sexta-feira, 9 de abril de 2010

Os ricos também choram

EUA: Só em fevereiro, mais de 300 imóveis milionários foram a leilão

Dívidas ameaçam casas de ricaços americanos


 

Craig Karmin e James Hagerty, The Wall Street Journal

09/04/2010

Os ricos e famosos dos Estados Unidos têm agora algo em comum com centenas de milhares de americanos das classes média e baixa: o banco está prestes a confiscar a casa deles.

Casas com financiamentos de US$ 5 milhões ou mais devem apresentar um forte aumento nas ações de execução judicial este ano, segundo um estudo da RealtyTrac para o Wall Street Journal.

Esta semana, uma mansão Tudor em Los Angeles que pertence ao astro do cinema Nicolas Cage foi colocada em leilão e revertida para o banco. Na quarta-feira, Richard Fuscone, que já foi diretor de América Latina da Merrill Lynch, declarou concordata pessoal, impedindo um leilão que havia sido programado esta semana de sua mansão de 6 hectares em Westchester, no Estado de Nova York. No mês passado, um apartamento em Manhattan do produtor italiano de cinema Vittorio Cecchi Gori foi vendido num leilão de retomada judicial por US$ 33,2 milhões.

Só em fevereiro, 352 casas nessa categoria estavam programadas para ir a leilão na etapa imediatamente anterior à tomada pelo banco. É o maior número mensal das chamadas "notificações de venda" desde que a crise financeira começou. Em 2009 todo foram 1.312 notificações dessas.

Economistas dizem que os super-ricos estão entre os últimos a perder suas casas numa crise hipotecária porque normalmente têm grandes poupanças, melhor acesso a crédito e outros meios de evitar a perda do imóvel. Mas muitos deles trabalham no setor financeiro e em outros setores afetados pela crise e viram sua fortuna encolher com a queda do mercado.

Embora os números sejam modestos em comparação com as retomadas judiciais em outras faixas de renda, eles sugerem a possibilidade de um súbito aumento na tomada pelos bancos das propriedades dos americanos mais ricos. Normalmente metade das notificações de venda resultam na devolução do imóvel aos credores.

Os grandes tomadores de empréstimos têm mais chance de ficar inadimplentes do que as pessoas comuns, segundo dados da First American CoreLogic. O banco de dados de financiamentos dela, que reflete mais de 80% do mercado de crédito imobiliário, inclui 1.700 empréstimos com saldos de US$ 4 milhões ou mais. Sam Khater, um economista da First American, diz que os maiores tomadores podem estar mais propensos a parar de fazer pagamentos quando o preço do imóvel fica igual ou menor o valor da dívida.

Fuscone pôs sua mansão à venda em novembro, pedindo US$ 13,9 milhões. Mas ele não conseguiu encontrar um comprador que pagasse isso. O banco havia programado um leilão ontem da mansão de 1.700 metros quadrados - com duas piscinas, dois elevadores, seis lareiras, onze banheiros e uma garagem para sete carros. Um pedido de concordata pessoal feito quarta congela temporariamente o processo de retomada judicial. Fuscone se negou a comentar.

O fenômeno não é limitado à região de Nova York. Os bancos retomaram casas com financiamentos de US$ 5 milhões ou mais nos Estados da Geórgia, Carolina do Norte e Colorado, informa a RealtyTrac.

Cage havia tentado vender sua propriedade de 1.100 metros quadrados em Bel Air, em Los Angeles, por US$ 35 milhões, mas não conseguiu nenhuma oferta, segundo James Chalke, agente imobiliário que cuidava da oferta. Na quarta, o banco credor pediu US$ 11 milhões no leilão pré-retomada judicial, mas não conseguiu oferta e ficou com o imóvel. O ator também disse que não comentaria.

Um representante de Checchi Gori, produtor de mais de 200 filmes, entre eles "O Carteiro e o Poeta" e "A Vida É Bela", disse que situação financeira dele está melhorando.

Na região de Miami e do Condado de Dade, os três maiores processos de retomada judicial iniciados contra casas nos últimos seis meses envolveram uma casa de 430 metros quadrados nas Ilhas Sunset; uma casa de 784 metros quadrados em Coral Gables; e um apartamento em Miami Beach, segundo Peter Zalewski, um diretor da Condo Vultures. Todos os três tinham hipotecas de US$ 3,5 milhões a US$ 4 milhões.

A inadimplência nas hipotecas começou a aumentar no fim de 2006, sobretudo entre tomadores com os chamados financiamentos subprime, para pessoas com histórico de crédito ruim e alto endividamento em relação à renda.

Nos anos seguintes a inadimplência se espalhou para tomadores de maior renda, especialmente os que conseguiram empréstimos sem documentar sua renda. No fim de 2009, quase 8 milhões de residências, ou 15% das que têm hipotecas, estavam com pagamentos em atraso ou em processo de retomada judicial. Os ricos têm meios de rolar o processo de retomada, às vezes por anos. "É muito difícil para essas pessoas acreditar que tiveram tamanha reversão da fortuna", diz Maggie Navarro, corretora em Pasadena, Califórnia. (Colaborou Nick Timiraos)

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