quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Juro real na casa dos 6% mantém NTN-B atrativa

Tesouro Direto: Papéis são opção tanto para quem acredita num cenário de inflação controlada quanto para aqueles que esperam um repique inflacionário.


Valor Econômico

Por Luciana Monteiro, de São Paulo
25/08/2010

Os papéis atrelados a índices de preços vêm atraindo muitos investidores. Boa parte dos títulos com vencimentos um pouco mais longos registra ganhos na faixa de 6% além da inflação. Essa é uma rentabilidade considerado bem interessante pelos especialistas diante de um ambiente de juros menores no Brasil.

As Notas do Tesouro Nacional série B - NTN-B, cuja rentabilidade está vinculada à variação do IPCA acrescida de juros definidos no momento da compra - com vencimentos mais longos estão entre as mas recomendadas pelos especialistas. De acordo com dados do Tesouro Direto, sistema de compra e venda de títulos públicos on-line, as NTN-Bs com vencimento em maio de 2017 eram negociadas ontem a uma taxa de 6,01% além do IPCA. Já as que vencem em agosto de 2024 também pagavam 6,01% acima da inflação.

Essas estão entre as menores taxas pagas por esses papéis neste ano. Isso significa que quem comprou esses títulos no início do ano está ganhando dinheiro. O preço dos títulos varia de forma inversa ao comportamento das taxas. Quando a taxa cai, o preço sobe para se ajustar à nova realidade do mercado. E quem comprou antes, por um preço menor, pode vender o papel agora, por um valor maior.

Um retorno de 6% é ainda bastante interessante, principalmente para 2015, diz Alexandre Espírito Santo, diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ e economista da Way Investimentos. "A maioria dos investidores brasileiros ainda não se deu conta que o país tem a maior taxa real de juros (descontada a inflação) do mundo", afirma. "E eles acabam não surfando essa onda, ou seja, não aproveitam as oportunidades em renda fixa de forma apropriada." Os números do Tesouro Direto mostram que as NTN-Bs com vencimento em maio de 2015 registravam rentabilidade de 10,07% no ano até ontem.

Como as NTN-Bs pagam juros semestralmente e sobre eles incide imposto de renda, há quem prefira as NTN-Bs Principal, cujo retorno total ocorre apenas no vencimento do papel. Nesse caso, o IR que vai incidir sobre os títulos tende a ser menor, já que o imposto cai à medida que o investidor permanece por mais tempo com o papel.

O IR varia de 22,5% a 10%, conforme o prazo que se mantém o investimento em renda fixa. A NTN-B Principal com vencimento em 2015 pagava ontem uma taxa de 6,07% além da variação do IPCA, segundo informações do site do Tesouro Direto.

Para a pessoa física, os títulos mais interessantes são aqueles que vencem entre 2015 e 2020, avalia Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Gestão de Patrimônio, que prefere as NTN-Bs Principal. "Os papéis mais longos, em caso de estresse de mercado, oscilam bastante, o que pode trazer um impacto grande de perdas ao investidor", alerta.

O balanço das operações do Tesouro Direto de julho mostra que o volume vendido bateu recorde, de R$ 267,83 milhões. Até então, o melhor mês era o de outubro de 2008, com R$ 259,07 milhões. Os papéis indexados ao IPCA responderam por 37,57% das vendas do mês, sendo 20,71% de NTN-B e 16,86% de NTN-B Principal. O percentual só foi menor do que o dos prefixados. Nos prefixados, as Letras do Tesouro Nacional (LTN) ficaram com fatia de 42,08%, enquanto a procura por Notas do Tesouro Nacional série F (com pagamento de juros semestrais) foi de 7,64%. Os títulos pós-fixados - as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) - somaram 12,72%.

Mesmo na renda fixa, é interessante que o investidor faça uma diversificação, diz Espírito Santo, da Way. "Para quem tem a expectativa de queda dos juros no ano que vem, também os papéis prefixados se mostram interessantes." Essa, no entanto, não é o cenário vislumbrado pelo economista, que acredita numa piora da inflação, já que a atividade econômica deve se recuperar nos próximos trimestres, trazendo pressão inflacionária.

As NTN-Bs se mostram interessantes tanto para quem acredita num cenário de inflação controlada quanto para aqueles que esperam um repique inflacionário. No primeiro caso, porque muitos veem um juro real alto, o que torna os títulos atraentes. No segundo, caso a inflação fique acima da esperada no ano que vem, o papel serviria como proteção.

As NTN-Bs também aparecem na carteira de renda fixa recomendada para agosto da XP Investimentos. Manuel Lamas, diretor de renda fixa da instituição, vê com bons olhos os papéis mais longos, com vencimento em 2024 ou 2045. "Com esses papéis, o investidor pode montar uma carteira para sua previdência, com preservação de capital, além de um juro real bastante expressivo", diz.

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