez maior.

Além disso, existe a percepção de que, se a recuperação da economia americana fraquejar, o resto do mundo vai sofrer o mesmo impacto. "Está claro que não há descolamento, nem mesmo para os países emergentes", diz. Fraqueza da atividade econômica pode significar menos inflação no futuro e, portanto, menos risco de aperto monetário. Esse cenário alimenta o apetite por ativos de juros prefixados em qualquer parte do globo.

Callegari ressalta, entretanto, que a forte queda dos juros não tem como contrapartida uma deterioração de igual intensidade do mercado de ações. As bolsas globais hesitam, mas não têm perdas na mesma proporção. Isso significa que há dúvidas no mercado sobre o risco de um segundo mergulho recessivo do mercado americano. "O comportamento do mercado de equity não sinaliza para um novo colapso global", diz.

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