segunda-feira, 27 de julho de 2009

Fundos: crédito privado cresce

Para compensar queda da Selic, aumentam as aplicações em papéis emitidos por empresas

MARIANA SEGALA, mariana.segala@grupoestado.com.br

A queda da taxa básica de juros (a Selic) está levando os gestores dos fundos a aumentarem as aplicações em títulos de dívida emitidos por bancos e empresas. A fatia de papéis como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Recibos de Depósito Bancário (RDBs), debêntures e notas promissórias cresceu de 16% dos ativos dos fundos em dezembro de 2004 para 25% ao fim de 2008, segundo a Associação Brasileira de Bancos de Investimentos (Anbid). Em junho, a participação dos títulos privados era de 24%. "Na medida em que a taxa de juros cai, passa a haver demanda por opções de retorno em renda fixa que apresentem prêmio frente ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário)", diz o diretor de gestão da BB DTVM, Carlos José da Costa André.

O movimento se intensificou a partir do segundo semestre de 2008 em função da crise financeira internacional. Bancos brasileiros passaram a ter dificuldade para obter recursos lá fora para emprestar aqui dentro e substituíram a captação externa pela local, diz o diretor do Modal Asset Management, Alexandre Póvoa. "Vimos bancos grandes emitindo CDBs com taxas de 105% a 110% do CDI. Os gestores aproveitaram para aumentar a parcela deles nas carteiras", diz. Neste ano, a vez é das empresas. "Com dívidas vencendo, elas estão lançando debêntures com taxas altas. Telemar, Tractebel, Eletropaulo e CPFL ofereceram até 115% do CDI", explica Póvoa.

A tendência, na visão dos especialistas, é de que a participação do crédito privado na composição dos fundos cresça ainda mais, em detrimento da fatia dos papéis públicos, ainda os mais representativos. Eles somam 41% do total de ativos. Se consideradas na conta as operações estruturadas - empréstimos feitos com os recursos dos fundos, mas com garantia em títulos públicos - o valor chega a 60%. No fim de 2004, a soma era de 72%. A parcela de renda variável, de 12% há cinco anos, alcançou 22% em 2007, mas recuou para 16%, devido principalmente à desvalorização dos papéis negociados na Bovespa.

A demanda por ganho maior na renda fixa tem sido tanta que alguns bancos começaram a criar fundos que aplicam exclusivamente em papéis do tipo. "Não é incomum achar títulos privados em fundos de renda fixa ou DI para varejo", diz André, da BB DTVM. "Faz sentido que fundos conservadores complementem a rentabilidade com papéis privados, principalmente CDBs", diz o gestor de carteiras da consultoria Verax Serviços Financeiros.

Saiba mais

CRÉDITO PRIVADO

Fundos que destinam mais de 50% do patrimônio para títulos de dívida de empresas precisam, obrigatoriamente, trazer a inscrição "crédito privado" no nome, para sinalizar ao investidor que o a aplicação corre o risco do emissor seja ele banco ou empresa

RISCO MAIOR

É que há a possibilidade de que, eventualmente, a empresa que emitiu os títulos incluídos na carteira dê um calote, caso tenha problemas. Num fundo tal risco é reduzido porque o patrimônio não é concentrado nos papéis de um único emissor

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