segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cenário bom para dividendos

Jornal da Tarde

12/04/2010

Distribuição de lucros pelas empresas foi magra em 2009 mas, para este ano, a perspectiva é boa

Paulo Darcie

Muitos investidores novatos no mercado de ações não sabem que há outra forma de lucrar, além da mais conhecida, por meio da valorização dos papéis e sua posterior venda: formar uma carteira que renda dividendos.

Trata-se da divisão, entre os acionistas, do lucro obtido pela empresa . Em 2009, empresas listadas na BM&FBovespa repartiram entre acionistas R$ 66,93 bilhões, ante R$ 64,04 bilhões em 2008.

Os dividendos, porém, poderiam ter sido melhores, diz o professor de economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Tarcísio Souza Santos. "Em geral, não foi um ano de bons lucros, muitas empresas distribuíram pouco para formar caixa."
As perspectivas para 2010, no entanto, são mais otimistas. "Com a recuperação das empresas nesse ano, os dividendos devem ser significativamente maiores", diz o professor de finanças da Faculdade de Administração da USP, Rafael Paschoarelli.

As empresas listadas na BM&F Bovespa são, por lei, obrigadas a dividir entre seus acionistas ao menos 25% do lucro anual. A fatia é definida pelo estatuto da empresa. De acordo com o professor da Faap, o montante depende do estágio de desenvolvimento que a empresa se encontra e de sua política. "Empresas mais novas, em geral, reinvestem o lucro em projetos de expansão", explica. "Empresas já consolidadas, que não têm necessidade de grandes investimentos, podem dividir uma parcela maior dos lucros."

Por isso, explica o analista sênior da Corretora Tov, Julio Mora, as empresas de serviços, principalmente as de geração de energia, são boas pagadoras. "As carteiras de dividendos são compostas praticamente de elétricas. Elas chegam a repartir mais de 90% dos lucros", afirma.

Há casos, porém, como de Petrobrás e Vale, que, apesar de serem sólidas, e até mesmo terem papéis muito valorizados, precisam investir muito em expansão, por isso não destinam grandes porcentuais de seus lucros para os seus acionistas.

Mesada

O pagamento pode ser feito a cada ano ou em intervalos menores, conforme estipulado no estatuto da empresa. Na montagem de suas carteiras, diz o professor Paschoarelli, da USP, investidores procuram ações que paguem dividendos em diferentes meses do ano, assim garantem uma renda mensal. "Bancos como Bradesco e Itaú Unibanco pagam bem e mensalmente", conta ele.

Mas o sucesso do investimento, no entanto, depende também do preço da ação: uma vez que o dividendo é fixo por papel, quanto mais ações tiver, mais ele recebe. Ações caras, neste caso, podem não ser bom negócio para o pequeno investidor, aconselha o analista sênior da Tov, Julio Mora.

"É recomendado que os iniciantes não foquem seus investimentos especificamente em dividendos, mas sim em empresas com bom fundamento, potencial de valorização das ações e, como consequência, ele acaba aproveitando os dividendos", diz Mora.

Ganho com operação é considerado não tributável

O capital obtido com dividendos, para fins fiscais, é considerado rendimento não tributável. "Trata-se da divisão do lucro líquido, que foi feita depois da empresa ter deduzido os impostos, por isso é isento de tributação", afirma Sebastião Gonçalves, do Conselho Regional de Contabilidade

Além dos dividendos, as empresas de capital aberto podem optar por dividir seus lucros na forma de juros sobre capital próprio. Em tese, trata-se da recompensa que o financiador externo - no caso o acionista - recebe por assumir o custo de oportunidade do negócio, e é deduzido como despesa financeira da empresa, portanto, tributada na fonte.

Para o acionista, a única diferença está no preenchimento da declaração do Imposto de Renda: os juros sobre o capital próprio são incluídos como rendimentos tributados exclusivamente na fonte, e o valor recebido deve aparecer no campo específico para isso. Somados, juros e dividendos são isentos até R$ 40 mil por ano.

Toda atenção é pouca na hora da escolha

Ao escolher ações visando lucro com os dividendos, o investidor não deve olhar apenas o montante distribuído pela companhia. "O valor que o acionista recebe por cada papel é fixo, determinado depois de calculado o lucro líquido da empresa", explica a analista chefe da corretora Spinelli, Kelly Trentin. No ano passado, segundo levantamento feito pelo Instituto Assaf, foi pago, em média, R$ 1,28 por ação no País, valor 52% superior ao de 2008.

Uma vez conhecido o preço das ações e o dividendo pago por cada uma delas, calcula-se o índice chamado divdend yield (DY), que reflete qual o porcentual do papel pago como provento. Por exemplo, caso uma ação custe R$ 10 e receba R$ 1, seu DY será de 10%. O índice serve de ferramenta na busca por boas oportunidades. "Ele é calculado depois da divisão dos lucros, serve para orientação", diz Kelly. Nesse indicador se destacam as elétricas, exemplo dos papéis preferenciais da Eletropaulo, que tiveram DY de 17,52% em 2009.

Outro ponto a ser observado é o tipo da ação: uma mesma empresa pode ter ordinárias (ON) ou preferenciais (PN). Segundo as regras da Bovespa, as ON dão ao seu proprietário o direito de voto nas assembleias da corporação, enquanto as PN não dão. "Por isso ela tem preferência na divisão dos lucros", explica o professor de finanças da Faculdade de Administração da USP, Rafael Paschoarelli. Pelas regras, os donos de PNs devem ter ao menos uma das vantagens: receber, por cada papel, valor 10% maior do que o atribuído à ON ou receber DY mínimo de 3% do valor líquido da ação.

Segundo os especialistas, as PN são melhores pagadoras, mas não se trata de uma regra, pois este ganho dependerá da diferença de preço entre ON e PN, além da quantidade de cada um dos tipos de papéis no mercado. "Há ainda empresas do Novo Mercado, que não emitem PN", ressalta Kelly.

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