segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quer ganhar quanto? Até quanto aceita perder?

Valor Econômico

19/07/2010

Alessandra Bellotto

Se você ainda não se deu conta, antes de colocar seu rico dinheirinho na bolsa é importante traçar uma estratégia. Isso vale especialmente para o atual momento do mercado, de pura indefinição. O Ibovespa começou o ano aos 68 mil pontos, superou os 71 mil em abril, caiu para a casa dos 58 mil no mês seguinte e hoje não consegue sair do entorno dos 63 mil pontos.

Salvo quando o horizonte é de bem longo prazo, o investidor tem de definir quanto quer ganhar em cada operação e quanto está disposto a perder, explica o sócio-presidente do YouTrade, Marcelo Coutinho. Com o cenário duvidoso, volátil, é preciso se proteger. "Não dá para sair comprando sem conhecimento, nem técnica", diz.

Uma das estratégias, segundo Coutinho, é operar sempre com "stop loss", ferramenta que limita perdas. Preservando seus recursos, o investidor pode até comprar ativos com ganhos potenciais melhores. O especialista reconhece, contudo, que o investidor resiste a realizar perdas. "Muitas vezes, o investidor prefere ficar um ano com um papel que só dá prejuízo, sofrendo, a fazer uma troca", diz. Ele vai além e contesta a ideia de que o investidor só perde quando realiza o investimento, ou seja, quando vende o papel por um preço menor do que pagou.

Na visão de Coutinho, o que conta é o valor do ativo. Caso contrário, você pode acabar perdendo muito mais do poderia tolerar. Esse é o caso de um clientes do YouTrade que perdeu R$ 440 mil com ações da Petrobras, mas poderia ter perdido bem menos, cerca de R$ 16 mil, se tivesse definido um "stop loss" para sua operação.

A história começou em novembro do ano passado, com a compra de 20 mil ações preferenciais (PN, sem voto) da estatal por cerca de R$ 36, no total de R$ 720 mil. O potencial de ganho por papel, segundo Coutinho, era de R$ 4, o que, pelos cálculos do especialista, indicava um limite de perda de R$ 0,80. Ou seja, se ele comprou a ação a R$ 36, deveria ter colocado o "stop" em R$ 35,20.

Porém, quando o papel começou a cair, em vez de o investidor acionar o gatilho de saída, decidiu tentar formar um preço médio de compra. Comprou um contrato a termo de 60 mil ações da Petrobras, a um preço fixado no presente de R$ 30, ou seja, comprometeu-se a pagar no futuro R$ 1,8 milhão. Dois meses se passaram e o papel continuou caindo. Quando o preço estava em R$ 26, ele resolveu realizar sua perda. Resultado: gastou R$ 2,520 milhões na compra e ganhou R$ 2,080 milhões na venda, um prejuízo de R$ 440 mil.

Coutinho diz que se ele tivesse respeitado o "stop loss" na primeira operação, a perda teria sido de R$ 16 mil, resultado da venda por R$ 35,20 das 20 mil ações compradas a R$ 36. Mais uma dica do especialista: quem busca ganhos de mais curto prazo precisa respeitar os prazos das operações. "Se a operação é de curto prazo, não há porque carregá-la por mais tempo", diz.

O mesmo deve valer para o ganho. Outro cliente da corretora comprou OGX a R$ 15, tendo como meta um retorno de R$ 3 por papel. Porém, quando a ação chegou perto dos R$ 18, em vez de embolsar o lucro, mudou o "stop gain", ou seja, o limite de ganho, para R$ 18,30 - e assim foi até que o mercado se cansou e as ações voltaram.

Não há expectativa de que a bolsa engate uma tendência de alta tão cedo, portanto Coutinho recomenda operações de curto prazo e compras de volumes menores. Na sexta, o Ibovespa caiu 1,81%, a 62.339 pontos. Além do vencimento de opções hoje, a semana tem a divulgação dos primeiros testes de estresse de bancos europeus. Na sexta, ninguém quis ficar comprado, afirma o gerente da mesa de operações da HSBC Corretora, Frederico Soares.

Alessandra Bellotto é repórter de Investimentos. A titular da coluna, Daniele Camba, está de licença.

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